Hinata

Toda esperança que Hinata teve de ser chamada se extinguiu em menos de uma semana. Era muito triste para ela, ainda mais por ser um esporte que amava muito. Enquanto ia para suas aulas da faculdade, esperou ser parada por alguma pessoa do time, mas nenhuma delas ao menos olhava para o seu rosto.

Estava em uma aula de fotografia ao ar livre, e a missão que o professor deu para os alunos era de conseguir tirar uma foto de algo anormal pela faculdade. Hinata olhava ansiosamente para as árvores que ali estavam, pois tinha certeza que ele tinha plantado alguma coisa digna de ser tirado foto.

Ficava repassando a luta na sua cabeça milhares de vezes, sentindo a vergonha e humilhação aflorarem cada vez mais no seu íntimo. Era nisso que mais tinha inveja de sua melhor amiga. Ela era a melhor no time de vôlei. Foi a primeira a ser selecionada e Hinata apostava que nem precisava ter jogado, era só dar seu nome real de jogadora que ia ser escolhida na mesma hora.

Óbvio que sentia muito orgulho dela, mas sentia que deveria ser também a melhor no jiu-jitsu. Suspirou pelo que parecia a milionésima vez, observando o pátio e seus colegas de classe. Um pensamento cruzou sua cabeça ao ver tantas pessoas com câmeras, mas ninguém fotografando. Sorriu de soslaio, deu alguns passos para trás e tirou uma foto panorama de todas aquelas pessoas.

Depois de mais uns vinte minutos perambulando sozinha, resolveu voltar para a sala. Caminhava por um dos diversos estacionamentos da faculdade, quando ouviu uma conversa um pouco alta. Era incrível como sabia quem era antes mesmo de identificar as palavras que estavam sendo ditas.

Naruto conversava com mais um garoto, provavelmente Sasuke. O loiro estava apoiado com o quadril em um carro, e, ao olhar bem, Hinata não saberia dizer qual carro era, nem mesmo se era bom, mas pela aparência parecia ser um muito caro. Ele tinha cor branca com listras vermelhas, e, por algum motivo, imaginou que aquele carro era de algum parente dele.

Tentou manter o olhar sem vacilar, mas não demorou muito para que fosse traída por seus olhos. Porém não esperava encontrar Sasuke e Naruto, os dois a encarando. Franziu o cenho e desacelerou os passos ao ver Naruto erguendo uma das mãos, chamando-a.

— Você fez o teste não é mesmo…

Naruto estalava os dedos como que ao tentar lembrar seu nome.

Deu uma risada, mas sentiu-se um pouco triste por ele não se lembrar de seu nome, especialmente porque aquela não era a primeira vez que ele ouvia essa informação. E definitivamente não era a primeira vez que iriam ser apresentados, pois já o tinha fotografado no passado. Tentou não pensar nisso.

— Sou Hinata. — Ela respondeu e apertou sua câmera com um pouco de força.

— Prazer, Hinata! — Ele esticou a mão em sua direção, ao passo que Hinata a pegou cheia de incerteza. — Me chamo Naruto Uzumaki! Sou amigo da sua amiga, a Sakura!

Disso Hinata sabia. Tinha ouvido falar sobre esse encontro e nessa amizade, que nada mais era o estranho interesse de Sasuke na amiga, e Naruto acabou por conhecê-la. Sentiu o calor da mão de Naruto por alguns segundos, mesmo depois dele soltar sua mão. O que poderia dizer? Sua amiga tinha o talento de ser marcante, não apenas pelo cabelo, mas também pela sua personalidade forte.

— Não sei se sou a pessoa certa para te contar. — Naruto começou a dizer e Sasuke automaticamente revirou os olhos. — O que foi, Sasuke?

— Isso era para ser mantido entre os times até segunda ordem. — Ele murmurou irritado.

— Ah, mas ela ia ficar sabendo… — Ele insistiu um pouco até Sasuke parar de reclamar. Então virou-se e completou: — Uma vaga estará aberta no próximo mês, e ela já é sua.

— Uma vaga? — Hinata perguntou um pouco confusa.

— Ah, sinto muito! Eu, Naruto, sou o líder do jiu jitsu masculino. Então fiquei sabendo que uma das meninas vai se mudar para os Estados Unidos no próximo mês e…

— Uma vaga no time de jiu jitsu? —Ela abriu um grande sorriso, surpreendendo Naruto.

Ver a mudança de expressão no rosto de Hinata fez Naruto arregalar os olhos. Ao vê-la vindo pela estacionamento, ele perguntou para Sasuke de onde a conhecia. Naruto não era lá muito bom em guardar rostos e nomes, mas se lembrava da garota que quase ganhou uma luta contra Matsumoto, uma das melhores do país. Também sabia que já tinha visto ela em algum lugar, mas sua mente parecia não funcionar direito ao vê-la sorrindo. Os olhos castanhos de Hinata estavam brilhando naquele momento, e o sol evidenciou um brilho suspeito vindo deles.

Naruto nunca tinha visto um sorriso mais meigo e tão cheio de gratidão.

— Obrigada! — Hinata teve um impulso de abraçar Naruto, até mesmo deu um passo para frente e levantou os braços.

Mas, ao ver o que ia fazer, parou e deu mais dois passos para trás. Olhou para o asfalto, sentindo-se um pouquinho desconfortável, e, por ter desviado o olhar, não viu que Naruto estava preparado para receber o abraço e perdeu também sua expressão de desapontamento ao não recebê-lo.

Alheio ao que ocorria, Sasuke tentava encontrar uma maneira de chamar Sakura para conversar em algum lugar mais privado, mas tinha receio de que ela fosse negar. Afinal, ele era um estranho e iria lhe pedir um favor um tanto pessoal. Inquieto, abriu o aplicativo de mensagens de seu celular e entrou na conversa dela, que tinha enviado uma mensagem na madrugada seguinte para que ele pudesse entrar em contato. Não queria parecer estranho, mas sabia que isso era inevitável.

— Obrigada. — Repetiu a morena com um pouco mais de calma. — Eu fico muitíssimo feliz.

— Não precisa agradecer. — Naruto coçou a cabeça enquanto ria um pouco sem graça. — O mérito é totalmente e exclusivamente seu. Você luta muito.

— O estilo dela me lembra o de alguém. — Sasuke comentou para Naruto, olhando para Hinata ao tentar se recordar.

— É verdade… — Os dois ficaram uns segundos em silêncio. — Eu não sei quem, mas você tem razão.

— Eu normalmente tenho. — Sasuke sorriu confiante.

— Tchau, gente. — Hinata disse rapidamente, surpreendendo os dois. — Minha aula não acabou e o professor está esperando a turma na sala.

Mal deu tchau e já estava praticamente correndo pelo estacionamento. Seu coração estava acelerado e sua garganta fechando um pouco. Aquela conversa só levaria a um caminho: eles descobrindo o parentesco que tinha com o ramo principal da família Hyuga. Sabia que em algum momento aquilo iria explodir, achou que seria logo nos primeiros dias, mas Temari e Shikamaru não contaram para ninguém, pois se tivessem contado já saberiam.

Foi ensinada desde pequena a lutar pelo seu pai, ele que aprendeu pelo pai dele e assim por diante. Então sabia que seus parentes provavelmente além de serem muito parecidos com ela em aparência, também tinham o mesmo estilo de luta.

Iria adiar aquilo o quanto fosse possível. As lentes castanhas que usava fez seus olhos arderem um pouco enquanto sentia o vento bater em seu rosto, mas continuou caminhando rápido para a sala.

Ao passar por uma parte espelhada do prédio, pôde ver o seu reflexo um pouco distorcido, e riu com tristeza ao pensar que era exatamente como estava se sentindo.

Sakura

Já estava no estúdio havia algumas horas. Estava fazendo uma pausa e tomando um pouco de água morna, para acalmar suas cordas vocais. Já era mais de oito horas da noite e se preocupou em não conseguir gravar o resto da música até o horário que ele fecharia.

Ao chegar mais cedo, foi recebida com sorrisos e abraços, especialmente pelo diretor do estúdio, Jiraya. Ele era um homem mais velho, provavelmente tinha seus cinquenta e poucos anos, e Sakura tinha que ser cuidadosa perto dele, pois suas atitudes eram atrevidas e até mesmo sem noção.

Jiraya estava conversando com mais outras duas pessoas atrás do vidro, pessoas que ela não conhecia. Sakura tinha certeza que a música era perfeita, só não sabia ainda quem iria cantá-la. Alguns artistas da gravadora tinham preferência por suas músicas, como a famosa Danna, que fazia muito sucesso com elas.

Faltava apenas gravar mais alguns vocais, e poderia ir embora.

— Estamos prontos? — Jiraya perguntou sorrindo para Sakura, que levantou o polegar em afirmação.

Sakura respirou fundo e passou suas mãos um pouco suadas na sua calça jeans preta, observando com certa atenção sua própria respiração. Irritava-se toda vez que ficava ansiosa, pois isso a fazia parecer uma iniciante, coisa que ela certamente não era.

Lembrava-se como se fosse no dia anterior da sua primeira vez naquele estúdio. Engoliu em seco, lembrando também de quem estava com ela. Fora a primeira vez que mostrava suas letras e melodias, que realmente viu como era o processo de lançar uma música.

Ela não tinha interesse em ficar famosa, Sakura não queria passar pelo processo doloroso que era se tornar um ídolo. Agradeceu por estar com uma certa pessoa naquela época, pois quem sabe Jiraya a tivesse convencido a entrar nesse mundo se não fosse por ele e por seus conselhos.

No seu fone de ouvido, ouviu a batida rápida e energizante que ela estivera criando durante as últimas semanas. Cantou o último verso antes da ponte da música, se preparando mentalmente para a explosão que viria a seguir.

Não era a melhor cantora do mundo, Sakura tinha apenas uma voz comum, mas era bem afinada. Notas altas eram complicadas para seu tom de voz, que podia ser muito grave quando queria. Mas conseguiu alcançar com perfeição e energia necessárias as notas que vieram, sorrindo ao tirar o fone.

— Isso foi incrível! — Jiraya ligou o microfone para poder parabenizá-la.

Ao olhar para ele, viu que ele estava apertado a mão de um dos homens com quem estivera conversando mais cedo. “Será um possível comprador?” Esse pensamento animou Sakura, que mal podia esperar para ver a sua música solta pela mundo.

— De onde você tira essas inspirações? Tudo que você escreve vira ouro, Sakura-chan. — Jiraya falou enquanto digitava uma mensagem no celular.

—Acredite, nem tudo. — Sakura riu um pouco sem graça. — Só escrevo o que vem na minha mente.

— Bom, eu sei exatamente como é escrever as coisas que vem na minha mente. — Ele fez uma pausa extremamente dramática. — E minhas histórias não são nada como as que você escreve nas suas músicas.

Sakura gargalhou alto ao ouvir aquilo, pois Jiraya era um escritor de romances para lá de adultos. Ela ouviu a música de novo, e ficou muito feliz em ver o seu trabalho completo.

— Aqueles que estavam aqui antes estavam muito interessados nas suas músicas.

— Músicas? Tipo… No plural?

— Sim, querem te oferecer um contrato para que escreva uma certa quantidade de músicas exclusivamente para eles. — Jiraya parecia estar hesitando ao falar. — Disse para eles que iria conversar com você sobre isso.

Sakura ficou calada por um instante, para absorver o que tinha acabado de ouvir. Era sim uma grande oportunidade, mas também uma responsabilidade enorme. Ter uma “agenda” para escrever era algo que nunca funcionou com ela, porque a inspiração poderia vir a qualquer momento, mas também poderia não vir de forma alguma.

— Não precisa responder agora. — Ele disse com delicadeza. — Não posso te obrigar a aceitar isso, especialmente porque eu vou estar perdendo a melhor escritora de letras que tenho por alguns meses.

— Mas eu ainda estaria escrevendo para a sua gravadora. — Sakura argumentou um pouco confusa.

— Sim, mas não para todos os meus cantores. — A resposta fez com que ela entendesse o propósito do contrato. — Enfim, venha semana que vem. Assim poderemos discutir o contrato.

Depois de se despedir do diretor, Sakura passou pelas grandes portas do edifício Hatake. Ele tinha mais de vinte andares e reluzia com um grande painel de LED com imagens de sua principal artista feminina: Danna. Era uma garota apenas alguns anos mais nova que Sakura, com cabelos louros e grandes olhos castanhos escuros.

Nas imagens ela parecia ser tão delicada, quase um anjo. Sorriu ao pensar em Danna cantando suas músicas, e consequentemente o quanto conseguiria com isso. Claro que não era tudo sobre o dinheiro, Sakura realmente gostava de escrever, mas conseguir lucrar com o que fazia era completamente maravilhoso. E, desde que deixou a casa de seu pai, não tinha mais nenhuma obrigação de ajudar na casa. Balançou a cabeça, tentando esquecer o assunto.

Sakura não era rica. De forma alguma. Em três anos trabalhando para Jiraya, conseguira juntar algum dinheiro com seus hits de sucesso. Tinha plena consciência que se estivesse com a sua imagem no showbusinness estaria fazendo fortunas, especialmente por ser quem ela era.

“Quem sou eu?” A pergunta flutuou pela mente de Sakura, enquanto caminhava pelas ruas movimentadas de Tokyo. Andar por ali sempre a fazia pensar demais em coisas que não valiam o seu tempo. Como em sua família, seu grande segredo da sua herança musical. Uma buzina aleatória fez acordar de seus devaneios.

Para onde ia? “Ah, sim.” Estava a caminho de se encontrar com Sasuke e finalmente descobrir o que ele queria.