Encantos & Desencontros escrita por Maitê Miasi


Capítulo 24
Capítulo 24




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“Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir.

Achei
Vendo em você
Explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar.”

Nando Reis – Pra Você Guardei O Amor

****

O olhar incrédulo de Maria se chocara com o par de olhos despretensiosos e tranquilos de Giovana. Em questão de segundos, a mulher, que já tremia por dentro, tratou de pensar nas melhores desculpas e nas mais lógicas, para dizer a filha, mas a calmaria de Giovana a perturbava tanto, que, no fim, decidiu não inventar nada, afinal, o momento das confissões era chegado.

— Como... Como você soube? – Questionou, gaguejante. – Eu sabia que discutir a toda altura, ia dar nisso. – Disse, deduzindo que essa fora a forma da descoberta da filha.

— Eu mexi no seu celular, e vi sua conversa com Miguel. – A menina transmitia tanta paz, que parecia que assunto em questão era algo corriqueiro.

— Você o quê? – Seus olhos quase saltaram quando ouviu a afirmativa da filha. – Você sabe que eu detesto que mecham nas minhas coisas pessoais, Giovana!

— Eu sei, mas o que tá feito, tá feito. Não dá pra desver, ou fingir que eu não sei de nada.

— O que você pretende agora? Me chantagear?

— Nossa, mãe, eu fico triste sabendo que você pensa o pior de mim.

— Não força a barra, Giovana. Nos últimos tempos eu tenho estado com um pé atrás com você. Vamos, diga o que pretende fazer com essa informação tão valiosa. – Maria tinha uma certa ironia na voz.

— Eu não pretendo fazer nada, mãe. – Ela respondeu, séria. – Por que você não contou essa história desde o início? Por que deixou que eu ficasse tão deslumbrada com Estêvão? Eu te pedi uma só razão, será que essa não era suficiente?

— Pra você pode parecer simples, mas não é. – Maria tentava ser firme, mas seu coração gritava para que ela corresse dali, e se trancasse em qualquer canto, longe da filha curiosa. – Seu irmão não quer olhar na minha cara, seu pai está com ódio de mim, e ainda tem Juliana, que não faço a menor ideia de como vai reagir, mas imagino que seja da pior forma, e Estêvão, que nem sonha que saí daqui grávida. Você acha mesmo que eu usaria isso pra fazer você se afastar dele?

— Deveria. Você sabe como eu tô me sentindo agora? A pior pessoa do universo. Eu nunca poderia imaginar que a relação de vocês pudesse ser tão intensa. Mãe, eu li todas as cartas trocadas por vocês, eu achei muito cafona, pra falar a verdade – debochou – mas se via de longe que havia amor em cada palavra. Foi então que eu comecei a ver que eu era uma intrusa entre vocês dois, apesar de ter consciência que ele nunca me trocaria por você. Mesmo sem saber o que ele havia feito, eu sabia que ele te amava, e hoje, quando meu pai me contou, eu achei que ele foi um completo babaca, e talvez nem merecesse seu perdão, mas vocês se amam, e vão acabar ficando juntos, não dá pra evitar.

— É, mais a vida não é um conto de fadas. Você acha mesmo que ainda vamos ficar juntos depois que tudo for jogado no ventilador?

— Acho. – Respondeu simples. – Estêvão não tem porque ficar contra você. Você só agiu como agiu, por causa da covardia dele. Ele só vai te discriminar se for um imbecil, e eu acho que ele não é.

— Seria ótimo se todas as pessoas pensassem como você. – Um sorriso melancólico se desenhou nos seus lábios. Um breve silêncio se formou, Giovana não dava indícios de que iria acusar a mãe, nem mesmo criticá-la. Após alguns segundos caladas, Maria tornou a falar: – Eu só queria sumir, e só voltar quando tudo tivesse resolvido. – Nessa altura do campeonato, ela já não conseguia encarar a filha.

— Você me ensinou que não se deve fugir de nada, e agora quer fazer? Mãe – um leve arrastar de cadeira foi suficiente para que a menina se aproximasse e segurasse a mão da mãe – o que aconteceu no passado não diminui quem você é na nossa vida. Juliana e Miguel podem até ficar com raiva no momento, mas eu sei que eles vão acabar relevando, principalmente Miguel, ele te idolatra.

— Eu sei disso, mas infelizmente vou ter que passar por esse momento de raiva deles, que eu não faço ideia quanto tempo vai durar. Isso me mata por dentro.

— Você já passou por coisa muito pior. Aposto que foi muito difícil guardar esse segredo durante todo esse tempo, e muito bem, já que ninguém desconfiou. Eu sei que você vai tirar tudo isso de letra, e eu vou tá aqui, eu não tô contra você, mãe.

— Nossa, quem te viu e quem te vê, hein. Jamais imaginaria estar nessa conversa com você. – As duas acabaram rindo. – Mas e enquanto a você, deixou de ter sentimentos por ele? – Fez a pergunta que estava lhe matando.

— Acho que eu ainda gosto dele, mas não sei se vou olhar pra ele da mesma forma. Ele é o pai do Miguel, sei lá, é como se eu visse meu pai estampado ali. Mas de qualquer forma, eu vou tirar ele da minha cabeça, agora, mais que nunca, sei o quanto ele é impossível.

— Deveria ter me escutado. Filhos e essa mania de ignorar os conselhos dos pais.

— Pais e essa mania de não confiar nos filhos.

As duas riram do comentário.

— Mãe - suspirou – me desculpa, se eu pudesse, enfiava minha cara num buraco, e só saía de lá quando todos esquecessem dessa história.

— Você acha mesmo que, em algum momento, eu fiquei contra você nessa história? Você é minha filha, Giovana, e tanto você, como seus irmãos, sempre vão estar acima de todos, pra mim. Sim, eu quis te dar umas belas palmadas algumas vezes, mas em nenhum momento eu vi você como minha rival.

— Certeza? – Maria confirmou com a cabeça, e após seu feito, a menina se achegou a ela. – Será que eu posso te dar uma abraço?

— Precisa pedir? Meus braços então sempre disponíveis pra quando você os quiser.

Aquele longo abraço foi necessário para fazer evaporar qualquer coisa que ruim que ainda existia entre elas. Maria já esperava por aquele momento há algum tempo, e ele havia chegado num momento de extrema importância para a matriarca.

Após um longo abraço, recheado com lágrimas, elas finalmente se recompuseram, e se olharam com um olhar cúmplice e terno. Sem mais aguentar todo aquele clima fofo, Giovana resolveu que já era hora de acabar com aquilo, antes que chorasse mais um pouco.

— Ah, conta logo pra ele, vê se não enrola, ele merece saber que vai estar pra sempre ligado com você. – Ela já havia saído, mas voltara para dar seu último recado: – Eu te amo, senhora Maria Fernandes.

...

Depois de uma longa conversa com Giovana, que transbordava maturidade, Maria resolveu procurar por Miguel, mesmo sabendo que ele não queria vê-la. Ignorando todas as palavras do filho, ela bateu à sua porta, um pouco temorosa, por não saber como seria recepcionada.

— Maria. – Foi o que disse ao abrir a porta e vê-la. Ele não a beijou ou abraçou, como de costume, apenas deu passagem para que ela adentrasse.

— Sei que você pediu um tempo, mas eu precisava te ver.

— Pra quê? Pra dar mais alguma desculpa ou você esqueceu de dizer alguma outra coisa? – Disse simples, porém bastante ressentido. O jovem rapaz de acomodou numa poltrona, e Maria fez o mesmo, à sua frente.

— Claro que não é isso, Miguel. Eu só queria que você me entendesse, que se colocasse no meu lugar.

— Você se colocou no meu, Maria? Você sabe muito bem o motivo da minha chateação. Por mim, você pode ficar com quem você quiser, até mesmo com o cara que mais te feriu, a vida é sua, é você quem escolhe, mas – sua voz se elevou em algumas oitavas – nós tínhamos um trato, Maria! Eu confiava em você pra caramba, eu queria ouvir da sua boca quem era ele, e não de outra pessoa. – Ele estava alterado, falava como se existisse uma grande mágoa dentro de si.

— Me desculpa! – Quase gritou. – Eu errei, ok? Eu não devia ficar adiando esse dia, com medo do que você iria pensar de mim, mas se ponha no meu lugar, tenta entender meus motivos.

— Acredito que sou capaz te entender, mas ainda acho que você deveria ter sido sincera comigo, da mesma forma quando você me contou tudo isso, quando eu ainda era uma criança. Você sabe o quanto eu te admiro por ter tido forças pra enfrentar tudo aquilo de cabeça erguida, por ter me amado incondicionalmente, sem olhar as circunstâncias que me fizeram vir ao mundo, quando você foi honesta comigo. Naquele dia, eu vi que você era uma mulher fenomenal, e tratei de segurar sua mão em não soltar nunca mais. Eu tinha a mulher mais maravilhosa do mundo como minha mãe. – Inevitavelmente, algumas lágrimas rolaram.

— E o fato de eu ter ocultado a verdade sobre Estêvão, diminui quem eu sou pra você? – Perguntou chorosa.

— Não. Você vai sempre ser a mesma Maria que eu idolatro, só tenta entender que eu não esperava isso de você. Como eu já disse, eu esperava que você fosse sincera comigo.

— Eu vou procurar entender. Eu só queria ter meu filho de volta. Parte meu coração de ver assim, tão distante de mim.

— Você sabe que isso não vai durar por muito tempo, eu só preciso digerir o fato de ser filho de Estêvão San Roman.

— Eu vou dar a você o tempo que você precisa, vou ser paciente. – Ela secou algumas lágrimas que se faziam presente, e sem conter a emoção do momento, se aproximou dele, ainda sentada, e segurou seu rosto. – Miguel, agora que você já sabe de toda a verdade, quando vai voltar a me chamar de mãe?

— Não tenta apressar as coisas, você acabou de dizer que vai ser paciente – ele se levantou, e ela o seguiu com os olhos – eu sei que prometi voltar a te chamar de mãe quando tudo fosse esclarecido, mas ainda não me sinto confortável pra isso.

— Tudo bem, já esperei tanto tempo, uma dia a mais, um dia a menos, não vai fazer muita diferença.

Mesmo não estando nos seus melhores dias, ambos seguiam dialogando formalmente, sem trocas de farpas, ou coisas do tipo. A conversa foi interrompida quando a campainha tocou.

— Não sabia que estava esperando visitas. – Maria comentou.

— Não estou. – Respondeu, indo à porta. Ao abrir, avistou a figura de Estêvão, que dava a entender que viera do trabalho para o apartamento. – Estêvão, não te esperava aqui. – Disse, visivelmente surpreso com a sua presença.

— Você não ligou, nem deu notícias, eu fiquei preocupado depois do estado que você saiu daqui naquele dia. – Logo que passou pela porta, avistou Maria. Foi a sua vez de ficar surpreso. – Maria? Não sabia que estava aqui.

— Vou aproveitar que os dois estão aqui, e os convidar pra jantar comigo. Minha especialidade: macarrão com molho. Nada melhor do que terminar a noite jantando com minha mãe e meu pai. – Maria quase teve uma síncope quando ouviu o que Miguel disse, e ele notou. – Quero dizer, se Maria vai ficar com você – olhou Estêvão – você será como um pai pra mim, e paras as gêmeas.

— Ah, sim. Eu vou me sentir muito honrado se vocês me virem como um segundo pai, nada me daria mais prazer.

Enquanto preparava o jantar, conversava com os dois, naturalmente, como se não houvesse nada de mais acontecendo. Inocente, Estêvão ia junto no assunto de Miguel, Maria, contudo, estava em silêncio, só falava mesmo quando eles se voltavam a ela.

— Prontinho, se acomodem e saboreiem a única coisa que eu seu fazer bem.

— Vamos ver se isso tá bom mesmo. – Estêvão foi o primeiro a provar a comida, aparentemente animado.

— Então Estêvão, você e Maria pretendem ter filhos? – A pergunta feita por Miguel deixara Maria nervosa.

— Filhos? Acho que não, Miguel, já não somos tão jovens pra pensar nesse assunto.

— Mas seria legal se vocês tivessem um filho de vocês mesmo, né.

— Ah, eu ia adorar, e você Maria? – A olhou.

— Claro. – Respondeu completamente sem graça, querendo estrangular o filho.

— Bom, mas vocês podem adotar, né. É como se tivessem mesmo um filho.

— Chega desse assunto Miguel. Estêvão já tem o filho dele, e eu tenho vocês, acho que você está sendo um pouco incoveniente! – Esbravejou.

— Eu não me importo, Maria. Deixa ele continuar.

— Mas eu sim! E já vou indo, esse assunto me fez perder a fome, mas antes Miguel, me acompanhe até seu quarto, preciso falar algo com você.

Maria se levantou alterada, e saiu em direção ao quarto, sendo seguida por Miguel, que já imaginava o que ela queria falar.

— Você ficou maluco? Por que não disse a ele a verdade ao invés de ficar jogando piadas? – Falava em um tão baixo, mas se ouvia a ira em sua voz.

— Ué Maria, eu só estava querendo descontrair. Mas falando sério: conta logo a verdade pra ele, senão eu mesmo conto, e acho que você não quer isso, né.

— Deixa que desse assunto eu cuido.

O diálogo sussurrado dos dois não demorou nem cinco minutos, e logo, eles faziam companhia para Estêvão, que os aguardava próxima à saída.

— O jantar foi ótimo, e melhor ainda foi estar na companhia dos dois, mas eu preciso ir, tenho uns relatórios pra estudar.

— Eu também já vou, já tratei o que tinha de tratar com Miguel.

— Se quiser, eu te levo.

— Eu aceito. Até mais Miguel, se cuida.

— Pode deixar Maria. Pensa no que eu te disse.

Maria apenas acariciou seu rosto, e então saiu do apartamento. Estêvão só o cumprimentou com o sorriso discreto e seguiu a amada. No caminho da casa de Maria, eles conversam sobre assuntos diversos, mas o mais falado, foi a forma anormal como Miguel havia se comportado.

— Miguel estava um pouco estranho hoje. Você notou? – Estêvão perguntou, com os olhos fitos na estrada. Maria concordou com um balançar de cabeça. – Será que é por causa da história que eu disse a ele?

— Na verdade, é sim.

— Desculpa, Maria – ele a olhou e rapidamente voltou para a direção – se eu imaginasse que isso te causaria problemas, teria enviado.

— Miguel já sabia, só não sabia que você era o dito cujo. Mas fica tranquilo, uma hora ou outra ele ia acabar sabendo.

— Tem certeza? – Assim que estacionou o carro próximo ao condomínio, ele a olhou, dando a ela toda sua atenção.

— Tenho.

— Mas tô achando você um pouco preocupada.

— Não é nada de mais, só coisas do dia a dia, cansaço, só isso.

— Então vamos lá pra casa, lá você toma um banho e descansa, e nada de segundas intenções, a não ser que você queira.

— É uma proposta tentadora, mas vamos ter que adiar. Cláudio não vai voltar mais pra casa e eu preciso dizer isso às meninas, e é muito provável que Juliana reaja mal.

— Então é o fim mesmo? – Ela confirmou. – Eu sei que você não deve estar muito contente, mas devo lhe dizer que fico muito feliz por isso, agora sim você estará livre só pra mim.

— Eu sabia que quando ele soubesse a verdade sobre você, não daria em outra, ele odeia o cara que fez...

— Então ele já sabe que sou eu. – Novamente ela confirmou. – Eu me arrependo tanto de ter feito aquilo, Hoje poderíamos estar juntos sem estar causando todo esse tumulto.

— Esquece isso, não adianta ficarmos remoendo. Eu te perdoei, é o que importa, eles não têm o que opinar. Bom, eu vou entrar, tenho uma missão um tanto difícil pela frente.

— Tudo bem, só vou deixar porque você vai dizer às meninas sobre sua separação, senão te sequestrava.

— Você gosta de fazer uma graça. Eu te amo Estêvão, não se esqueça disso nunca. Eu te amo mais que a mim mesmo.

— Você costumava usar essa frase quando éramos jovens.

— Porque é a mais pura verdade. O amor que eu sinto por você não cabe aqui dentro, é infindável, e suportou todos esses ano. Agora, eu peço: independente do que acontecer, nunca se esqueça do meu amor por você.

— Eu não vou esquecer, porque sinto o mesmo.

...

María ainda permaneceu com Estêvão no carro durante alguns minutos, trocando carícias, e tentando buscar o equilíbrio que o mundo à sua volta tinha lhe roubado. Mesmo sabendo que ainda tinha algumas tarefas difíceis pela frente, a bela mulher tratou de esquecer o que tirava seu sono, e dedicou-se somente em receber mimos de seu amado.

— Lourdes! – Ela chamou pela funcionária assim que entrou em casa.

— Sim senhora. – A empregada uniformizada  logo deu o ar da graça.

— Sabe se as meninas estão em casa?

— Sim. Estão no quarto.

— Peça pra elas descerem, por favor.

— Sim senhora. Com licença.

A empregada saiu como uma flecha, e subia a escada rapidamente, em busca das gêmeas. Enquanto isso, Maria respirava fundo, ensaiando em sua mente como daria a notícia a elas, principalmente a Juliana, que prezava muito pelo casamento dos pais.

— Estamos aqui, mãe. – Giovana apareceu toda serelepe, e se jogou no sofá que estava a frente da mãe.

— O que você quer falar com a gente? – Juliana perguntou se juntando a Giovana. Estava um pouco mais séria do que a irmã.

— O assunto é um pouco chato, mas eu tenho que falar. Bom – ela suspirou, buscando coragem para continuar a conversa – vocês provavelmente ouviram a discussão entre mim e Cláudio ontem. Vocês sabem que nós dois nunca gostamos de brigar na frente dos três, mas nosso casamento já não é o mesmo há muito tempo, e certas coisas acabaram saindo do nosso controle, como foi o caso de ontem.

— Onde você quer chegar com isso? – A menina séria questionou, porém tinha certo receio do que estava prestes a ouvir.

— Seu pai e eu, Juliana, tomamos uma decisão que, acreditamos, ser o melhor pra todos. Nós vamos nos separar, e ele não vai voltar mais pra casa.

— O quê?!

Indignada, Juliana se levantou, jogando as almofadas para qualquer canto da sala, e começou a maldizer a mãe, enquanto lágrimas de desespero rolavam. Giovana somente acompanhava o desfecho da história, sem se meter, porém via-se que ela estava tão apreensiva quanto a mãe.

— Você não pode fazer isso, mãe! Você não pode se separar do meu pai!

— Juliana, se acalma, por favor! – Indo até ela, Maria tentou acalma-la, mas não teve muito êxito.

— Me solta, mãe! É tudo por causa dele, você está abandonado nossa família por causa daquele homem!

— Não é assim, Juliana. Eu não estou abandonando nossa família. Só não está mais dando certo as coisas entre nós, e achamos melhor parar, antes que nós nos machucássemos. – María era toda a calma, mas a filha estava transtornada.

— É mentira! Se Estêvão não tivesse se metido na nossa vida, você e meu pai ainda estariam juntos. – Apesar de sua voz ter diminuído, ela ainda chorava. – Diz alguma coisa, Giovana – encarou a irmã, voltando a erguer a voz – fala pra ela que ela não pode fazer isso!

— É o casamento deles, Juliana, eles decidem o que é melhor, não cabe a nós opinar.

— Só eu acho isso um absurdo? Ok, mas fique sabendo que eu não vou ficar aplaudindo essa pouca vergonha, tá bom mãe. – Com o olhar repleto de desprezo e lágrimas, Juliana saiu dali correndo em direção ao quarto.

— Juliana, espera! – Maria se dispôs a ir atrás da filha, mas foi impedida pela outra gêmea.

— Deixa ela mãe. De cabeça quente vocês não vão resolver nada.

— Ela deve tá pensando o pior de mim. – Ambas voltaram ao sofá.

— Fica tranquila, isso vai passar. Ela é muito tradicional, gosta das coisas certinhas. Vai ver ainda é virgem. – Brincou, arracando um riso da mãe.

— Ela só tá esperando o momento certo, diferente de outras pessoas, que adoram enfiar os pés pelas mãos.

— Vamos mudar de assunto, eu quero esquecer esse episódio cômico e dramático da vida. – Após rirem um pouco, Giovana se pôs um pouco mais séria. – Você deveria ter contado logo tudo pra ela, tadinha, vai fazer a menina sofrer aos poucos.

— Eu até pensei, mas no estado que ela estava, se eu dissesse mais alguma coisa, ela seria capaz de me expulsar dessa casa.

— E pro Estêvão, já pensou quando vai falar?

— Não, mas não vai dar pra fugir por muito tempo. Só espero que ele não seja mais um a se decepcionar comigo.

....

Os ânimos estavam um pouco exaltados dentro da mansão, mas pouco se ouvia lá dentro. Maria e Giovana saíram logo para seus respectivos trabalho, sem importunar ou incomodar Juliana, que preferiu ficar presa no quarto, sem ter que olhar para a mãe, embora tendo tido a mesma insistindo na porta para que conversassem, a menina ignorou as suaa investidas.

— Alô, pai!

— Oi Juliana, tudo bem filha? Você tá chorando?

— Minha mãe disse que vocês estão se separando, é verdade isso?

— Sim filha. Sua mãe mudou desde que voltou para o Brasil, eu não queria, mas ela fez questão.

— Eu sabia que você não estava de acordo. Tudo por causa do Estêvão, se não fosse ele, vocês estariam bem.

— É, talvez ele tenha alguma coisa a ver, mas eu não quero que você se preocupe com isso, não quero te ver triste por coisa nossa.

— Impossível, pai. Pai?

— Oi meu amor.

— Posso morar com você? Eu não quero ficar aqui com a minha mãe.

— Eu vou ficar muito feliz, filha. Ficaria ainda melhor se viessem você e sua irmã.

— Acho que a Giovana vai preferir ficar aqui.

— Eu vou te mandar o endereço de onde estou morando, você passar aqui, pega a chave e vai pra lá a hora que quiser.

— Tá bom, obrigada. Te amo pai.

— Te amo mais, minha princesa.

...

Decidida a contar toda a verdade para Juliana, Maria saiu da Casa de Modas disposta a enfrentar uma Juliana diferente do habitual.

Maria procurou por todos os cômodo da grande casa, mas nem sinal de Juliana, o que a deixou angustiada, já que a filha não havia aparecido no trabalho naquela manhã.

— Mãe, você em casa a essa hora? – Giovana perguntou assim que entrou na casa.

— Eu te faço essa mesma pergunta.

— Eu esqueci umas coisas do trabalho aqui, e aproveitei que estamos em horário de almoço pra vir buscar.

— Ah. Giovana, sabe onde tá sua irmã? Já olhei a casa toda e nada.

— Ué, ela não te falou?

— O quê?

— Ela me disse que ia morar com meu pai, e que não suportava mais te olhar.

— Você não precisava ser tão sincera. Aposto que seu pai andou colocando coisas na cabeça dela. Ele tá na empresa?

— Sim, por quê?

— Por que tenho que dizer umas coisas pra ele.

...

(..)
— Cláudio – Estêvão entrou na sala do sócio sem cerimônia – temos um novo investidor. É um brasileiro que chegou da Europa há pouco tempo. – Apesar da seriedade, Estêvão tinha um otimismo na voz.

— Você deve estar muito contente, né. – Afirmou simples.

— Claro, um investimento como esse vai aumentar muito nossos lucros.

— Eu não estou falando sobre isso. – Se levantando, ele foi até o centro da sala, e encarou Estêvão de frente. – Como se não bastasse roubar Maria de mim e se meter no meu casamento, ainda tentou seduzir minha filha, seu pervertido. – Estêvão riu do comentário, deixando o sócio irritado.

— Primeiro: eu não roubei Maria de você – começou – ou me meti no seu casamento. Você sabe muito bem que a minha história com ela existe muito antes de vocês se conhecerem. Você sabe que ela só se casou com você porque eu fui um imbecil, mas nós nos amamos e você não pode fazer nada contra isso. E segundo: sobre Giovana, eu nunca seduzi sua filha, foi ela que meteu na cabeça que era apaixonada por mim, mas eu nunca cogitei em desrespeita-la.

— Engraçado né Estêvão, no final das contas, depois ter deixado Maria em cacos, você vai ficar como o mocinho da história.

— Eu não me alegro com o passado, mas ela sabe o quanto estou arrependido. Eu já pedi perdão, ela me perdoou, e pensamos em retomar nossa história.

— Que bonito! – Bateu palmas com certo deboche. – Mas não se engane, Maria não é a santa que você pensa que é.

— Eu não acho que ela seja santa.

— Estêvão, você deve se sentir incompleto por não ter dito filhos, não é? – Estêvãoo olhou sem entender a mudança repentina de assunto.

— Mas eu tenho um filho. – Declarou.

— Não, Henrique não é seu filho, é seu sobrinho. – Leve como uma pluma, ele se recostou na mesa.

— Eu cuido dele há muito tempo, pra mim ele é como filho.

— Mas não é a mesma coisa. Você não vê o seu nome quando olha os documentos do Henrique.

— Posso saber aonde você quer chegar? – Estêvão já se mostrava incomodado com aquela conversa.

— O que você faria se descobrisse que sua adorada Maria esteve mentindo pra você esse tempo todo?

— Você só pode tá ficando louco? O que Maria poderia esconder de mim?

— Ela não poderia, ela esconde. Só uma curiosidade: quantas vezes vocês usaram preservativos naquela época? Ou melhor, quantas vezes vocês deixaram de usar?

— O que isso tem a ver?

— Responde! – Ordenou.

— Algumas. – Respondeu um tanto incomodado.

— Nunca te avisaram que transar sem camisinha pode ocasionar uma gravidez?

— Maria nunca ficou grávida, ela teria me dito.

— Será mesmo. Você já parou pra pensar que Miguel tem exatamente a mesma idade dos acontecimentos que marcaram nossas vidas?

— Você não tá querendo dizer que...

— Que Miguel é seu filho, e Maria sempre escondeu isso de você.

Foi nesse mesmo momento que Maria abriu a porta, escutando então a última frase dita pelo ex marido.

 

 


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