Girassol escrita por they call me hell


Capítulo 16
Natal Granger-Weasley




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— 16 —

 

Me levanto ao som de Careless Whisper no rádio e apanho a vassoura para completar minha encenação do clipe como microfone. Canto alto, o mais alto possível, pois essa canção é intensa demais para não executar uma performance completa. É natal e eu estou atarefada. Há biscoitos de avelã assando no forno e a massa dos cupcakes já está pronta para a próxima fornada, mas não interrompo meu momento musical por nada.

— We could have been so good together, we could have lived this dance forever — canto ainda mais alto pela cozinha. É a parte do falsete quando Fred surge no carredor, mas não há como envergonhar-se de uma música tão incrível, então apenas sigo à plenos pulmões. — But now who's gonna dance with me, please stay!

Fred arregala os olhos para mim, confuso.

— Fico, claro — ele ri, entrando pela porta.

Rolo os olhos para ele, deixando meu microfone-vassoura apoiado na parede. Ele não precisa ter o vislumbre de toda a cena nesse momento. Dou risada do seu comentário e mostro como a massa dos cupcakes está maravilhosa.

— Por Merlin, ficarão deliciosos — vejo a gula estampada no seu rosto e sei que ele mal vê a hora de comê-los. — Quanto falta antes de irmos?

— Apenas mais uma fornada. Me ajude pegando as forminhas ali — aponto para o armário ao lado e me dirijo de volta à bancada.

Fred separa as pequenas formas de papel pelo suporte e divido a massa igualmente entre elas antes de tirar os biscoitos do forno e colocar os cupcakes para assar. Ele pega uma das caixas em cima da mesa e me ajuda a enchê-la. True, do Spandau Ballet, toca em seguida e não consigo evitar cantá-la também. Amo essas canções clássicas dos anos 80, românticas e dançantes na medida certa, e com letras deliciosas de acompanhar.

— Sempre achei que ele dizia “i know this is my chance, true” — Fred me olha ao dizer. — Sei que não faz o menor sentido, mas enfim.

Solto uma gargalhada sincera com isso.

— Está pronto para aprender a confeitar?

Suas mãos vão imediatamente para frente do corpo, movendo-se em um sinal negativo.

— Uh, não. Eu não levo jeito com essas coisas.

Me viro para ele, uma das mãos pousando na lateral do meu corpo. Não pode estar falando sério.

— Fred, estamos falando sobre decorar biscoitos e bolinhos para o natal. Não é como se eu estivesse te pedindo para roubar um cofre no Gringotts ou coisa do tipo.

Ele dá de ombros.

— Você também tem experiência com isso, então pode falar com essa facilidade.

Dou um tapa em seu braço e preparo um dos saquinhos de confeiteiro, passando para ele. Quando o meu está pronto, pego um dos biscoitos na caixa e faço pequenas bolinhas vermelhas e brancas ao seu redor de forma muito simples.

— Vê? Você pode fazer como quiser, não é difícil.

Ele olha para o biscoito como se fosse um cão de três cabeças prestes a mordê-lo na bunda. Ergo minhas sobrancelhas involuntariamente e com toda essa pressão sobre si, ele acaba fazendo sua primeira obra de arte. Está torto, mas é adorável.

— Muito bem, agora pegue outro.

Faço meia dúzia de biscoitos enquanto ele prepara quatro e quando vejo que está pegando o jeito, o deixo tomar conta disso para me dedicar aos cupcakes. Recheio todos cantando e os confeito vez ou outra jogando varinha em Fred que responde me atirando pedaços de chocolate. É uma manhã feliz e penso comigo mesma que todas as manhãs poderiam ser assim se vivêssemos juntos, talvez. É um pensamento doce, mas ainda não estou disposta a tentar, de qualquer forma.

 

Quando terminamos tudo, ele vai tomar banho e eu limpo a cozinha, tomando o meu banho em seguida. Coloco um vestido vermelho que se adequa bem às minhas curvas sem ser justo ou revelador, já que estamos indo passar o natal entre família e amigos. Quando ele me vê, ainda assim, parece achá-lo provocante o bastante. Eu estou com uma das mãos apoiadas na minha escrivaninha, utilizando a outra para me equilibrar e calçar saltos, quando ele chega por trás de mim e me abraça. Ele beija minha nuca, provocando arrepios que vão até o início da minha espinha e eu apenas reclamo que não podemos nos atrasar.

Bem, adivinhe, nos atrasamos. Depois de rolarmos pela minha cama em uma série de beijos que acordam o demônio dentro de mim, o xingo, me ajeitando outra vez para partirmos. Ele não tem o menor pingo de remorso e eu o odeio por isso, ainda que também o ame pelo mesmo motivo.

Ele apanha as caixas e aparatamos na casa dos meus pais, onde entramos todos no carro em direção à Toca. O porta-malas está cheio de presentes e Fred está sentado ao lado do meu pai, que dirige. Ele é o copiloto da vez e está responsável de nos guiar até a casa de Arthur e Molly, já que eu não faço a menor ideia de como chegar até lá por este meio.

— Ligue o rádio, Fred — eu peço, sentindo o peso do olhar da minha mãe.

Não quero deixar o silêncio tomar conta desse carro. Isso pode ser muito perigoso.

— Como se liga? — ele pergunta, claramente confuso com a quantidade de botões.

Eu me estico para frente até poder apertão o botão certo e depois me sento satisfeita. Estamos na avenida principal e os vidros estão abertos, balançando os meus cabelos. Isso me faz sentir viva e a canção de Bon Jovi apenas colabora com isso.

— Wow, we're half way there! Wo-oh, livin' on a prayer! — eu e meu pai gritamos quando chega o refrão. — Take my hand, we'll make it I swear... Wo-oh, livin' on a prayer!

 

A viagem acaba sendo mais rápida do que eu poderia supor. Quando chegamos à Toca, Arthur vem nos receber, cumprimentando todos nós. Depois, como haveria de ser, se une ao meu pai para conversarem sobre o carro e os pneus para neve. Os deixamos para trás sabendo que a conversa será longa e encontramos todos os outros já reunidos lá dentro. Deixo as caixas de doces sobre a mesa da cozinha e recebo um abraço apertado de Molly que puxa minha orelha pelo atraso, ainda que, se dependesse dela, já estaríamos aqui há uma semana. Minha mãe fica encantada com a sua cozinha e, assim como seus maridos, as duas se unem no que eu também sei que será uma longa conversa. Imploro aos deuses para que tudo ocorra bem nessa noite e acompanho Fred na tarefa de cumprimentar cada um dos seus irmãos e cunhadas antes de colocarmos os presentes sob a árvore.

— Qual desses é o meu? — ele questiona, balançando uma caixa e depois outra.

Paro em minha melhor posição e movo os braços de forma a enfatizar minha excelente silhueta nessa noite. Ele entende a brincadeira.

— O melhor presente, sem dúvidas.

Ele se aproxima e me rouba um pequeno beijo antes que eu possa protestar. Percebe meu desconforto de imediato, assim como também percebo que fica chateado.

— Não sei se nós devemos...

— Tudo bem, não se preocupe — ele balança a cabeça para mim, se afastando. — Eu entendo.

Fred me força um sorriso e me deixa sozinha na sala, me sentindo estúpida. Para alguém que pensa tanto, às vezes pareço não saber tomar decisões da melhor forma quando se trata dele e isso me deixa profundamente decepcionada comigo mesma. Por que não consigo simplesmente relaxar como uma pessoa normal? Ah, sim. Porque sua família com certeza surtaria ao ver esse tipo de coisa e eu detestaria estragar tudo explicando que, na verdade, nós não temos nada e nem sabemos se um dia planejaremos ter. No fim das contas, esconder isso é mais complicado do que eu poderia supor.

Me recomponho e deixo a sala, seguindo as vozes até a cozinha. Meu pai e Arthur deixaram o carro por um momento e agora todos conversam animadamente. Ginevra bate no espaço vazio ao seu lado para que eu me sente e assim o faço.

— Nossas mãe parecem melhores amigas — sussurra para mim, já sabendo como as coisas tendem a ser.

— Daqui a pouco estarão trocando receitas e combinando de ir às compras.

Nós rimos, olhando para as duas mulheres mais velhas que conversam num canto. Minha mãe parece muito interessada na torta de abóbora de Molly, sua receita especial. A vejo explicando sobre o cozimento lento, gesticulando grosseiramente. A Sra. Weasley é uma mulher grande e um tanto extravagante, o completo oposto de minha mãe, pequena e sempre procurando ser o mais discreta possível.

— Onde está o Fred?

— Eu não sei, acabei acabei dando outra bola fora. Ele me beijou na sala e eu me desesperei. Não quero que sua família crie expectativas, Gina. Acho que agora ele está chateado.

Ela esboça uma expressão triste. Fred entra pela porta, conversando animadamente com Gui e Harry, mas não consigo acreditar no seu sorriso alegre depois de ter visto sua cara ao deixar a sala.

— Eu te entendo, vocês não precisam de mais pressão nesse momento — ela suspira, voltando o olhar para mim. — Mas, sabe, o pior que poderia acontecer seria minha mãe te chamar de nora.

Na minha imaginação, isso não soa tão ruim, mas continuo tendo medo. Tenho mais medo da minha mãe, para ser sincera. Há alguns anos uma prima levou um rapaz em um dos nossos almoços de família e o apresentou dizendo que estavam saindo. Minha mãe passou os dias seguintes me dizendo como aquilo era inapropriado e que o rapaz logo a deixaria por outro caso, dizendo por ai que ela era uma garota de uma noite. Eu não queria receber o mesmo julgamento. Contei à ela que estava gostando de Fred na minha última visita e insinuei estar pensando em tentar algo com ele, mas que não queria namorar ainda por conta da correria no trabalho, o que já foi o suficiente para receber um olhar ameaçador.

— Quando Gui e Helena terminaram há alguns anos, a única coisa que mudou foi o fato de que ela passou a visitar meus pais sem ele ao lado. Eles a adoram até hoje. Sempre que vão ao beco, fazem questão de passar na sua loja para ver como ela está.

Eu conheci Helena durante uma das minhas férias na Toca, ainda na época de Hogwarts. Era mesmo uma pessoa adorável e me alegra saber que ainda é próxima da família de alguma forma. Molly adorava sentar com ela no sofá da sala para conversar, me lembro disso. Às vezes as via passar horas juntas.

— Eu não posso pensar nisso agora — termino o assunto, me servindo um pouco de whisky de fogo.

Gina me olha com curiosidade. Ela sabe que eu não sou muito fã de bebidas mais fortes, mas não me julga. Me conhece o suficiente para saber que só quero me distrair um pouco e que não passarei do limite.

Quando a conversa das mulheres parece acabar, Molly reúne todos na sua imensa mesa de jantar – aumentada para caber a todos nós – e, assim, nós começamos a ceia.

— Hermione, querida, traga seus pais mais vezes — ela diz do seu lugar na ponta da mesa, sorrindo para mim.

— Acredite, eu traria — sorrio de volta. — Mas eles parecem ter um problema sério com lareiras e chaves de portal.

Arthur olha para eles intrigado e posso ver vergonha em seus rostos. Felizmente não voltarei com eles para casa ou levaria um imenso sermão.

— São completamente seguros, não há com o que se preocupar. O acesso de carro nem sempre é bom, às vezes quando chove a lama torna impossível passar — ele diz com o máximo de sua segurança, buscando tranquilizá-los.

— Vocês poderiam visitá-los também — sugiro, recebendo olhares pela mesa. É mais fácil ver o final do arco-íris do que Molly fora de sua casa. Ela e a Toca são praticamente uma só.

— Seria ótimo, adoro andar naqueles carros gigantes.

Eu abafo um riso e ouço Ginevra fazer o mesmo.

— Ônibus, querido — Molly o corrige. — Se chamam ônibus.

E então a mesa toda ri, conversando sobre as particularidades de bruxos e trouxas. Ignorando o que dizem, busco por Fred. Ele está sentado do outro lado da mesa e sei que se eu não tivesse o chateado, estaria sentado do meu lado agora, segurando a minha mão por baixo da mesa e me olhando com alegria por ver nossos pais se dando tão bem. Nenhum deles tem amigos próximos e vejo isso como algo muito promissor.

— Estão convidados a conhecer nossa casa, sem dúvidas — minha mãe diz sorridente. — É ótimo ter um casal de amigos depois de tantos anos e, bem, dada a atual situação creio que nos veremos muito ainda.

Molly a olha com uma expressão carinhosa, mas posso ver a confusão em seu rosto. Antes que ela questione, minha mãe olha para mim com a sua expressão doce que só eu consigo decifrar como cinismo e diz:

— Hermione, você não contou para eles?

Oh-ou. Minha pressão cai, minha visão começa a escurecer e tudo o que eu quero é cavar um buraco no chão para me jogar. Não acredito que ela jogou tão baixo. Pela primeira vez desde a situação na sala, Fred me olha. Não consigo decifrar o que há em seu rosto, talvez porque meu cérebro esteja ocupado demais tendo um ataque de pânico.

Todos me olham, mas ninguém diz nada. É Arthur quem pigarreia, atraindo a atenção para si:

— Bem, seja o que for, tenho certeza de que dirá no momento certo.

Seu sorriso é tranquilo e me conforta, mas Molly está me fuzilando com o olhar.

— O natal é um ótimo momento para novidades — ela curva seus lábios em um sorriso para mim, mas eu acho parecido demais com o de minha mãe à essa altura. — Ande, querida, não nos deixe curiosos.

Ginevra faz o seu melhor e segura a minha mão por baixo da mesa. “Respire”, ela sussurra ao meu lado. 

— Eu deixei meu cargo no Ministério — digo, querendo fugir do assunto.

Arthur me olha incrédulo, mas logo se recompõe. Harry explica que sou uma testemunha em um caso que ele está investigando e a razão pela qual o fiz, então o agradeço com o olhar.

— Não se preocupe, Hermione. Você é jovem e inteligente, vai encontrar algo melhor.

Fred desvia o olhar quando me viro para ele. Me sinto péssima por isso, por saber que o magoei depois de tudo o que passamos nas últimas semanas. De repente, me encho de coragem.

— E tem mais uma coisa: Fred e eu estamos saindo — tento não entrar em pânico, mas sinto meu coração acelerado. — Não é um namoro, não sei se um dia vai ser, mas estamos aproveitando a companhia um do outro e tem sido a melhor coisa que aconteceu nos últimos tempos.

Ele me olha me surpreso e Gina assovia em comemoração, então Ron bate palmas animado. Vejo George cutucar o irmão nas costelas, fazendo alguma piada que não consigo entender. Minha mãe está me julgando silenciosamente, mas não me importo, pois sei que tudo vai ficar bem.

— Isso é maravilhoso, querida — Molly diz com um sorriso imenso. 

— Eu sempre disse que você e Harry um dia fariam parte da família.

O senhor Weasley pisca para mim e eu rio.

— Agora que está tudo resolvido, vamos comer — Gina diz.

Aos poucos as vozes voltam a tomar conta da mesa e olho Fred do meu lugar. Ele ainda está um pouco sério, mas sorri para mim. Sei que não é assim que ele gostaria de anunciar à família, com essas palavras, sendo desse modo, mas sei que me compreende. Entre todas as coisas que eu planejara para esse natal, magoá-lo não estava na lista, mas sinto que dei o primeiro passo para consertar isso.

Quando relaxo, Ginevra solta a minha mão. Olho para ela agradecida e recebo um pedaço da famosa torta de abóbora de Molly.

— Coma, cunhada— ela ri, passando o prato para mim.

Ainda que já tenha comido essa torta muitas vezes, sempre parece ser a primeira vez.

— A torta está maravilhosa, Molly — não me contenho em dizer, saboreando.

Ela faz um gesto envergonhado que me provoca risos.

— Obrigada, querida. Os seus biscoitos também estão excelentes.

— Os biscoitos são de Hermione? — Gui se vira para mim.

— E os bolinhos também — Ron o responde, erguendo um deles.

Gui o pega e prova, acenando positivamente em seguida.

— Fred é um rapaz de sorte — ri, me provocando.

Não me incomodo com isso, pois sei que o diz com a melhor intenção.

— Eu ajudei a confeitá-los, ok? — Fred diz cheio de pompa.

Ginevra pega outro biscoitos.

— Percebe-se, Hermione não faria algo torto assim. Eu sabia que algo estava errado.

E pronto, assim começa uma grande batalha entre irmãos na mesa. Estão todos reunidos, até mesmo Carlinhos, então não há lugar seguro e ninguém que possa pará-los. Os demais apenas assistem o desenrolar da coisa, rindo. Começam instigando uns aos outros, mas a partir do momento em que George decide jogar uma colher de manteiga de amendoim no rosto de Percy, a linha que define o limite parece ter sido ultrapassada. É cada um por si e Merlin por todos.

Carlinhos rouba a varinha de Molly do bolso em seu avental e joga o creme de ameixas em Gui que se defende com dois bolinhos, Ginevra lança biscoitos de gengibre nas costas de Ron e eu me pego no meio de um tumulto maior do que esperava. Quando o primeiro copo de abóbora espumante voa pela mesa, sei que estamos todos encrencados, pois acerta meus pais e Molly, fazendo Arthur rir. Ele, sem dúvidas, é o mais encrencado de todos.

Deslizo em minha cadeira até estar embaixo da mesa, a conhecida zona segura. Espio vez ou outra para cima, ouvindo Molly gritar com os filhos que à essa altura já se levantaram e estão se espalhando pela casa com varinhas em punho. Vejo Fred fazer menção de unir-se à eles, mas me estico para segurá-lo pela manga da camisa. Hoje não, meu bem. Você não pode ser morto pela furiosa Sra. Weasley antes de nos resolvermos.

Ele se senta outra vez, mas não está rendido. Ergue ambas as mãos, apontando para a sala onde Ginevra ri como louca de George que tosse penas e ouço seus protestos sobre estar perdendo a melhor disputa de todo o ano, então acabo cedendo e o libertando.

— Vença-os, Fred! — grito do meu lugar. — Pelo menos faça sua morte valer a pena!

Molly pede desculpas aos meus pais, dizendo que seus meninos estão fora de controle. Ela pragueja procurando por sua varinha e por mais que eu saiba que ela está com Carlinhos, jamais ousarei dizer. Pego um bolinho com recheio de ganache e pasta de amendoim e saio para o quintal. A neve cai de um jeito muito bonito e as luzes de dentro da casa iluminam o caminho até o balanço, onde me sento.

Balanço devagar, comendo meu bolinho completamente em paz quando Fred surge correndo, respirando com dificuldade.

— Gui... — ele começa a dizer, mas falta fôlego. Está parado diante de mim, o corpo curvado e as mãos apoiadas nos joelhos. Parece um idoso desse ângulo. — Gui estava com as mãos coladas uma na outra — nova pausa para recuperar o fôlego. — E Ron tinha a língua tão grande que não cabia mais na sua boca.

Fred se senta na raiz da árvore, a mesma onde me sentei no dia em que conversei com Fleur sobre Victoire. Ele ri tanto que lágrimas escapam pelos seus olhos e suas bochechas estão vermelhas como fogo. Não resisto e começo a rir também.

— E o melhor... Por Merlin! — ele respira fundo e me olha, tentando não gargalhar. — Alguém içou Gina até o topo da árvore de natal e a prendeu lá pelas cuecas.

A maior prova de que os garotos Weasley não fazem distinção da sua caçula é Fred dizer “pelas cuecas”. Ainda assim, tenho certeza de que ela gostaria de ser café com leite às vezes e deve estar furiosa nesse momento.

— Me diz que não foi você que fez isso ou Ginevra vai matá-lo, caso sua mãe não o faça.

— Talvez tenha sido, mas ela não precisa saber — ele continua rindo, mas eu só consigo ter uma expressão de incredulidade. — Ei, relaxe. Eu vim até aqui justamente porque sei que você é zona segura hoje.

— Eu sou? — ergo uma das sobrancelhas para ele.

— Claro que é. Seus pais estão aqui, você trouxe os melhores doces da noite e todos viram como ficou em pânico com a mamãe.

Pressiono meus lábios formando uma linha fina por um momento. Estou pouco confortável com isso.

— Eu sinto muito por ter sido uma grande vadia má com você, Fred.

Ele ri da minha escolha de palavras.

— Está tudo bem — dá de ombros e sei que é sincero, então relaxo.

— Sério, não sei o que há sobre isso tudo que me deixa tão... tensa. Me desculpe.

Ele resmunga algo que não entendo, mas suponho ter sido um “deixa para lá” e me puxa pela mão. Levanto do balanço sem querer, cedendo ao puxão e acabo sentada em seu colo, de lado, podendo ver seu rosto com as luzes da Toca que refletem em nós e na neve. Ele não me diz nada, pois não é realmente preciso. Ao invés disso apenas me beija, abraçando minha cintura e me mantendo perto. Consigo ouvir seu coração batendo acelerado.

— Você não precisava ter feito aquilo, mas obrigado. Significa muito para mim.

Eu sorrio, envergonhada.

— Eu senti que devia fazê-lo, era a hora de encarar isso.

 

Quando voltamos para dentro da Toca, ele está segurando a minha mão e não penso em soltá-la. Toda a bagunça dos seus irmãos já foi resolvida e nos reunimos na sala ao redor da árvore, começando a troca de presentes. Todos ganham suéteres de Molly, como já é tradição, e os desse ano são azuis. Ganho um par de brincos belíssimos de Gina e a versão atualizada de “Hogwarts, Uma História” de Harry. Meus pais me dão sapatos Oxford negros com um pequeno salto que são perfeitos. Carlinhos me dá um caderno de couro de dragão que também aprecio muito e logo estou com os braços cheios de coisas de seus outros irmãos, os quais também presenteio.

Quando vê que já recebi todos os meus presentes e também distribuí todos os que tinha para dar, Fred se aproxima de mim. Ele tem os olhos brilhantes e um sorriso bobo no rosto. O acho belíssimo com seus cabelos penteados para trás e o primeiro botão da camisa azul aberto no peito.

— Feche os olhos — ele ordena e eu obedeço. Segundos depois, diz: — Pode abri-los agora.

O vejo com uma caixa em mãos e quando ele a abre, ali está um colar tão delicado que levo minhas mãos aos lábios em surpresa. Seu cordão é fino e prateado, e há um pequeno camafeu em ônix.

— É maravilhoso, Fred — eu o olho completamente emocionada.

Ele sorri ainda mais e o tira da caixa, colocando-o ao redor do meu pescoço. O toco com a ponta dos dedos e me sinto incrível diante da beleza do seu gesto, da sua escolha tão certeira. Sem pensar duas vezes, me viro antes que volte para mim e enlaço meus braços ao seu redor, o abraçando apertado.

— É o primeiro. Não vá chorar, por favor — ele ri, fazendo carinho nos meus cabelos. — Causa rugas.

Eu me afasto rindo e vou até a árvore, onde deixei o seu presente. Não é nem de longe tão bonito ou tão simbólico, mas tem seu significado e importância, no fim das contas. Quando entrego a caixa para que abra, ele primeiro a olha, chacoalha e pesa. Por fim, desiste de adivinhar e a abre.

— Wow! — ele grita e Arthur, ao ouvi-lo, espicha os olhos para o seu presente. Obviamente muito interessado, ele se aproxima de nós.

— Uma engenhoca muito interessante essa. Para que serve?

Fred não tem a menor ideia do que fazer com ele, então o ajudo. Tiro o aparelho da caixa e o ligo, assistindo os olhos confusos ao meu lado. Logo todos os Weasley estão interessados no presente e nos assistem com curiosidade.

— É um celular. Acho incrível como bruxos são capazes de fazer coisas incríveis, mas continuam tão arcaicos em alguns aspectos, como comunicação — dou de ombros, mostrando as funções do aparelho. — Com isso posso te mandar mensagens em instantes de qualquer lugar, te ligar e até conversar vendo o seu rosto. Também posso tirar fotos, ainda que elas não se movam como as dos bruxos, e pesquisar coisas sobre as quais tenho dúvidas. É muito útil.

Fred o pega da minha mão e começa a fuçá-lo. Apesar de nunca ter tido nenhum celular na vida, até que se vira muito bem, já que tudo é intuitivo. Seus irmãos querem vê-lo de perto, pegá-lo, mas ele não deixa. É o seu presente e ele está enciumado, mas também muito orgulhoso de toda a atenção. Sei que a partir daqui, em algum tempo todos terão os seus próprios celulares nessa família.

— Você é tão esperta, Hermione — ele me abraça, me tirando do chão e girando meu corpo por um momento. — Eu adorei o presente, obrigado.

Deixo ele se divertir com os irmãos e os pais, desvendo os mistérios da tecnologia. Me junto à Ginevra no sofá, a única que não está tão interessada por ter comprado o presente junto comigo, e rimos.

— Esse é o melhor natal de todos.


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