Após uma longa caminhada de horas, por uma estrada que na verdade demorou o dia inteiro para ser trilhada, eu mal podia sentir minhas pernas. Deixara a irmã mais nova, Himawari, aos cuidados de Konohamaru. Depois de todos os anos de treinamento infernais pelos quais passara na Academia, confaria minha vida ao mais velho, por mais que muitas vezes pensara que ele queria me matar. Mas aquilo era simplesmente bobagem, não havia como aquelas minhas frágeis ilusões serem reais, pois nos últimos anos, Konohamaru fora o mais próximo de um pai que eu tive, sempre cuidando de mim. Não, ele não deixaria que nada de mal acontecesse à Himawari.

Depois de incontáveis horas debaixo do sol quente e escaldante, onde o tempo parecia não passar, finalmente cheguei a meu destino. O sol já havia se posto, deixando que o frio da noite reinasse no ambiente, porém eu não estava com frio. Toda a caminhada e corrida que havia feito pelas últimas horas seriam o bastante para me manter aquecido por um bom tempo, principalmente agora que eu entraria naquele lugar e nem sequer sabia como seria conduzido o teste. Esperava que fosse rápido, pois pelo menos assim eu poderia voltar para casa logo, onde minha irmã estaria esperando por mim.

Minhas pernas doíam enquanto eu me aproximava do topo da montanha, uma dor que parecia latejar, prestes a explodir, mas era suportável. E, mais importante, a cada passso mais perto eu ficava. Sentia minhais kunais mais pesadas, chamando por minha mão para sacá-la, pronta para lutar contra as ameaças que iriam surgir. Ou seria apenas ansiedade? Era isso? Eu estava ansioso? Bom... era a hipótese mais provável que eu poderia ter.

Mas eu passaria por isso, nem que fosse a última coisa que eu fizesse.

E poderia ser...

O ar no meu peito pareceu ser sugado para fora por uma interjeição de surpresa. Completamente petreficado, olhei para a paisagem que mudava pouco a pouco conforme o avançar do caminho e, enquanto eu o trilhava, apreciava daquela mudança doce.

A paisagem aberta de grama e terra aos poucos se transformava em uma mais fechada, com árvores de pétalas brancas que exalavam um cheiro doce e delicado, me envolvendo em uma aura pura e delicada, fazendo-me sentir acolhido e, de alguma forma, acalmando os sentimentos gritantes que faziam com que meu peito ardesse e doesse.

Agora, mais calmo, continuei meu caminho até que, em uma área mais aberta entre as árvores, diversas figuras se fizeram visíveis. Diversas figuras que identifiquei como humanos e participantes do exame.

Continuei andando até me aproximar mais, até estar em meio aos grupos que conversavam ou estavam perdidos dentro do próprio nervosismo. Passei os olhos ao redor, analisando a todos para distrair minha própria mente e evitar que os sentimentos, que haviam se acalmado, voltassem com tudo. Pois eu sabia que voltariam e se eu deixasse isso me atrapalhar, acabaria morto em um piscar de olhos.

Analisei os outros candidatos, suas posturas, roupas e expressões, na tentativa de chutar se sobreviveriam, se seriam ameaça ou possíveis aliados.

Alguns estavam mais calmos, passando um entimento de segurança e descontração. Em outros, eu podia sentir o mesmo desespero oculto e calma forçada que estavam em mim. Me identifiquei com o segundo tipo rapidamente.

Continuei a analisar o ambiente com calma, mas não pude mais pensar em nada. Meus olhos se prenderam em uma pessoa em específico. Um garoto que se destacava dos demais.

Ele era lindo...

Não conversava com ninguém, era o mais afastado de todos. Seus cabelos brancos lembravam o brilho da lua, eram lindos e majestosos, assim como seus olhos dourados. A pele do rosto parecia lisa, intocada, perfeita... Não tinha um único traço nele que parecesse errado ou imperfeito, era como se houvesse sido esculpido pelos deuses...

Subtamente, senti uma estranha necessidade de me aproximar do garoto, puxar assunto com ele ou qualquer outra coisa para podermos conversar, não importando qual seria o assunto. Poderia ser até uma pergunta idiota como “De que cor é a sua espada?”, “Você está nervoso?”. A primeira pergunta era irrelevante e, a segunda, quase óbvia. Talvez eu devesse chegar e perguntar “Do que você gosta?”, talvez assim fosse mais fácil puxar um assunto ainda menos suspeito.

A espada era um bom ponto, afinal boa parte dos ninjas usava uma. E eu não era uma exceção à regra.

Com isso em mente, respirei fundo e avancei em sua direção. No entanto, meu progresso não foi o bastante, pois logo a atenção de todos os participantes foi sugada em duas únicas pessoas. Duas irmãs gêmeas, endo que os cabelos eram as únicas coisas que podiam ajudar a diferenciá-las, sendo uma de cabelos negros e outra de cabelos brancos, tinham a aparência infantil, mas duvidei que fossem realmente crianças.

— Senhoras e senhores — falaram ambas ao mesmo tempo —, obrigada por terem vindo esta noite para a seleção do Exame Chunnin.

As vozes de ambas eram calmas e serenas, como se não se importassem com ninguém ali ou com o que estava acontecendo.

— Há onis, ninjas que devoraram humanos e perderam sua humanidade, aprisionados aqui, na Floresta da Morte, incapazes de saírem e capturados por ninjas habilidosos — disse a de cabelos brancos.

A irmã, cujos cabelos eram negros, continuou de onde ela parou:

— Eles não podem sair por causa das selos, que estão colocados aqui durante o ano inteiro. Mas, deste ponto em diante, vocês vão se deparar com diversos tipos de onis — explicou. A descrição começava a me dar medo. Claro, passei anos treinando para lutar contra onis, mas isso não queria dizer que eles não me assustavam. — A condição para passar no exame é simples: vocês devem sobreviver aqui durante sete dias.

Olhei para o lado, em direção ao garoto de cabelos brancos. Ele se encontrava calmo e concentrado, como se nada fosse capaz de o abalar. Nem sequer tremia, os braços estavam cruzados em uma pose imponente.

— Agora — disseram as duas garotas novamente — podem seguir em frente. E boa sorte a todos.

Não fui capaz de processar o que aconteceu nesse momento, pois as duas garotas simplesmente desapareceram, como se fossem assombrações ou algo parecido, foi tão rápido que quase não pude processar.

Voltei a encarar o garoto de cabelos brancos, mas, assim como os demais, ele não estava mais parado, em vez disso seguia em direção ao caminho que dava acesso à Floresta, pronto para prestar o seu exame. Ele era lindo... esperava mesmo poder encontrá-lo em algum momento do exame ou depois dele. Só havia um pequeno problema nisso: sobreviver.

Respirei fundo, tentando acalmar meu coração. Senti o batimento desacelerar, minha pele ficando mais fresca assim como o ar da noite. Apenas quando me senti mais calmo e controlado foi que mexi meus pés de lugar, os levando para frente. Me levando para a trilha da morte.