Blind Date escrita por Lux Noctis


Capítulo 1
Capítulo 1




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Quando Naruto o chamou para aquele “encontro às cegas”, deveria saber que em coisa boa não ia terminar. Primeiro: Naruto tinha um péssimo senso do que deveria ser chamado de bom gosto; segundo: não saber quem encontraria era uma agonia à qual Kiba nunca estava preparado para sentir. 

Foi um dia inteiro de “por favor” seguido de “eu faço a limpeza do apê por 2 meses”, bem, Kiba teria cedido fácil nos pedidos de por favor de Naruto, mas colocar a limpeza em check foi jogada de mestre, Kiba ODIAVA limpar o apê. Aceitaria até mesmo ir num encontro para segurar vela com um preço daqueles! Naruto bancando o que ele consumisse no rolê, e ainda limpando o apê por 2 meses! Fácil, fácil cativá-lo e convencê-lo assim! 

No “fatídico dia”, e as aspas estão aí por um motivo real, Kiba olhou algumas peças de roupa dispostas sobre a cama, não era porque estava indo como “companhia” à um amigo, que iria à modo cacete. Não que as roupas escolhidas fossem exatamente as vestes que Naruto esperava que ele vestisse. Nada contra jeans rasgado, tênis encardido porque branco não era há meses! E uma camiseta com “RANÇO” escrito em letras de máquina, um silk vagabundo que já descascava as pontas de cada letra branca. 

Kiba riu assim que saiu do quarto vendo a cara do amigo de completo desgosto.

—  Oe Kiba, muda pelo menos a camisa, desgraçado! 

Poxa, logo ele que tinha jurado ter escolhido algo que melhor representava o momento, tsc! 

Quando voltou ao quarto trocou apenas a camisa, pegou uma básica em preto com dois desenhos em vermelho, triângulos levemente curvos e a palavra “wolf” em branco entre eles. 

—  Tá melhor? —  perguntou batendo a porta do quarto ao passar, não trocaria mais nenhuma peça sequer. Quem estava realmente indo a um encontro ali era Naruto, não ele. 

—  Podia fazer um esforço.

—  Pra quê? Eu só tô indo pra comer. 

Implicou ao sentir os dedos de Naruto em seus fios, bagunçando-os. Era sempre assim, agiam como dois irmãos, ainda moleques ao invés de dois “semi-adultos” que cursavam o terceiro período da faculdade e trabalhavam para cobrir os gastos que tinham com o pequeno apê, e os snacks que parcialmente comiam ao invés de uma alimentação saudável e recomendável. 

Não havia cômodos para averiguar antes de saírem, janelas fechadas, a promessa era de que teriam chuva para aquele dia, era melhor prevenir. Não esperavam, claro, o frio que viria de mãos dadas, mas veio! 

O elevador estava em manutenção, já estavam há quase uma semana assim, subindo e descendo escadas com ou sem sacolas de mercado, com ou sem livros da faculdade na mochila. Curiosamente quando se mudaram para lá, também estava em reforma, foram lances de escada subindo com caixas, sofá… A vida era dura às vezes. 

Seguiram para o pequeno estacionamento, a moto de Naruto quase não ocupava espaço entre os carros básicos, modelos padrões e em conta à rendas familiares não extravagantes. 

—  Pra onde vamos? —  Questionou ao colocar o capacete, apertando-o o necessário para que não escapasse conforme o vento o açoitasse logo mais. A viseira limpa, Naruto era extremamente cuidadoso com sua moto e utensílios de segurança.

—  Surpresa, mas a comida é boa. 

Naruto estava misterioso, aquilo deveria contar como um terceiro motivo para que tudo aquilo desse zebra. Na faculdade Kiba havia escutado um professor dizer: “Ao ouvir sons de cascos, pensem em cavalos, nunca em zebras.” Não havia entendido nada, claro. Naruto tentou depois lhe explicar que o lance era: “Quando algo estiver suspeito, pense no óbvio, e não invente ideia”. Kiba obviamente entendeu: “Quando ouvir sons, pense em merda, nunca que tá tranquilo”. Cada um escolhia a interpretação que melhor coubesse. 

Mesmo que o vento dificultasse que conversassem, ainda o faziam, aos berros. A cena era digna de filmes, Naruto pilotando com a viseira levantada enquanto berrava com Kiba, agarrado à sua cintura para não cair. Kiba conversava para se distrair, maldita hora que havia saído sem um casaco, andar de moto fazia os pelinhos arrepiar. Frio? Hn, isso ele não admitiria ainda. 

Quando desceu da moto, bateu no braço de Naruto, forçou uma careta de desgosto e revirou os olhos. O lugar realmente era perfeito para comer, mas o clima era de encontros múltiplos por noite. E Kiba já havia embarcado naquela furada há alguns meses, quando Naruto o chamou para ir com ele. 

Mesas dispostas com duas cadeiras cada, uma pessoa permanecia sentada enquanto a cadeira da frente era ocupada com pessoas diferentes à cada meia hora de conversa, ou menos se o assunto não fluísse. Ali Naruto havia encontrado uma loira incrível, linda, olhos azuis, riqueza parecia minar dos poros. E Kiba se viu obrigado a aceitar conversar com um cara sem sal, o nome ele sequer conseguiu gravar.  A verdade era que, como Kiba havia ido como acompanhante, pouco se esforçou para interagir com o cara. Não lembrava se era alto ou baixo, se tinha barba ou não. Lembrava da comida, muito boa, por sinal. 

—  Juro que você vai precisar melhorar sua oferta da próxima vez que me chamar pra uma furada dessas. Pelo menos 3 meses de apê limpo por você! 

A reclamação seguiu até que estivessem dentro do restaurante, lugar amplo, específico para aquele tipo de encontro. Kiba seguiu de braços cruzados, feição de poucos amigos enquanto acompanhava Naruto, vendo-o buscar por seja lá quem fosse a pessoa da vez. 

Viu o amigo acenar todo sorridente para um rapaz de sua altura, um pouquinho mais alto, talvez. Cabelos tão escuros que dava a impressão de terem sido pintados, e ao lado dele um cara de óculos escuro e sobretudo. Uma combinação maravilhosa para um ambiente interno. Era ironia de Kiba ao pensar, claro. 

—  Sasuke!

Aí estava, se Naruto já conhecia o cara, pra quê tinha que ir num lugar como aquele? Claro, não eram todas as noites que o restaurante era do tipo de encontros de 30 minutos, naquela noite as mesas não constavam plaquinhas, nem nada do tipo, era de fato um encontro. E Kiba tinha ido às cegas! Viu o “seu acompanhante” trocar algumas palavras com o tal Sasuke, mas enquanto andava não conseguia fazer uma leitura labial clara, a verdade era que nem parado ele conseguia tal façanha. 

—  Naruto, está atrasado. —  Sasuke parecia metódico em cada pequena coisa que fazia, e aquilo trouxe asco à Kiba. Estavam a porra de 5 minutos atrasados, e olhe lá!

—  Estava convencendo o Kiba a trocar de roupa.

—  Uma pena não ter conseguido. 

—  Oe, maldito! 

Não era porque estava ali para ajudar Naruto, que deixaria o futuro peguete de seu amigo desfazer de seu senso de moda! Teria reclamado mais, se Naruto não tivesse lhe cotovelado, indicando logo a cadeira para que ele se sentasse. O esforço valeria a pena, passava em mente, valeria pela comida e pelo apartamento limpinho sem que para isso precisasse se esforçar. 

—  Bem, esse é o meu amigo, Aburame Shino. 

Assim que o nome foi citado, Kiba poderia jurar que já o havia ouvido antes, mas como saberia afirmar com certeza? Olhou então para Naruto, mas nada do amigo reconhecer o nome, ou quem sabe a feição séria do cara sentado ao lado de Sasuke. 

—  Prazer, Inuzuka Kiba, e esse besta do meu lado é o Naruto. 

Não havia mãos estendidas para um cumprimento, havia a pressa de Kiba em degustar os aperitivos dispostos na mesa, sorrindo muito feliz quando o garçom veio tomar o mais novo pedido da mesa. Não poupou no que comer, pediu o que sabia que era bom, e o que queria experimentar, já que estava ali. Naruto certamente se arrependeria e nunca mais o colocaria em furadas como aquela. 

—  Mas e então, onde se conheceram? —  Kiba perguntou assim que cessou o mastigar o onigiri.

A resposta não era algo à qual kiba daria atenção, perguntou só por perguntar para não ficar em completo silêncio. Havia aprendido a falar uma coisa ou outra para que pensassem que estava interagindo, focava apenas na comida e no silêncio estranho do cara à sua frente. Era tão silencioso que dava nervoso e isso atiçava sua curiosidade. Deixando o assunto de Naruto e Sasuke de lado, inclinou-se na mesa para olhar melhor a figura esguia à sua frente. Era alto, ombros largos o bastante para passar a postura de um homem sério e bem bonito. Não que Kiba fixasse nos padrões, mas tinha lá suas preferências para encontros; alto, confere.  Bonito, confere. Cheiroso, confere. O maldito fazia um bingo na lista de preferências de Kiba, e sequer parecia disposto a conversar. 

—  Seu nome me parece familiar, sabia? —  puxou assunto bebendo um gole do saquê. Estremeceu inteiro, tinha o costume de cerveja com seus 5% de álcool, aquela bebida batia fácil os 10%. 

—  Deve ser porque já nos vimos antes, não? 

—  Já? Acho que não, teria gravado um cara misterioso como você. 

O silêncio era quebrado pelo mastigar de kiba, e os cochichos de Naruto e Sasuke, à quem Kiba certamente ignorou com louvor. Sua curiosidade estava no homem a sua frente, no porte e na certeza de que ele era mais velho, não sabia mensurar o quanto, mas tinha essa impressão. 

Sequer notou quando Naruto e Sasuke saíram, seguindo para o bar em anexo. Bebia os goles de saquê como se fosse sua habitual cerveja, um erro. Um dos erros naquela noite, no caso. 

—  Não se lembra mesmo? —  Shino conferiu, as mãos entrelaçadas enquanto os cotovelos apoiavam-se à mesa.

—  Ah, já sei! Você estava em alguma palestra na faculdade que eu também estava? Porque você parece esse tipo de cara. 

—  Não. 

—  Então não sei, de verdade. Você não seria o tipo de cara que passaria batido. —  Kiba sorriu tentando amenizar o desconforto de não saber de onde conhecia ele, mas temia perguntar. E se a situação não tiver sido das mais legais? E se foi numa das furadas que se meteu no campus ou… 

—  Vocês vão ficar? —  Naruto perguntou atraindo totalmente a atenção de Kiba.

—  Ficar? Eu e ele? Acho que isso não é algo que se resolve assim. 

—  Não Kiba, ficar de permanecer aqui. 

Vermelho. Estava tão vermelho agora quando os triângulos em sua camisa. 

—  Por que? —  Aproveitou o momento para virar-se um pouco, evitando que Shino notasse o vermelho em sua face, tamanha a vergonha. Sinalizou para Naruto que ele ia pagar ainda mais cara se o deixasse sozinho com aquele cara, mas Naruto só riu enfiando a mão no bolso e entregando algumas notas ao amigo. Dinheiro suficiente para pagar o que havia pedido, e ainda restaria para o retorno para casa. 

—  Nos vemos amanhã, então. Se cuida, e se… —  aproximou-se, não seria tão indiscreto assim —  se precisar de camisinhas, tem na segunda gaveta de blusas. 

Shino não soube o porquê de Naruto se afastar rindo e passando a mão nas costelas, o motivo era o beliscão dado por Kiba, claro. 

Quando sozinhos de novo, bebendo e com curiosidade latente, Kiba enfim perguntou:

—  De onde nos conhecemos? —  o soluço trouxe ar cômico a cena, fez ao menos com que Shino desfizesse a carranca para apenas olhá-lo, ao invés de observá-lo friamente. 

—  Daqui. Não tem muito tempo, na verdade. Ao que tudo indica o seu amigo pretende pegar todos os meus amigos. Sem distinção quanto ao gênero deles. Primeiro a Ino e agora o Sasuke. 

Se aquilo fosse um dos desenhos que Kiba assistia, certamente teria de trilha sonora uma ficha caindo. O som de que por fim conseguia somar dois mais dois. Shino era o cara caladão do primeiro encontro. Como diabos havia conseguido dois encontros às cegas com a mesma pessoa, e o pior, sem lembrar? 

Sentiu o desânimo, a vergonha e o desconforto. 

—  Em minha defesa, você parecia muito mais esquisito. 

—  Eu… esquisito? 

—  Sim, repara só, fica escondendo tudo debaixo desse sobretudo e óculos escuro, não tá sol aqui dentro não, sabia? Parece aqueles pervertidos de anime. —  Resmungou sabendo que aquele encontro tinha acabado de ir por água abaixo. Não tinha como terminar bem quando o assunto seguia aquele rumo. 

—  Muito educado.

—  Sou mesmo, e um partidão que acaba nesses encontros duplos sem pé nem cabeça só pro Naruto não sair sozinho. 

—  Você acha que vir nesses encontros é um desejo meu? —  Shino mantinha a voz baixa, controlado como de praxe, poucas coisas tiravam-no do sério. 

—  Não?

—  Claro que não, venho para fazer companhia. 

—  Espera, você então não veio na intenção de conquistar um partidão? Deveria! Eu sou um cara incrível! 

—  Até ainda há pouco estava falando que vem à esses encontros para fazer companhia e agora quer que eu te passe uma cantada para te conquistar? 

—  Bem, é o mínimo que você pode fazer. Ou podia, perdeu sua chance! —  era curioso como mudava de ideia num piscar de olhos. Era curioso também o modo como seu corpo agia antes mesmo que seu cérebro compreendesse o que estava fazendo. Quando notou estava de pé, seguindo para fora daquele restaurante nem notando que não havia pago nada, nenhum tostão sequer. 

Não demorou, claro, para notar o que havia feito, voltando à passos largos, chocando-se com Shino próximo a entrada. 

—  Estava voltando para pagar. 

—  Já paguei. —  o óculos um pouco fora do lugar devido ao encontro brusco. Os braços ainda ao redor de Kiba, detalhes que nenhum dos dois notou de imediato. 

Quando notou, afastou-se, Kiba primeiro, deixando a sensação gelada onde estava sendo tocado. Como o previsto, a chuva viria, mas antes veio o vento frio. Tão gélido que o arrepiava sem o menor esforço. 

—  Como pretende ir pra casa? —  Shino questionou tirando o sobretudo, colocando-o sobre os ombros de Kiba, ouvindo um “hm” aliviado enquanto o rapaz agarrava-se ao sobretudo para se manter quentinho. 

—  Metrô. A estação não é tão longe daqui, já que o Naruto foi pra casa do novo peguete. 

—  Posso te levar. 

—  Até o metrô? 

—  Até em casa, estou de carro. 

—  Olha, a gente mal se conhece… apesar de termos tido dois encontros.

—  Dois péssimos encontros. 

— Péssimos? —  ouch! Aquilo feriu o ego, o bico e a expressão desgostosa provavam isso. Kiba gostava de se gabar que era um partidão, e partidões não davam péssimos encontros aos outros. 

—  Sim. 

—  Então preciso virar o jogo, não posso sair com o filme queimado. Vai que você espalha isso pra alguém, huh? —  Riu tentando fazer graça, batendo o cotovelo nas costelas de Shino, suave, apenas um gesto de implicância para que, quem sabe, ele não entrasse na brincadeira. Não entrou, só para constar. 

Shino permaneceu sério, indicando para que Kiba o seguisse. Levaria-o em casa, com sorte não precisaria mais seguir com nenhum dos amigos para aqueles encontros furados. 

 

Kiba falou. Por. Toda. A. Viagem. 

Ele falou. Incessante, parava apenas para tomar o ar, mexer no rádio para trocar de música e voltava a falar desenfreadamente sobre como ele era realmente um partidão. À certa altura, Shino queria apenas deixá-lo em casa. Usaram um aplicativo no celular para que o caminho fosse perfeitamente indicado, a voz da IA quase não se era ouvida, mas as setas indicavam bem o caminho e a rua à qual seguir. 

Mesmo quando o carro freou, quando Shino manteve o pisca-alerta ligado, quando tamborilou impacientemente os dedos no volante… ainda assim Kiba falava. 

—  Está entregue. —  Shino ousou falar, sua voz abafada pela de Kiba, sentado com a perna dobrada sobre o banco e sob as nádegas. Muito mais de frente à Shino do que para o painel do carro. 

O cinto de segurança já estava desafivelado, nada mais prendia-o ali, que não sua vontade de contar o quão bom partido ele era, e o quanto Shino estava perdendo por não ter lhe passado uma cantada. Ainda na tentativa de melhorar sua reputação. 

Quando cansou, Shino enfim o puxou pela camisa, selando seus lábios aos dele, sem muito cuidado, um prensar brusco. Prontamente correspondido. Surpreendeu-se quando sentiu os braços de Kiba ao redor de seu pescoço, mas não achou nada ruim quando os dedos embrenharam-se em seus cabelos, lhe arranhando a nuca. 

—  Espero que isso tenha feito você mudar de ideia quanto ao encontro, quanto à mim. E se… se quiser um encontro de verdade, salvei meu número antes de digitar o endereço no GPS. —  Sorriu finalmente abrindo a porta do carro enquanto limpava o cantinho dos lábios com o polegar. Abaixou-se próximo à janela, olhando para Shino. — Mas da próxima vez, tenta não se esconder atrás do óculos ou do sobretudo, será mais fácil de te reconhecer. 

 

Não deu tempo de uma resposta, sequer de devolver o sobretudo, seguiu para o apartamento com ele, mantendo o corpo aquecido na chuva que descortinava no céu. 

Houve, claro, um encontro real após aquele. Houve também um beijo muito mais intenso. Para desagrado de Kiba, Shino o buscou em casa com o óculos escuro, mas no final do verdadeiro encontro, não tinha uma peça sequer que impedisse Kiba de ver aquele corpo por inteiro. 


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