As Lendas dos Retalhadores de Áries escrita por Haru


Capítulo 16
— Santsuki Raikyuu




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— Santsuki Raikyuu 

Para alguém que adotou o espaço sideral como casa, não existe diferença objetiva entre dia e noite. Seu relógio biológico fica uma bagunça. O sono vem nas horas mais inoportunas, a fome, especialmente quando se é alguém com hábitos alimentares estabelecidos e seguidos há décadas, atrapalha tudo, vira, literal e figurativamente, uma dor de cabeça. 

Asa já estava há dois anos dentro daquela espaçonave viajando pelo cosmos, mas ainda não havia se acostumado à nova rotina. Ele nem sabia se um dia iria. Sabia que precisava de pelo menos vinte e quatro horas num planeta, debaixo de uma atmosfera natural, respirando oxigênio natural, sentindo um calor natural de um sol... natural. Resumindo, queria algo natural. 

Queria pôr de novo os pés sobre um piso que não fosse todo feito de um metal frio e sem cor, ter contato com outros seres vivos além dos quatro que via diariamente. Se não tivesse essas reivindicações atendidas o quanto antes, acabaria tendo um surto psicótico, sua mente entraria em colapso.

Passou semanas procurando um planeta habitável nos mapas que sua tripulação carregava e no painel da nave, de repente, por sorte, finalmente encontrou um e não permitiria que passassem por ele sem visitá-lo. Mas passar semanas revirando mapas velhos não foi, nem de longe, a maior prova de sua determinação. A maior prova de que realmente estava disposto a conseguir o que queria foi ter batido na porta do quarto do chefe.

 "O chefe", como a ele se referia, se trancou no quarto há uma semana e não saiu para nada. O sujeito não chegou a pedir para que não o incomodassem e nem nada do tipo, os seguidores dele é que o temiam muito mais do que ele mesmo gostaria. Desde a última vez que o viram, nenhum deles se atreveu a chamá-lo para perguntar ou falar nada. Mas Asa estava no limite. Conversou com os outros e eles disseram que se "o chefe" desse permissão, por eles tudo bem, então foi até lá. 

Nervoso, passou a mão por entre os fios lisos espetados de cabelos castanhos avermelhados que tinha na cabeça. A demora da espera o estava matando. Sua pele branca, tomada de uma persistente palidez, ficou ainda mais clara e seus olhos, marrons mais claros do que seus cabelos, iam da maçaneta à fresta entre a porta e o batente. Achava que havia cometido um erro ao ir até lá chamá-lo. 

Ouviu um "entre" meio confuso, girou a maçaneta e abriu a porta negra de ferro. Uma corrente de ar frio sacudiu sua camiseta branca sem mangas, sua calça comprida cinza clara e os cadarços negros de suas botas. Ao cruzar a entrada do quarto viu uma das personalidades históricas mais importantes da galáxia, o primeiro, o único, o lendário Santsuki dormindo esparramado numa cadeira giratória virada para a entrada. 

— Senhor? — Chamou por ele, temeroso.

 Santsuki acordou novamente, assustado. Estava de terno e gravata, como se estivesse indo a uma festa de gala. Seus cabelos negros como carvão, arrepiados, lisos como os de um japonês, apesar do modo que ele se deitou, estavam perfeitamente arrumados. Sua cara, larga, branca como a neve, não estava marcada, em seus olhos vermelhos carmesim não havia sono algum.

Tinha a mesma figura esguia e sinistra de sempre. Quando ficava de pé com a coluna perfeitamente ereta, como naquele momento, chegava a exatos dois metros de altura. Nunca olhava ninguém nos olhos, como se achasse que não existia alguém digno disso. Só sorria por sarcasmo, por maldade, e andava o tempo todo de rosto erguido, com seu olhar e seu pequeno nariz fino apontados para o vazio. 

 Vê-lo se espreguiçar e bocejar foi algo que Asa jamais imaginou que conseguiria. Na frente dele, com seus meros um metro e oitenta centímetros de altura, parecia uma criança. 

— Quanto tempo eu dormi? — Perguntou Santsuki, ainda um tanto quanto avoado.

Asa realmente não sabia o que falar, não tinha como dizer o que ele queria.

— Nós não vimos o senhor por uma semana. — Foi o máximo que pôde responder.

O moreno de terno, tentando calcular a resposta, massageou a testa e as têmporas com a mão.

— Eu acordei ontem, tomei um banho, passei meu terno, vesti ele, voltei a dormir... acordei anteontem, dei uma volta pelo quarto e dormi de novo... — Recapitulava em voz alta. Em certo momento decidiu que era bobagem continuar naquilo. — Deixa pra lá. O importante é que eu não dormi por uma semana!

Quando o viu sorrir, Asa ficou mais encorajado a pedir o que queria:

— Senhor, eu achei um planeta próximo daqui e queria a sua permissão para aterrissarmos nele. 

Santsuki jogou os olhos para um lado, para o outro, deu dois tapas leves no ombro dele e respondeu em dois segundos:

— É claro. Aliás, o que é que o Satori fez para o almoço hoje? É hora do almoço ou da janta? Aquele garoto é um ótimo cozinheiro, todos vocês são ótimos fazendo... tudo o que eu tenho preguiça de fazer. Mas você e o Satori são os meus favoritos. Não conta pros outros que eu disse isso.

Asa respirou aliviado. Já não tinha mais a mesma imagem de Santsuki. É claro que continuava a temê-lo e respeitá-lo, mas tinha muito menos medo dele, e toda essa parcela de medo que já não sentia mais, entretanto, se somou à já imensa admiração que nutria pelo vilão. Admiração mesclada com inveja. Ansiava por ser como ele, em gozar da mesma reputação e, sobretudo, do mesmo nível de poder, o seguia porque, enquanto não chegava a tanto, queria ter uma ideia do que ele de fato era capaz, vê-lo em ação.

Os dois voltaram juntos para o refeitório, onde se encontravam apenas três dos outros quatro: Satori, Michiko e Iorui. Satori era o inteligente, o cozinheiro, Michiko era a ruiva louca, obcecada por Santsuki, Iorui era o engraçadinho, rival de Asa. Por fim, Naomi, a menina do sotaque francês que não desceu para comer com eles naquele dia, era o coração do quarteto, uma alma bondosa. Ela só se uniu a eles para salvar de suas mãos o máximo de inocentes que conseguisse, pois não conhecia ninguém capaz de pará-los.

Satori aterrissou a espaçonave em Alteraxi, um enorme planeta verde azulado bastante parecido com a Terra na vegetação e nas formas de vida que abrigava e tão tecnologicamente avançado quanto ela, muito embora a natureza fosse mais presente no dia a dia das pessoas. No local que Santsuki escolheu para realizar o pouso só havia amanhecido há três horas. Cada um dos seis foi para um lado, o que ficou decidido foi que, assim que anoitecesse, todos se reuniriam onde a nave foi estacionada. 

Tudo estava muito calmo. Santsuki já havia estado ali várias vezes antes e, como de costume, ele foi direto para a lanchonete onde ficava quando visitava Alteraxi, um humilde lugarzinho de paredes brancas, teto vermelho, grande balcão bege e pisos de azulejo brancos rosados. O estabelecimento só contava com seis mesas de metal postas em fileira, ao lado da grande janela retangular que dava a quem estava dentro a visão de fora e a quem estava fora a visão de dentro. Ele estava vazio antes de Santsuki chegar e se sentar numa das cadeiras giratórias frente ao balcão. 

 — Da casa! — Chamou o vilão, fatigado pela demora para receber atendimento. 

Um homem gordo, alto, de pele acinzentada, rede nos cabelos negros e vestidão branco apareceu e sorriu quando o viu ali sentado. Foi-se o tempo em que tinha medo dele. Há anos lhe servia o mesmo chá de gengibre com mel, o mesmo doce de sapota preta e o ouvia falar sobre o tédio insuportável no qual sua vida naufragou depois que Kaira e Yume morreram. Santsuki sempre dizia que era por causa dele que não destruía Alteraxi e não matava ninguém, então o fazia se sentir um herói.

Seu nome era Masako, ele não tinha superforça e nenhum tipo de poder especial, era apenas alguém que trabalhava no mesmo lugar há bastante tempo e exercia dois empregos em dois períodos diferentes para sustentar a família. O contraste entre sua vida e a de Santsuki era impressionante: o homem comum e o retalhador mais poderoso da galáxia, o humilde trabalhador sem ambição e o destruidor de constelações que terá seu nome escrito para sempre na história como sinônimo de morte.

Santsuki apoiou os cotovelos sobre o balcão e juntou as mãos.

— O de sempre? — Perguntou-lhe Masako.

— Você me conhece. Sabe que eu não gosto de mudanças. — Respondeu o poderoso guerreiro, cordial como sempre era à primeira vista. Masako foi lá dentro, avisou os cozinheiros do pedido e voltou para escutar seu velho "amigo". 

— E então, o que anda fazendo? 

— Eu tenho dormido... Hoje eu acordei achando que tinha dormido por uma semana. Antes eu ainda me preocupava com acordar pra cozinhar pra mim mesmo, mas agora esses cinco jovens que me seguem sem eu ter chamado fazem isso por mim, então só o que eu tenho feito é lavar e passar meus ternos e gravatas. — Contou. Falava arrastado, pausadamente e desanimado, suas palavras expressavam a grande decepção dele com ele mesmo e sua enorme insatisfação com sua própria vida. — Mas hoje eu tive um sonho.

— Pesadelo?

— Hunf! Quem me dera... — Riu Santsuki, dando de ombros. — Nem no reino dos sonhos eu tenho emoção. Você não pode ter pesadelos se não tem medo de nada. O medo é um luxo, Masako... Um luxo de quem tem algo a perder. Eu sonhei que era criança de novo, que estava na Terra de Áries e encontrava um baú com ouro dentro. Agora estou pensando se vou pra lá mas não quero me decepcionar, sabe. Não sei se é a hora certa, se eles estão prontos para me receber.

Masako deu de ombros e respondeu:

— Ninguém está. 

Santsuki refletiu um pouco sobre o que ele disse.

— Você tem razão. — Concordou.

Durante as conversas deles, a poucos quilômetros dali, Naomi fazia o que fazia toda vez que aterrissava com aquela equipe em um planeta: exortava o máximo de pessoas possível a se afastarem o mais longe que pudessem deles, porque onde quer que eles se encontravam aconteciam mortes e destruição. Asa, Michiko e Iorui eram os mais bárbaros e cruéis. Desafiavam o primeiro retalhador que viam, o matavam e em seguida massacravam o vilarejo do qual vinha o guerreiro perdedor, não deixavam uma só pessoa viva, fosse criança ou fosse idosa.

Naomi chamava atenção tanto pela mensagem que trazia quanto pela esplendorosa beleza de que era detentora. Tinha lindos olhos cor de mel, uma suave pele alva abençoada pela juventude, um sublime rosto de formato diamantino e um corpo esbelto. Era dona de uma longa cabeleira lisa e negra, profundamente negra, de um par de finos lábios rosados, de um nariz que não atraía atenção e de uma dupla de sobrancelhas pretas nas quais nunca tinha que tocar, a direita era parcialmente coberta pela franja lateral que ela deixava cair sobre a testa. Gostava de usar roupas escuras, ia sempre de azul: uma camisa social, uma saia de tamanho médio e sapatilhas.

Tinha somente dezesseis anos mas sua história de vida era tocante. Seus traumas de infância, ao contrário do que acontecia com muitos, lhe deram uma alma extremamente piedosa e caridosa. Era forte e amável mas de poucas palavras, uma menina tranquila, tardia no irar-se muito antes de todas as tragédias que lhe ocorreram. Para convencer Santsuki e os outros de que estava com eles, o máximo que se permitia, raramente, era o roubo, ainda que com dor na consciência. Levava comida, cobertores e água filtrada aos mais pobres. 

Naquele dia, porém, estava com um mau pressentimento. Uma má sensação que não experimentou nas outras vezes que aterrissaram em planetas e que não abandonou seu coração nem depois que ela esvaziou as redondezas. Solitária perto de um grande chafariz alaranjado igual a terra sobre a qual o fundaram, olhava em volta, preocupada. Sentou-se na borda dele. O que será que vai acontecer?, se perguntava. Hoje sentiu Santsuki diferente, ele parecia mais empolgado. O que é que ele está tramando?, procurava entender, aflita. 

Se algo acontecesse com aquele planeta, iria se sentir culpada para sempre. Teve várias chances de matá-lo mas se rendeu ao medo. Foi egoísta. O terror que sentia só de imaginá-lo sobrevivendo à sua tentativa de assassinato era paralisante. Foi até a porta do quarto dele várias vezes, pôs a mão na maçaneta em muitas delas mas em nenhuma ousou girá-la. Quem dirá abrir e entrar. Mas ele não passaria de hoje. Acabaria com a vida dele, ou pelo menos tentaria, mesmo que isso custasse a sua, as torturas a que poderia ser exposta caso fosse pega não a assustavam mais tanto quanto o remorso pelas vidas que ele tirasse.

Um menininho muito novo se aproximou dela com uma flor amarela nas mãos e cutucou seu braço.

— É pra você. — Disse o pequeno, estendendo o presente.

Naomi jogou a franja mais pro lado com um gesto de cabeça e olhou melhor o que era. Aprendeu a nunca abaixar a guarda. Quando constatou que era realmente o inocente presente de uma criança, sorriu com alegria e o recebeu com gentileza. 

— Obrigada, lindo! — Agradeceu, acariciando os cabelos castanhos do menino. — Mas uma coisa muito ruim vai acontecer aqui, você tem que avisar a todos os seus amigos e ir junto com eles pra bem longe desse lugar!

Os olhinhos escuros do garoto brilharam. 

— Eu não tenho pra onde ir. Moro por aqui em um abrigo porque perdi minha antiga casa e os meus pais, quando acordei todo mundo já tinha saído e agora não sei pra onde ir. 

 Naomi suspirou com pesar, levantou, pegou na mão dele e olhou ao redor. 

— Vem comigo. — Disse. Enquanto andava, para distraí-lo, começou uma conversa: — Por que a flor? Eu adorei, só tô perguntando porque fiquei curiosa!

— Meu pai me dizia para presentear com uma flor toda mulher que eu visse triste. — Respondeu o pequeno, comovendo-a.

 Terminando de beber o seu chá e dando a última colherada em seu doce de sapota preta, Santsuki se sentia incomodado por não ser mais o único cliente da lanchonete do Masako e estava louco para sair dali. As pessoas em volta o reconheciam, sabiam perfeitamente bem quem Santsuki era mas não tinham mais medo, anos frequentando aquela loja e esbarrando com ele deu-lhes a certeza de que ele não faria nada. 

Michiko abriu grosseiramente a porta e entrou ali alvoroçada. Seus longos, cacheados e vermelhos cabelos estavam mais embaraçados do que normalmente ficavam, seu cachecol amarelado estava amarrotado e ela também estava diferente, mais mal humorada. Foi direto até Santsuki.

— Iorui e eu encontramos um otário que está usando o seu nome para intimidar as pessoas. — Disse-lhe, furiosa.

Santsuki ficou parado olhando-a nos olhos por alguns segundos, virou-se para frente, terminou de mastigar o doce, limpou a boca com um guardanapo de papel, o jogou no lixo, tirou duas notas de dinheiro do bolso de seu paletó negro, as colocou em cima do balcão, afastou a cadeira, ficou de pé e olhou para Masako.

Masako olhou a jovem ruiva assustadora da cabeça aos pés, mas quando ela o olhou de volta, desviou os olhos rapidamente. 

— Tô indo, Masako. Tenho que resolver uma coisa ali fora. — Despediu-se do atendente.

Pela primeira vez depois de muito tempo o balconista sentiu medo dele. Não tanto dele quanto da garota que entrou ali e o avisou daquilo. Após vê-los sair pela porta, seguiu-os com os olhos por algumas quadras e temeu pelo que aconteceria. Por várias vezes no passado pôs todos os tipos de veneno conhecidos no doce e no chá dele, mas nenhum deles foi capaz de fazê-lo sentir o mais breve mal estar. Parecia que nada podia matar Santsuki. Que Deus tenha misericórdia de nós, rezou, voltando ao trabalho. 

 Iorui, um jovem pálido como um doente, parecido com um louco que acabou de fugir do hospício, continha sozinho o sujeito que estava usando o nome de Santsuki para conseguir vantagens. O impostor era não muito mais velho do que ele, tinha a pele cinza como a de boa parte dos habitantes de Alteraxi, vestia-se como um soldado terráqueo, era ruivo e estava de joelhos com a nuca presa à mão de Iorui. Havia pavor em sua face. Nem em seus piores sonhos imaginou que encontraria Santsuki algum dia. 

 Ao verem que ele realmente estava vindo, seus olhos refletiram um terror inédito. O próprio Santsuki, para ser sincero, não se importava nem um pouco com o que diziam ou faziam no nome dele, aliás, praticamente nada do que perturbava as outras pessoas atraía o interesse dele, estava indo atrás do indivíduo capturado por seus seguidores para fazer pose, por puro capricho.

Parou a um metro e meio de distância do desconhecido, inclinou-se com as mãos nas pernas e fez um gesto com a cabeça para Iorui soltá-lo. 

— Qual é o seu nome, filho? — Foi sua primeira pergunta.

Aterrorizado, sentado no chão, o rapaz respondeu:

— Muromachi. 

— Muromachi. — Repetiu Santsuki. — Nome engraçado. Muromachi, eu não sei o que eu faço com você. Tem muita gente olhando, todo mundo espera que eu faça algo com você, mas eu não sei o que fazer. Você tem uma sugestão? Eu estou aberto a sugestões. 

— Pode... me deixar... ir... — Sugeriu o rapaz, ainda amedrontado.

— Não é só o nome dele que é engraçado, ele também é! — Comentou Iorui, gargalhando maleficamente. Santsuki ouviu sua risada e, um pouco inseguro, tentou dar uma igualzinha, mas sentiu a voz falhar bem no meio e pigarreou. Iorui pediu: — Deixa que eu dou um jeito nele, senhor. 

Santsuki não viu por que não:

— Tá. O que forem fazer com ele, façam longe daqui, não quero que assustem o Masako e afastem os clientes dele. Muromachi, foi bom te conhecer. 

Iorui e Michiko arrastaram-no para longe e Santsuki voltou para a lanchonete de Masako, esticando os membros e massageando o próprio rosto o caminho todo até lá. Talvez estivesse ficando velho. Em outros tempos teria adorado matá-lo, mas ali, hoje, por alguma razão que não entendia, lhe pareceu chato, desinteressante. O que aconteceu com aquele Santsuki? Tinha medo da resposta, não queria que ele tivesse morrido com Yume e Kaira. Como comentou várias vezes com Masako, talvez começar aquela guerra tenha sido um erro. Se não tivesse feito aquilo ainda teria uma rival a altura para enfrentar. 

A hora de ir embora veio. Após todos os tripulantes embarcarem na nave, Satori voou para o espaço mas, a pedido de Santsuki, parou a nave alguns anos-luz acima do planeta Alteraxi. Da janela, daquela distância, o vilão e todos os seus seguidores tinham uma perfeita visão do planeta e o fitavam juntos, em silêncio. O vilão de terno mantinha nos lábios um sorriso nostálgico. Naomi, de braços cruzados, olhava o planeta pensando nas pessoas que tirou de suas casas. A francesa estava feliz porque aquela foi a primeira vez que eles desceram num planeta e não mataram nenhum inocente. 

Com o orgulho de um pai mostrando aos filhos a empresa que eles herdariam, Santsuki, sem tirar os olhos de Alteraxi, pôs as mãos no ombro de Asa e de Iorui. 

— É um belo planeta, não é, rapazes? — Disse. — Asa, meu garoto, conte pra gente o que você fez hoje. Você, o Satori e a Naomi foram os únicos que eu não vi o dia inteirinho. 

— Eu passei o dia caminhando. O senhor tem razão, é um belo planeta. — Concordou Asa, muito melhor de fisionomia do que antes. A caminhada por um mundo normal, como previu, lhe fez muito bem. — Senti falta de estar em contato com a natureza. 

— É claro que sentiu! — Santsuki, com animação, exclamou. — Você, de nós, é o que mais gosta do seu estado de natureza. É princípio de prazer e não esconde isso, é hostil à civilização! E quanto a você, Satori, o que fez o dia todo? 

— Eu fui à biblioteca, senhor. — Respondeu-lhe o jovem. — Tentei ver se tinham livros que não temos aqui e trouxe alguns.

— Ótimo! Depois os comentaremos juntos! — Festejou Santsuki. — E você, Naomi? Presenteie os nossos ouvidos com seu charmoso sotaque!

— Eu... passeei. — Ela retrucou. — Também só quis entrar em contato com a natureza mais uma vez. 

Ok, Santsuki assentiu e voltou sua atenção para Alteraxi.

— O importante é que vocês se divertiram. Agora quero que contemplem isso. Sabem, o legal de uma experiência, de uma vivência, é que ela é única... — Disse. O início de seu discurso provocou preocupação em Naomi. — Não importa o que façamos nem o quanto tentemos, nunca mais reviveremos uma experiência exatamente como na primeira vez. Tudo o que passou está consumado. Observem isso. Observem bem isso.

O planeta explodiu completamente bem na frente dos seus olhos, gerando um incrível espetáculo psicodélico de luzes e cores que deixou Naomi horrorizada, a fez correr dali em estado de choque. Santsuki, o responsável pela obra de arte, não queria ver, queria sentir o que fez, então fechou os olhos, suspirou e sorriu durante toda a exposição.

Tremores atingiram a espaçonave em que eles estavam, fizeram as luzes piscarem. Satori correu para ver se nada havia queimado, para fazer os reparos que fossem necessários, mas Santsuki o segurou, disse que não era nada. Ele parou onde estava. Próximo destino: Terra de Áries, decretou o vilão, esfregando as mãos maquiavelicamente. 

Fim.


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