Completa-me escrita por Zeverilda


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Essa Fic conta uma história diferente da mostrada no mangá, conta como seria se o Chico tivesse terminado com a Rosinha. Boa leitura!



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Aquele era um feriado prolongado como qualquer outro. Os que estudavam na cidade poderiam voltar para casa e ficar com os pais, mas Chico também tinha saudades de outra pessoa.

—Onde ocê vai, menino? – Dona Cotinha perguntou ao perceber que o filho iria sair.

—Vou lá na casa da Rosinha, mãe.

Ocêis dois sozinhos?!

—Não, claro que não, a Dona Rosália vai estar lá também!

Após convencer sua mãe, ligou o fusquinha e seu rádio, e seguiu até a casa da amada, que ele não via há muito tempo. Bateu na porta e logo foi recebido por sua futura sogra, que o deixou ir até o quarto de Rosinha. Ao abrir a porta, deu de cara com a cena mais assustadora de sua vida.

—Chico?! – Rosinha se espanta, cobrindo suas vergonhas com o lençol e abraçando Zé da Roça, que estava ao seu lado nas mesmas condições.

—Rosa Maria da Silva Rodrigues! Mas o que é isso?! – ele grita tampando os olhos, e ela no momento não foi capaz de responder.

—Chico... – ela se levanta e se aproxima, ainda coberta pelo lençol.

—Sai de perto de mim! – ele grita sem mal lhe olhar nos olhos – Então é isso?! Eu não posso nem chegar perto de outras meninas que você já tem crise de ciúmes. Enquanto isso tá indo pra cama com outro!

—Francisco Antônio Bento! Você está sendo machista e possessivo! Eu fui pra cama com outro porque você é todo certinho e insiste em seguir “A tradição da roça” em pleno século vinte e um!

—E você está sendo uma... – ele desiste de completar a frase – Esquece, sou educado demais pra dizer isso!

—Chico... – ela o chama novamente com sua voz doce e encantadora, mas desta vez não pôde convencê-lo.

—Me esquece! – ele grita furioso, batendo a porta na cara dela.

Em passos pesados e apressados, saiu daquela casa, Dona Rosália queria perguntar alguma coisa, porém acabou desistindo. Entrou novamente em seu carro, acelerou o máximo que era permitido por lei. Ligou o rádio e cantou junto o que ele tocava:

Não aprendi a dizer adeus, mas tenho que aceitar, amores vem e vão como aves de verão...

Cansei de levar porrada, cansei de levar canseira, cansei de chorar sozinho por um amor só de brincadeira; cansei de contar as horas no relógio que você me deu, e seu coração não tem um pingo... De dó do meu!

Estacionou próximo da varanda da casa do sítio. Sabia que seus pais não estavam, haviam combinado de ir ao cinema. Não queria ficar até eles voltarem. Eram mãe e pai, perceberiam que havia algo errado. Colocou suas coisas na mala e foi à rodoviária, pegando um ônibus destinado à Nova Esperança.

Durante o percurso, lembranças de seus momentos com Rosinha pipocavam em sua mente, o que só fazia com que ele se sentisse pior.

Ao chegar à cidade, em vez de ir direto para a república, resolve passar mercado, correndo direto para uma seção específica:

—Eu nunca fiz isso antes, mas existe uma primeira vez pra tudo...

—_

Eram seis da tarde, mas como era inverno, a noite já havia caído. Jura, Lee e Jácomo estavam voltando do shopping. Ao abrir a porta, o metaleiro, o coreano e o italiano se assustaram com o que viram.

Chico estava praticamente desmaiado no sofá, e ao seu redor, várias garrafas de 51 vazias.

—Chico! Chico! – Jácomo correu até o amigo, muito preocupado – O que aconteceu?!

Chico abriu um pouco os olhos e disse baixo:

—Eu sou um corno.

Dito isso, fechou os olhos novamente.

—Oooooi? – Jura grita, desacreditado.

—A gente tem que ajudar ele, amanhã é segunda e tem aula! – Lee afirma – Vem, ajudem aqui!

Ele tenta tirá-lo do sofá, puxando-o pelos braços, Jácomo e Jura, por sua vez, tentaram pegá-lo pelas pernas. Mas não foram capazes de aguentar o peso por muito tempo, e acabaram por derrubá-lo.

Chico caiu no tapete peludo da sala, e estranhamente começou a fazer movimentos do nado crawl.

—Chico, o que você tá fazendo? – pergunta Jácomo.

—Nadando, uai! – responde com a voz embriagada, como se fosse óbvio.

—Chico... – Lee coloca a mão na testa – Aonde você tá?

—Estou em Alagoinha!

Foi difícil para os três coloca-lo debaixo do chuveiro e depois levá-lo para o quarto. Depois de muitas tentativas, finalmente conseguiram e puderam dormir em paz.

—_

O dia amanheceu, logo cedo Chico já se dirigia à faculdade. Usava sua típica camisa xadrez de mangas curtas, calça jeans e botinas. Seus cabelos, molhados e bagunçados. Seu rosto mostrava o cansaço de uma péssima noite. Sua cabeça e seus músculos quase explodiam de dor, dar um simples gesto ou passo era insuportável.

Como sempre, várias meninas o cumprimentaram, mas ele dessa vez não respondeu nenhuma delas. As aulas naquele dia pareciam se arrastar por uma eternidade.

Mas, sem dúvida, a aula de zoologia foi a pior. O professor Tufo havia pedido um relatório sobre tipos de adubo.

“Que merda de tema, literalmente”, Chico pensou.

E, pior ainda, o trabalho seria em grupo, e ele teve que ficar com Vespa e Bombeta.

—Bora começar aí, galera! – Bombeta gritou animado, colocando um pacote de folhas de almaço sobre a mesa.

Vespa revirou os olhos:

—Hump. Só você mesmo pra ficar animado pra fazer um trabalho sobre bosta! Mas fazer o quê, isso vale nota.

—Falou, parça, a gente vai ter que falar de cada um deles, e depois dar opinião sobre qual é o melhor. E eu acho que é o de galinha.

—Galinha? – Vespa indagou, demostrado irritação – Tá errado, é o de vaca, seu burro!

—Burro é a vó, e é o de galinha sim! A galinha come milho, minhoca... Com certeza o estrume tem mais nutriente!

—Não, jumento, é o de vaca! É de origem vegetal, muito mais consistente!

—É o de galinha!

—É o de vaca!

Enquanto isso, Chico ignorava completamente a “Terceira Guerra Mundial” diante dele, e limitava-se a observar as nuvens.

—Peraí, peraí! – Bombeta interrompe a discussão de repente – A gente tem que pedir a opinião de um roceiro profissional! Falaí, Chico!

—Hã? – pergunta, saindo do transe.

—Qualé o melhor tipo de adubo?

—É... – Chico acabou travando, pois nem havia prestado atenção na discussão.

—Tá viajando na maionese, caipira? – indagou Vespa, furioso – Fica aí fazendo pose de aluno certinho, mas quando o trabalho é em grupo não faz nada?

Chico sem dúvida não estava em um bom momento para ser insultado por Vespa:

—Ah, quer saber?! Façam essa droga sozinhos! – gritou, dando um soco tão forte na mesa que todas as folhas de almaço lá em cima voaram.

E se retirou.

—Cara! – exclamou Bombeta, recolhendo os papéis – Mano, ele não é assim, o que será que aconteceu?

Vespa cruzou os braços:

—Que nada, o caipira nunca foi santinho, tá apenas se revelando!

—_

Já anoitecia quando as aulas acabaram. Chico caminhava no campus vazio, perdido em pensamentos.

Ele não percebeu que havia chegado perto da estátua do fundador da universidade.

—Fala, Chico!

—Marcellus! – ele olhava para o fantasma a sua frente, ainda pasmo – Vai assustar a vó!

Marcellus riu, adorava assustar Chico:

—Está bem. Vou lá assustar a Vó Dita.

—Não, minha vó não, ela tem problema de coração! E o que você quer comigo?

—Bem, meu rapaz, você deve saber que eu sei de tudo que acontece aqui na UFA. Ouvi seus amigos comentando que você parece não estar bem, então quer explicar o porquê para o seu velho amigo aqui?

—A Rosinha me traiu. – contou Chico, tentando fingir que não se importava – Com um amigo que eu conhecia desde criança.

O semblante de Marcellus mudou:

—Puxa, isso é triste mesmo. Mas quer um conselho? Acredito que você já tenha lido algum dos meus livros de poemas...

—Na verdade, não.

—Quê? Como assim, moleque? – indagou o fantasma irritado – Bem, então um dia você passa na biblioteca pra ler... Aí você vai ver que muitos deles retratam a dor de ser traído... Muitos poetas apenas fingiam conhecer essa sensação, mas, no meu caso, o eu lírico e o eu poeta eram a mesma pessoa.

Chico se lembrou das aulas de produção textual que teve com Dona Marocas:

—Então quer dizer que você escrevia sobre coisas que aconteciam na sua vida?

—Isso mesmo, meu jovem.

—Peraí! Então quer dizer que o grande Marcellus Cassarotto, realizador de grandes pesquisas científicas, fundador da Universidade Federal de Agronomia também já foi corno?!

—Também não precisa humilhar, garoto! Mas foi sim, já passei pelo mesmo que você. E não só uma, várias e várias vezes.

Virge Santa! Seus chifres devem estar ultrapassando a camada de ozônio!

Marcellus ignorou o comentário indiscreto e prosseguiu:

—Eu sofri, e muito, depois percebi que foi tudo para um bem maior.

Chico não o compreendeu:

—Como assim?

—Veja bem, meu jovem. Se eu não tivesse sido por todas essas mulheres que não eram pra mim, eu nunca teria conhecido o verdadeiro amor da minha vida! Você é jovem, ainda tem muito o que viver, se com a Rosinha não deu certo, parte pra outra! Opa! Aí vem sua nova chance, tchau, vou dormir! – disse adentrando a estátua novamente.

—Ei, peraí! – Chico tentou impedi-lo, mas foi em vão.

Chicô?

O rapaz se virou para ver quem lhe chamava.

Era Fran, trajando um vestido tomara-que-caia azul, cinto dourado, sapatilhas pretas com laços e boina francesa. Suas unhas estavam esmaltadas de Vermelho Paixão, seus olhos verdes e sua prótese metálica pareciam brilhar em meio o jogo de luzes dos postes de iluminação.

—Fran...

Ela caminhou até ele, aparentando estar preocupada:

Chicô, eu soube que você não está bem. Se quiser pode me explicar o que houve, sou sua amiga e estarrei ao seu lado.

Chico suspirou. O único a saber do ocorrido era Marcellus, mas sentiu vontade de contar para ela:

—A Rosinha me traiu. Peguei ela na cama com outro.

A francesa ficou pasma. Não podia acreditar. Rosinha havia feito tanto que provava seu amor por Chico e agora estava o machucando dessa maneira. Fran sentiu novamente ódio por Rosinha, ódio por ela estar fazendo Chico sofrer desse jeito.

Mon Dieu! Isso é horrível! Mas você não pode...

Chico a interrompeu:

—Eu sei que você vai dizer que eu não posso me deixar abalar. Gostaria, Fran, gostaria! De ser como você. Você perdeu uma perna e quase perdeu sua vontade de viver. Mas você superou tudo. Já eu sou um merda, não consigo superar nem uma simples traição!

Fran segurou seu ombro:

Non me idolatre como se eu fosse uma super-herroínaChicô. Eu nunca terria superrado o que passei se non fosse pela ajuda de meus amigos... Especialmente a sua. Você foi minha principal motivação, o sol que me fazia levantar todos os dias.

—Fran...?

—Sim, Chicô. Ainda o amo, nunca deixei de amá-lo.

—Mas... E o Vespa?

—O Vespa... – ela suspirou – Ele me ama, sei disso. Mas non sinto o mesmo por ele. Muitas vezes acabo me irritando com o jeito dele... Se namorrássemosnon serria uma relação saudável.

—Fran... Agora não tenha mais nada com a Rosinha, e uma pessoa muito especial me disse isso faz parte do destino, que isso acabou porque ela não era a pessoa certa pra mim. E... Estou aberto a começar uma nova relação.

—Francisco...

—Violette...

Se aproximaram mais ainda até seus lábios se encontrarem.

Foi um beijo quente e cheio de amor.

Por um instante, não existia Rosinha, não existia Vespa. Existia apenas eles dois, e um amor que não parava de crescer.


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Notas finais do capítulo

Valeu todo e qualquer apoio!



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