Christmas Week 2: Olicity Version escrita por Ciin Smoak, Regina Rhodes Merlyn, Buhh Smoak, Thaís Romes, Ellen Freitas, SweetBegonia, MylleC


Capítulo 4
Um Acordo de Natal - Thaís Romes


Notas iniciais do capítulo

Oi gentes!

Particularmente não sou uma pessoa natalina por assim dizer, digamos que é bem dificil gostar do Natal quando tem pessoas te cobrando presentes em sua festa de aniversário... Mas meus traumas a parte, havia uma coisa que sempre me fazia feliz nesse dia. Minha avó sempre contava a mesma história, que em resumo era ela dizendo que eu era seu presente de Natal.
Então acho que esse é o verdadeiro sentido dessa época, nos cercar de pessoas que nos amam e nos fazem ser gratos por elas apenas respirarem...
Bom, espero que nessa data vocês possam estar ao lado de todos que realmente importam, e tenham seu dia cheio de momentos memoráveis.

Nos vemos nas notas finais xuxus!



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ACORDO DE NATAL

Oliver Queen

 Star City, 24 de dezembro de 2015.

Meu corpo está coberto pelo sangue dela. Não consigo pensar com clareza.

Sei que John, e minha irmã permanecem ao meu lado, só não saberia dizer se por precisarem de igual apoio, ou por pensarem que posso sair desse hospital com sangue nos olhos e a sentença de morte do desgraçado do Damien em meu arco.

As horas se passam e mais algumas pessoas me consolam, como se já a tivesse perdido. Não reconheço o rosto de nenhuma delas, não me conecto a nenhum de seus discursos, apenas permaneço em silencio com meus olhos na porta dupla por onde a levaram a caminho da cirurgia que pode ou não a salvar.

—Ollie? -sinto uma mão em meu ombro e não preciso olhar para saber de quem se trata, permaneço na mesma posição, em silencio -Não vamos perder mais ninguém, isso não vai acontecer - havia um misto de fúria, desespero e incompreensão no tom que Thea usara -Precisa acreditar.

—Felicity é mais forte do que todos nós juntos -John acrescenta, sentado do meu outro lado. A fúria em sua voz era contida apenas pelo tom embargado, como se o ar estivesse ficando mais e mais escarço a cada maldito segundo.

Ninguém mais ousou tentar me consolar depois de sua fala. Cogitar a morte de Felicity naquele momento seria o mesmo de comprar uma briga das grandes com a versão mais irritada do John Diggle.

Não sei quanto tempo se passou até que as portas se abrissem e uma mulher trajando o uniforme azul da equipe do hospital caminhar em nossa direção com um pacote azul em mãos. Foi quando percebi quem mais estava por ali. Laurel abraçava seu pai, enquanto o restante do nosso time se encolhia em algum canto tentando manter a compostura da forma que conseguiam. A cada passo dela meu peito se apertava, mais e mais.

—O senhor é o noivo da paciente? -questiona com uma expressão de empatia profissional e imediatamente a mão de Thea se aperta ao redor do meu braço.

—Ela...? -não consigo dizer mais nada além disso.

—Ela saiu de cirurgia? -Laurel se pronuncia, ao perceber que ninguém ali tinha a menor condição de falar.

—Não ainda - responde a mulher -Só preciso entregar os pertences da paciente -estende o pacote para mim e posso ver o casaco ensanguentado através do plástico azul quase transparente -Achei melhor não colocar isso junto -me entrega por fim o anel que era da minha mãe, que passou poucos minutos no dedo da mulher que amo -Volto com notícias em breve.

—Obrigado -respondo mecanicamente, observando os cantinhos onde o diamante e o ouro se fundiam manchados com sangue seco.

Me levanto assim que ela se vai e posso sentir todos os pares de olhos sobre mim.

—Oliver -a mão de Thea tenta me deter, mas a retiro com cuidado e me viro por um momento para que pudesse ver meu rosto e se tranquilizar de alguma forma.

—Só vou dar uma volta, preciso de ar – falei.

Seus olhos estavam cheios de lágrimas que ela corajosamente tentava manter sob controle para me dar suporte. Mas não preciso de suporte. Não quero que me consolem ou se preocupem se vou ou não perder a cabeça de vez. Só o que quero é Felicity saudável e inteira. Entro no elevador e aperto o último andar possível, a necessidade de me afastar se tornando mais vital a cada instante. A ideia de perder alguém sempre me causou calafrios e apreensão, mas perder Felicity é algo ainda mais esmagador e brutal. Não sei como lidar com tal possibilidade. Normalmente é nesse instante que ela surgiria gritando comigo, me abraçando ou me mostrando um novo caminho possível.

No último andar, pego a escada de serviço e subo três degraus por vez, até encontrar a porta que me levaria ao telhado. É quase reconfortante observar as luzes da cidade ali do alto. Mesmo com a violência e os Fantasmas do Damien Darhk a solta, Star City parece se recusar a cair. No fim das contas é minha culpa. Vai ser minha, e só minha culpa se ela morrer. Só de pensar nisso me sinto sem chão. Talvez fosse melhor se nunca tivesse cedido, se continuasse sendo apenas seu amigo, parceiro... Inspiro o máximo de ar que consigo, na esperança de que algo possa surgir, uma maldita luz nessa porra de túnel apareça e mude o destino dessa merda de vida que tenho.

“Existe um preço” Um calafrio em minha nuca se segue a voz gélida e fantasmagórica.

Me viro em sua direção, já analisando todo o terreno a minha volta, rotas de fuga ou possíveis armas improvisadas. Mas o que encontro é ainda pior do que um inimigo buscando minha morte. Uma forma espectral flutuava a poucos centímetros do chão. Se parecia com um homem jovem, trajando capa verde com um capuz que cobria sua face. Meu cérebro começa a estudar todas as formas que poderia o ferir se for preciso, mas algo me dizia que aquela coisa provavelmente era intangível.

—Quem é você? -minha voz é baixa e ameaçadora, mas não resulta em nenhuma reação do homem.

“Um velho... Ou melhor, no ano em que está eu seria um futuro amigo. Costumava me chamar Hal Jordan, mas me conhecem por Espectro agora.” Novamente o calafrio. “Ainda não nos conhecemos, mas lhe devo a minha vida.”

—Não me parece muito vivo -não posso impedir o sarcasmo, provocando uma risada do outro que soa como gelo sendo partido.

“Acredite em mim Ollie, isso aconteceria uma década antes se não fosse por você.”

Ollie? Poucas pessoas me chamam dessa forma. Sem baixar a guarda, dou mais um passo em sua direção na esperança de conseguir ver sua face encoberta, mas só consigo enxergar um sorriso sinistro, não apenas por vir de um cara aparentemente morto, mas por conseguir ver através de seu corpo a essa distância.

—Você veio ajudar? -questiono transbordando desconfiança -Pode salvá-la?

“Não sou necessário nesse sentido, mas posso oferecer um acordo que talvez te ajude a escolher caminhos diferentes que evitem o futuro que te aguarda.” Ele desaparece diante dos meus olhos, me deixando sem reação.

“Sabe que existem multiversos diferentes, com outros Oliver Queen. Em alguns você nem mesmo é um herói, outros você e Felicity nunca se conheceram e está em uma relação nada saudável com uma versão da Canário Negro que tem metade da sua idade.” Agora ele estava pairando sob o ar a minha frente, flutuando diante do prédio. “Mas uma coisa é sempre corriqueira em suas vidas, Queen.” Um suspiro de pesar pode ser ouvido.

—O que? -as palavras saem sem que permita. Por mais que minha mente me mande não confiar, algo naquele ser me puxava em sua direção.

“Seu sacrifício.” O lamento em sua voz chega a ser palpável. “Quando não por heroísmo, por vingança. Não importa. No fim, ou você se doa por um bem maior, ou se consome em uma busca implacável por revanche.”

—Ela está viva... -engulo em seco -Nessas terras em que não nos conhecemos, Felicity está segura?

“Em algumas, mas Ollie...”

 -Qual o acordo que quer me propor? -interrompo. Todo o seu corpo fantasmagórico exalava desapontamento, mas sinceramente estava pouco me importando com os sentimentos desse ser, só o que consigo focar é na possibilidade de mantê-la viva e segura.

“Uma escolha, se aceitar serei sua companhia nessa noite.”

—Vai salvá-la? -enfatizo sem paciência.

“Tudo bem, mas durante essa noite você seguirá minhas regras.”

—Certo.

Talvez devesse ter pensado melhor, é a única coisa que me passa pela cabeça quando percebo que estou dentro da QC, ao lado do meu pai, que flertava abertamente com uma jovem secretária, muito parecida com a Rochev. Meu antigo escritório nem mesmo era meu. Uma foto de nossa família estava sobre a mesa, outra onde Thea e eu sorriamos para uma câmera qualquer. Eu me esqueci de seus defeitos depois desses anos, me esqueci das traições e seus valores ambíguos.

—Nunca nos lembramos de nada ruim daqueles que nos deixaram -meu pai diz, mas a voz era do maldito fantasma -Achei que ficaria mais relaxado com essa forma -gesticula para o próprio corpo.

—Está errado -por algum motivo minha falta de humor o diverte.

—Deus, você era realmente chato no passado -o sorriso de diversão em seu rosto contradiz por completo a fala que sai de sua boca -Vamos, estamos atrasados.

—Onde nós estamos? -questiono, o seguindo em direção ao elevador da empresa.

—Em sua terra, esse seria o quarto Natal antes de você voltar e se tornar o Arqueiro -ele sorri cheio de malicia para a secretária quando passamos por ela.

—Mas meu pai não estaria mais vivo -olho em volta para me certificar que ninguém mais estava por perto.

—Seu pai nunca entrou naquele barco. Nem você -dá de ombros, entrando no elevador.

—Tenho uma vida normal? -a porta se fecha e ele apenas meneia a cabeça sem realmente responder minha pergunta.

Alguns andares se passam e um turbilhão de pensamentos me atingem. Sem o Gambit não haveria Slade, Ra’s Al Ghul ou Damien Darhk. Star City nunca teria entrado no radar de nenhum maluco desses, a cidade estaria a salvo... Ou não?

Quando as portas se abrem e o saguão de entrada se torna visível, só o que consigo ver são pessoas trajando roupas cinzas e bem parecidas. Elas andavam em direções opostas pela cidade, parecendo cada um ter seu próprio dever a cumprir.

Caminhamos, nos destacando na multidão com nossos ternos escuros e luxuosos, que chegam a parecer ridículos se comparados a simplicidade das roupas daquelas pessoas.

—Onde estamos indo? -meu estomago se embrulha quando percebo um monte de ruinas onde costumava ser os Glades. Crianças andando em fila indiana na direção de um grande prédio de vidros espelhados chamam minha atenção -O que é aquilo?

—Damien é do tipo que curte ordem -dá de ombros.

—Damien Darhk? -repito como se seu nome fosse uma ofensa. -Ele nem mesmo deveria estar aqui...

—Acorda Oliver, não existe Arqueiro Verde -ele me encara por um instante e mostra onde estávamos.

—Prefeitura? -o prédio era o mesmo, mas todos dentro pareciam variações de uma coisa só. Mesmas roupas, andavam no mesmo ritimo e possuíam uma espécie de olhar apático.

—Reunião de negócios.

Somos recebidos por seguranças que nos guiam até um corredor no subterrâneo. Aquilo começava a ficar mais familiar a cada passo. Um elevador escondido e quase posso exalar toda a adrenalina e antecipação que sinto.

—Esse é o bunker -murmuro surpreso e pela primeira vez desde o acidente em meu noivado, consigo sorrir.

É natural e acontece sem que me dê conta no instante em que a porta se abre, e a vejo. Estava prestes a correr em sua direção, mas a mão do fantasma que possuía meu pai me detém. Lanço a ele o olhar mais ameaçador que possuo, mas o desgraçado apenas me puxa para trás, me impedindo de encontrá-la. Só consigo entender o motivo quando nos aproximávamos e percebo uma algema mais larga entre seus pulsos. Ela digitava sem emoção, encarando a tela do computador como se aquilo a torturasse.

—Queen’s! -uma voz capaz de despertar minha ira de imediato nos recebe. Por algum motivo sou incapaz de mover meu próprio corpo.

—Sorria -o fantasma sussurra para mim, antes que pudesse me mover novamente. -Darhk, não estamos atrasados, estamos? -se volta para o outro em uma imitação perfeita de Robert Queen.

—São os primeiros -sorri com simpatia antes de se virar na direção de Felicity, que nos encarava agora com uma fúria assassina nos olhos -Você não conta, querida -diz a ela, me fazendo cerrar os punhos -Ela nunca saiu, então não pode dizer que foi a primeira a chegar -dá de ombros e o fantasma dá risada. Sou incapaz de fazer o mesmo -Agora que acabamos com os Glades, daremos início ao EAV e finalmente acabamos com aqueles ratos irritantes que tentavam nos atrapalhar - novamente olha de relance para Felicity, que nem mesmo se encolhe. Minha garota! -Podemos começar a expandir.

—Isso parece ser uma notícia excelente! -Robert/o fantasma, sorri amarelo olhando em volta.

—A melhor até o momento -ele nos indica uma mesa comprida. -Podem ficar à vontade, meus parceiros mais valiosos! -tenho vontade de vomitar com sua afirmação, mas me limito a encenar um sorriso e escolher uma das cadeiras disponíveis. -Vou cuidar dos últimos detalhes antes dos outros chegarem -avisa já nos dando as costas.

—Que porra é essa? -sussurro para o outro que dá de ombros.

—Uma vida normal, ou o que seria uma vida normal dos Queen’s sem o Gambit -indica o ambiente em volta -Corrupção e parceria em genocídios.

—Isso é absurdo! -solto, indignado, já me levantando. Ando rapidamente na direção de Felicity que me encara entre o nojo e incompreensão -Vou te tirar daqui -digo olhando em volta, em busca de algo que pudesse soltá-la.

—Posso ajudar? -o fantasma estava novamente ao meu lado.

—O que estão fazendo? -ela murmura confusa, depois parece perder a capacidade de respirar quando as algemas simplesmente desaparecem de suas mãos. Dou um passo em sua direção por reflexo. -Não me toque! -avisa -Não sei o que infernos está tramando dessa vez, mas não vou mais ser enganada... -o choro embargado em sua voz me atinge como um soco no estomago -Gostaria que me matassem logo, não suporto mais...

—Ollie, não temos tempo -diz o fantasma voltando a sua forma de Espectro -Se quer salvar a sua garota, é melhor sairmos daqui agora mesmo.

—Me desculpe -peço, olhando para Felicity que me encarava de volta irada.

Pressiono um ponto abaixo de sua clavícula a fazendo desmaiar rapidamente e pego-a no colo.

—Ela vai te espancar quando acordar -Espectro diz, nos conduzindo para os fundos do Bunker. 

—Isso parece errado -reclamo quando entramos em uma espécie de túnel -Felicity deveria ter uma vida normal, com uma família, uma casa...

—Felicity Smoak não é uma construção sua. Está longe de ser uma heroína que você criou -nós corremos para fora do lugar, nos afastando cada vez mais da cidade. Quando estávamos próximos a uma espécie de domo que a cercava os olhos de Felicity se abriram.

—Vou abrir a barreira por alguns segundos. Alguns amigos estão esperando por você -Espectro diz a ela, que mesmo não parecendo entender, assente.

—É seguro? -questiono em voz baixa a colocando de volta no chão.

—Ela não parece estar interessada em segurança -comenta, nos dando as costas para entoar uma espécie de feitiço.

—Por que me ajudou? -murmura me olhando sem ódio pela primeira vez.

—Não parece que fiz muito -lamento cheio de pesar, fazendo seu olhar se tornar confuso.

—Não vai dar tempo, precisa ir! -Espectro diz, e Felicity nem mesmo hesita, correndo sem olhar para trás em direção a liberdade.

No momento em que ela se foi tudo a nossa volta se tornou uma espiral de confusão. Segundos depois me vejo parado em frente a uma casa pequena e isolada, em um local iluminado e cheio de arvores ao redor, com Hal Jordan transparente ao meu lado, na forma do Espectro, mas pela primeira vez posso ver seu rosto com clareza. Seus olhos completamente brancos e sem vida, de alguma forma conseguiam transbordar sarcasmo, como se ansiasse por minha reação ao que estava por vir. Percebo um saco de presentes aos meus pés e Hal me orienta a segurá-lo. 

—O que estamos fazendo agora? -olho em volta, pensando em tudo o que havia deixado para trás -Ela deve estar saindo de cirurgia...

—Sua Felicity vai ficar bem, não foi o que prometi? -me interrompe com sua forma tremeluzindo ao vento. Vou sonhar com essa merda pelos próximos meses. Certeza.

—Só tenho que suportar esse tempo com você -murmuro, me lembrando como se isso passasse a ser meu mantra. Hal leva a mão ao peito transparente de forma teatral, e não consigo deixar de revirar os olhos com aquilo.

—Só vou deixar isso passar por todos nossos anos de amizade –reclama, exagerando no drama.

—Eu não te conheço -checo os bolsos da jaqueta que usava por puro habito. Havia um molhe de chaves e meu celular, bom, o celular do Oliver de seja qual for essa terra da vez. -Quem estarei visitando?

—Ah, aqui vai ter muito drama! -comenta animado, me fazendo o encarar impaciente. -Da próxima vez, deveriam enviar o Batman -reclama -Vocês seriam o par perfeito.

—Batman não existe -sem mais saco, começo a ver se alguma das chaves no conjunto abriria a porta, tendo sucesso na terceira -Vamos logo com isso.

Entro na casa e posso prever de imediato quem era a moradora. Era claramente uma casa de família, o que é estranho de alguma forma. A sala parecia acolhedora, com uma lareira pequena e algo que deveria indicar o esforço de uma judia em montar uma árvore de natal, com alguns presentes dispostos na base. Por algum motivo acho que deveria juntar os meus aos que estavam lá, então retiro dois embrulhos do saco e os coloco junto aos outros. Mas no momento em que me levanto sinto o ar me faltar. Ao lado da Menorah, sobre uma estante, havia uma foto de Felicity abraçada ao William, meu filho do qual ela não sabe da existência.

—Qual o significado disso? -me viro para o ser que pairava ao meu lado como uma assombração assistindo sua série favorita.

—Nesse mundo quase tudo aconteceu exatamente como em sua terra -começa a narrar, atravessando a arvore e fazendo com que um enfeite torto ficasse da forma correta -Mas quando ela descobriu que ainda guardava segredos dela, bom, foi o último prego no caixão Olicity -reviro os olhos, desejando ter um controle de velocidade desse cara -A verdade é que de todos vocês, ela é a única que não precisa estar em Star City para ajudar a cidade, ou ao time.

—Felicity me deixou? -a incredulidade em minha voz, beira a hipocrisia. Eu mesmo estava planejando uma forma de conseguir isso depois de quase perde-la.

—Sim e não -dá de ombros, o que é sinistro vindo de um fantasma -Vocês não são exatamente um casal, mas não sei se entendem como términos funcionam. O que aconteceu é que alguns meses depois de ela partir, você bateu em sua porta com o garoto que havia acabado de perder a mãe. Era perigoso o ter por perto, mas ele não tinha mais ninguém. Ela o cria desde então, e você faz visitas esporádicas quando tem certeza que não será seguido.

—Ela acolheu meu filho, depois de tudo o que fiz?

Passo meus olhos pela sala e só então vejo muitas fotos do William espalhadas pelo local, e na entrada do corredor estava uma de nós três juntos, onde o corpo dele pendia totalmente para o lado dela, como se minha presença o deixasse desconfortável. Já no corredor, começo a escutar sons e algumas risadas infantis.

Sentados em frente a bancada da cozinha, eles estavam completamente sujos, tentando moldar algo em suas mãos. Vejo algumas bandejas com formas indescritíveis que lembravam árvores deformadas e anjos derretidos.

—É divertido, confessa -ela empurra de leve o ombro do garoto com o seu -Seu pai vai ficar chocando quando ver nosso talento para biscoitos natalinos! -olho para a confusão em volta e percebo que William fazia o mesmo, mas hesitava em dizer a realidade a ela.

—Não acho que sejamos bons -diz com cuidado e Felicity solta uma gargalhada com vontade, das que me fazem suspirar ao assistir.

—Nós somos péssimos! -corrige, olhando os biscoitos arruinados em volta -Mas meu amor, marketing é tudo!

—Talvez ele nem possa vir -William tenta parecer otimista, mas a decepção gritante em seus olhos era muito difícil de disfarçar -Oliver sempre precisa salvar a cidade ou alguém.

—Seu pai é um herói -destaca a palavra propositalmente -Mas nada é mais importante para ele do que você e sua segurança.

Eles são uma família. De alguma forma ela tem feito com que meu filho se torne seu filho. Volto em silencio pelo corredor, abro com cuidado a porta e mecho as chaves nela, fazendo mais barulho que o necessário propositalmente. Depois a bato com mais força. Consigo escutar o barulho dos dois se apressando para maquiar a bagunça da cozinha e momentos depois Felicity está na ponta do corredor, com meu sorriso preferido em seu rosto e uma mancha de farinha na bochecha. William aparece poucos segundos depois e tenta disfarçar o sorriso que surge em sua face no instante em que me vê parado ao lado da árvore.

—Eu disse -ela murmura para ele que desvia os olhos para os próprios pés.

—Trouxe presentes -aponto para a árvore.

—Nós compramos alguns também, mas fizemos algo muito melhor que presentes -a careta no rosto de Felicity contradiz as palavras -Por que não leva seu pai a cozinha, Will?

O garoto apenas dá de ombros e se vira na direção contrária. Felicity sorri me encorajando a segui-lo. Sinto sua mão em meu ombro quando passo por ela e mesmo sentindo todo meu corpo ser puxado em sua direção, a experiencia anterior me ensinou que essas versões alternativas não seguem meus próprios instintos. Me limito a esboçar um sorriso fraco quando nossos olhos se encontram e ignorar como estava sexy cheia de farinha e parecendo tão despreocupada como agora.

—Pode provar o que quiser -William diz em frente as bandejas de biscoitos assados de diferentes tonalidades e formatos.

Aquilo era um massacre de árvores, Papais Noel e anjos. Escolho um que não estava parecendo queimado ou cru.

—Não esse! -grita William com os olhos arregalados, retirando o biscoito da minha mão. -Felicity confundiu ervas finas com erva doce e a pimenta do reino com a canela -mordo os lábios para não rir da expressão culpada da garota que nos observava parada a porta -Acho que talvez deva escolher qualquer um desta bandeja -aponta para outra que estava mais distante, e nenhum me parecia apetitoso, então escolho aleatoriamente o levando a boca sem rodeios.

O inferno deve ter o mesmo gosto disso, é a única certeza que tenho na vida!

—Acho que seus ovos podem estar vencidos -tento dizer isso sorrindo, mas os dois não estavam exalando culpa ou constrangimento. É como se constatassem finalmente uma suspeita antiga.

—Por isso o gosto sempre estava tão exótico -pondera Felicity.

—Exótico? -repito chocado -O que vocês normalmente comem?

—Aplicativo de comida -dizem juntos sem hesitar.

—Bom, parece ser a melhor opção -concordo, dando a volta na bancada e começando a arrumar aquela bagunça -Vou ver o que vocês têm em casa e o que pode ser feito.

—Já disse o quanto eu fico feliz sempre que volta para casa? -Felicity solta se sentando a minha frente na bancada, me observando limpar. William permanecia escorado no batente da porta, tentando não olhar em minha direção.

—Fico feliz em voltar também -respondo, sorrindo para ela.

—Me chamem quando for a hora de comer -Will murmura nos dando as costas.

—Puberdade -Felicity dá de ombros o justificando.

—Vocês se dão bem -comento me livrando de todos os biscoitos estragados e começando a ver o que conseguiria fazer com o que ela tinha na geladeira.

—William é estranhamente parecido comigo -posso sentir o orgulho velado em sua voz. -Não tem como não dar certo.

—Não sei se te agradeci por isso -fecho a geladeira e me viro para olhá-la nos olhos. -Mas a verdade é que não tenho ideia se seria capaz de fazer qualquer coisa sem você -o nó em minha garganta faz com que ela me olhe preocupada -Antes de você tudo que tinha era uma lista de nomes e minha própria interpretação do último desejo do meu pai, mas eu quis ser mais que um vigilante para ser o que via em mim, o que a fazia confiar em um cara como eu.

—Você é um herói -fala com um suspiro preocupado, estudando cada parte do meu rosto. Abaixo a cabeça e tento me focar em sua voz. Era difícil tirar sua imagem ensanguentada da minha mente, pensar que se falhar com essa merda de missão sádica posso nunca mais escutá-la -Está tremendo -sua mão toca a minha com naturalidade. A seguro como se minha sanidade dependesse daquele mínimo toque -Vou pedir comida no aplicativo, você precisa de outra coisa agora.

—Posso cozinhar -minha voz soa rouca e posso sentir meus olhos úmidos.

—Claro que pode, mas não vai -dá a volta na bancada e para a minha frente. É tão pequena que pode me olhar facilmente ao levantar a cabeça -Não sei o que está acontecendo Oliver, mas não está sozinho, nunca precisou ficar.

Me puxa em direção a sala e grita o William no meio do corredor. Se senta aos pés da árvore e bate no chão ao seu lado para que me junte a ela. Will aparece e se senta em silencio ao meu lado, mas só por que Felicity não deixou nenhum espaço para que ele ficasse ao lado dela. Pega um embrulho azul, cuidadosamente feito e o estende para William que abre um sorriso tímido.

—Sabia que esse era o meu! -diz, rasgando o papel e seus olhos brilham ao ver um notebook novo -Felicity, você é incrível!

—Claro, claro -dá de ombros com falsa modéstia -Não é o que ele diz quando digo que não vai ir à casa de seus amigos da escola -sussurra a última parte para que somente eu escutasse.

—Também tenho um presente -de alguma forma, sabia que o embrulho maior era o dele, então o entrego uma caixa média, e Felicity apoia a cabeça em meu ombro para conseguir ver a reação do garoto.

Era um álbum com fotos antigas minhas, de Thea, dos meus pais e no fim algumas dele pequeno com sua mãe e avós maternos. Nunca havia visto aquelas fotos, mas a semelhança entre nós era gritante. No fundo da caixa havia algo parecido com um livro velho, ele levanta o objeto com cuidado, sem entender o significado. Respiro fundo ao reconhecer, e entendo de imediato qual era a intenção desse Oliver com isso.

—Nós não passamos muito tempo juntos e não acho que é justo -digo com cuidado -Mas manter você... -me viro para Felicity, que tinha seu queixo apoiado em meu ombro e os óculos nas mãos - E você -seus olhos brilhavam e poder sentir sua respiração era o único presente que precisava receber naquela noite –Seguros, é tudo o que importa no mundo para mim.

—Felicity me diz isso –Will fala sem me olhar, totalmente na defensiva -Todos os dias.

—Mas seus amigos tem pais que voltam para casa todos os dias, que estão ao lado deles e você mal conhece o seu -completo e pela primeira vez ele me olha. Não esperava minha sinceridade -Esse é um dos meus diários. Não é exatamente a melhor leitura para um garoto da sua idade, mas não quero ser um estranho para meu próprio filho. Quero estar na vida de vocês, por que são o motivo de eu estar lá fora lutando. Espero que entenda isso um dia -apenas nos olhamos por um momento, esse garoto perdeu todo o seu mundo e eu se quer estou ao seu lado. William assente depois de alguns segundos.

—Eu te comprei uma camisa -brinca com um pequeno sorriso tímido, me estendendo um embrulho mole.

Felicity me deu um celular não rastreável com linha direta para a casa em que moravam e o telefone pessoal dos dois, que só poderia ser ativado com minha retina, uma senha de voz e outra de dígitos. Era o melhor presente que poderia querer: uma forma de vê-los sempre que precisasse e não ter risco de coloca-los em perigo. William deu a ela um livro de receitas, o que nos redeu boas gargalhadas. Quando ela começou a abrir meu presente, eu estava mais apreensivo do que os dois, Felicity é do tipo que não rasga embrulhos, então precisamos esperar pacientemente enquanto ela soltava cada durex que prendia o papel de presente.

—Você lembrou! -me olha emocionada antes de se virar para meu filho. -Quando nos conhecemos seu pai sempre inventava as piores desculpas para me pedi favores...

—Não eram assim tão ruins -me defendo.

—Ele me pediu para ver o que havia em um notebook com buracos de balas e afirmou que havia derramado café nele -argumenta fazendo Will gargalhar.

—Nossa, mal me lembrava disso -confesso dando risada. -Quando me perguntou disse algo sobre meu café ser...

—Em um local perigoso! -ela completa me olhando com quase pena.

—Uau pai, essa é a pior desculpa que já criaram -Felicity e eu sorrimos ao escutá-lo me chamando de pai sem nem mesmo se dar conta. -Por que o ajudava?

—Meu charme -pisco para ela que desvia os olhos corando, provocando mais risadas no meu filho.

—Essa garrafa de vinho ele me prometeu em um desses casos, algo como uma caçada ao tesouro -somos tomados por nostalgia, em pensar que nunca cogitei que aqueles fossem tempos mais simples. -Oliver você definitivamente não sabe mentir!

—Como consegue manter sua identidade secreta? -William pergunta, com seu rosto infantil em um misto de curiosidade e preocupação.

—Nunca fui bom em mentir para ela -indico Felicity. -Mas me viro muito bem com o resto.

—Até hoje não consigo entender como não te entreguei a polícia -coça a cabeça encarando o presente na caixa.

—Acho que já gostava dele, no documentário que nós assistimos ontem, aquele médico disse que a ocitocina costuma prejudicar nosso julgamento -William dá de ombros e nós quase engasgamos com a naturalidade que ele tratava nosso relacionamento problemático. Era como ver Felicity devaneando, não sei como meu filho pode se parecer tanto com ela.

—De qualquer forma, obrigada por se lembrar - sorri erguendo uma garrafa de vinho cara, mas algo cai do fundo da caixa, eram pendrives um tinha seu nome e o outro o do William. O sorriso desaparece de seu rosto, mas ela finge um para que meu filho não percebesse a mudança de clima -Will, por que não vai colocando o seu computador no lugar do antigo, eu posso fazer a configuração que quiser nele.

—Sério? -se levanta em um salto, correndo de imediato para o quarto quando ela confirma.

—Caixas pretas, é sério? -ergue a sobrancelha me encarando. -Oliver!

—É só um seguro -suspiro, um misto de tristeza e aceitação, minha vida sempre vai ser isso.

—O que tem em um pendrive que não pode me dizer olhando nos olhos? -é minha vez de erguer a sobrancelha, mas ao contrário do que esperava ela não parece recuar.

—Eu não sei o que está aí -digo a verdade e ela não demonstra tanta surpresa quanto esperava -Não sou o seu Oliver. Fiz um acordo de acompanhar um cara morto por toda essa noite e em troca ele não me deixaria perder você -engulo em seco, encarando a realidade pela primeira vez -Sou uma droga de noivo, que mantém a existência de um filho em segredo, filho esse que é acabou se tornando seu também. Repito toda hora que não tive escolha, não tenho escolha... Foi o que a mãe dele decidiu. Sempre houve coisas que não te contei, mas antes não existia nada que não poderia conta-la, que não contaria. Agora você me disse sim, o que sempre quis escutar sair de sua boca, mas não sinto que mereça. Ao mesmo tempo não sei o que fazer se você não sobreviver a cirurgia -esfrego meus olhos, as palavras saiam como uma enxurrada. -Nunca suportei que nada te ameaçasse, estava ao seu lado e ainda assim não consegui...

—Hey! -sinto sua mão em minha face, havia lágrimas em seus olhos assim como nos meus. Acho que não poderia ter essa conversa com ninguém além dela -Não é sua escolha, Oliver, eu escolhi estar ao seu lado -deito minha cabeça em seu obro, permitindo que ela me console por meu medo de perde-la -Escolhi nessa terra, na sua e provavelmente em outras cinquenta. O fardo de carregar o mundo todo nas costas é pesado demais para você fazer sozinho. Deixa que nós, que te amamos e estamos ao seu lado, o ajudar. O que acha?

Ergo minha cabeça e tudo parece simples. É o superpoder de Felicity Smoak tornar qualquer coisa simples. Encosto minha testa na sua e damos sorrisos tristes um para o outro. Ninguém no universo deve ser mais forte do que essa mulher, acho que ela venceria fácil um apocalipse.

—E se partir como fez quando descobriu que esse Oliver escondeu algo de você? -murmuro, deixando meu pior pesadelo ser verbalizado.

—Não sei se percebeu, mas eu não deixei você -retruca acariciando meu cabelo. -William é o que tenho de mais importante agora, estamos separados Oliver, mas isso não significa que não te ame, que não ame seu filho. Só que deveria ter me contado, me incluído em suas tomadas de decisão. Ainda somos o porto seguro um do outro e sei que vamos fazer dar certo.

—Eu não te mereço -beijo seu ombro e escuto seu riso fraco.

—Pode deixar que te faço compensar isso durante nossa vida -responde ainda rindo.

Não falamos mais nada, apenas permanecemos como estávamos. Esse era um daqueles momentos perfeitos, uma família, lareira e presentes. Minha definição de vida perfeita. Mal posso imaginar como esse Oliver se sentia ao partir e deixa-los sem saber quando voltaria, ou se os veria novamente.

—Como sabia que eu não era eu? -pergunto sem me afastar dela, que apenas sorri com seu ar de nerd exalando.

—Olhou para tudo a sua volta como se fosse novidade e depois eu tenho sistema de câmeras -mostra um vídeo meu entrando e deixando os presentes sob a árvore -Acha que sou amadora? Estou criando uma criança, preciso ficar atenta as coisas a minha volta.

—É dificil? -afasto uma mecha de seus cabelos. -Digo, fazer tudo isso sozinha.

—Não estou sozinha -nega de uma forma fofa que me faz sorrir. -Vocês dois são minha vida, Oliver. Sou capaz de fazer qualquer coisa para que permaneçam em segurança.

—Eu sou capaz de vasculhar todo o multiverso, cada uma das realidades se isso significar manter você viva, ao meu lado -minhas palavras soam quase como uma ameaça. Não sei que espécie de sádico cria essas malditas realidades, mas era melhor que ficasse longe da minha família.

—Não sei o que está enfrentando agora, mas te conheço o bastante para saber que vai conseguir encontrar uma forma de fazer o que é certo – Felicity garante.

—Eu amo você -digo acariciando seu rosto.

—Amo você -responde fechando seus olhos ao meu toque.

Me inclino em sua direção, mas antes que nossos lábios se tocassem tudo muda novamente e mais uma vez estou no topo do hospital, em frente a figura fantasmagórica do Hal Jordan

—POR QUE ME TROUXE AGORA? -grito, irritado, para ele.

—Seu acordo, você cumpriu -responde como se fosse o retrato da serenidade -Mas eu espero que o que viu possa influenciar nas escolhas que fará, no que vai dizer a mulher que está prestes a acordar no pós-operatório.

—A cirurgia ocorreu bem? -questiono, já olhando na direção da porta.

Ele assente e eu começo a andar até me dar conta de um fato que vinha ignorando desde o início.

—Por que faz tanta questão que eu conserte as coisas com a Felicity?

—Sou um herói Oliver, como você... Bom, talvez nenhum seja como você, mas nós tentamos seguir o exemplo -ele tremula e ressurge ao meu lado -Parte do nosso futuro descende de vocês, e melhor do que Oliver Queen é só algo que possa vir dele e de Felicity Smoak. Quero que tenha mais tempo dessa vez, e encare isso como um presente de retribuição se preferir, mas não sou um dos inimigos que precisa combater.

Parte minha, a maior e que costuma sempre predominar nessas horas, me faz querer sair desse hospital e desaparecer. Garantir que minha vida e de Felicity se mantenham o mais separadas possível, mas só pensar nisso me sufoca. A necessidade dela é quase um vício, o medo de perde-la é pior ainda. Ela pode ser melhor com William do que eu, provavelmente isso aconteceria em qualquer realidade, talvez se não mentir consiga salvar Samantha de qual for o seu destino, talvez ser sincero possa garantir um caminho melhor para nós. Sem perceber já estava dentro da sala de espera com todos os meus amigos me encarando como se ainda esperassem que eu surtasse e quebrasse todo o hospital.

—Ela acordou -o médico diz na porta da sala. -Revertermos por algum milagre o dano em sua coluna, ela vai se recuperar bem -ele parecia em choque ao nos dar a notícia, vou na direção de seu quarto sem esperar mais nada.

Parece ainda menor naquela cama hospitalar, com aparelhos monitorando sua respiração e batimentos. O rosto estava completamente sem cor, com os olhos azuis destacando em meio a pele pálida. O meu sorriso favorito se abre em sua face, tudo nela gritava frágil, mas posso ver claro como o dia que sua força é maior do que a de qualquer um de nós. Sei disso agora.

—Oi estranho -sua voz soa fraca, quase um suspiro. Caminho em silencio, eufórico, feliz ou grato, não sei definir direito o que disso predominava. Me inclino e pressiono meus lábios em seus lábios frios, me obrigando a me afastar segundos depois -Não está dizimando toda a cidade com um arco na mão, isso é bom! -mesmo naquele estado, estava tentando fazer com que me sentisse melhor.

—Confesso que foi a primeira coisa que pensei em fazer -talvez eu deva retribuir seu esforço e sorrir em resposta. -Não consigo imaginar meu mundo sem você.

—Olha, eu tenho uma garantia que me dá permissão para te importunar pelo resto de nossos dias -ergue a mão esquerda, franzindo o rosto ao vê-la vazia.

—Alguém ousou tirar isso de seu dedo -pego a aliança em meu bolso e devolvo para o único lugar ao qual pertence.

—O que foi? -franze a testa. -Estou bem Oliver, nem os médicos conseguiram explicar como, mas parece que vou me curar perfeitamente!

—Graças a Deus -sussurro beijando sua mão.

—Então por que parece ainda ter algo o incomodando? -suspiro, esse era o momento.

 -Talvez não seja a melhor hora, mas a verdade é que descobri algo quando estávamos em Central City e venho querendo te contar desde então.

—Sabia que existia alguma coisa! -comemora como uma aluna aplicada que sempre tem a resposta certa.

—Não quero que pense que não foi a primeira pessoa para quem eu quis correr ao descobrir, mas não sabia como falar -olho para a aliança em sua mão, seu rosto cansado -Mas me fizeram prometer sigilo.

—Oliver, não é clamídia, é? -debocha me fazendo rir, mesmo com meu coração sendo esmagado em meu peito.

—Não Felicity -beijo sua mão, depois o topo de sua cabeça.

—Então podemos resolver, vai, me conta.

—Se lembra quando voltamos da Rússia? -murmuro acariciando sua mão.

—Como poderia esquecer -sorri fraquinho. -Acho que foi a primeira vez que as coisas ficaram realmente estranhas entre nós.

—Eu sempre soube que se me aproximasse de você não teria mais volta -confesso brincando com sua aliança. -Antes eu costumava dormir sem saber se faria isso no dia seguinte, ou se viveria até o final do mês. Mas quando não consegui mais negar o que sentia, meu primeiro instinto foi largar o arco, fugir para longe e te manter ao meu lado por todos os dias, semanas e anos que vissem.

—Eu estou bem -me lembra, secando algo em meu rosto.

—Felicity, não quero te perder -quase pareço uma criança, é patético, mas mal consigo respirar.

—Nós estamos juntos nisso -ela passa seus dedos por meu rosto e apoia meu queixo para que a olhasse nos olhos. Pego o celular em meu bolso e procuro pela foto que havia recebido em um e-mail de Samantha.

—O nome dele é William Clayton, é filho de uma garota que conheci na faculdade -mostro a foto do meu filho no celular e Felicity encara tudo aquilo sem entender o que estava acontecendo. -Samantha me disse que se contasse sobre ele não poderia estar na vida do garoto, mas você é minha vida e...

—Oliver, você não está fazendo sentido.

—Descobri que a oito anos, eu tive um filho -seu rosto fica completamente sem expressão. –Minha mãe a pagou para que ela desaparecesse e mantivesse o garoto em segredo, os encontrei por acaso em Central City...

—Por que não me falou? -seus olhos brilhavam, mas ao menos não havia soltado minha mão. -Pensou que eu não entenderia? -me encara magoada. Nego balançando a cabeça e nós nos olhamos tristes sem saber exatamente o que dizer em seguida.

—Eu quis contar, implorei a mãe dele -respiro fundo. -Era manter segredo ou nunca mais o ver.

—Então por que está me falando? -para minha surpresa ela parecia mais confusa do que qualquer outra coisa. -Não cogitou deixar seu...

—Não, claro que não! -interrompo e a vejo soltando o ar aliviada.

 Então entendo o que Hal Jordan quis me dizer com me dar uma escolha e toda aquela conversa de presente. Na realidade que visitei eu havia seguido o meu instinto de esconder e decidir por conta própria. A escolha dessa vez não era apenas minha, atrás dela, posso ver a figura do Espectro sorrir, aprovando o desfecho que havíamos escolhido para nossa história. E pela primeira vez desde segurá-la ensanguentada em meus braços pude sentir novamente esperança.


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Notas finais do capítulo

Oi de novo!
Espero de verdade que tenham gostado,e em minha defesa não sabia de nada sobre o Oliver se tornar o Espectro quando escrevi minha história, nunca pensei que usariam esse personagem na série.

Feliz Natal minha gente, desejo tudo de bom para vocês e claro, a Felicity no episódio final de Arrow!
Ah, não esqueçam de nos dizer o que acharam, nós sempre adoramos reponder a todos e saber o que pensam.

Bjnhos!!!