Permanecia sentada no chão com os joelhos dobrados e os braços cruzados sobre este, apoiando a cabeça. Olhava os troncos de madeira do campo de treinamento, lembrando-se do passado, quando sua visão das coisas era mais simples, direta e muito infantil. Quando seu interesse de menina era no fundo um desejo que nada tinha a ver com uma kunoichi, mas sim com uma menina comum. Se apaixonar por um homem lindo!

 Ouviu passos atrás de si, mas não se virou para ver quem seria. A ANBU cuidaria para evitar que invasores estivessem por ali, portanto não era uma ameaça. Quando a pessoa parou do seu lado, vi a sombra desta e reconheceu-a imediatamente.

 - Oi Ino – começou ela mostrando o quanto estava chateada em sua voz.

 - Olá Sakura... – riu levemente – sempai!

 Sorriu ao ouvir daquilo. Para a Ino a chamar assim era porque queria animá-la.

 - Tem pessoas preocupadas com você, sabia?

 - Eu estou bem. Só queria ficar um pouco sozinha. Naruto foi levado não sei para onde, estamos fazendo preparativos para uma guerra e a Konoha ainda está sendo reconstruída. E eu vejo minha vida ficar sem sentido algum.

 A loira sentou-se ao seu lado e a olhou por alguns minutos.

 - Porque sem sentido? Você é discípula de Hokage-sama, uma excelente ninja médica e acredito que irá até mesmo superá-la. Ou tem algo a ver som Sasuke? Acho que já é hora de desistir dele, não acha?

 Sakura apenas fechou os olhos e bufou lentamente.

 - Eu tentei desistir – disse com os olhos ainda fechados – estava disposta a matá-lo. Estava disposta a manipular as emoções de Naruto para que ele desistir de Sasuke. Mas no fim eu não tive forças ou controle para fazer nada disso. Naruto salvou minha vida pouco antes de Sasuke me atingir.

 - Shikamaru comentou alguma coisa sobre isso comigo – ela olhou para o céu de forma distraída. Mas tem mais coisa, não é mesmo?

 - Na verdade, tem tudo! Ino... eu realmente não sabia o que estava fazendo quando decidi ser uma ninja.

 - Não sabia? – Ino riu.

 - Não pertenço a nenhum clã shinobi, nenhum parente meu foi ninja. Na verdade minha família é uma completa desconhecida neste assunto. Acho que fui para a academia mais para mostrar que podia fazer isso. De todos nós, eu sou a única que veio do nada e sem nada para mostrar. Kiba, Shikamaru, Hinata, você mesma... são todos de clãs conhecidos. Naruto também parecia que não tinha nada de mais, mas com o bijuu dentro dele, isso o torna diferente. Sou a única que não tem nada de especial – olhou para baixo e sorriu tristemente – nem mesmo seios decentes.

 - Crise de autoconfiança? Ora...

 - Não! – cortou ela – não é isso. Ino, eu consegui ser uma ninja sem histórico familiar para isso, sem um clã ou alguma coisa de linhagem para me respaldar. Aprendi bem mais rápido que Naruto ou Sasuke a controlar meu chakra e poder grudar os pés em paredes. Mas percebi que eu não era habilidosa o bastante. Na verdade – ela ficou envergonhada – varias vezes tive de admitir para mim mesma que Naruto com seu jeito cabeça dura de fazer as coisas se virava melhor que eu. Eu achava que Naruto era um garoto idiota que queria acabar comigo, mas a verdade é que eu nunca entendi os homens. Fico esperando que façam algo correto, e perco a paciência quando não o fazem. No caso de Naruto perco a paciência com qualquer coisa – ela riu – especialmente quando ele fala alguma idiotice.

 - Ou seja, quase sempre.

 As duas riram um pouco.

 - Olhando para trás eu vejo o quanto conquistei. De uma total desconhecida para uma sucessora de Tsunade-sama. Mas duvido que eu chegue tão longe – completou em seguida – especialmente por causa do meu ponto fraco.

 - Qual ponto fraco?

 - Minhas emoções – seus olhos tremeram – são as emoções de uma garota comum que nada tem a ver com uma kunoichi. Quando não posso fazer nada eu apenas choro. Choro de agonia e tristeza por me sentir inútil, exatamente o que qualquer mulher faria. Mas não tenho esse direito. Só que também não consigo me controlar. Quando Sasuke decidiu ir embora para se juntar a Orochimaru eu apenas fiquei chorando e implorando para que ele ficasse. Podia ter chamado outras pessoas, gritado por ajuda, mas apenas chorei. E quando quis ir junto com Naruto e os outros, Shikamaru me disse que eu já tinha tentado e fracassado... ele... – algumas lagrimas saíram de seus olhos – ele simplesmente disse que a única coisa que eu podia fazer era chorar e rezar para que Sasuke tivesse pena de mim.

 - Sakura-chan...

 - E o que eu fiz naquela hora?  - continuou ela – só implorei para que Naruto o trouxesse de volta. E quando voltaram eu vi como Naruto ficou, o quanto ele sofreu para atender o meu pedido. Me senti mais inútil ainda. Foi por isso que fui atrás de Tsunade-sama. Queria me tornar mais útil.

 - E conseguiu.

 - Por pouco tempo. Não demorou muito e minhas emoções voltaram a me controlar. Eu até que me dei bem lutando contra um dos akatsuki, mas depois disso, quando eu soube do que Naruto tinha que carregar dentro de si... bom, aí veio o fato de botarem a cabeça de Sasuke a prêmio, e o Shikamaru com aquela conversa dele me deixando sem escolha, mostrando o quanto eu estava sendo infantilmente egoísta. Tentei fazer Naruto desistir de salvá-lo e quando não consegui tentei matar Sasuke. E no fim Naruto me convenceu a simplesmente confiar nele. Era só o que eu podia fazer. E tudo o que faço agora é ajudar nos preparativos de uma guerra, ficar pensando onde Naruto foi parar, e quando Sasuke irá agir.

 - Olhando por esse lado você é mesmo incrível. Veio do nada mesmo, sem clã, sem reputação, sem nome de família importante, sem habilidades excepcionais...  mas agora você pode fazer o mesmo que Hokage-sama. Não duvido que possa se tornar uma senin também. Porque acha que sua vida é sem sentido?

 - Porque apesar de tudo o que fiz nesses anos, não consegui realmente me sentir útil. Sou apenas uma garota sem paciência que pode apenas esperar que os outros façam o que eu gostaria de fazer. E acho que talvez no fim de tudo, eu estarei levando flores para os túmulos de Sasuke e Naruto.

 - O que quer dizer com isso?

 Ela não respondeu, mas lembrava da ultima conversa que Naruto teve com Sasuke. De que se fossem lutar, ambos morreriam.

 - Só um pressentimento – respondeu por fim – bom, vamos indo. Ainda temos que fazer muitos remédios e poções para estocar para a guerra que esta vindo ai.

 Sem dizer mais nada ela se levantou e começou a andar, sendo logo seguida por Ino. Talvez o seu problema fosse não ter um objetivo muito claro. Primeiro queria ser uma ninja. Conseguiu! Depois foi se aprimorar para ajudar a trazer Sasuke de volta. Também conseguiu isso. Mas agora estava apenas confiando que Naruto conseguisse fazer um milagre. Talvez até pudesse, mas o que isso iria significar para ela agora?

 Mesmo que Sasuke voltasse, seria infantilidade achar que tudo seria como antes. E se Sasuke matar Naruto e destruir a vila, o que aconteceria depois? Não sabia.

 E pelo jeito iria saber quando fosse tarde demais.

 Só esperava que até lá, fosse capaz de controlar esse seu lado de menina chorona.