Girassol escrita por they call me hell


Capítulo 21
Bônus: O Grande Dia


Notas iniciais do capítulo

Esse é o último bônus com o qual concluo a história. Foi uma jornada divertida e emocionante, e agradeço por lê-la até o final. Estou escrevendo uma nova Fremione e espero te ver por lá quando publicá-la em breve, mas até lá, dê uma chance as minhas outras histórias se puder. :)



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— 21 —

O Grande Dia

 

Estou me segurando para não chorar. Consigo sentir as lágrimas no canto dos olhos, porémestou tentando contê-las, pois já me conheço o suficiente para saber que não preciso de muito mais para desabar completamente. Me mantenho concentrada, respirando lentamente com certa dificuldade. Então olho para frente e escuto alguém dizer:

— Eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.

Pisco algumas vezes, assimilando a situação. É como um sonho, mas está acontecendo agora e eu não pareço ter compreendido isso perfeitamente ainda. Fred sorri diante de mim e segura ambas as minhas mãos antes de se aproximar e selar meus lábios apaixonadamente. Fecho os olhos, retribuindo seu carinho, e escuto gritos e palmas que parecem muito distantes agora. Seu beijo me lembra das muitas cenas românticas que já assisti em filmes, ainda que o romance não seja nem de longe o meu gênero favorito, e não consigo evitar as lembranças em minha mente. Me sinto feliz por estar vivendo isso com alguém tão especial e, de certa forma, me sinto confortável com o papel de protagonista dessa vez. É um ciclo que se fecha.

 

Já fazem alguns anos que tudo começou, exatamente com um casamento, o de Gina. Ainda posso me lembrar da bela camisa que Fred usava e de como eu me sentia intimidada pela sua personalidade tão alegre e divertida, a qual acabou me tornando menos rígida com o tempo que passamos juntos. De repente, sinto como se tudo o que vivemos tivesse nos trazido até aqui naturalmente e essa é uma realização muito significativa. Foi uma longa jornada desde a garotinha insegura com um mundo novo, a adolescente corajosa carregando um grande peso nas costas, até a jovem descobrindo que a idealização de uma carreira nem sempre era tão perfeita quanto se poderia supor. Agora, finalmente sendo uma adulta que já havia aprendido muita coisa, eu estava me sentindo muito mais leve.

Depois do longo beijo e de muitos aplausos, abraço Fred por um instante com toda a emoção que está reverberando dentro de mim. Nos dividimos para cumprimentar os padrinhos e convidados, e sinto que estou completamente aérea, flutuando. Não consigo prestar atenção em todas as palavras, mas sei que são votos para uma felicidade duradoura e sou extremamente grata por isso. Cada uma dessas pessoas fez parte da minha vida de uma forma especial e tê-las ali, todas reunidas, torna o momento muito mais emocionante do que eu esperava que seria. Se Fred não tivesse me ensinado pouco a pouco ao longo dos anos a me conectar, entender e dosar de forma saudável as minhas emoções - fossem elas boas ou ruins -, eu jamais conseguiria passar por isso sem desabar completamente e perceber esse meu crescimento pessoal me deixa orgulhosa de mim mesma.

A última pessoa que abraço é Ginevra. Mais do que a irmã de Fred e agora minha cunhada, por todo esse tempo ela foi minha melhor amiga e meu porto seguro. Longe dos meus pais, com quem sempre tivera uma comunicação muito aberta, era com ela que podia compartilhar meus pensamentos sem o medo do julgamento e com a certeza da sua compreensão. Passamos muitas madrugadas sentadas na sua cama no dormitório da Grifinória ou na Toca, rindo de bobagens, resmungando sobre sonserinos ou consolando uma a outra quando algo fugia dos nossos planejamentos. 

— Os papéis se inverteram agora — ela sorriu, claramente se referindo ao seu rosto completamente borrado por conta do choro. Eu fiquei da mesma forma no seu casamento e, assim como ela na ocasião, de repente senti um impulso incontrolável de libertar minhas lágrimas. — Oh, Mione! Eu estou tão feliz por vocês!

A abraço, pousando meu queixo em seu ombro enquanto a escuto fungar. Nos tornamos um emaranhado de braços e resmungos chorosos que devem ser muito engraçados de se ver do lado de fora, mas que ali são completamente caóticos e primitivos. Eu dou pequenos tapas em suas costas, muito leves, mas sei que não posso melhorar as coisas porque não consigo controlar sequer eu mesma.

— Eu também estou, Gina! — sussurro entre seus cabelos ruivos que estão alvoroçados e cobrem minha cara parcialmente em nosso abraço. — É como se tudo fizesse sentido! Cada mínima coisa que aconteceu faz sentido!

É como uma conversa entre bêbados, eu sei, mas ela consegue compreender o que eu digo mesmo com a falta de lógica. Sou abençoada por ter uma conexão tão sincera com alguém na minha vida, eu não seria a mesma sem ela.

— Você está tão linda — seu resmungo é alto e expansivo como a sua personalidade. Eu não a entendia muito no começo, mas aprendi que essa havia sido a forma que ela encontrara de se fazer notar entre tantos irmãos quase tão barulhentos quanto. — E Fred estava te olhando de uma forma tão bonita quando você chegou, e… 

Molly pousa uma mão nas costas de cada uma de nós, transmitindo sua aura maternal que tem a incrível capacidade de apaziguar nossos ânimos. Nosso abraço se solta devagar e olhamos para ela que nos guia rumo à Toca com um grande sorriso.

— Vamos dar um jeito nessas caras inchadas, sim? — seu riso baixo ecoa, me fazendo rir também. Olho para Gina do outro lado e sei que devo estar igual a ela, parecendo um panda com o rímel ao redor dos olhos em duas grandes manchas escuras.

Me sento em uma das cadeiras da cozinha enquanto Gina se tranca no banheiro e a ouço assoar o nariz de uma forma muito engraçada. Não demora para Molly começar a limpar a bagunça no meu rosto para em seguida me iluminar com seu incrível talento.

— Nem parece que fizemos isso há tanto tempo, não é? — ela comenta de forma leviana, querendo me distrair. — Você estava da mesma forma no último casamento.

— Eu nunca fui boa com eles — brinco, gargalhando genuinamente. 

— Eu também não costumava ser — ela concorda, me acompanhando. Estou com os olhos fechados, mas posso ver o seu sorriso mesmo assim. — Mas já foram tantos casamentos que acho que acabei pegando o jeito.

Posso imaginar, já que só nessa família aconteceram cinco. Sem contar os amigos e outros familiares, além dos companheiros de trabalho de Arthur no Ministério que sempre convidavam uns aos outros, mesmo que não fossem tão próximos.

— Sabe… fico feliz por você ter se dado a chance de viver algo novo. Seria um imenso desperdício vê-la enfurnada em pilhas de papel, perdendo o mundo lá fora, querida — ela começa, mudando o tom. — Você e Fred estão radiantes. Foram feitos um para o outro.

É estranho pensar nisso, pois durante boa parte do tempo em que nos conhecemos ele havia sido apenas o irmão mais velho dos meus amigos. Porém, fazia sentido, é claro. Eu provavelmente não teria dado certo com alguém que já não conhecesse tão bem quanto o conhecia quando começamos a nos relacionar e tampouco teriam sido aceitas tão facilmente as minhas ideias nada convencionais. Molly tinha razão.

— Acho que eu só tinha medo de algo que não podia controlar ou racionalizar como de costume — confesso com vergonha. — Fred merece os créditos por não desistir de mim mesmo com todas as minhas regras e manias. 

— Os anos em um casamento nos tornam tão diferentes… Arthur e eu nem sempre concordamos em tudo, é claro, mas hoje em dia já passamos por tantas coisas e aprendemos tantas outras que se tornou muito mais natural termos as mesmas conclusões na maioria das vezes. Seja por realmente termos passado a pensar de forma parecida com a convivência ou apenas porque agradar quem se ama nos deixa mais felizes.

Entendo isso perfeitamente, mas acabo não o dizendo, pois ouço uma porta se abrir e sei que é Gina saindo do banheiro porque seus sapatos de salto alto fazem um som engraçado contra o piso.

— Essa não é a mesma pessoa que entrou comigo, o que aconteceu?

— Deve estar junto com a pessoa que entrou no banheiro mais cedo — retruco com humor.

— Vocês já estão bem para ir lá fora — Molly ri de nós duas, terminando minha maquiagem. Abro os olhos e vejo Gina me analisando por um instante até balançar a cabeça em aprovação.

Me levanto e paro diante dela em uma pose propositalmente exagerada.

— Como estou?

— Maravilhosa, apenas.

— Você também está incrível — pisco para ela, oferecendo meu braço para que o segure e deixemos a Toca para trás, já sabendo que Molly provavelmente deseja um momento para si mesma.

 

 

O ar do lado de fora da Toca é refrescante agora que a noite está se aproximando e entre todas as pessoas que conversam animadamente, vejo meus pais em um assunto aparentemente muito descontraído com Arthur, o qual parece estar oferecendo uísque de fogo a eles. Meu lado centrado me impulsiona a supervisionar essa primeira experiência, mas penso melhor e deixo que se divirtam ao seu modo, sabendo que estão em boas mãos.

Não muito longe deles, vejo Harry cutucar Fred e apontar para nós enquanto nos aproximamos. O lado bom de já ter cumprimentado a todos é que agora estou livre para aproveitar nossa festa, a qual começo roubando o copo que Fred tem em mãos.

— Alguém voltou com sede — ele diz para mim em um tom falsamente ofendido.

— A partir de agora, o que é seu e meu, e vice-versa — debocho, me aconchegando perto do seu corpo conforme ele abraça minha cintura.

— Que assim seja — ele sorri, beijando meus lábios rapidamente quando devolvo seu copo.

Gina bate palmas, claramente entusiasmada. Ela parece uma criança que acabou de ganhar o que pediu de Natal sempre que nos vê demonstrando algum carinho, por mais que isso já tenha se tornado completamente normal. Lá no fundo, sei que ainda há uma adolescente dentro dela que está em êxtase por ver a melhor amiga com o seu irmão mais velho, do jeitinho que ela sempre quis.

— Você não está esquecendo de nada? — Fred me pergunta, fazendo minha expressão de confusão surgir. Ele aponta para o buquê em minha mão, o qual eu me esqueci completamente porque já estou com ele há tanto tempo que é como se fosse parte de mim a essa altura. — Ele está ansioso, você vai infartá-lo.

Gina e Harry não entendem o que ele quer dizer, e não dou tempo para que perguntem, beijando Fred uma última vez antes de me distanciar e balançar os braços suavemente acima da cabeça, reunindo todas as garotas diante de mim num canto do jardim. A guerra por um buquê de casamento pode ser intensa às vezes. Porém, dessa vez será diferente. 

Crio um pouco de tensão, balançando o buquê como se fosse jogá-lo, enquanto espero que todos estejam em suas posições para o grande momento que planejamos. Então, ao invés de me virar para finalmente lançá-lo para trás, caminho até Angelina e ofereço o buquê para ela. Sua reação é engraçada em um misto de surpresa e alegria, e isso permite que George pare atrás dela sem ser notado até chamá-la com um toque em seu ombro. Assim que ela olha, ele se ajoelha e tira do bolso uma caixinha que ao abrir revela um belíssimo anel.

— Você aceita se casar comigo, Angie? — ele pergunta, fazendo o silêncio ao redor ser completo em tensão.

Ela olha para o anel totalmente admirada e então se volta para George que está sorrindo, mas posso perceber que treme levemente em nervosismo. Eu nunca o vi assim e isso apenas colabora para a minha ansiedade crescente. Angelina, entretanto, não está com pressa e enxuga as lágrimas que deslizaram pelo rosto com toda a calma do mundo, até se recompor.

— Sim! — ela o puxa para cima, o abraçando de uma forma desajeitada. — Claro que sim!

Os aplausos e gritos reiniciam em uma nova comemoração, e relaxo, mais tranquila, ainda que a mão esquerda continue estendida sobre o peito acelerado. Combinamos isso há muitos meses, os gêmeos e eu, e por mais que todos já soubéssemos que ela aceitaria, ainda havia uma pequena chance disso não acontecer, por qualquer motivo que fosse. E eu não poderia julgar se esse tivesse sido o caso, já que quis fazer as coisas no meu próprio tempo contra a expectativa de todos.

Deixo que tenham o seu momento, recebendo as felicitações que merecem, e volto para o lado de Fred que está assistindo a comoção com nítido orgulho.

— Agora só falta o Roniquinho — ele diz sem olhar para mim, rindo. — Ele sempre foi o mais lerdo da família, não me surpreende.

Ainda que sempre precise acrescentar uma piada do tipo quando fala sobre os irmãos, sei que ele os ama e está feliz por vê-los bem, cada um ao seu modo. É apenas a sua forma inusitada de demonstrar afeto, no fim das contas.

— Quem sabe que surpresas podem acontecer no próximo casamento, uh? — cutuco levemente as suas costelas com meu cotovelo. Ele se vira para mim, sorridente como nunca antes, e me abraça, pousando seu queixo no topo da minha cabeça. — Esse é o momento perfeito para aproveitarmos que todos estão distraídos, não acha?

Ele se afasta brevemente, me olhando nos olhos e erguendo uma das sobrancelhas.

— Hermione Weasley está sugerindo uma fuga ou eu estou entendendo errado?

Bato no seu ombro, deixando claro que não precisa de todo esse exagero. 

— Não estou dizendo para começarmos nossa lua de mel mais cedo, não se empolgue — o puxo pela mão, circundando a Toca até atravessarmos a entrada, onde avanço até a sala e me jogo com ele no sofá. 

 

Está tudo tão quieto ali que é reconfortante. Nunca fui a garota da noite, das festas barulhentas e inacabáveis. Essa era Gina que acabava me fazendo entrar no clima nas nossas noites de sexta-feira. Naquele momento, relaxar um pouco me era necessário depois de tantas emoções diferentes. Poderíamos retornar para a festa depois e continuaria sendo o melhor dia das nossas vidas, mas mesmo que eu não soubesse explicar o motivo, apenas sentia que precisava desse momento entre nós.

— Obrigada por não desistir de mim — digo, o assistindo desatar o nó da gravata que certamente já o estava incomodando há algum tempo. Ele a retira e a coloca ao seu lado, não querendo perdê-la, então se volta para mim e segura meu rosto com ambas as mãos.

— Não poderia fazer isso nem se quisesse, sabe disso — seus lábios se curvam suavemente de uma forma muito bonita e natural, e eu amo essa sua expressão. — Eu te disse que seria paciente e que, uma hora ou outra, já sabia que você seria minha. 

Fico envergonhada, pois sei que é verdade. Ele o disse e eu não acreditei na época, já que suas constantes brincadeiras sobre tudo costumavam me causar desconfiança em suas palavras até conhecê-lo melhor. Agora, entretanto, a sua confiança me soava ainda mais charmosa e com certeza tinha parte signicante nos motivos pelos quais eu acabei me apaixonando por ele.

— Sim, você estava certo. Só não se acostume comigo dizendo isso.

Ele ri, beijando minha testa na sequência e deixando meu rosto livre. Sempre foi bom conversar com ele e nesse momento não estava sendo diferente, algo em Fred sempre me tranquilizava, me deixava mais leve.

— Não posso prometer nada.

Ele me puxa para perto, passando seu braço por detrás das minhas costas, enquanto apoio minha cabeça em seu ombro. Toco sua mão livre que está sobre o colo, nossas alianças reluzindo em conjunto. Será assim para sempre, eu tenho certeza. Ninguém fala sobre o que acontece depois do final dos contos de fadas, quando a magia acaba e a rotina começa, mas eu sei que a minha história com Fred será diferente delas pelo simples fato de não cobrarmos nada um do outro e aproveitarmos a vida como ela é, com suas alegrias e tristezas necessárias.

 

Posso dizer, no fim das contas, que sou a mulher mais feliz do mundo.


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Notas finais do capítulo

E então, o que achou?
Se puder, dê uma chance para minhas outras histórias, mas, de qualquer forma, nos vemos em breve na minha próxima Fremione! :)



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