Namora Comigo? escrita por MJthequeen


Capítulo 2
Dois


Notas iniciais do capítulo

Aaah, consegui postar!
To megaaa feliz. Eu adorei fazer esse capitulo e o jeito como ele ficou tao superior ao original, mesmo mantendo tudo, foi perfeito hahaha
Meu cap preferido, com certeza!
Espero que vcs gostem :)
Vou tentar postar o ultimo no domingo!!
obrigada tdo mundo que leu e favoritou :D

Boa Leitura!



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Curiosidade 7 — Se dois estranhos forem forçados a conversar e a manter contato visual por algum tempo, é muito provável que eles se apaixonem. 

 

— Hm…? – Hinata soltou um sorriso nervoso, envergonhada, pois certamente tinha escutado errado. Obviamente, ele não tinha perguntado aquilo que ela entendera. Impossível.

— Preciso que você seja minha namorada.

Ela se sentiu tão surpreendida que precisou se sentar, decodificando lentamente o que ele havia dito. Sua boca abriu e fechou várias vezes, espantada. Com os olhos arregalados, encarou-o abismada.

— Quê?!

Gaara imaginou se ela tinha sentido vontade de soltar um lindo palavrão, que caberia muito bem naquele tom de voz, e suspirou alto. Até passou as mãos nos cabelos, antes de se aproximar dela, já meio arrependido do que tinha dito. A verdade é que não pensara direito; se tivesse pensado, teria chegado à conclusão que Hinata era sua pior escolha. Era uma ideia muito, muito idiota, até um pouco absurda. Ainda assim, já tinha falado, então teria que continuar.

— Não é o que você está pensando! – E suspirou de novo, ansioso. Estava tentando achar as palavras certas para explicar. – Não iríamos namorar de verdade, seria só fingimento. 

Hinata pareceu ficar mais constrangida ainda, tão espantada que era como se Gaara tivesse aberto seu box durante o banho. Franzindo a testa, ele sabia que poderia quebrar um ovo na cabeça dela e ele fritaria só com o calor. 

Ela precisou juntar muita coragem para dizer:

— P-Porque você fingiria namorar comigo?!

Bom, ele pensou, pelo menos ela ainda continuava ali, tentando entender, e não tinha simplesmente dado o fora. Gaara se sentou numa cadeira próxima à dela, franzindo a testa quando a menina foi ligeiramente para o lado, como se ele tivesse alguma doença contagiosa.

— Tudo bem, olha, você não foi uma escolha particular ou algo do tipo. Quando você me disse que eu poderia pedir qualquer coisa, bem… – Ele penteou o cabelo para trás, com a mão. – A oportunidade surgiu. Foi isso. – Então voltou a olhá-la e Hinata se surpreendeu com a força do ato. – Seria só até segunda-feira. Depois disso, nós podemos… romper. 

Gaara havia pensado naquelas condições desde domingo, quando Temari anunciou que eles iriam se reunir com toda a família no sábado, o clássico almoço com os parentes. Ele só não tinha imaginado que Hinata seria a garota que escolheria. Mentalmente, o Sabaku repetia que "é o desespero!"; embora não pensasse que Hinata era feia, ela era calada demais para o que ele precisava. Quase se desmontou na cadeira ao lembrar do que ele precisava.

Quieta, a garota estava pensando. Cara, aquilo tudo era tão esquisito! Ela nunca teria pensado ouvir aquelas palavras da boca de Gaara, sem chance. Ela ainda estava vermelha com o "romper" – mal tinha começado um namoro (de mentirinha, mas…), e ele já tinha um prazo de validade. Desconfiada, ela estreitou os olhos. Ele tinha sido bom com ela o dia todo, tudo bem; tinha a salvado de cair da escada, de mostrar o sutiã para todos da sua sala e de entrar na estatística de sem teto ou desaparecidas, pois seu pai certamente lhe expulsaria ou sumiria com ela se ela não fosse capaz de manter suas chaves na bolsa. Ainda assim, se ela falasse "tudo bem!" para qualquer cara que fosse minimamente legal com ela, Hinata poderia estar numa biqueira nesse exato momento.

— O motivo, você ainda não me falou… – insistiu, meio tensa. Gaara não era feio e ela imaginava que era perfeitamente possível para ele encontrar uma namorada de verdade. 

Gaara tossiu.

— Primeiro preciso saber se você aceita.

Ela arqueou a sobrancelha, as bochechas rosadas ressaltadas de repente.

— Mas porquê…?

— Aceita?

A Hyuuga encarou-o contrariada. Agora, além de tudo, estava curiosa também; ela mordeu o lábio inferior. Era algo constrangedor? Porque ele se recusava a dizê-la até que "firmassem um contrato"? Ela ainda não sabia quais seriam as condições desse tal acordo, mas não poderia ser tão ruim… Poderia?

— Hã… Eu… aceito…?

Gaara suspirou tão alto que pareceu que um peso enorme tinha saído dos seus ombros e agora ele podia se sentar direito. Mas logo ele se ajeitou, pois agora vinha a parte mais chata: explicá-la porque aquilo era necessário. O ruivo franziu os lábios.

— Então, eu preciso de uma namorada porque, hm… – Gaara respirou fundo, como se aquilo fosse uma grande dificuldade. – Tenho uma festa da família e estou sendo obrigado a ir.

Hinata piscou, confusa, e mordeu o lábio inferior.

—  Suas tias são tão chatas assim…? – A Hyuuga já tinha lido tantos memes sobre tias irritantes em festas familiares, que esse foi seu primeiro pensamento. Vai ver Gaara tinha um bando de fofoqueiras sem noção na família.

— Quê? – Ele encarou-a, confuso. Então balançou a cabeça. – Não, não é isso. – E veio uma pausa demorada demais, em que Hinata continuou olhando bem para a cara dele. Gaara passou a mão no rosto. – O que eu te disser, não vai sair daqui, certo?

A garota arregalou os olhos. Ah, não. Ela não era muito boa em guardar segredos – mas parecia ser algo vergonhoso, já que ele estava enrolando tanto para dizer. Hinata juntou os pontos e a revelação caiu em sua cabeça como uma pedra. 

Ele precisava de uma namoradA falsa, para um evento da família; o motivo lhe dava vergonha e ele queria que ela prometesse não dizer para ninguém. 

— Ah! Ah.

Gaara arqueou uma sobrancelha para o som que ela tinha feito, como se descobrisse algo grande demais para uma mente tão pequena.

— "Ah"? "Ah", o quê?

Hinata respirou fundo, o rosto tão quente que sua pressão estava quase abaixando. Mesmo assim, fez um esforço para se curvar um pouco na cadeira e colocar a mão delgada sobre a dele, enorme perto da sua. Ela engoliu em seco.

— N-Não se preocupe, Gaara. Eu vou te ajudar. Posso imaginar como deve ser difícil.

Sem entender absolutamente nada, o ruivo piscou várias vezes, confuso. Tinha perdido uma parte da conversa?

— Difícil…? Do que você está falando, Hinata?

Ela tossiu, tirando a mão de cima da dele. Ela já tinha entendido, embora parecesse difícil para ele dizer em voz alta. Não tinha problema; tentou engolir a vergonha que estava sentindo.

— B-Bom… Da sua… Hã… A-Aquilo – tentou, sem muito sucesso. Queria se referir à sexualidade dele, é claro. Não era um problema para ela que qualquer um fosse gay, mas ainda lhe deixava tímida sair falando sobre a sexualidade dos outros.

Chocado, Gaara tossiu. De onde ela tinha tirado aquela conversa?!

— O quê?! Aquilo anda muito bem, obrigado. Não tem nenhum problema com aquilo. – Ele olhou para trás, para ter certeza que ninguém passava nos corredores. Imagina só se alguém passasse por ali e ouvisse Hinata dizendo que ele tinha um problema naquilo. Suas bochechas estavam rosadas também; nem acreditava que Hinata Hyuuga, tão tímida, tinha mesmo falado de algo tão íntimo. 

Foi Hinata quem se engasgou agora e precisou se apoiar na cadeira, balançando freneticamente a mão na frente do rosto. Observando a reação dela, o ruivo estreitou os olhos.

— Espera aí. Do que você estava falando?

Hinata balançou a cabeça. Meu Deus! Que confusão.

— V-Você não é… G-Gay…?

Ele quase se desequilibrou na cadeira.

— Não! — garantiu, vermelho. – Eu não sou gay! 

Hinata entreabriu os lábios, corada.

— Hã… Tem c-certeza?

Se Gaara pudesse pular no pescoço dela agora, com certeza teria o feito. No entanto, sabendo que não poderia matar sua potencial namorada de mentirinha, ele suspirou para se acalmar. Ela tinha entendido tudo errado!

— É claro que eu tenho certeza – disse, zangado. – Olha, você entendeu errado. Eu não preciso de uma namorada porque sou gay. 

Se alguém pudesse ser descrito como "de bochechas cor de vinho", essa teria sido a Hyuuga no momento. Argh. Só ela para dar um furo desses. Confusa, tentou articular outra frase:

— Então por quê…? 

Bom, Gaara pensou, se ser gay não tinha a chocado, então estava tudo bem. 

— Eu… Hm… Namorei com uma prima por um tempo. Não foi um término fácil e eu, ah, sabe, eu fiquei sabendo que ela está com outro cara e provavelmente vai levá-lo, então… Você entendeu – terminou muito rápido, constrangido. 

Hinata franziu o cenho, achando aquilo esquisito. Ela só tinha Neji de primo e imaginar em namorá-lo lhe deu arrepios de estranhamento. Nem pensar! Depois dessa parte esquisita, no entanto, ela sorriu de forma contida; Gaara era tão na dele que tentar imaginá-lo fazendo ciumes em alguém era difícil. Mas, provavelmente, ele não queria que a prima achasse que a vida dele estava ruim ou algo do tipo. 

— Eu acho que entendi, mas…. – Gaara suspirou, quantos "mas" uma pessoa poderia ter? – Por que você precisa fingir isso? Você conseguiria uma namorada de verdade facilmente. – Ao notar como tinha dito aquilo, Hinata levou a mão até a boca, envergonhada. Bem, era fato que Gaara era bonito; o visual misterioso, o cabelo ruivo e os olhos (ah, que olhos!) eram, inegavelmente, atraentes. Mesmo assim, não era como se ela precisasse dizer isso em voz alta. O garoto, no entanto, não pareceu notar ou ligar.

— Não quero namorar ninguém, já tive o suficiente com ela – respondeu, rápido demais, e Hinata notou como sua voz carregava algum tipo de mágoa. Sem querer se passar por intrometida, a Hyuuga murmurou um "entendo", mesmo sem entender nada, e eles caíram num silêncio profundo e incômodo. E agora? Com a mesma pergunta em mente, Gaara se levantou e, notando que já estava escurecendo, Hinata se levantou também. – Olha, eu sei que minha família só vai se reunir no sábado, mas para não ficarmos tão… esquisitos um com o outro, eu sugiro que comecemos agora. 

— Agora?

— Agora. 

Hinata fechou os olhos com força, balançando a cabeça positivamente. Certo, certo. Agora ela tinha um namorado. Ok, tudo bem. Ela podia fazer isso; ele tinha sido gentil o dia todo e não estava pedindo nada impossível. Imaginá-lo chegando sozinho na tal festa e dando de cara com a prima e o namorado novo fez com que a Hyuuga se sentisse muito mal. Coitado. Não era nada demais, certo? Namorados, tá bom. Fazer o que namorados fazem, como… como… hã…

Gaara estava pendurando a própria mochila no ombro, quando deu de cara com uma Hyuuga muito confusa.

— Hm… Gaara, temos um probleminha.

Ele olhou-a desconfiado. 

— Sim…?

— É que, hm, eununcanamorei — sussurrou, rápido demais, o rosto voltando a ficar vermelho. Ele franziu o cenho.

— Oi?

Hinata respirou muito fundo.

— Eu nunca namorei – sussurrou, de novo, como um sopro tímido. Ah, que vergonha! Para ela era horrível ter que dizer aquilo, já que a maioria das suas amigas namorava ou ficava com alguém. Já ela, bem… Digamos que até a titia tinha mais companhia. E ter que admitir isso para alguém com quem nem tinha intimidade… Argh.

Gaara piscou para ela, duvidoso.

— Nunca?

— Nunca.

Ele balançou a cabeça.

— Hm… Mas você já… hã… ficou com alguém, certo? – O seu tom era claramente retórico, mas ao ver a careta de Hinata, que estava entre espanto e desejo de morrer, ele próprio entreabriu os lábios, surpreso. – Ok, você não pode estar falando sério.

— Hm… Eu joguei verdade e desafio, há muito tempo – murmurou, tímida.

— E?

— E tive que abraçar um garoto chamado Sai por 5 minutos – Hinata conta, muito orgulhosa. Ela faz uma careta logo depois. – Nossa, aquilo foi muito constrangedor.

Chocado, Gaara tem as sobrancelhas franzidas e o queixo quase no peito. Nem consegue disfarçar frente à bizarrice.

— Espera aí, quantos anos você tinha? 

Com um dedo sobre o queixo, a Hyuuga pensa por alguns segundos.

— 10, eu acho – e sorri amarelo, pois Gaara agora estava olhando-a de um jeito esquisito, provavelmente do mesmo jeito que os corretores de certas provas lêem as redações. 

— Tá, esquece isso – ele diz, bem devagar, como se tivesse medo que ela não entendesse o que estava falando. – Olha, pelo menos alguns filmes de romance você já assistiu, não é? – seu tom de voz dizia claramente "por favor, fala que sim" e Gaara parecia estar pensando onde tinha amarrado o seu cavalo, quando Hinata balançou a cabeça positivamente e ele quase suspirou de alívio. Estava levemente incomodado com a nova revelação, mas o que podia fazer agora? Não era como se pudesse encontrar uma garota com a boa vontade dela, e aparentemente saudável e 100% sã, em toda esquina. – É só agirmos igual. Andamos de mãos dadas, nos abraçamos às vezes e… hm… acho que só – disse, sem conseguir lembrar de mais nada para acrescentar. – Então a partir de amanhã vamos ficar desse jeito na escola, tudo bem?

Hinata quase sorriu; Arrá! Então ter abraçado Sai por 5 longos, tortuosos, malditos minutos agora teria serventia. Pode vir, Gaara! Ela era capaz de segurar um abraço por muitos minutos, obrigada. Ela tentou espantar seus pensamentos idiotas e focar na vida real.

— Tá, mas… Não é meio repentino, tudo isso? Nós nem nos falávamos.

Gaara massageou a nuca. Tinha acreditado que uma namorada de mentira seria mais simples que uma de verdade; mas não tinha nem 15 minutos que arranjara uma e já estava sendo uma dor de cabeça. 

— Podemos dizer que… Sei lá… Namoramos escondido por um tempão; aí achamos que alguém desconfiaria depois de eu ter te ajudado hoje – "Obrigada!", Hinata o interrompeu – e resolvemos admitir logo.

A Hyuuga o olhou impressionada, que rápido! Ele tinha pensado tudo isso em alguns segundos, enquanto ela ainda tentava raciocinar o que comeria na janta. Gaara encarou-a por alguns segundos, enquanto ela continuava com a cara idiota de admiração, e se viu pensando como Hinata era bonita. Ela tinha traços extremamente delicados e femininos, e cada partezinha de seu rosto brilhava de forma convidativa: o boca rosada entreaberta, a ponta do nariz pequenininho, as bochechas coradas. Os olhos, a parte mais impressionante, como pedras cintilantes. Difícil acreditar que ela nunca tinha namorado ou mesmo ficado com alguém, mas, outra vez, ele sequer tinha notado a garota até as coincidências de hoje. Talvez fosse assim com todos os caras. Sakura e Ino eram muito mais vibrantes, mas Hinata era inquietante; e isso é muito mais poderoso. 

Ao ver os caminhos que sua mente desenhada, Gaara limpou a garganta.

— Melhor irmos – e se virou, andando até a porta. Aqueles 10 segundos esquisitos, em que sua cabeça estava viajando sobre Hinata Hyuuga, foram bizarros. Ela estava lhe ajudando, não era prudente pensar nela daquele jeito. Hinata assentiu, pegando a bolsa e andando firmemente atrás dele.

Quando estavam fora da sala, porém, Gaara deixou de andar e ela quase trombou com as costas dele; ao se virar, Hinata imaginou que ele queria dizer algo, mas o garoto simplesmente estendeu o braço em sua direção e, corada, ela entendeu o gesto. Ai, céus. Não fazia nem 20 minutos que aceitara o combinado e já estava ficando arrependida – mas era o que fariam até sábado, certo? Ou talvez até segunda, para espantar qualquer comentário no colégio.  Ansiosa, ela estendeu o próprio braço e finalmente aceitou a mão dele, entrelaçando os dedos timidamente.

Ao contrário do que tinha visto nos filmes de romance, ela não sentiu nenhum choque ou arrepio – foi bem normal, para ser sincera. A presença de Gaara, no entanto, era muito mais notável agora. Os seus dedos eram quentes, maiores que os dela, e suas unhas apertavam levemente as costas da mão do ruivo. Ela corou, lado a lado com ele; as coisas tinham evoluído rápido. 

— Sua casa fica para qual lado? – Gaara perguntou, de repente, e Hinata ergueu o rosto surpresa. Só agora tinha percebido que eles já haviam cruzado o colégio e se encontravam no portão. Nenhum conhecido à vista; o local só não estava deserto porque alguns primaristas conversavam alegremente.

— Esquerda – murmurou, timidamente. – Eu moro na rua catorze. 

— Eu moro para esse lado, também – Gaara comentou, só para não ficarem em completo silêncio; Hinata não tinha se impressionado que eles morassem relativamente próximos e ela não soubesse, pois sempre voltava de carro com Neji. 

Gaara observava Hinata pelo canto dos olhos e aquilo estava o deixando nervoso, como se a mão dela na sua já não fosse desconfortável o suficiente – não, a mão dela não era nem um pouco incômodo e era esse o problema! Se ela fosse um pouco maior, ou tivesse unhas mais feias… Tossiu. 

Eles andavam o caminho todo em completo silêncio, apesar de conectados pelas mãos. Gaara apreciava esses momentos onde nada precisa ser dito, mas  esse, definitivamente, não era um deles. 

— Precisamos saber algo um do outro – comentou, como se não fosse nada demais. Hinata, que estava achando o chão muito interessante, pois não tirava os olhos de lá, encarou-o e balançou a cabeça para dizer que concordava. 

Gaara pensou por um segundo.

— Hm… Sua cor preferida?

— Lilás, e a sua?

— Preto. 

— S-Sabe, preto não é mesmo uma cor, é uma ausência de luz.

— E um total de 0 pessoas se importa com isso. Tudo bem, sua comida preferida?

— Comida, tipo, almoço e janta…?

— Comida, tipo, qualquer uma. 

— Ah, eu gosto de jujubas!

— O quê? Não, isso não conta.

— M-Mas você disse qualquer uma…

— Tá, mas ninguém tem jujubas como comida preferida.

— Bom, eu tenho! Mas você não disse a sua.

— Peixe grelhado.

— Hm, isso é bem normal. 

— O que esperava que fosse?

— U-Uma vez Ino me disse que você gostava de guisado de lebre com muito coração e pimenta.

— Essa foi a coisa mais idiota que eu já ouvi.

— Parecia verdade.

— E por que essa informação é tão específica…?

— Hã… Realismo, eu acho. Mas, falando nisso, qual seu animal favorito?

— Para comer?

— O quê? Não!

— Eu tava brincando. Acho que não tenho um…

— Ah, pode ser algum que você ache legal, ou bonitinho.

— "Bonitinho"?

— É, sabe, que você tem vontade de apertar muito forte e encher de beijinhos.

—…? Vou ignorar essa parte. Mas eu gosto de camaleões. 

— Isso é bem diferente.

— Quis dizer "ruim"?

— Não! Eu só esperava algo mais comum, considerando que sua comida preferida é peixe grelhado.

Gaara ia respondê-la, já de sobrancelha arqueada, quando Hinata deixou de andar e ele parou, automaticamente. 

— É minha casa – explicou, com um sorriso contido, apontando com o queixo para a casa atrás de um jardim. 

— Chegamos rápido – Gaara comentou e, lentamente, soltou a mão da dela. Seus dedos estavam úmidos, mas ele não se importou. De canto, ele viu quando ela moveu os dedos lentamente, como se sentisse falta da presença alí. Ainda fazia muito calor, mas, por um segundo, ele se perguntou se ela estava vermelha por causa disso. 

— Nos distraímos com a conversa – murmurou ela, quando o silêncio passou a incomodá-la, Gaara concordou com a cabeça. 

O ruivo separou os lábios, para dizer que iria embora, então, já que ela já estava entregue, quando viu-a murmurar uma maldição para as próprias canelas e se curvar para arrumar as meias. Como mais cedo, quando ela tinha se desequilibrado nas escadas, o tecido escorregava de forma irritante. 

— Ah, me desculpa, essas meias estão me dando nos ner...

Bem, mas ela já estava em casa, para quê se importar com isso…? Num segundo, ele se viu interrompendo-a. 

— Me deixa fazer isso – sussurrou, sua boca se movendo sozinha. Hinata franziu os lábios e, num segundo, ele estava agachado na frente dela. Ela quase arregalou os olhos, mas ficou surpresa demais até para isso. 

Antes que ela pudesse notar, ele colocou as mãos delicadamente sobre a sua meia direita e, devagar, deslizou-a até o joelho. Hinata entreabriu os lábios, tendo que olhar de cima para vê-lo melhor; o toque de suas mãos, através do tecido, tinha feito algo em seu estômago se revirar de puro nervosismo. A pele de sua perna, por onde ele tinha passado, estava tão quente que era capaz de enviar ondas de calor para suas coxas separadas.

Quando Gaara passou para a outra perna, ela quase se retraiu. Ah, céus, o que era aquilo? Como um toque tão bobo era capaz de transmitir cócegas para sua nuca?

Só percebeu que não respirava quando ele estava de pé outra vez, tão perto que sua respiração poderia conectá-lo através do peito. Em silêncio, ele continuou olhando-a, e teve vontade de soprar os fios de cabelo azulado que grudavam em seus cílios e lábios.

Não o fez, no entanto.

— Preciso ir – murmurou, um pouco confuso. Sim, precisava ir para casa, era isso. Hinata balançou a cabeça positivamente com muita vontade, como se fosse a primeira vez na vida que ouvia essa frase. Sem piscar, ela ficou olhando quando ele se virou para ir embora. Gaara, no entanto, parou de andar e se voltou para Hinata. — Hm… Eu posso passar aqui de manhã…?

De novo, Hinata concordou vigorosamente e, silencioso, ele se foi. 

A garota entrou em casa e tirou os sapatos, as pernas dormentes. O que tinha sido aquilo? Algo em seu baixo ventre ardia calorosamente. Hinata se sentou no chão e balançou a cabeça, passando os dedos devagarinho pelo cabelo. Quando sua mão seguiu a linha do maxilar, porém, ela parou, se lembrando de uma coisa.

Suspirou, desconfortável.

Ela tinha se esquecido de perguntá-lo se a farsa incluía beijos…

 

 

— Bom dia! – Hinata cumprimentou, se levantando do degrau onde estava sentada, na porta de sua casa. Ela vestia o casaco (enfim limpo!), mesmo não estando frio. Gaara, no entanto, parecia bem na camiseta.

— Bom dia – saudou de volta, impassível. Tinha acabado de chegar à casa dela, para irem juntos para o colégio, como combinado no dia anterior. 

Hinata ultrapassou o jardim, trancou o portão e então se virou para ele. Sem falar nada, ambos ficaram se encarando, como se um esperasse uma reação do outro. Vai ser complicado, os dois pensaram juntos, sem saber.

— Hm… Sua mochila – pediu Gaara, estendendo a mão. 

— Minha... mochila? – Hinata repetiu, devagar, sem entender. 

Num suspiro, Gaara se perguntou se ela era tonta mesmo ou se estava se fazendo; preferiu não comentar. 

— Pra eu levar. 

— Ah! – ela sorriu amarelo, despendurando a bolsa do ombro e entregando para ele. – Por que não disse antes? – murmurou, ficando vermelha. Gaara a encarou por alguns segundos, mas nada disse; a Hyuuga, por sua vez, estava se sentindo esquisita sem o peso costumeiro. 

Gaara segurou a mochila pela alça, enquanto a sua própria estava nos ombros. A outra mão ele esticou para a garota, que continuava completamente imóvel com o que ele apelidara, carinhosamente, de "cara de Hinata Hyuuga", que incluía rubor e lábios entreabertos de maneira tonta. Tipo um cachorrinho com sede. Estava achando aquilo engraçado e, de certa forma, cativante. Dava vontade de sacudi-la um pouco pelos ombros e gritar "mulher, acorda!", é verdade, mas a outra parte dele também queria guardá-la num garrafa de rolha, tipo… fadas…?

Gaara só acordou de seus pensamentos quando sentiu a mão dela na sua outra vez, entrelaçando seus dedos de maneira receosa. Estava gelada e, quando a encarou, ela parecia mais vermelha que o costumeiro e olhava para o chão, erguendo o queixo para ele muito raramente. Talvez ela estivesse tímida outra vez sobre o namoro…? Sem saber o que dizer, o Sabaku preferiu simplesmente não dizer nada – ei, os silenciosos são os maiores gênios (ou os maiores psicopatas, cof), tudo bem?!

Finalmente, ele não aguentou mais aquela situação e suspirou.

— O que foi, Hinata? Você parece… hm… tensa… – começou, desajeitado. Parecia óbvio que ela estava assim porque eles teriam que aparecer na frente da escola toda, não é?

— T-Tensa? Não, não, estou normal! – disse, muito alto, entre risinhos nervosos e piscadas repetitivas.

Gaara franziu o cenho, com a maior cara de "garota, cê tá doida?!", embora Hinata não tivesse reparado.

— Certo, não precisa gritar – Gaara fez outra careta, considerando que ele tinha ficado ainda mais nervosa com a pergunta. Talvez tivesse sido melhor ficar quieto. 

— M-Me d-d-desculpe, e-e-eu n-não…

Surpreso, ele soltou a mão dela, fazendo com que ambos deixassem de andar. Agora ela estava branca que nem papel, mais um pouco e a garota cairia desmaiada na sua frente, imagina só, que ótimo. Acabara de conseguir uma namorada e ele já teria a matado. 

— Ei, respira – pediu, colocando o mais lentamente possível as mãos sobre os antebraços dela. Hinata arregalou os olhos, mas seu peito inflou como se ela tentasse fazer o que ele estava pedindo; a cor dela voltou aos poucos, embora o rubor permanecesse ali. – Bom. Agora me fala o que você tem, por favor

Hinata desviou os olhos dos dele, encarando o chão outra vez. Gaara teve vontade de sacudi-la, de novo!, mas aguardou ainda impaciente. 

— É que, bem… Eu, hm… Eu fiquei pensando sobre aquilo…

— Aquilo, o quê?

Ela corou ainda mais – isso era possível? – e Gaara ergueu uma sobrancelha de dúvida. Ei, depois da conversa de ontem, em que ela tinha confundido o cu com as calças, ele precisava questionar. 

— Hã… A-Aquilo que os namorados fazem... Ai, isso é muito vergonhoso! – E levou as mãos até o rosto, cobrindo-o completamente, toda constrangida. 

Uma veia de Gaara quase estourou. Quase. Seus olhos, no entanto, se arregalaram quase que imediatamente. 

— O q-quê?! É claro que a gente não vai fazer aquilo! – disse, ainda chocado com o que ela pensara. Seu rosto tinha até adquirido um brilho rosado, ele! Gaara no Sabaku! Corando como uma menina de 13 anos lendo um romance hot pela primeira vez. Ah, fala sério! Gaara já tinha estado nos piores websites possíveis e não tinha nem piscado; o que aquela garota estava fazendo com ele? – Nossa, de onde você tirou isso…

Hinata tirou devagarinho as mãos do rosto, olhando-o com um sorriso vacilante.

— Sério?! Ah, e-eu estava tão nervosa, porque todos fazem isso, sabe…

Gaara quase engasgou.

— Sim, sei, sei – falou, rápido demais, querendo acabar com aquele assunto logo. Era muito estranho falar daquilo com Hinata. – Mas, hã, nós nos conhecemos agora… Não que isso impeça ninguém, mas… – ele coçou a nuca, nervoso – Além do mais, é só fingimento! Não tem precisão de fazer… hm… isso.  – Gaara estava perdido nas próprias palavras e olhava ansioso para os lados, evitando encará-la demais. – Não que você não seja bonita nem nada, é só… hã… – a voz dele morreu, sem coragem de continuar, porque Hinata estava o olhando ansiosa. 

Quando viu que ele não falaria mais nada, Hinata soltou um pequeno suspiro de alívio – ah, ainda bem que eles não fariam!

— E com quanto tempo costumam fazer? – ela perguntou, curiosa, agora que estava mais tranquila. Tinha prestado mais atenção quando ele dissera que "eles tinham acabado de se conhecer" como um bom argumento para não fazerem.

Gaara piscou de um jeito esquisito. Aquela definitivamente não era uma conversa que ela deveria ter com ele – as amigas dela, aquela Mitsashi e a Yamanaka, não poderiam fazer esse favor? Mesmo assim, ali ele estava. Constrangido, coçou a bochecha por um segundo, pensando nele e na prima.

— Hm… Depende do casal, eu acho… uns meses…? – respondeu, respirando muito fundo e torcendo para aquele momento de pura tortura (!) ter enfim acabado. 

— Nossa, tudo isso?! – Hinata exclamou, chocada. Gaara a olhou chocado, também. 

— E você queria que fosse mais rápido?! – O tom de voz dele era de pura surpresa. É o que dizem das garotas tímidas, né, mas, mesmo assim. Hinata tinha cara de quem aguardaria até o casamento, ou era o que ele tinha imaginado. 

— Bom, nos filmes é mais rápido – concluiu ela, pensativa. Se era possível, Gaara ficou ainda mais pálido; e pensar que tinha tomado seu café da manhã imaginando que teria um dia tranquilo e agora estava surpreso que Hinata Hyuuga, cujo talento natural era ficar vermelha que nem um pimentão, já tinha visto aquele tipo de filme.

— Obviamente, rápido do jeito que você quer, só em filmes mesmo… – Gaara estava tão abismado que já nem raciocinava mais o que estava falando.  

— Ah, como é só beijo, eu imaginei que demoraria menos. Mas você tem razão, depende, né…

O ruivo ficou parado, como estátua, por um longo e doloroso instante. Aquela tal veia quase estourou, de novo. Ela só estava falando sobre beijos e ele, idiota, havia pensado uma enorme e constrangedora besteira. 

— Gaara, você está bem? Acho melhor irmos, se não vamos no atrasar – disse ela, feliz da vida por achar que tinha compreendido tudo. – E obrigada por me explicar!

O Sabaku engoliu em seco, tendo vontade de cortar o colarinho da camiseta; ah, cara, era melhor desfazer aquele mal entendido depois. 

— De nada – e pegou na mão dela firmemente, tendo certeza que nunca mais esqueceria aquela conversa. 

 

 

Quando chegaram à escola, minutos depois, foi inevitável reparar algumas cabeças virando quando elas passaram. Tudo bem, estava andando normalmente, não estava atrasados, ainda tinham dois braços, duas pernas e dois olhos cada um, mas a cena certamente era estranha para quem conhecia minimamente os dois ou um deles, pelo menos. Hinata, constrangida, se reconfortava mentalmente que eram só algumas, poucas, pois não eram tão conhecidos; o desafio, no caso, era quando alguém da sala deles estava no caminho. Eram caretas engraçadas, sobrancelhas arqueadas e, certamente, comentários de choque. A Hyuuga se encolhia um pouco toda vez que isso acontecia, enquanto Gaara apertava mais a mão dela, como que para lembrá-la que ela não estava sozinha. 

Felizmente, não tinham passado por nenhuma pessoa importante para eles ainda.

Ainda.

 

Primeiro desafio: Tenten Mitsashi. 

— Hina, bom dia! Sabe aquela revista que eu comprei ont… – Tenten dizia, mexendo no armário, como fazia todo dia. Havia visto só a sombra da amiga e já se virava para ela, animada, porém seu sorriso sumiu e deu lugar para a boca em "o" assim que viu o acompanhante da Hyuuga, grudada no braço dela como um coala no galho.

Carregando a mochila dela. Encarando Tenten como se ela fosse um dos zumbis de Resident Evil.

Hinata olhou para Tenten, que olhou Gaara, que olhou Hinata, que se virou para Gaara, que olhou para Tenten, que encarou Hinata, que começou a reler a capa da revista – que ainda estava na mão da Mitsashi.

— Pera aí… Que? – a morena soltou, depois dos angustiantes segundos em silêncio nos quais os três se encararam. – O que está acontecendo aqui?! – perguntou, muito confusa.

— B-Bem, G-Gaara e eu estamos… er… – ela travou, se sentindo pequenininha sob o olhar maluco de Tenten, que estava se perguntando se tinha acabado de entrar em um universo alternativo onde as coisas são completamente absurdas!

— Namorando – Gaara completou para ela, vendo Tenten piscar para ele como se ele tivesse acabado de descer do céu com trombetas e uma auréola. Não, isso teria a deixado menos chocada.

— Hinata, vem aqui um minutinho. – Então a puxou tão rapidamente que Gaara quase pode sentir a menina escorregando entre seus dedos. Tenten mal andou três passos e se virou de olhos arregalados para Hinata, que estava prendendo a respiração. – Tá bom, com o quê ele tá te ameaçando?

Hinata piscou, confusa.

— Hã? Ele não está me ameaçando!

Tenten encarou-a desconfiada.

— Tem certeza…?

Ofendida, a Hyuuga mexeu a cabeça.

— A-Acho que eu saberia se fosse ameaçada… 

— Ok, definitivamente você está sendo ameaçada – Tenten concluiu, já que a última frase de Hinata tinha sido uma absurda mentira. Nem em mil anos Hinata seria capaz de reconhecer a maldade humana. A morena franziu os lábios. – Beleza, qual foi o podre que ele descobriu?

Hinata olhou-a como se dissesse "você não está me escutando!".

— Ten, não estou sendo ameaça…

— Foi aquele 1 que transformamos em 10, na prova de filosofia? Grande coisa, como se ele nunca tivesse mentido uma nota também… 

A Hyuuga arregalou os olhos.

— Meu Deus, não!

— Ok, então só pode ter sido o áudio que você mandou sem querer no grupo da turma, chorando porque o Naruto tinha ficado com a Shion… Pera aí, mas você excluiu, né?

Hinata ficou vermelha, olhando ao redor para ver se alguém tinha escutado.

— N-Não fala disso aqui! – pediu, envergonhada. – Ten, não estou sendo ameaçada, é sério!

Tenten olhou-a e, logo depois, olhou além do ombro de Hinata, para onde Gaara estava. A Hyuuga quase pôde ver a lâmpada se acendendo sobre a cabeça dela, ainda surpresa.

— Meu Deus! Você tá ameaçando ele, não é? – disse ela, muito certa disso. Hinata quase soltou um palavrão. – É, ok, ele é até bonitinho. O que você descobriu? Ele realmente tem uma tatuagem, xingando a diretora Tsunade, na virilha? Pera aí, meu Deus, você viu a virilha dele? 

Hinata parecia um pimentão; tinha sido mais uma das coisas que Ino tinha dito sobre o Sabaku e que as duas tinham acreditado; agora, porém, parecia um absurdo! Confusa, Hinata não sabia se desmentia primeiro que não estava o ameaçando ou que nunca tinha visto a virilha dele, muito obrigada. 

Não teve tempo para fazer nenhum dos dois, no entanto, pois de repente sentiu um braço em seus ombros; as duas garotas quase engasgaram. 

— Posso roubar a Hinata de você, um pouco? Já estou sentindo falta dela – e, sem sorrir mais, Gaara a puxou para longe. 

Tenten não protestou nem os seguiu,  atônita demais para tal.

 

Segundo desafio: Sasuke Uchiha.

— Sobre o que ela estava falando, hein? – Gaara perguntou, quando já estavam longe da Mitsashi. Hinata ainda abanava o rosto.

Ela o olhou de canto dos olhos, sentindo-o deslizar a mão de volta para a dela. Tinha quase certeza que ele não gostaria de saber que Ino estava espalhando boatos sobre uma tatuagem… hã… na virilha. 

— Hã… S-Só estava surpresa com nosso namoro – Hinata murmurou e Gaara estreitou bem os olhos para ela, sentindo que a garota estava escondendo algo. Mesmo assim, ele resolveu aceitar a resposta. – Eu preciso passar na biblioteca, podemos ir juntos?

Gaara balançou a cabeça positivamente e, ignorando outras presenças pelos corredores, os dois seguiram. 

Alguém vinha da direção contrária e, enquanto andava, prestava atenção no celular, a mão esquerda enfiada no bolso na calça escolar. Gaara o reconheceu de longe; era Sasuke Uchiha, a estrela do colégio, um dos poucos amigos de Gaara e com quem Hinata nunca havia falado. 

Como eles estavam passando muito perto, foi impossível para o ruivo não andar mais devagar para cumprimentá-lo. Sasuke, no entanto, parou de andar completamente, levantando os olhos negros do aparelho. Ele olhou para Gaara, depois para Hinata, por fim as mãos unidas e franziu a sobrancelha tão profundamente que poderia marcar sua testa para sempre. 

O estômago de Hinata se revirou e ela ficou enrubescida outra vez – essa é, sei lá, a milésima? Gaara, também constrangido, tossiu levemente; não se lembrava de Sasuke metendo o nariz em nada na sua vida, então o que era isso agora…?

— Sasuke – cumprimentou, num tom de voz esquisito. O Uchiha pareceu acordar de um transe, pois finalmente tirou os olhos das mãos deles, que encarava como se tivesse lasers nas íris. 

— Gaara – murmurou, segundos depois, balançando a cabeça despreocupadamente. Então olhou para Hinata que, se pudesse desaparecer, teria feito. Não era à toa que até a professora Kurenai ficava corada quando Sasuke falava com ela; céus, o garoto era intimidador! – Hyuuga. 

E, sem esperar nenhum aceno de Hinata, ele voltou a mexer no celular e passou por eles em silêncio. Quando pareceu seguro, Hinata murmurou, extremamente confusa:

— O que foi isso…?

— Como se eu soubesse.

 

Terceiro desafio: Ino Yamanaka.

Quando a Hyuuga imaginou que já estavam livres de outra perturbação na força, pois agora estavam pertinho da entrada da biblioteca, um serzinho loiro e impertinente apareceu, sentada confortavelmente num dos bancos espalhados pelo caminho Ela olhou fixamente para os dois, estreitando seus belos olhos azuis, e ambos trataram de andar mais rápido – quase correr! 

Infelizmente, Ino Yamanaka tinha pernas longas demais e os alcançou em um segundo.

— Você tem três segundos para me explicar que bananagem é essa, Sabaku – disse, apontando com sua unha alongada e cor de rosa as mãos deles, juntas. Olhou Gaara de cima à baixo, fazendo careta logo depois. O Sabaku imitou a careta dela, mas olhando-a como se fosse um mosquitinho difícil de se matar.

Percebendo a tensão no ar, Hinata engoliu em seco e tentou explicar para a amiga:

— Hã… Estamos namorando… – murmurou, se sentindo tonta. Ino estava incrédula. Ela puxou Hinata pela mão livre, fazendo com que ela se soltasse de Gaara outra vez; argh, por que suas amigas amavam fazer isso?! Então Ino abraçou-a pelos ombros.

— Acho bom você me dizer que tipo de simpatia você usou nela! Hina, amiga, você tomou algum café de procedência duvidosa? – Ino perguntou, com tom de voz de dó. Hinata fez uma careta de nojo, sabendo bem onde cafés eram coados, quando se tratava de simpatias. Ela ia explicar o mal entendido, mas Gaara a puxou de volta, quase fazendo Ino cair.

— Deixa de ser maluca. É claro que eu não fiz simpatia nenhuma, a bruxa aqui é você! – e olhou tão feio para ela que o cabelo loiro e perfeito dela poderia cair todo e deixá-la careca. Ah, Gaara certamente queria uma simpatia para isso!

Outra vez Hinata foi puxada.

— E por qual outro motivo ela estaria com você, seu idiota? – E o encarou zangada. Se ela tivesse rugas de nervosismo, era bom aquele tosco cobrir seus procedimentos estéticos. Ela fazia questão, sim, senhor.

Quem estava indignado agora era Gaara, que puxou novamente a Hyuuga para si. Tinha uma postura de superioridade que estava deixando a Yamanaka louca para pular no pescoço dele. 

— Qual é, você não pode ser tão burra assim, loira. Obviamente, ela gosta de mim. 

Numa gargalhada tão histérica e forçada, que deixaria qualquer vilã de novela das 8 no chinelo, Ino puxou Hinata de volta. 

— Alguém gostando de você? Ai, me poupe. Seria o Cruz credo e a Coisa feia, né…

Gaara já iria respondê-la, dessa vez com um palavrão bem feio, quando Hinata se desvencilhou da loira, parando no meio dos dois.

— Já chega! Vocês estão achando que sou uma boneca de pano ou o quê? – perguntou, irritada. Então se colocou do lado de Ino, que fez cara de vitória para o ruivo. – Gaara, você não pode falar assim com uma amiga minha! – A loira então mandou um beijo no ar para ele, que parecia mais carrancudo do que em qualquer outro momento de sua vida. Mas Hinata então saiu do lado dela e se colocou do lado dele, pegando na mão do ruivo e entrelaçando seus dedos. – E Ino, eu aprecio muito sua preocupação, mas você não pode tratar quem eu estou desse jeito… Nem escolher por mim com quem eu devo me relacionar.

— Mas, mas… Hina! Alô, miga, ele é um… um… – Ino apontava para ele, como se fosse óbvio e Gaara revirou os olhos. – Um degenerado!

Ele teve vontade de perguntar se ela pelo menos sabia o que era isso, mas aparentemente Hinata estava muito brava e achou melhor não testar os limites dela. De qualquer forma, de onde a coisa loira tinha tirado isso?!

— Ino, eu não te perguntei nada. 

O queixo da Yamanaka quase caiu no chão; Gaara teve até que conter um sorriso. Seu dia agora parecia mil vezes melhor!

— T-Tudo bem, mas se ele fizer uma besteira, nem venha me falar! – E deu as costas, jogando as mãos para cima, em sinal de que não ligava.

Quando ela se afastou, Gaara encarou Hinata firmemente, quase conseguindo ouvir as batidas aceleradas de seu coração. Ele apertou sua mão numa forma de apoio.

— Obrigado. Eu sei que ela é sua amiga e isso não deve ter sido fácil – sussurrou, devagar. Hinata balançou a cabeça.

— Ela vai se recuperar – disse, encarando a saia muito curta da amiga, que desaparecia ao reentrar no prédio. Então olhou Gaara de forma engraçada. – Mas eu nunca mais vou fazer algo do tipo de novo! – e riu de nervoso, vermelha. 

 

Quarto desafio: Sakura Haruno.

Quando eles entraram na biblioteca, quase totalmente vazia, ambos suspiravam. Já iam se soltar, pois além de estarem suados, aqueles minutos juntos já havia esgotado suas energias – quem diria que seria tão desgastante esse tal namoro de mentirinha, hein? Pelo menos ali eles teriam paz e calm… Um grito interrompeu os pensamentos do casal que, ao invés de se soltar, se grudou mais com o susto. Então, do nada, um vulto veio correndo, parando antes de trombar com força neles.

Era Sakura Haruno, com um avental amarrado por cima de seu uniforme. Estava toda coberta de pó e seu cabelo rosado tinha várias partes cinzentas. Os três estavam de olhos arregalados, surpresos, e Hinata concluiu que o grito agudo havia vindo dela. Sakura olhou bem para os dois, as mãos juntos, e então caiu dura no chão.

— Sakura! – Hinata se agachou, afobada, abanando o rosto pálido da amiga. Gaara, sem entender nada, se abaixou também, levantando as pernas da garota para ver se ela acordava. 

De repente, outro vulto apareceu correndo; dessa vez era Naruto Uzumaki, que também estava coberto de pó e tinha, inclusive, uma touca cômica de faxineira na cabeça. 

— Ai meu Deus, Sakura! – gritou, abobado, olhando com cara de choro para a Haruno, agachado-se também.

— Naruto, o que houve? – Gaara perguntou, olhando duvidoso para o loiro. Seus olhos subiam para a touca e ele tentava segurar uma risada. Ah, cara, que precisava de uma foto disso. 

Sem parecer se tocar da combinação nada normal Hinata e Gaara, ele começou a falar.

— A gente tava limpando o arquivo da biblioteca para a tia Chiyo, e lá é bem escuro e tal, aí eu comecei a assustar a Sakura dizendo que tinha fantasmas – contava, choramingando todo arrependido. – Ela até me socou! – E mostrou a marca vermelha no antebraço, que Hinata e Gaara encararam pensando que tinha sido é pouco… – Aí acho que uma caixa caiu, e ela saiu correndo… – fungou, segurando a mão de Sakura. – Mas eu não sabia que ela iria desmaiar só com isso!

Gaara revirou os olhos, imaginando se Naruto tinha deixado de amadurecer aos 12 anos. Então olhou de canto para Hinata, que ainda abanava a amiga.

— Tenho certeza que o motivo foi outro – comentou o ruivo, juntando A+B. Ainda estava com vontade de rir, mas se controlou ao ver a expressão de culpa que Hinata fazia. Franzindo os lábios, ele se virou para o loiro. – Ei, Naruto, olha aqui.

E o Uzumaki olhou Gaara bem na hora do flash.

Mais tarde, naquele dia

Ela sentou-se com dificuldade, logo percebendo que estava na enfermaria da escola; devagarinho, levou a mão até a testa e tentou se lembrar de como tinha parado ali.

— Ah, você acordou!

Ao ouvir a voz conhecida, Sakura se virou, confusa.

— Hinata – murmurou, com um sorriso fraco. – Nossa, eu sonhei com você! E foi mega esquisito – contou, já dando risada ao se lembrar. Com alguns segundos, ela conseguiu se lembrar de estar limpando o arquivo com Naruto e concluiu que tinha desmaiado com os sustos que ele a fizera passar. Ah, quando o pegasse! Iria socá-lo tanto que nem o idiota do padrinho dele iria reconhecê-lo!

— Mesmo? Qual? – questionou a Hyuuga, entregando um copo d'água para a Haruno.

— Cara, você estava de mãos dadas com o Gaara! – riu sozinha, tomando a água. Hinata corou, passando a mão no cabelo.

— Hm… Amiga, não foi bem um sonho…

Sakura cuspiu todo o líquido, fazendo com que Hinata desviasse para o lado para não ser atingida. Então encarou a amiga como se ele tivesse dito que o céu é laranja. Num suspiro, Hinata contou novamente o que tinha dito o dia todo, para várias pessoas diferentes: Gaara e ela já estavam namorando escondido, mas resolveram assumir de vez a relação. Sakura, diferente dos outros, disse, muito orgulhosa:

"Ah, sabe que eu já tinha percebido um clima?"  

 

 

Quando as aulas acabaram o sol já estava quase se pondo. Como Gaara, Hinata também enrolou mais um pouco antes de sair da sala; eles queriam ir embora tranquilos, sem mais perguntas para responder. Parecia que tinham passado uma semana exaustiva em apenas algumas horas. 

Quando restavam três ou quatros pessoas na classe, ela se aproximou do ruivo.

— Sem mãos agora, por favor – pediu, claramente cansada, e Gaara riu, concordando. – Isso porque estamos só fingindo, imagina se fosse verdade…? – comentou, quando eles já andavam pelos corredores lado a lado. Ele ainda levava a mochila dela. Ela conseguia sentir o perfume dele ao seu redor, como uma presença constante do quanto eles estiveram juntos o dia todo. Não era desagradável...

— Pelo menos valeria mais a pena – respondeu ele, olhando-a de canto. Curiosa, a Hyuuga arqueou a sobrancelha. – Logo vamos ter que falar que terminamos, então todo o drama que eles fizeram terá sido em vão – explicou o Sabaku, num tom desinteressado.

Hinata balançou a cabeça, concordando, mas ficou silenciosa. Sim, ele estava correto, ele terminariam – o que nem havia começado de verdade – na segunda-feira. Tinha se esquecido disso, quase como se eles realmente estivessem juntos, escondido, esse tempo todo. Se lembrar fez com algo a incomodasse lá no fundo do peito.

— Chegamos – ele cortou os pensamentos dela que acordou do pequeno transe. Estava na porta de casa; nem havia notado o percurso, tamanha a tranquilidade. – Eu sei, foi bem rápido – comentou, quase como se pudesse ler os pensamentos dela. Hinata o encarou com cumplicidade. Então o Sabaku entregou sua mochila, vendo-a agradecer num murmúrio. – Então… Até amanhã.

Hinata já ia se despedir, quando viu um grupo de quatro meninas passando do outro lado da rua; elas vestiam o uniforme do colégio e foi só prestar atenção que a Hyuuga logo reconheceu uma delas: era Karin e, droga, ela era da sala deles. Para o azar de Hinata, a ruiva perfeita também pareceu notá-los, deixando de caminhar para franzir o cenho. A Hyuuga arregalou os olhos, a garota estava esperando alguma coisa, já que o novo casal estava parado, um de frente para o outro. 

Aproximou-se de Gaara, botando as mãos nos ombros dele da forma mais natural possível – lê-se "robô travado".

— N-Não se vira, a Karin tá na outra calçada – murmurou, ao vê-lo surpreso. Entendendo o recado, Gaara concordou com a cabeça. – E está encarando a gente.

— Você sabia que ela morava aqui? – perguntou, colocando levemente uma mão na cintura da Hyuuga, ainda deixando um espaço muito considerável entre seus troncos. Mesmo assim, Hinata travou o abdômen, nervosa. Isso era novo; todo esse contato. Tudo bem, já tinha estado nos braços dele (uau!), mas a situação era outra. Tentou montar uma frase inteira na cabeça, se desconcentrado no calor dos dedos dele por cima do tecido fino de sua camiseta. 

— N-Não mora! Talvez uma amiga – respondeu, olhando de canto e percebendo que ela ainda estava ali. Xingou-a mentalmente; bem que Ino falava que ela era uma intrometida! 

— Certo, não podemos ficar aqui para sempre. O que ela está fazendo, agora? – Gaara sussurrou, tentando ignorar o aroma doce de morango que Hinata exalava toda vez que falava, provavelmente o lipbalm que tinha a visto passar mais cedo. Estava começando a se sentir desconfortável de ficar daquele jeito… Ou Hinata ficava longe, ou perto de si. Aquele meio termo era angustiante. Fazia com que ele tivesse vontade de puxá-la através da cintura macia. 

— Só está olhando. – A Hyuuga prendeu o ar, incomodada. Mudava o peso de uma perna para a outra sem parar.

Gaara não precisou pensar muito para saber o que Karin estava esperando – era óbvio que desconfiava se o tal namoro repentino dos dois era mesmo verdadeiro. E agora era chance perfeita que ela teria para espalhar para todos a mentira. Não que tivesse ninguém do colégio que precisasse realmente acreditar, mas muitos moravam perto dele e se isso chegasse nos ouvidos de Temari ou Kankuro, que ele tinha arrumado uma namorada falsa, cara… Ele seria zoado para sempre. E Hinata não ficaria muito bem conhecida no colégio, também, mentindo algo por ele. 

Ele se lembrou da conversa mais cedo e, tomando coragem, quando percebeu que Hinata encarava a ruivo lateralmente, entreabriu os lábios. 

— Hinata, está sujo aqui – tocou, delicadamente, o meio entre as sobrancelhas dela.

A Hyuuga ergueu o queixo, como se tentasse ver.

— Hm? Ond…

E foi interrompida. Sem avisar, sem dar tempo para que ela respirasse, ele colou suas bocas carinhosamente, um toque muito suave. Sentiu quando os músculos da barriga dela travaram, ansiosos, e ele apertou sua cintura em resposta, como se dissesse que estava ali agora. Que estava nela, agora. Hinata fechou os olhos com tanta força que os segundos viraram uma eternidade onde ela não tinha ideia do que era respiração ou pausas ou vírgulas ou momentos. Tudo se uniu em um só, como eles, de maneira tão inesperada. Fincou seus dedos nos ombros dele, dependendo disso para se manter em pé; dependendo dele para se manter em pé.

Seu primeiro beijo não foi como nos filmes ou como leu nos livros. 

Ele foi só dela; foi rápido e foi infinito.

E Hinata precisou reaprender, sozinha, como fazia para respirar. 





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Notas finais do capítulo

Reescrever uma historia é um desafio, de verdade. É preciso ficar atento no que você quer adaptar e melhorar, sem mudar totalmente a estrutura do original. Eu acredito que consegui fazer isso muito bem aqui e foi super divertido, oq, eh claro, é um dos motivos para eu amar escrever :) Ah, e esse cap deu o dobro de palavras do original hahaha
vcs podem ler o original nesse drive, quem quiser:
https://docs.google.com/document/d/10a0vqcYcdeecrYNaDYeKN8rtOj7_6bg7njGbt6AzsSQ/edit?usp=sharing

Eu tbm adorei essa cena do beijo! oq vcs acharam?
Ate a proxima, obg por ler ♥
Ótimo natal pra todo mundo ;)



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