Pokémon NeoUnova escrita por Wall of Plan Earth


Capítulo 2
Capítulo 2




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         Depois do “Ajoelhem-se ou morram” do cara de cabelos verdes, se fez um silencio onde alguns segundos duraram horas, até que eu (tinha que ser eu, também) quebrei esse silencio com: 

— Então você se chama Natural Harmonia. Uau. Seu pai deveria achar você com cara de suco para ser Natural – Eu estava tão tenso que eu tinha que provocá-lo. Não foi pelo discursinho dele, ou por ter virado Xerxes (O Liepard do Cheren) contra seu dono apenas com um carinho mixuruca. Eu estava tenso por causa dos caras com as armas que estavam ao redor de nós.  

Eles eram estranhamente iguais, como se fossem personagens secundários de um videogame antigo. Aqueles que a preocupação não são os gráficos. Eles continuavam ao nosso redor, esperando um simples sinal que ordenasse nossa execução. Seus olhos se encontravam fixos em nossas luvas de batalha, como se falassem: Chamem suas pokébolas, por favor, adoraríamos cortar as mãos de vocês. Eu desviei a atenção dos três patetas e fixei minha atenção no rosto de Natural.  

Eu consegui ver a surpresa nos olhos deles enquanto tudo acontecia.  

Alguém na arquibancada, provavelmente minha mãe ou minha avó, liberara um Drifblim, que atacara os plasmas com 4 shadowballs simultâneas, que explodiram aos pés de Natural e na frente de cada um dos caras armados. A explosão da shadowball que atingiu o solo aos pés de Natural (Vou chamar ele de “Suco Natural” o que acham?) afastou Xerxes, o fazendo avançar para cima de Cheren com as garras expostas, como se pronto para estripá-lo.  

Mas eu não podia prestar atenção nele. 

Como se soubesse da agitação de um semelhante espectral, Hidan simplesmente força sua saída para fora da duskball, assustando-me e me fazendo cair perto do meio do campo de batalha. Usando Will-o-Wisp, ele tentava atacar o “Suco Natural” que era defendido pelo cara com os dois punhais, que os usava para interceptar o fogo espectral, cortando os dardos ardentes com extrema velocidade. Outros pokémons haviam sido lançados pela arena, mas parece que Natural tinha mais plasmas entre as arquibancadas. De um momento para o outro, apareceram incontáveis figuras de uniforme prateado com o escudo dos plasmas em seu peito.  

Caído, eu tentava alcançar a pokébola em que se encontrava Pyke, meu Samurott, que oficialmente, havia sido meu pokémon inicial. Depois de alguns momentos de desespero, com chamas e poeira cegando minha visão, eu alcancei e liberei Pyke, que me auxiliou a levantar e examinar a situação ao redor. Imediatamente me virei para Cheren, que se encontrava semi-desmaiado e com a camisa inteira em farrapos e ensanguentada, estando nos braços protetores de seu Haxorus. Xerxes, com os olhos vermelhos como sangue, estava ainda raivoso e sedento por sangue, mas preso sob umas das patas do pokémon Dragão.  

Olhando ao redor, eu vejo. 

Toda a arena tinha virado um campo de batalha. 

Nas arquibancadas, capangas de Natural lutavam contra outros treinadores que haviam sido derrotados nas partidas anteriores da Conferência. Alder e minha mãe, sozinhos, lutavam contra uma equipe de 6-7 plasmas, que portavam Watchogs e Mandibuzzes como seus pokémons principais. Minha mãe usava o mesmo Drifblim que soltara as shadowballs, e Alder batalhava com seu imbatível Escavalier, que derrubava os inimigos, fossem eles humanos ou Watchogs, como se fossem pinos de boliche. 

Em toda as arquibancadas e arenas, só tinha uma pessoa que não estava envolvida em alguma batalha. 

Natural, é claro. 

Ele tentava fugir com um dos caras armados, o que tinha o gancho com a corrente, através de uma das entradas acima das arquibancadas, abrindo caminho entre seus subordinados, treinadores em batalha e expectadores assustados que não tiveram a oportunidade de fugir. Por onde passava, pokémons desviavam a atenção de suas lutas apenas para vê-lo passar, fossem eles dos plasmas ou não. Era como se ele fosse um tipo de messias, o único que poderia trazer a paz.  

Papo furado, na minha opinião. 

Seja quem fosse o “Suco Natural”, ele era apenas mais um maluco da Equipe Plasma que queria poder manipulando pessoas e pokémons através de ideologias vazias. Só mais um zé-ruela como tantos outros na história, que vai ser derrubado e esquecido, como aquele “Ghetsis” que ele mencionara.  

Voltando a cena, ele já quase alcançava a porta quando tirou algo do bolso, algo parecido com uma pokébola ele a encarou em sua mão, e se esgueirou, sendo o mais discreto possível que alguém com um magnetismo de pokémons como ele poderia ser, para perto de onde minha mãe e Alder batalhavam, liberando o Bisharp que dentro da pokébola residia.   

A lâmina da mão de Bisharp se encheu de um brilho metálico, visando as costas de Alder. Tudo o que pude dizer enquanto observava foi: 

— HYDRO PUMP PYKE!!! AGORA!!!! - Minha voz, em desespero, saiu um pouco fina, e até mais alta que o comum, e até fiquei um pouco rouco depois disso. O potente jato de água expelido pelo Samurott acertou as lâminas de Bisharp, que ao invés de causarem um grave ferimento profundo, causaram apenas um grande, porém superficial, rasgo nas costas de Alder. 

Voltando seu olhar para a direção do jato, Natural se surpreende ao ver Pyke comigo em cima se preparando para avançar contra ele. Calculei mal a força do Pyke, que mal conseguiu me levantar direito, mas conseguimos pular a divisória entre a arena e as arquibancadas, o que já era metade do caminho para minha luta contra “Suco Natural”. Ele retornou seu Bisharp para a pokébola, guardando-a dentro de sua roupa escura e virando suas costas para poder fugir. 

Tentando alcança-lo, abandonei Pyke na luta contra alguns Wachogs e Woobats, já que ele estava se saindo bem contra ele até agora. Eu pulava de uma fileira para outra, subindo pisando nos assentos como se fossem escadas, até que fui acertado por uma Electro Ball nas costas, que me fez cair para as escadarias, batendo-as no corrimão.

Uma vez caído, eu avistei quem tinha me acertado; Um Galvantula, o único pokémon que eu morro de medo até hoje. Ele estava a não muito mais que cinco cadeiras de distância, e meu único instinto foi recuar. Eu não conseguia gritar, e meu corpo inteiro tremia, como se estivesse numa cadeira de massagem. O ar começou a faltar nos meus pulmões conforme ele avançava, e a última coisa que vi antes de minha visão se escurecer foi a sua grande forma amarela saltando em cima de mim, pronta para enclausurar-me em suas teias e me devorar vivo.

 

***

***

Quando acordei, toda a batalha ao meu redor estava praticamente acabada. Enfermeiros e seus pokémons, como Audinos, Miltanks e Chanseys, rodeavam toda arena, enquanto oficiais com Arcanines e Manectrics bloqueavam as portas de entrada, impedindo que a imprensa, que cercou todo o prédio depois da fuga daqueles que eles chamavam de “N” (prefiro meu “Suco Natural”, mas ok), entrasse e nos sufocasse com suas perguntas. Alder tinha suas costas enfaixadas, enquanto estava enrolado em um roupão idêntico a túnica/manto que ele usava normalmente. Pokémons descansavam sobre os cuidados de dois Chanseys, enquanto os feridos mais gravemente recebiam curas e “remendos” de Audinos e de seus enfermeiros.  

Entre esses muito mais feridos estava Cheren, que teve a maior parte de seu peito e até um pouco de seu rosto rechaçado pelas garras de Xerxes, que se encontrava preso com coleiras e focinheiras. Seus olhos continuavam de um vermelho brilhante, e se remexia com violência, mesmo estando totalmente preso. Me levantei de onde tinha caído, com as costas extremamente doloridas pelo tempo e pela posição em que tinha ficado ali. Assim que consegui recuperar o equilibrio, uma enfermeira ruiva veio até mim. 

— Olá, você finalmente acordou!! Meu nome é Joy, e sou umas das enfermeiras do centro pokémon. Você demorou para acordar – Ela era um pouco mais baixa que eu, com os cabelos ruivos formando um penteado um pouco exótico atrás da cabeça. Eu pelo menos, nunca vi um penteado como aquele antes - Nós teríamos lhe tirado daqui e o colocado em uma maca sob os cuidados de alguém, mas seu Samurott impediu qualquer um de se aproximar até agora.  

Samurott estava distante, deitado enquanto comia algumas berries colocadas em um pote a sua frente. Estava sendo curado por um Audino enquanto comia, e ao ouvir o nome de sua raça ergueu a cabeça em nossa direção.  

— Ele se chama Pyke, e é naturalmente assim mesmo. Protetor e Leal. Cadê o bicho? - Eu não conseguia pronunciar o nome da criatura. Eu conseguia formar as silabas, mas toda vez que eu tivesse que falar, minha garganta travava, minhas pernas tremiam e o ar faltava nos meus pulmões. - A de 6 pernas. GIgante. Que me atacou. Amarela. 

— Ah, o Galvantula? - O nome me provocou arrepios na coluna - Encontramos ele desmaiado com seu Samurott encima. Deve ter sido uma dura batalha. Principalmente por ele estar em desvantagem. 

Agradecido, fui andando até onde Pyke estava e fiz um carinho em sua cabeça. Ele estava cansado, mas ao que parecia estava até muito bem depois de uma batalha contra um tipo Elétrico. Recolhi ele de volta para sua pokébola, e me virei de volta para Joy. 

— Posso ver o Cheren? Qual o estado dele? 

— O treinador atacado pelo Liepard? Ele está em um estado grave, e será levado para um centro Pokémon em breve, assim que o estabilizarmos e a imprensa liberar o caminho. 

— Essa imprensa adora um show, não é? - Disse irritado. Se eu pudesse, ia mostrar o que é um show para eles. Me sentei em um dos bancos da arquibancada - Quanto mais audiência melhor. Bando de sanguessugas. 

— Eles querem retirar o campeão, isso sim - Joy estava claramente irritada, sentado junto a mim por um momento - Alder está a tempo demais no cargo. Isso frustra a imprensa, que querem batalhas desafiadoras e com IBOPE. Com o Alder como campeão, ninguém assiste as batalhas porque sabem que ninguém vai toma-lo o posto. Por isso, tentam desacreditar Alder sempre que possível.  

— Você é muito inteligente – E bonita, espetacularmente bonita. Eu começava a reparar em sua beleza. Seus lindos olhos azuis, sua pele delicada, sua voz melodiosa...  

— Aaaah.... Eu... eu preciso ir. Você parece bem, então até outra ocasião - Disse, se afastando com a cara vermelha de vergonha. Ela se dirigiu para até Alder, para trocar as faixas em suas costas, que estavam começando a rasgar. Depois da troca de ataduras, ele aponta para mim, e sinaliza para que fosse até ele, enquanto mantinha um sorriso em seu rosto.  

— Bela batalha contra o Serperior de Cheren lá embaixo, garoto – Enquanto colocava sua mão em meu ombro eu notei porque eu nunca havia visto seu outro braço em fotos ou na televisão. Nem mesmo quando eu o vi de longe. Ele não tinha o outro braço. Só tinha o esquerdo, enquanto do outro lado só existia o começo de um braço - Você deu um show lutando contra meu neto, e teve coragem de zombar na cara do N. 

Demorei alguns momentos para poder entender que quando ele queria dizer “N”, ele estava se referindo ao “Suco Natural” (prefiro o meu apelido, mas N fica mais curto e poupa mais tempo) e quando voltei a prestar atenção, tudo que ouvi foi: 

— Eu não estou em condições de me apresentar em frente a imprensa desse jeito, sabe? Eu posso confiar em você e em sua coragem para falar em meu lugar? 

Isso acendeu uma chama dentro de mim. Eles queriam um show para dar as pessoas. E é isso que terão. Assim que ele terminou sua fala, eu já me afastei em direção a porta, que estava ladeada por dois oficiais com um Stoutland e um Manectric. Ao me aproximar da porta, ambos os pokémons começaram a rosnar em minha direção, enquanto uma aura vermelha começava a brilhar de seus corpos. Leer. Devia funcionar em criminosos de baixo calibre e em pokémons novatos, mas não funcionava em mim. De repente, dois dardos em um fogo roxo e branco aterrissam na frente dos pokémons dos policiais. Era Hiddan, que sentia que eu estava ameaçado e tentava me proteger. 

— Onde você estava, Hiddan? Eu já ia começar a ficar preocupado se você não aparecesse logo – Ele chega perto de mim, olhando-me olhos nos olhos, enquanto eu agarro um dos lados de sua cabeça, quente e fria ao mesmo tempo, por causa do fogo espectral – Volte para a pokébola, você trabalhou bem hoje.  

Olho de volta para Alder, que retribuiu meu olhar com um polegar para cima. Os policiais olharam para mim e depois para Alder, que pediu para que eles se afastassem com sinais. Repentinamente, uma dúvida cruzou meus pensamentos. Sobre duas pessoas, alias.  

— Alder!!! - Gritei. O velho voltou seu olhar para mim, uma vez que já estava a paquerar uma das enfermeiras, a mesma que eu tinha conversado com a alguns minutos atrás – Me responda uma pergunta: Onde minha mãe e minha avó estão? 

— Estão...devem estar lá fora. Elas sairam um pouco antes das enfermeiras chegarem. Devem ter ido persegui-los até o esconderijo deles. Mas não se preocupe garoto, Shauntal já enfrentou coisas piores, e Fantina já está tão velha que até a morte já desistiu dela. Elas voltam em breve.  

Hum. Que seja. Depois eu as procuro. Ao que parece, eu sou o único em condições de falar com aqueles sanguessugas lá fora mesmo. Afastando os policiais da porta, eu a abro com um chute, e antes de sair já sou afogado com uma enxurrada de câmeras e microfones. Consegui os afastar de novo para fora, com a ajuda dos policiais, e rumar até um pódio onde todos poderiam me ouvir.  

Eles querem um show. E é isso que vão ter.  

*** 

Era uma noite fria em Icirrus. E úmida. 

Mas quando não estava frio e úmido em Icirrus? 

Eu estava parada na porta do quarto de meu pai, que dormia até que um pouco mais tranquilo do que seria o normal para ele. Todos os calmantes devem ter feito o que deveriam fazer daquela vez. Ele estava apenas com um lençol, e mesmo estando quase 5 graus negativos, ele não tremia. Devia estar acostumado com o frio, de seus dias de glória como líder de ginásio da cidade.  

Eu tinha que vigia-lo, mas já estava de saco cheio naquela hora da noite. Não que eu estivesse com sono, eu não consigo dormir mais de 5 horas por dia, mas eu estava sem paciência mesmo. Ele parecia bem, não teria motivos para vigia-lo. Se alguma coisa acontecesse enquanto ele dormia, eu saberia. Não precisava ficar como um Tranquill na presa. 

Eu fui, descalça mesmo, para a sala, onde ainda havia pedaços de pizza, ainda na caixa, da Janta de ontem. A caixa estava na mesa de centro, em frente ao sofá e perto da TV, que não era muito longe da janela. Não pareciam estragados, então peguei um dos pedaços e comecei a come-lo devagar, enquanto fitava a janela. 

Eu e meu pai morávamos na chamada “Cidade Cinza” que era a zona norte de Icirrus. Tinha muitos poucos habitantes, e era por isso que meu pai gostava de morar ali. Quantos menos pessoas, menos pokémons, e para ele, isso era melhor. Junto conosco, no mesmo prédio, além dos treinadores e outras pessoas de passagem, não habitavam mais que 10 habitantes. E um era meu professor particular e outro, o médico do meu pai. 

Era uma vida triste e monótona, e eu estava para sempre presa nela.  

Recostei-me na janela e dei mais uma olhada na sala. Kimonos antigos do meu pai se encontrava jogados por todo o cômodo, com buracos de queimado e sujos de cinzas de cigarro. Meu antigo boné de treinadora estava naquele meio também, como os kimonos, sujo e queimado, bem no centro da Pokébola. Ele teve outro ataque durante o dia, e revirou todo o baú de velharias dele enquanto eu tinha ido no mercado. Cheguei até a borda da pizza, jogando-a pela janela. Odeio a borda. Sempre odiei.  

Me joguei no sofá, e enquanto eu procurava o controle no meio da bagunça da mesa de centro, eu pude ver o meu reflexo na tela da TV desligada. Como eu estava feia. Meu cabelo, longo e castanho, estava descabelado, tinha olheiras debaixo dos olhos e minha pele estava pálida. A gripe não ajudava muito com a minha aparência, me oferecendo um nariz vermelho como um tomate. Depois de algum tempo me encarando na tela, eu desisti da procura do controle e me joguei novamente no sofá, só pra perceber que eu sentei encima dele.  

  Depois do constrangimento, eu liguei a TV normalmente, porém com som baixo, para não causar um novo ataque em meu pai, e comecei a vagar pelos canais sem destino, até que eu parei em uma entrevista realizada ao meu treinador favorito da Conferência de Vertress, Marcos Strawbley, um dos poucos peritos no tipo Trevas em toda a região. Ele foi eliminado nas oitavas de final, derrotado por Cheren Tevint.  

Marcos era um sujeito alto, de ombros largos e rosto bonito e com cabelo loiro, com um pouco de barba rala em seu queixo. Usava um casaco vermelho com detalhes pretos, junto com seu inseparável óculos escuros.

— Como você se sente ao saber que a antiga equipe plasma resolveu atacar a Conferência de Vertress e quase matou o atual campeão, Alder Arani ? 

— O Alder tá velho, isso todo mundo sabe. Ele tá aí há quantos anos? Quase sessenta? Esse é um momento bem fraco do governo dele, ele pode morrer a um vento que sopre no peito dele. Então um lunático como ele ia hora ou outra querer vim e tomar o poder. Tinha que entrar alguém jovem, uma Elite 4 nova e líderes de ginásio novos. 

— Mas qual a necessidade de tantas mudanças?  

— Você fica velho, você fica acomodado, você fica acomodado e você para de fazer seu serviço direito. Os líderes de ginásio estão incompetentes, deixaram meio mundo de pirralhos inúteis conseguirem suas insígnias e inundarem a liga. Foi fácil demais chegar até aqui. 

— Mas, uma pergunta, se foi tão fácil, como o senhor não passou para as finais? Ou mesmo para as quartas de finais? 

No momento em que Marcos responderia, ele foi interrompido por um estrondo perto das portas. O estrondo foi tão alto, que mesmo com a TV quase no mínimo, fez barulho o suficiente pra me fazer saltar do sofá de susto. Deixei a TV no mudo, e voltei ao quarto para certificar que meu pai não havia acordado. 

Continuava dormindo. Por enquanto. 

Sentada no braço do sofá, eu continuava assistindo, ainda no mudo, a entrevista, que havia mudado de foco para um dos finalistas da Conferência: Hugh Brenindyon. Ele estava com uma estaca com a bandeira de Unova na ponta, discursando e respondendo às perguntas das repórteres como se fosse o próprio campeão da região. Mesmo odiando o Cheren, quando eu soube que seria ele contra esse Hugh nas finais, eu torci por ele mesmo não podendo assistir. 

 

(bandeira de Unova)

Hugh parecia... Estranho. Nas entrevistas ele parecia amável, mas nas batalhas ele se mostrava frio e cruel, com os inimigos e com os Pokémon deles. Eu tinha medo do que alguém como ele poderia fazer alcançando poderes no governo. Marcus e ele começaram a discutir, enquanto Hugh apontava a estaca da bandeira para o rosto dele como se estivesse apontando uma espada para um inimigo.

Indo até meu pai novamente, percebi que grande parte da colcha onde ele estava deitado estava molhada. Ele murmurava durante o sono, algo sobre uma jornada. O efeito do calmante havia acabado. Estava durando cada vez menos o efeito. Logo, teria que pedir doses maiores para o médico dele. Ele começou a se mexer na cama, como se estivesse tendo espasmos, e acordou sobressaltado, respirando ofegante. 

— Hilda? Filha, onde você está? Ainda está aqui?  

Eu o abracei, mesmo estando molhado e trêmulo, e o levei para o banheiro. Lá, ele tirou a roupa com mijo e tomou um banho demorado. Mesmo sobre o som da água do chuveiro, eu ainda pude ouvir ele chorando baixo enquanto eu trocava a roupa de cama e virava o colchão.  

Por último, enquanto ele trocava de roupa, eu desliguei a televisão, que exibia um programa sobre alimentação de pokémons tipo Água. Ele não conseguia ver ou mesmo ouvir algo sobre pokémons desde que eu me lembro dele. E desde que minha mãe morreu.... ele tinha piorado muito. Ataques eram mais frequentes, terrores noturnos eram mais violentos e em maior quantidade. Oscilações de humor, como de triste para agressivo e vice-versa também ficaram bem comuns.  

Ele saiu do quarto, vestido em roupão felpudo com um outro pijama por baixo. Meu pai não era alguém feio, só muito... como posso dizer, malcuidado, maltratado. Ele estava extremamente magro, comia muito pouco desde que mamãe morreu. Seus cabelos castanhos estavam sujos e desgrenhados, seus olhos viviam inchados de tanto chorar, e muitas vezes ele simplesmente entrava em estado de choque e paralisava. 

— Hilda? - disse assim que saiu do quarto, vindo me abraçar - Tive outro daqueles terríveis sonhos de novo. Sonhos onde você ia embora pra sempre. Onde eu não poderia te proteger dos monstros. E onde eu não podia combate-los. Foi horrível, filha, foi horrível.  

Quando ele me soltou, eu percebi que ele estava chorando novamente. Logo ao me soltar, ele caiu no sofá, meio chorando, meio que tendo um espasmo. Eu me ajoelhei ao lado dele, abraçando e sussurrando repetidamente para ele. 

— Tudo vai ficar bem, papai. Eu não vou embora. Pode ficar tranquilo. Eu vou estar sempre aqui. Eu não vou embora. Eu vou estar sempre aqui.... - Fiquei repetindo isso até que ele acalmasse, e depois fiquei mais um bom tempo ao lado dele, esperando que ele se levantasse. Só que ele dormiu de novo. E eu, enquanto esperava, comecei a ficar com sono também. Olhei no relógio eram 2:00 horas da madrugada. Deitei-me no segundo sofá da sala, que junto com o que ele dormia, formava um “L”, e resolvi dormir um pouco também.  

As últimas coisas que me passaram pela mente enquanto eu dormia foram as palavras que eu disse a ele. Eu não vou embora. Eu vou estar sempre aqui.  

Parecia que ia ter que realmente estar sempre ali. 

Pelo resto da minha vida. 

 


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