Invisible Play escrita por Douglastks52


Capítulo 9
A Vila e o Ferreiro


Notas iniciais do capítulo

Capítulos publicados com alguma frequência? Nem eu mesmo estou me reconhecendo.



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Kurokawa apoiou suas mãos em seus joelhos enquanto arfava intensamente: 

—Realmente...não existe...outra forma...de transporte? 

—Existem montarias e formas de teletransporte, mas são muito caras. -Respondeu ela limpando o suor de seu rosto. -Você eventualmente se acostuma a se mover pelo mundo correndo. 

Você é uma personagem muito inconsistente! -Reclamou Kurokawa ainda com dificuldades para respirar. -Você é extremamente rápida e quase me matou sem dificuldades mais cedo, mas não conseguia derrotar aqueles retardados que estavam te escravizando? Isso é muito suspeito. 

—Você que não entende nada sobre esse mundo ainda. Nesse momento, eu sou mais fraca que você, mas existem várias formas de lutar que não envolvem diretamente força. -Respondeu ela. -Aqueles caras não eram estúpidos, eles eram uma equipe bem balanceada, por isso eu não conseguia derrotá-los. Você simplesmente pegou eles de surpresa com a sua força estupidamente anormal. 

Kurokawa apenas aceitou o que Lizzy tinha a dizer enquanto a seguia. Enquanto observava os prédios a sua volta, ele não podia deixar de reparar que algo estava estranho: 

—Você disse que íamos a uma vila, mas estamos no centro da cidade. 

—Você vai entender quando chegarmos lá. -Respondeu Lizzy guiando o caminho. 

Eles entraram num grande edifício no centro da cidade e caminharam até um elevador. Kurokawa sentia que as pessoas estavam ignorando completamente sua presença, elas nem sequer se davam ao trabalho de desviar dele enquanto caminhavam. Inevitavelmente, uma delas acabou por chocar-se contra ele, mas algo inesperado aconteceu. Ao invés de tocaram-se, o corpo de Kurokawa simplesmente atravessou aquela pessoa, como se não houvesse nada ali: 

—Lizzy...o que está acontecendo? 

—Para ser sincero, acho que ninguém entende bem o que é isso. -Respondeu ela. -Mas basicamente, no momento em que você faz alguma ação relacionada ao mundo de IP, sua existência torna-se algo exterior ao mundo normal e você perde a capacidade de interagir com ele. Isso provavelmente existe para manter a ordem entre os mundos. 

—E como eu faço para desativar isso? 

—No momento em que você parar de interagir com o mundo de IP, isso vai se desativar sozinho.  

Os dois entraram no elevador e esperaram até ele ficar vazio, Lizzy selecionou uma combinação de números que fazia o elevador ir para o andar quinze: 

—Esse prédio só tem nove andares... -Comentou Kurokawa confuso. 

Lizzy não respondeu nada e o elevador começou a se mover. Ao atingir o nono andar, ao invés de parar, o elevador atravessou o teto sem danificá-lo e Kurokawa viu vários extensos andares se materializarem na frente de seus olhos. Mesmo para alguém quase incapaz de demonstrar emoções, aquilo era surpreendente. Ao chegar no décimo quinto andar, a porta abriu automaticamente: 

—Bem-vindo a Vila, Kurokawa. -Disse Lizzy. -O maior mercado de IP desse continente. 

—Isso não faz sentido, esse andar é no mínimo duas vezes maior que os andares normais desse prédio. -Comentou Kurokawa saindo do elevador. 

—Não me pergunte como isso funciona, eu também não sei. Bem, vamos, eu conheço um bom ferreiro por aqui. -Respondeu ela. 

Os dois começaram a caminhar e Kurokawa observava os seus arredores. Mesmo que estivessem dentro de um prédio, a maioria das “lojas” eram barracas de madeira e as mais sofisticadas eram construções rústicas. Havia uma quantidade considerável de pessoas, todos usando armaduras, espadas, martelos, machados, escudos e outros. Ele viu uma pessoa passando com duas pistolas presas a sua cintura e decepcionou-se: 

—Eu sabia que era bom demais para ser verdade...Existem armas de fogo nesse mundo, era só o que me faltava! De certeza que eu vou entrar numa luta e morrer pateticamente para um tiro.  

—Sim, armas existem, mas elas estão longe de ser a forma mais poderosa de se combater, como é no mundo real. -Respondeu Lizzy. -Eles não costumam causar muito dano em monstros e como não existem muitos feitiços ou habilidades que combinem com elas, elas acabam por serem raramente utilizadas.  

—Ok...isso é ótimo... -Suspirou Kurokawa. -Armas são tão injustas, independente do quanto eu tentasse, eu nunca conseguia desviar de todos os tiros. 

—Que tipo de vida você tinha antes de entrar no mundo de IP? -Perguntou ela um pouco assustada. -Calma...você já desviou de tiros no mundo real? 

—Mais ou menos. E não me interprete mal, eu não era um gangster ou nada do gênero. Mas às vezes as pessoas ficavam irritadas comigo e tentavam me matar. 

Lizzy, com seus olhos semicerrados, apenas observou-o: 

—Você é realmente suspeito... 

Um homem sentado atrás de um banco de madeira em um dos lados da passagem avistou Lizzy e começou a acenar: 

—Lizzy! Já não te via há algum tempo! 

—Quem é aquele velho suspeito? -Perguntou Kurokawa sendo cauteloso. 

—Ele não é suspeito, é um conhecido. -Respondeu Lizzy acenando de volta e se aproximando. 

Era um homem bastante velho de cabelos grisalhos e cabeça quase careca. Em cima da mesa à sua frente se encontravam vários acessórios, desde amuletos e anéis até poções: 

—Olha, olha, a mocinha veio aqui na Vila e não tirou um tempo para me visitar? -Riu aquele senhor. -Se ficar me ignorando assim, eu vou contar para o teu pai que está andando por aí com o teu namorado. 

—Ele não é o meu namorado! -Corou Lizzy. -E não fale nada para o meu pai... 

—Vocês brigaram de novo? 

Lizzy permaneceu em silêncio: 

—Tudo bem. -Suspirou o velho. -Mas o que vocês vieram fazer aqui? 

—Viemos comprar alguns equipamentos para ele, ele é novo nisso tudo. 

—Entendo, acho que você deu sorte então. Eu vi o Feiner ainda hoje! 

—Isso é ótimo! Eu vim procurar ele, mas não achava que ele realmente fosse estar aqui. Vamos, Kurokawa, não podemos perder tempo. 

—Até a próxima, Lizzy. -Sorriu o homem. 

—Tchau, tio! -Despediu-se Lizzy arrastando Kurokawa para outro lugar. 

—Aquele cara era um NPC? -Perguntou Kurokawa. 

—Não, quando você ver um NPC você vai perceber, eles são muito mais frios. -Respondeu Lizzy. -Existem algumas lojas de NPCs aqui na Vila, normalmente os itens que eles vendem são mais baratos, mas de menor qualidade. 

Eles caminharam por mais alguns minutos até pararam em frente a uma construção de pedra, bastante suja, com algumas teias de aranha e aparentemente abandonada: 

—Esse...é o lugar? -Perguntou Kurokawa. 

—Sim, é, ele não costuma vir aqui frequentemente por isso o lugar é um caos, mas não se preocupe, ele é o ferreiro mais confiável que eu conheço. 

Lizzy bateu na porta de madeira e gritou: 

—Tio Feiner! 

Mas não houve resposta: 

—Outro tio teu? 

—Não são tios de verdade, mas são amigos próximos da minha família. -Respondeu Lizzy abrindo a porta. -Vamos, ele deve estar ocupado. 

Eles passaram por uma sala repleta de espadas nas paredes e começaram a descer umas escadas. Conforme se aproximavam a temperatura aumentava junto dos ruídos metálicos. Eles chegaram ao fim das escadas e viram uma sala inexplicavelmente grande. Lizzy revistou a sala com seus olhos e rapidamente reagiu: 

—Tio Feiner! 

Era um homem de meia idade com braços e torsos robustos. Ele vestia uma roupa totalmente suja junto de um capacete para proteger seus olhos. Ele ao ver Lizzy, parou de martelar a espada que tinha em sua bigorna e levantou a viseira de seu visor: 

—Lizzy! 

Os dois correram em direção um ao outro e se abraçaram. Ele levantou-a com carrinho enquanto sorria: 

—Você cresceu desde a última vez que nos vimos! 

—Eu já não sou mais uma criança...poderia colocar-me no chão? -Pediu ela. 

—Ah, desculpa, acabei me deixando ser levado pelo momento. -Riu ele abaixando-a. 

A atmosfera familiar e aconchegante foi rapidamente destruída quando aquele homem percebeu a presença de Kurokawa: 

—Ei, pirralho, o que está fazendo aqui? Não vê que está atrapalhando o nosso momento? -Gritou Feiner num tom agressivo. -Dá o fora. 

—Ah, não, ele está comigo, tio.  

Feiner, desconfiado, ficou encarando Kurokawa por sólidos cinquenta segundos: 

—Ok, esse velho está começando a me irritar... -Pensou Kurokawa sentindo-se desconfortável. 

—Esse moleque fraco, triste e feio? Por favor, Lizzy, nós dois sabemos que você consegue muito melhor que isso. 

—Nós não namoramos! -Respondeu Lizzy mais uma vez. 

O velho apenas suspirou: 

—Mas bem, então, o que querem aqui? 

—Queria que o tio preparasse uma armadura e uma arma para ele, nosso orçamento não é muito grande então faça um desconto. -Pediu Lizzy. 

—Não se preocupe com dinheiro, depois de tudo o que o teu pai fez por mim, eu nunca seria capaz de cobrar algo de você. Mas antes disso temos um problema, não vale a pena fazer equipamentos para o nível atual dele. Ele vai rapidamente passar esses níveis iniciais e os equipamentos dele se tornarão inúteis. 

—Sim, eu estava pensando no mesmo. -Comentou Lizzy. -O tio pode fazer os equipamentos para o nível dez e voltamos quando ele tiver o nível necessário. 

—Tudo bem, mas temos outro problema, fazer um favor para você é uma coisa, Lizzy. Mas para um total desconhecido eu não posso confiar os meus equipamentos. Se ele quiser o que tenho a oferecer, ele vai ter que conseguir nível dez ainda hoje sem a tua ajuda, Lizzy. 

—Ah, sim, não há problema, até porque temos que fazer uma missão depois disso, então não podemos perder muito tempo aqui. -Respondeu Lizzy. -Pode tirar as medidas dele para armadura já agora então? 

O velho aproximou-se de Kurokawa e começou a observá-lo com atenção: 

—Eu estava pensando sobre o que vocês disseram e essa coisa de usar uma armadura não é bastante inútil? -Disse Kurokawa. -Se não vale a pena fazer equipamentos para o meu nível atual, também não vale a pena fazer equipamentos para o nível dez ou vinte. 

—Ei, não acha que está sendo arrogante demais, pirralho? -Perguntou Feiner encarando Kurokawa. -Qualquer inseto consegue atingir o nível dois, mas as coisas ficam bem diferentes depois de dez ou quinze níveis. Eu tenho dúvidas se você vai durar tanto tempo. 

—Seria melhor você ter pelo menos uma arma antes de fazer aquela missão. -Interferiu Lizzy. -Quando lutou contra aquele teu amigo você deve ter percebido a importância de uma arma. 

Kurokawa já estava cansado de lidar com aquele velho irritante, mas todos os conselhos de Lizzy até o momento tinham sido extremamente valiosos. Ele suspirou e cedeu: 

—Tudo bem então, me faça uma arma. -Disse ele indo embora. 

—Pirralho, volte aqui, você sequer me disse que tipo de arma! 

—Se você é tão bom quanto tenta parecer, então não deve ter problemas para saber que tipo de arma é melhor para mim. -Respondeu Kurokawa subindo as escadas. 

—Pirralho arrogante!!!  

—Eu peço desculpas por ele... -Disse Lizzy. -Ele é difícil de lidar, excêntrico, orgulhoso, insensível, mas eu acho que ele é uma boa pessoa. 

—Aquele pirralho é definitivamente estranho, teria cuidado a volta dele se fosse você. -Aconselhou Feiner. -E...volte para casa em breve, o teu pai está preocupado... 

—Ainda não... -Respondeu ela. -Eu ainda tenho que provar para ele e também para mim mesma, que sou capaz de ser independente. Eu já vou indo, tio Feiner. Tenho que acompanhar aquele pirralho. 

Ele sorriu enquanto se despediam: 

—Até a próxima. 


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Notas finais do capítulo

Deixa umas palavrinhas de amor (ou de ódio) aí.