Encantos & Desencontros escrita por Maitê Miasi


Capítulo 9
Capítulo 9




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"E hoje a noite não tem luar 
E eu estou sem ela 
Já não sei onde procurar 
Não sei onde ela está. 
Hoje a noite não tem luar 
E eu estou sem ela 
Já não sei onde procurar 
Onde está meu amor?"

Legião Urbana  – Hoje A Noite Não Tem Luar

****

Ao findar o beijo, Maria olhou Estêvão com    os   marejados, mas não gritou, ou saiu correndo, como faria em sã consciência, pelo contrário, ela se calou, olhando-o, ele ficou perdido diante da sua atitude, e preocupado ao ver aquelas lágrimas.

— Que foi Maria, por que tá chorando? – Havia a certa inquietação em sua voz. Ele pegou de seu bolso um lenço, e pôs-se a secar suas lágrimas. Os dois ainda estavam próximos, e ele queria abraça-la, mas quando ela percebeu sua intenção, pegou o lenço de sua mão, e logo se armou.

— Não é nada! – Ela passou por ele, indo a outro canto da sala. – Quer dizer – o olhou – eu te odiei por todos esses anos, e daí você reaparece na minha vida, causando um terremoto dentro de mim!

— Então isso quer dizer que você não me odeia, como diz – ele foi ao seu encontro, e a segurou pelos pulsos – pelo contrário, você ainda me ama, Maria! – Sua voz era tão intensa como um vulcão que acabara de entrar em erupção.

— Não Estêvão – ela se soltou, e mais uma vez foi para o lado oposto ao dele – não se iluda com isso. O fato da sua presença me deixar atônita, não quer dizer que ainda te ame.

— Não?! – Ele riu com deboche. – Então me explica o que isso quer dizer, pois, se não é amor, não sei o que mais pode ser!

— Você acha mesmo que depois de tudo o que você fez, eu ainda amaria você? – Perguntou com a voz branda.

— A gente não manda no coração Maria. Eu – batia com seu indicador no peito – não deixei de amar você um dia sequer nesses vinte e cinco anos que se passaram, e tenho certeza que o mesmo aconteceu com você.

— Eu amei muito você, sim, mas eu escolhi não te amar mais, e vou seguir assim. Cláudio e eu vivemos muito felizes, ele sim me mostrou com atitudes que me amava, e eu não vou jogar isso fora por você Estêvão, mesmo que meu corpo esteja gritando pra isso.

Maria cuspiu as palavras em cima de Estêvão, mas na verdade, o que ela queria mesmo era se jogar, abraça-lo e não soltar mais, porém ela insistia em agir mais com a razão do que com o coração.

Sem mais, ela pegou sua bolsa, e após uma última encarada, ela saiu dali, com o coração ainda palpitando pelos minutos que passara naquela sala.

...

Chegando ao seu trabalho, Maria não parava quieta, se movimentava de um lado a outro, sem conseguir se concentrar em absolutamente nada. Jacques, que estava com ela em sua sala, notou o seu nervosismo, e estava morto de curiosidade querendo saber o porquê da bela mulher estar uma pilha, mas não tinha coragem suficiente para se meter em sua vida, porém a curiosidade vencera a discrição que ele não tinha.

— Por Deus Maria, o que tá havendo? Você tá uma pilha de nervos desde que chegou! Se continuar andando pra lá e pra cá desse jeito, vai acabar parando no estacionamento.

— Eu tô estressada, ansiosa, nervosa, ai – jogou seu cabelo para trás com a mão – eu nem sei mais o que eu tô! – Se jogou na poltrona, tentando buscar o mínimo de relaxamento.

— E tá nervosa por quê? – Sua curiosidade aguçou ainda mais.

— Ham – Maria pensou por alguns segundos o que responderia a ele sem se comprometer – eu tô nervosa porque cheguei mais tarde no trabalho, é isso! – Se levantou depressa, e ainda mais nervosa, foi para a sua mesa. – Eu detesto chegar atrasada em qualquer lugar!

— Ora – ele se sentou no lugar que antes era ocupado por Maria, cruzando as pernas – se for isso, não se preocupe minha deusa, você tá perdoada. Você não chega atrasada, nós que chegamos cedo demais, não fique tensa por isso, estresse dá rugas.

Jacques deu uma piscadela, fazendo Maria rir, talvez a primeira vez naquela manhã, já que trazia sobre si um fardo gigante, que não estava sabendo lidar muito bem.

O clima já estava bem ameno naquela sala. Maria e Jacques discutiam sobre vários modelos que deveriam ou não fazer parte da coleção. Os dois riam, brincavam, até contavam piadas entre eles, mas o clima mudou quando Fabíola adentrou pela porta da sala.

— Jacque, tô precisando da sua ajuda.

— Claro Fabi – ele tentava conter seu riso, por uma piada que tinha contado – só estava terminando algumas coisas aqui com a sua irmã, e já estava indo te procurar.

Os dois iam saindo, mas Fabíola voltou ao reconhecer um certo objeto nas mãos de Maria.

— Por acaso esse lenço que tá na sua mão e do Estêvão?

Os olhos de Maria quase saltaram.

— Ham – olhou para o lenço quadriculado em suas mãos – sim. – Respondeu com certo medo.

— Posso saber o que ele faz com você? – Ela se aproximou da irmã, e percebeu um cheiro familiar. – E esse cheiro? É do perfume dele, não é? – Sua fisionomia estava mudando rapidamente.

— É – Maria tinha certa dificuldade em trabalhar com as palavras – eu fui levar Giovana ao trabalho, e me senti um pouco mal, seu marido foi muito cortês, e me ajudou, por isso o cheiro dele em mim, foi isso que aconteceu. – Tentou não se enrolar na mentira que acabara de criar.

— Você acha que eu sou estúpida, não é Maria? – Riu. – Como tem coragem de inventar essa história tão idiota? – Sua voz aumentava gradualmente.

— É a verdade! Quer ligar pra ele pra confirmar? – Maria pegou o telefone na sua mesa e estendeu a ela.

— Eu não vou ligar pra ninguém! Vocês dois são cúmplices um do outro, e ele vai confirmar sua história patética! Por que você não assume de uma vez que vocês dois estão juntos, que são amantes? Que só estão rindo de mim pelas costas? Você deve tá muito feliz por ver meu casamento indo por água abaixo, né.

— Não me culpe por seu casamento ser um fracasso, Fabíola, eu não tenho culpa de nada! – Falou tão alto quanto a irmã. – Se seu marido é indiferente a você, eu não tenho nada a ver com isso! Não coloque em mim a culpa das suas frustrações!

— Fracassado? Você tá muito enganada Maria, Estêvão e eu estávamos muito bem, até você chegar!

— Ah, estava tão bem, que a presença de uma pessoa conseguiu o desestruturar. Ah, faça-me um favor Fabíola! Assume logo que você não teve a capacidade de fazer seu marido esquecer o que aconteceu no passado...

— Você cala a sua boca! – Ordenou. – Escuta bem o que eu vou te dizer Maria: se você acha que vai ser fácil assim ter ele de volta, você tá enganada. Eu demorei muito pra tê-lo, e não vai ser uma qualquer que vai tira-lo de mim. – Seu dedo indicador estava na cara de Maria. – Vamos Jacques.

Ela saiu da sala muito alterada. Jacques esperou que ela saísse para sanar algo que estava corroendo-o:

— Então é você a mulher de quem a Fabi falava?

Maria voltou para sua mesa, e se sentou com pesar, mas não respondeu a pergunta de Jacques.

— Não precisa responder, já sei a resposta. 
Jacques saiu, deixando Maria a sós, pensando que o rumo que as coisas estavam tomando, não era o que ela havia planejado.

...

Maria resolvera que iria para casa mais cedo naquele dia, não muito antes do seu horário de saída, apenas uns quarenta minutos.

A bela mulher só queria seu quarto, sua cama para tentar aliviar-se das suas dores de cabeça diárias, mas ao passar pelo quarto de Giovana, encontrou a menina se arrumando demais, e desconfiou, mas logo fora até ela saber o motivo de tanto embelezamento.

— Aonde você vai? – Perguntou entrando no quarto, assustando a filha. – Essa roupa tá curta demais.

— Ai mãe, sabe bater não? – Giovana terminava os últimos retoques da sua maquiagem frente a um espelho.

— Você não respondeu a minha pergunta. – Ela olhava a filha através do espelho.

— Vou até a casa do Estêvão. – Voltou-se para mãe, dando de ombros. – Algum problema?

— Você ainda pergunta? Você não vai a lugar nenhum! – Sua voz aumentou em algumas oitavas.

Giovana mirou a mãe com um sorriso cínico nós lábios.

— E quem vai me impedir?

A menina pegou sua bolsa, mas ao passar pela mãe, foi impedida, pois a mesma segurara seu braço.

— Me solta mãe!

— Eu já disse que você não vai a lugar nenhum!

— E eu já disse que ninguém vai me impedir.

Giovana se soltou da mãe num arrancão, mas Maria não sossegou, e foi atrás da filha tentando impedi-la de sair. As duas iam gritando entre si, até chegarem na sala, onde encontraram Cláudio. Giovana aproveitara que o pai aparecera, distraindo a mãe, e saiu.

— Posso saber que gritaria é essa?

— Sua filha não tem limites!

— Essa balbúrdia toda é porque ela quer ir até a casa do Estêvão? Realmente tem necessidade disso Maria?

— Ah, agora eu sou a louca por querer o melhor pra minha filha, né Cláudio?

— Não, mas não precisa disso, deixa ela fazer as coisas dela, e ela não tá fazendo nada demais, ela tá indo na casa da sua irmã!

— Continua passando a mão na cabeça dela, continua!

— Será que dá pra você se acalmar? Parece que estamos falando de algo de outro mundo, por Deus!

Maria pôs-se de costas para o marido. Queria contar tudo para ele, quem na verdade era Estêvão, o que estava acontecendo, sobre a filha, mas não estava segura se era o momento certo para fazer, na verdade, não sabia se esse dia chegaria. Uma respirada funda foi o que bastou para ela voltar a conversa, talvez não da forma que queria, mas foi a que encontrara.

— A culpa disso tudo é sua Cláudio! – Gritou em alto e bom som.

— Quê? – Um V se formou entre suas sobrancelhas.

— É isso mesmo! A culpa é sua. Desde quando você teve essa estúpida ideia de virmos para o Brasil, minha vida virou um inferno! Eu não tenho paz, minha filha tá saindo dos trilhos e a culpa é sua!

— Agora a culpa é minha por querer o melhor pra minha família? Eu fiz e faço de tudo por você, e será que vou ser descriminado pelo resto da vida por ter querido fazer algo que quisesse?

— E você vai jogar na minha cara o que fez por mim?

— Não, só que você não soube nunca lidar com seus traumas, e agora tá insuportável com isso.

Maria apenas o olhou, e sem dizer mais nada, virou as costas e subiu. Cláudio, percebendo a besteira que falara, fora atrás da esposa.

— Maria, espera, me desculpa, eu não quis dizer o que disse!

Os dois seguiram a caminho do quarto, e ele fechou a porta assim que entrou.

— Por favor meu amor, eu não quis dizer aquilo, você não tá insuportável.

— Não adianta se redimir, é isso que você acha que eu sou, só que eu deixei bem claro que não queria vir pra cá, e você sempre soube disso.

— Você encontrou com ele, não é? Por isso todo esse nervosismo, né?

— Claro que não.

— Então é por quê? Não é possível alguém ficar assim por nada.

— Eu tenho esse direito, agora me deixa paz, e já que eu tô tão insuportável, pode dormir em outro quarto.

— Mas Maria!

— É isso Cláudio, me deixa sozinha!

...

Não demorou mais que cinco minutos, e Giovana já se encontrava mansão dos San Roman. Quando entrou, não encontrou ninguém, nem sequer os empregados, mas logo não era a única na sala, pois Estêvão viera ao seu encontro com uma difícil missão nas mãos.

— Estêvão! – Um sorriso espontâneo invadiu seus lábios ao ver Estêvão vindo ao seu encontro. Ele porém se encontrava sério.

— Que bom te ver Giovana, queria mesmo falar com você.

— Então estamos em sintonia, porque o que eu mais queira era ver você. – Ela foi até ele espalmando o seu peitoral, mas Estêvão logo tirou suas mãos dali e se afastou dela.

— O que eu tenho pra te falar é sério Giovana.

— Eu também, meu bem. – Giovana era insistente, e o seguia, ele, contudo, se afastava ao máximo dela, porém, era difícil se esquivar, pois a menina era teimosa demais. – Se você soubesse o quanto eu tô feliz por estamos aqui, agora. – Quando ele não encontrou mais lugar nenhum para ir, sentiu-se encurralado entre um móvel, e a garota.

— Por favor Giovana – ele segurou a sua mão que vinha de encontro ao seu rosto, e deu um jeito de se esquivar – eu vou logo ao ponto, já que você não facilita. A partir de amanhã você não trabalha mais pra mim. – Foi direto deixando a menina surpresa.

— Quê?! Como assim Estêvão? Você não pode me demitir!

— Claro que posso, eu sou o dono, e você está demitida!

— Por que isso? Nós estávamos nos dando bem, não tem porque você fazer uma coisa dessas Estêvão! – Ela era todo desespero.

— Você tá confundindo as coisas Giovana! – Foi direto.

— Foi ela, né? Foi minha mãe que fez a sua cabeça? Não leva em consideração as coisas que ela fala, ela é louca! – Ela fora até ele, se jogando em seus braços.

— A única louca aqui é você! – A segurou pelos cotovelos.

— Você não pode fazer isso, eu te amo Estêvão! – Sem mais, Giovana começara a chorar, deixando Estêvão sem reação. Maria estava certa.

— Você não pode alimentar isso por mim Giovana, eu nunca vou te corresponder, então, por favor, não se iluda com isso. – Foi firme.

— Estêvão... – As lágrimas rolavam sem compaixão. A menina estava desolada.

— Eu não vou mudar de ideia, Giovana. A partir de amanhã não precisa voltar à empresa.

— Eu não vou deixar isso assim, você vai ver só Estêvão, você ainda vai ser meu, só meu!

Após a pequena encenação, Giovana saiu da casa correndo e chorando, deixando Estêvão com a cabeça um tanto cheia com tudo aquilo.

Como se não bastasse a menina mimada no seu pé, Fabíola também chegara em casa com a pior das caras que ela podia apresentar. Estêvão já imaginava que não vinha boa coisa dali, e resolveu esperar pra ver no que dava.

— O que foi dessa vez? Por que essa cara? – Perguntou encarando-a, assim que sentou-se no sofá com um copo de whisky.

— Será que em todos esses anos juntos você não foi capaz de reconhecer que tem ao seu lado uma mulher que te ama? Será que eu sou tão ruim assim Estêvão? – Ela parou a sua frente com os olhos marejados.

— Você tá falando do quê? Eu não estou entendendo Fabíola.

— De você e da Maria! – Gritou. – Não bastava jogar na minha cara esse tempo todo que nunca me amou, e agora, na primeira oportunidade, fica correndo atrás dela como um cachorrinho! Por que Estêvão? – Abaixou sua voz gradativamente.

— Eu não sei do que você tá falando. – Estêvão saiu de onde estava, dando as costas a esposa. Não conseguia encará-la, pois sabia que ela estava certa.

— Não se faça de besta, eu não sou nenhuma idiota! Você fez tão pouco caso do presente que eu dei a você, que na primeira oportunidade, deu a ela. – Ele a olhou sem saber realmente do que falava. – O lenço, ele está com ela. E como se não bastasse, ela aparece no trabalho com o seu cheiro, sabe-se lá Deus o que vocês estavam fazendo. Eu nem sei a última vez que saí de casa com o seu perfume impregnado em mim, e não tem nem um mês que ela tá de volta, e ela aparece assim.

— Chega Fabíola! – Berrou. – Tô cansado sabia. Todas as nossas brigas são pelo mesmo motivo, sempre por causa da Maria, será que não dá pra virar o disco?

— Será por que, né? Porque você não sabe fazer outra coisa que não seja pensar nela, o tempo inteiro, e agora, mais ainda! Eu sou a sua esposa, e eu mereço respeito! – Suas lágrimas rolavam raiovosas em meio aos gritos.

— Você se casou comigo porque quis, eu não te obriguei, e você sempre soube dos meus sentimentos pela sua irmã, eu sempre deixei muito claro pra você! – Estêvão não deixou por menos,e começou a falar alto também.

Nesse ínterim, Henrique e Juliana apareceram, porém não ouviram o motivo da briga, apenas a grande gritaria, e resolveram sair sem serem notados.

— Você deveria se envergonhar disso. – Ela fez uma pausa, desviando seu olhar do dele, mas logo o encarou novamente. – Ou talvez eu deveria me envergonhar por estar casada com um homem de diz a todos os ventos que ama a minha própria irmã. Eu não mereço ser tão humilhada assim, Estêvão.

— Eu sempre joguei muito limpo com você, Fabíola. Você não entrou nessa desentendida.

— É, eu sei. Mas fique sabendo de uma coisa: eu não vou facilitar pra vocês, ok. Essa palhaçada que chamamos de casamento só vai terminar quando eu quiser que termine.

A mulher enraivecida, humilhava e detonada saiu da sala marchando, e mais uma vez Estêvão se jogou no sofá com sua bebida de sempre.

Nenhum pio se ouvia naquela casa. Os empregados trataram de se comunicarem o mínimo possível com os patrões, ou quase nada. Estêvão ficara bastante tempo sozinho na sala bebericando sua bebida. Ele se sentia mal por Fabíola, mesmo ela estando ciente de tudo, não merecia passar por todo aquele constrangimento. O clima estava tão pesado, que mal notou quando Henrique se sentou ao seu lado.

— Tá difícil, hein meu velho. – O bom moço pegou o copo da mão do pai, e o colocou em cima da mesinha de centro.

— Nem vi você entrando, filho.

— Percebi. Cada dia que passa, vejo você e minha mãe brigando mais, e mais.

— É o casamento Henrique, há dias bons, e dias ruins.

— Pai, eu não quero ver você e ela brigando assim, isso me entristece muito. Será que não tá na hora de dar um basta nesse casamento?

— Eu já pensei nisso – disse soltando o ar preso – mas não sei se sua mãe concordaria, você sabe bem como ela é.

— Sei. Ela te ama muito, mas pelo que eu vejo, você já não a ama mais.

— Algum dia você vai entender algumas coisas filho – colocou a mão no pescoço do filho, dando leves tapinhas – algum dia um grande peso vai sair de cima de mim.

Henrique não questionou o pai, apenas o abraçou, talvez fosse isso que Estêvão precisasse naquele momento.

...

Já passava da meia noite, e quase todos dormiam, menos Maria, que estava apreensiva com a demora de Giovana.

Giovana saiu da casa dos San Roman, e não disse aonde iria, e sua demora já estava causando uma grande preocupação em Maria. Ela já havia ligado para alguns possíveis lugares onde ela poderia estar, e nada, nem sinal dela.

Depois de alguma espara, e o coração de mãe quase saindo pela boca, finalmente Giovana entra pelas portas da mansão, cambaleando.

— Até que enfim! Posso saber onde você se meteu? Isso são horas de chegar em casa?

— Não me enche o saco mãe, eu não quero nunca mais falar com você. – A sua voz era muito tôrpega.

— Giovana – a segurou pelo braço, impedindo de prosseguir – você tá bêbada? – Perguntou sem acreditar na condição que a filha se encontrava.

— Tô, e daí? Você não tem nada a ver com a minha vida, agora me solta! – Giovana tentou se soltar, mas na tentativa, Maria a largou e ela caiu no sofá e começou a chorar. – A culpa é sua, por sua causa ele me detesta!

— Do que você tá falando?

— Do Estêvão, é por sua causa que ele não quer nada comigo, é por sua causa que ele me demitiu, eu nunca mais vou te perdoar, eu te odeio mãe!

— Olha bem como você fala comigo Giovana, eu não sou nenhuma das suas amiguinhas. Ele fez muito bem em ter demitido você, você acha mesmo que ele iria querer alguma coisa com uma pirralha como você?

Giovana se levantou, ficando na mesma altura da mãe. As duas estavam muito perto uma da outra.

— Se você não ficasse se insinuando pra ele, que nem uma qualquer, talvez ele me olhasse sim.

As palavras de Giovana vieram de encontro a Maria como um soco, fazendo um grande estrago, deixando-a tonta. Não era a primeira vez que ela ouvia que era uma qualquer, mas não havia doído tanto como quando ouviu da boca da própria filha.

No impulso, para se defender das palavras maldosas de Giovana, Maria acertou em cheio o rosto dela com um tapa, fazendo a menina cair no sofá estremecida. Com a mão no rosto, e com uma certa raiva, ela falou:

— Você ficou louca? Qual o motivo desse tapa?

— É pra você aprender a medir as palavras que fala comigo. Eu sou a sua mãe, e exijo que me respeite como tal! – Foi firme. – Você está de castigo, e está proibida de sair de casa até segunda ordem. Agora você vai para o seu quarto e cure essa bebedeira sozinha e não quero ouvir mais um A vindo de você.

Maria virou as costas para sair, mas ainda ouviu a menina resmungar alguma coisa:

— Eu te odeio Maria, eu te odeio!

Maria se virou para olha-la.

— Pois eu te amo, Giovana, e por isso tô fazendo isso com você.

— Não seja mentirosa, eu sei que tudo isso é porque você tá afim dele, você quer tomar ele de mim!

— Quê?! - Maria exclamou com as sobrancelhas arqueadas, e seu coração batia tão forte que se notava leves ressaltos em sua blusa.

— Ah,por essa você não esperava,né. – Ela ria enquanto tentava se levantar do sofá. - Eu sei do seu casinho, eu vi vocês dois juntos no escritório! –  Acusou. Ainda tentava se aproximar da mãe, mas o álcool a impedia.

— Giovana, filha, o que você viu não é o que aparenta. – Disse com a voz trêmula.

— Ah não? Pois parecia sim ser o que eu vi, e você parecia estar gostando muito.

— Ele me beijou, ok! – Falou um pouco mais alto.

— Não tenta disfarçar, eu não sou nenhuma criança, já te disse isso. Agora só quero ver o que vai ser de você quando meu pai descobrir, porque eu não tô nem um pouco afim de guardar seu segredinho.

— Você seria capaz de dizer isso ao seu pai, mesmo sabendo que acabaria com o nosso casamento?

— Sim. – O sorriso que surgiu após a resposta encheu a mãe preocupada de arrepios.


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