Chalé escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 1
Capítulo Único - Chalé


Notas iniciais do capítulo

One-shot especial de halloween.



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Os fones nos ouvidos ajudavam ignorar o barulho que os irmãos caçulas, gêmeos de dez anos, faziam, implicando o tempo inteiro um com o outro, e a última discussão dos pais dentro do carro.

Rosalie sentia que estava cansada daquilo. Era sempre igual, os pais estavam a maior parte do tempo discutindo por qualquer coisa. Os irmãos implicavam um com o outro para chamar atenção.

Recentemente, sua mãe teve a ideia de levá-los para um fim de semana no chalé alugado longe da cidade. Rosalie sabia que era uma tentativa fracassada de unir a família. Tinha certeza de que Esme não demoraria perceber o mesmo.

Sentiu o carro diminuir velocidade, consequentemente o balanço irregular causado pela estrada de terra. Desligou a música, embora permanecesse com os fones nos ouvidos. A imagem ao redor lembrava uma floresta. Imaginou que a mãe houvesse perdido o juízo, quando se decidiu por um lugar como aquele.

— Ainda podemos desistir — ouviu o pai falar. O motor do carro ainda estava ligado, e ele, com as mãos ao volante. Aguardando que Esme resolvesse voltar à cidade.

— Irado! — gritou Connor, um dos gêmeos. Ele usava um boné do time de basebol na cabeça, escondendo os cabelos castanho-claros que a muito precisava de um corte.

— Podemos brincar lá fora? — perguntou Tristan. Diferente do irmão, Tristan não gostava de usar boné. E os óculos de grau que precisava usar, não era algo que se orgulhasse.

— Vão com calma — Esme avisou. — Ainda não conhecemos o lugar.

Os garotos arrancaram o cinto de segurança e saltaram do carro imediatamente. Connor não hesitou em empurrar o irmão enquanto corriam para longe.

— Você tem certeza disso? — insistiu Carlisle.

— Sim, estou certa disso. E seria ótimo se você não ficasse o tempo todo falando no celular. É para ser um momento em família.

Rosalie meneou a cabeça, puxando os fones de ouvido, custando acreditar que o propósito de tal viagem fosse funcionar. Às vezes pensava que a mãe era uma tola, por achar que daria certo.

— Doce ilusão — resmungou para que eles a ouvissem.

— Vai ser divertido, querida — Esme tentou convencê-la.

— Divertido para quem? — ironizou Rosalie. — Enrolou os fones de ouvido e enfiou no bolso dos jeans. — Você só pode estar de brincadeira — tornou resmungar, saindo do carro.

— Rose?

Fingiu não ouvir que a mãe chamava por ela. Viu os gêmeos voltarem correndo de detrás do chalé com uma bola de futebol americano, disputando a posse da mesma.

— Rose — Esme ainda chamava por ela. Preocupada que fosse muito longe. — Rose, dá para prestar atenção em mim, por favor?

Rosalie parou e olhou sobre o ombro, de má vontade.

— Obrigada, mocinha. Não vá muito longe, está bem?

O virar de olhos falou por si só.

Esme fingiu não ver. E, olhando para os meninos, pediu:

— Aonde encontraram essa bola?

— Lá atrás — Connor moveu a mão, tentando dar a mãe à localização exata de onde haviam encontrado a bola.

Rosalie ouviu a mãe chamar seu nome novamente.

— Estou falando sério.

— Que droga! — reclamou, voltando o caminho que tinha percorrido até então. Aproximou-se do chalé e ficou encostada na parede esperando que abrissem a porta e pudesse entrar.

Como sempre, o pai estava com o celular na mão. Dando mais importância ao trabalho que a própria família. Ele demorou em sair do carro fazendo tudo parecer ainda mais ridículo.

Esme olhou para ele sugestivamente. E ele logo se defendeu.

— É importante.

— É sempre importante — ouviu a mãe reclamar, ficando chateada. Rosalie imaginou que estivesse começando aceitar que a viagem havia sido um erro.

Os gêmeos estavam brigando pela bola. Rosalie assistiu à mãe entrar no meio da briga para separá-los como sempre fazia.

— Parem já com isso vocês dois — ela exigiu que os meninos obedecessem. — Vou deixar os dois de castigo. Estou falando sério — reforçou, quando os dois tentaram se pegar no tapa outra vez.

— A bola é minha — alegou Connor.

— Pensei que tivessem dito tê-la encontrado atrás do chalé — Esme lembrou, num tom que dizia ter pegado Connor na mentira.  — Já chega! — Ela confiscou a bola de uma vez por todas.

Carlisle ainda estava parado usando o telefone. Esme foi quem abriu a porta do chalé para os filhos entrarem. Rosalie entrou primeiro. O lugar era limpo e até que arrumado, para sua surpresa. Acima da lareira, a cabeça de um alce com chifres enormes lhe causou estranheza. Sentou no sofá, onde havia uma manta azul-marinho, colocando os pés calçados de botas coturno sobre a mesinha de centro.

Os gêmeos correram pelo chalé explorando os cômodos.

Esme empurrou seus pés para fora da mesinha, quando passou por perto.

— Não faça isso — alertou.

— Mamãe — Rosalie resmungou.

— Sabe que não deve fazer isso.

— Quem se importa?! — rebateu, achando tudo uma perda de tempo.

— Eu me importo mocinha.

Um instante depois, Connor parou atrás do sofá, espiando a conversa que Rosalie mantinha, no aplicativo de celular, com o namorado que ficou na cidade.

— Uhhh — murmurou o menino.

Imediatamente, o celular foi virado com a tela para baixo dificultando a espionagem.

— O que pensa que está fazendo? — Empurrou o irmão, ficando de joelhos no sofá.

Carlisle passou pela porta no momento que Connor revelava o conteúdo da mensagem.

— O namorado dela está pedindo “nudes”. Eu acho que ela não pode fazer isso. O que essa garota está pensando?

O pai parecia não ouvir, tão concentrado estava no próprio mundo.

— Me dá aqui esse telefone — Esme pediu.

— Não, é meu. — Rosalie escondeu o celular dentro do bolso recusando-se entregá-lo.

Carlisle falando ao telefone. Os gêmeos, agora, se queixando do namorado da irmã. Rosalie ouviu a mãe erguer a voz, derrotada.

— Querem saber de uma coisa?! Não precisam nem tirar as coisas do carro, porque vamos embora amanhã de manhã.

— E como vamos fazer para dormir sem nossas coisas? — Tristan se mostrou preocupado.

— Se virem. — Ela tomou o caminho da escada, que levava aos dois quartos e o único banheiro no chalé.

— Esme — Carlisle, por um mísero momento, finalmente pareceu se dá conta da família. — Vamos conversar. — Ele guardou o celular no bolso, e foi atrás dela.

Rosalie ouviu uma porta abrir e fechar. As vozes dos pais, ficarem abafadas entre quatro paredes. Ignorando o fato de que os dois voltariam a discutir a qualquer momento, pegou o celular do bolso e ligou para o namorado.

— Oi, gatinho.

— Então, o lugar é mesmo tão ruim assim? — Emmett estava na cama dele, assistindo a um jogo de beisebol enquanto falava com ela. 

— É praticamente no fim do mundo. Estou surpresa que o celular ainda funcione por aqui.

— Gostaria de estar aí com você — ele admitiu.

— Eu também — um segundo depois, completou: — Por que não vem? Te mando uma mensagem com o endereço.

— Não estou certo que seus pais queiram me vir chegando por aí.

— Eu iria gostar.

Tristan interrompeu a conversa ao chamar por ela, na extremidade oposta da sala. Ele observava o lado de fora do chalé pela janela.

— Rose — insistiu o menino.

— Estou no telefone, Tristan. Dá para esperar?!

— Connor — ele chamou pelo o irmão.

— Não quero. — Connor havia acabado de encontrar o celular da mãe dentro da bolsa e estava usando para jogar com ele.

O sol estava se pondo. A temperatura havia baixado um pouco desde que chegaram. Uma névoa densa se formava encobrindo a copa das árvores.

— Tem alguém lá fora. — contou, ainda olhando pela janela.

Nem Rosalie, nem Connor responderam nada.

— Está espiando a gente de detrás de uma árvore.

Finalmente, ela deu atenção ao que disse Tristan. Despediu-se de Emmett, e foi olhar na janela também.

— O que exatamente você viu? — pediu, apertando os olhos tentando enxergar além do vidro e da névoa.

— Ali — mostrou o menino, encostando o dedo no vidro da janela.

— Connor — Rosalie chamou o outro para ver também. — Vem cá, vê se consegue ver algo de diferente lá fora.

O menino levantou, levando o celular da mãe junto. Olhando pela janela, respondeu:

— Não vejo nada. Só essa névoa toda que não estava lá fora quando chegamos. — em seguida, voltou para o sofá.

Vendo o quanto Tristan havia ficado preocupado, encostou a mão em sua cabeça. Um jeito sútil de reconfortá-lo.

— Não é nada. Vamos, vai ficar tudo bem. Provavelmente, é só a sombra de uma árvore.

Tristan deu dois passos e então parou para falar:

— Eu sei que tinha alguém lá fora. Alguém alto demais… — sussurrou a última frase.

Rosalie levantou a vista, encarando o andar de cima, sabendo que os pais discutiam naquele exato momento, ainda que deixassem o tom de voz menos elevada.

— Acho que hoje não teremos janta — acrescentou Connor, com os olhos na tela do celular. — Eles estão brigando de novo.

Olhando no rosto do irmão, Rosalie ironizou:

— Sim ou com certeza?

Sem desviar os olhos da tela do celular, Connor respondeu:

— Com certeza.

Tristan olhou na direção da escada.

— Eu só queria que eles parassem de brigar — desabafou.

— É o que todos nós queríamos — Rosalie falou em voz baixa.

Connor largou o celular no sofá, de repente. Saltando, indo até à cozinha.

— Será que tem alguma comida nessa geladeira — comentou. — Porcaria, nem ligada está. Eu odeio isso — queixou-se furioso. — Odeio esse lugar.

— Okay — Rosalie se deu por vencida. — Eu vou lá fora buscar nossas coisas no carro.

— Não! — Tristan alertou. — Não vá, pode ser perigoso.

— Não tem ninguém lá fora. Você pensou ter visto, apenas.

Connor aproveitou para zombar do irmão.

— Mas é muito medroso mesmo.

— Não sou não.

Connor juntou os braços atrás das costas numa posição que lembrava asas, enquanto piava igual uma galinha. Tristan o empurrou. Os dois caíram no tapete rolando entre socos e tapas.

Rosalie suspirou cansada de tudo aquilo. Pôs os fones de volta nos ouvidos e voltou a sentar no sofá, com os pés na mesa de centro, ignorando o pedido da mãe.

Os meninos derrubaram móveis. Ela fingiu não os ver, permitindo que continuassem com a briga.

Levou cerca de cinco minutos para que os pais notassem o que acontecia no térreo. Deixando a própria discussão de lado, desceram a escada para intervir na briga dos filhos.

— Mas o que é isso? — Esme exigiu, entrando no meio da briga para separá-los, mais uma vez.

— Por que permitiu isso, Rose? — Carlisle questionou, segurando Connor enquanto Esme segurava Tristan.

Rosalie levantou, tomando o caminho da escada como não tivessem falando com ela.

— Onde está indo? — insistiu Carlisle. — Ainda estou falando com você.

Ela se virou bruscamente, sustentando olhar do pai.

— Já pararam para pensar que os dois fazem sempre isso, para chamar atenção?

As palavras alcançaram o coração da mãe, que se esforçava em unir a família.

— Querida, me desculpe — Esme pediu.

— Sabe — Rosalie tornou a falar —, estou cansada de tudo isso. Das discussões de vocês. Das brigas dos gêmeos por qualquer coisa. Estou desesperada para ter dezoito anos e poder tomar as rédeas de minha vida.  Irei para a universidade mais distante que me aceitar. Eu juro que farei isso.

— Rose, meu bem — lamentou Esme, vendo a filha subir a escada, apressada. — Eu não sabia que se sentia assim. Volte aqui — suspirou, pois, ela havia desaparecido escada acima. — Vamos conversar — concluiu num tom de derrota. Uma porta lá em cima bateu revelando que não teriam conversa alguma.

Os gêmeos tentaram se pegar novamente, e Carlisle os separou.

— Vou colocar os dois de castigo, estou avisando.

— Não temos comida nesta casa — Connor se queixou com ele. — Que tipo de pais traz seus filhos para um lugar sem comida?

— Temos comida no carro — Carlisle lembrou. — Vem comigo, vamos pegar.

Enquanto os pais e o irmão saíam para pegar as coisas no carro, Tristan esperou na porta. Os braços estendidos ao lado do corpo, espiando, assustado, além da névoa.

— Tristan — Esme chamou —, vem pegar sua mochila filho.

O menino balançou a cabeça se recusando. Quando a mãe insistiu, correu para o interior do chalé.

— O que deu nele? — Carlisle questionou, cheio de sacolas.

— Ele é um maricas — Connor caçoou.

— Não fale assim de seu irmão.

— Mas é verdade.

— Connor — Esme foi quem falou dessa vez. — Não volte a falar assim dele.

— Tá bom — resmungou, carregando a própria mochila e também a do irmão para dentro do chalé. Os pais ficaram para trás. — Aqui está sua mochila, bebezão. — Mas Tristan não estava na sala, nem na cozinha conjugada. — Para onde foi agora? — resmungou, atirando as mochilas no sofá.

Os pais entraram carregados de coisas. A mãe foi preparar o jantar com o que tinham.

No quarto que dividiria com os irmãos, Rosalie reparou que Tristan estava na cama, enfiado embaixo da coberta. Retirou os fones de ouvido, levantando para ir falar com ele. Puxou o cobertor gentilmente, sentando na beirada do colchão.

— O que está acontecendo?

— Ainda tem alguém espiando lá fora.

— Você chegou a ver como ele é? Talvez seja apenas um animal da floresta.

— Não dá para saber. Está escuro, tem névoa. E está sempre atrás de alguma coisa. Só sei que é bem alto.

Rosalie não pôde negar que sentiu uma pontada de medo.

— Okay. — Ela afastou o cobertor, que permanecia sobre as pernas de Tristan. — Você vai contar agora mesmo para mamãe e papai o que viu.

— Não irão me ouvirem — lamentou o menino.

 — Mesmo assim, vai tentar.

— Rose?

— O quê?

— Estou com medo. Connor vai zombar de mim como sempre faz.

— Que se dane o Connor. — Rosalie segurou na mão dele. — Vem, você vai falar com eles agora.

Tristan hesitou. Ela insistiu. O menino acabou aceitando. Os dois saíram do quarto de mãos dadas, finalmente.

Chegando à sala, os pais discutiam novamente. Connor estava lá, assistindo de perto a discussão. O olhar frustrado que lançou aos irmãos foi verdadeiro.

Tristan olhou para ela como dissesse “eu avisei”. Diferente do irmão, parecia prestes a chorar.

— Está bem — Rosalie tentou distraí-los fazendo o que tinha de ser feito. — Peguem suas mochilas e subam para tomar banho. — Ela soltou a mão de Tristan. O menino pegou a mochila tornando a subir a escada, logo atrás do irmão. — Connor — alertou —, não encrenca com ele. Já deu por hoje.

Connor lançou a ela um olhar de raiva.

— Não tenho medo de cara feia. — Assim como os irmãos, ela também subiu a escada. Connor iria empurrar Tristan, mas Rosalie foi mais rápida ao segurar seu braço.  — Não é desse jeito que vai conseguir a atenção deles — repreendeu.

Grunhidos de fúria e frustração deixaram os lábios de Connor. Ele se desvencilhou da mão de Rosalie sacudindo o braço com força exagerada. Logo em seguida, saiu de perto pisando firme no assoalho de madeira, desaparecendo dentro do banheiro.

— É melhor o deixar terminar — Sugeriu a Tristan, quando o olhar desanimado dele cruzou com o seu.

Pouco mais de uma hora havia se passado quando, finalmente, Esme foi chamá-los no quarto para jantar. Os três estavam de pijama, se preparando para dormir. Os gêmeos vestiam pijamas iguais, porém, em cores diferentes. Connor vestia vermelho e Tristan, azul.

Os três saíram do quarto em silêncio.

— O jantar está uma delícia — Esme tentou animá-los.

— Tanto faz — Rosalie resmungou. Sabia que estava sendo ingrata, mas não se importava. Eles mereciam que agisse dessa maneira, por não se importarem com os filhos como pareciam se importar com as discussões.

Ao sentar à mesa, reparou que o pai estava novamente usando o celular. A mãe não demorou ficar de cara fechada, incomodada por ele não dar devida atenção à família.

O jantar foi servido à base de um silêncio desconfortável. O som dos talheres soou agourento junto aos ruídos do próprio chalé.

Carlisle ainda usava o celular quando saiu da mesa. Rosalie viu a mãe levar a louça para a pia com uma expressão de derrota no rosto.

Somente depois de ajudar a mãe com a louça, voltou para o quarto.

Lembrou-se do que Tristan disse, sobre ter alguém espiando. Foi quando se aproximou da janela, puxando a cortina para espiar do lado de fora. Árvores, algumas muito altas, bloqueavam a visão. A névoa também não ajudava. Avistou o carro do pai estacionado em frente ao chalé, nada mais.

O celular começou tocar em cima da cama, onde havia deixado quando desceu para jantar. Emmett estava fazendo uma chamada de vídeo.

— Oi, gata — A imagem dele surgiu na tela. Ele sorria lindamente, mostrando covinhas nas bochechas. — Como estão às coisas por aí? Seus pais ainda estão discutindo muito?

— Nada mudou. Estamos na mesma. Se bobear, ainda pior. Foi uma ideia totalmente errada essa de minha mãe trazer a gente para cá. Nossa família é um caso perdido.

— Está tão ruim assim?

Rosalie sacudiu a cabeça.

— Como não bastasse, Tristan insiste em dizer que tem alguém nos espionando.

— Você chegou ver alguma coisa?

— Nada. Nem o Connor. Por outro lado, ele fala com tanta convicção que estou começando ficar com medo. Agora mesmo, quando o celular tocou, estava espiando pela janela para ver se via alguém. Talvez esteja ficando paranoica também.

— Eu no lugar de vocês, estaria pensando no Slender Man.

— Sinceramente, não sei o que pode ser pior, se acreditar numa lenda ou saber que tem um criminoso nos espiando, planejando uma forma de nos atacar.

Os gêmeos entraram no quarto, pegando a conversa pela metade.

— Quem ou o quê é Slender Man? — Connor questionou. Sem esconder sua curiosidade, foi sentar ao de Rosalie para participar da conversa.

Tristan ficou na cama ao lado. A mesma que ele e o irmão iriam dividir enquanto estivessem no chalé.

— Fala — Connor insistiu que Emmett falasse. — Quem é esse de quem vocês estavam falando.

Emmett prestou atenção na expressão de Rosalie, antes de começar a falar.

— Slender Man, é um homem exageradamente alto e magro. Ele tem a cabeça branca e inexpressiva. Sua roupa é um terno preto, e seus braços são muito longos, as unhas compridas chegam a encostar-se ao chão. Dizem que costuma espiar suas vítimas antes de capturá-las. E geralmente está ligado à floresta. Em sua maioria as vítimas são crianças.

— Por que eu nunca fiquei sabendo disso antes?

— Em alguns casos, apaga a memória. Além de causar alucinações e desespero, fazendo que sejam capturados fácil e rapidamente.

— Caraca! — Connor deixou escapar. — Eu nem fazia ideia que uma coisa dessas pudesse existir. E nós estamos sozinhos no meio de uma floresta. Nossos pais só podem ser malucos.

Rosalie notou o desespero no olhar de Tristan, no outro lado do quarto.

— Okay — falou para Emmett e Connor. — Slender Man não passa de uma lenda urbana. É um personagem fictício, nada mais que isso.

— Que chatice! — Connor levantou para ir para a cama que dividiria com Tristan. — Eu gostaria de saber mais.

Tristan estava no mesmo lugar. As mãos agarradas à beirada do colchão, como temesse se afastar. Connor subiu na cama e entrou embaixo das cobertas, ignorando totalmente o irmão.

Rosalie não conseguiu fazer o mesmo.

— Emm. — Ela olhou no rosto do namorado que ainda aparecia na tela do celular. — Preciso desligar agora.

— Ficou chateada por ter contado a seu irmão sobre Slender Man?

— Não, não é isso.

— Que bom.

— Emm, eu preciso mesmo desligar.

A forma como olhou para ela, demonstrou arrependimento.

— Não estou chateada com você. De verdade.

— Está certo.

Rosalie notou que ele olhou para o lado, quando alguém bateu na porta de seu quarto.

— É minha mãe — contou.

Ouviu a voz da mãe dele se queixando da bagunça no quarto. E acabou rindo da cara que ele fez.

— Eu amo você — Emmett falou antes de desligar.

Ela iria deitar, quando notou Tristan ainda na mesma posição, sentado na beirada da cama. Acabou levantando e indo até lá. Sentou ao lado dele. Olhou na mesma direção que ele olhava. Não reparou em nada diferente. Então, voltou olhar no rosto dele.

— Está tudo bem, Tristan. Tudo o que Emmett falou faz parte de uma lenda. Não é real, sabe?! Estamos seguros aqui.

— Não estamos, não — o menino gritou.

Rosalie sentiu um arrepio diante o que disse. O olhar de Tristan era a personificação do medo.

— Não estamos — ele tornou a gritar. — Não. Não.

— Calma, Tristan. — Rosalie o abraçou. — Calma. — O menino tremia por inteiro.

— Eu posso dormir com você? — pediu, após um instante. A respiração voltando ao normal.

Apesar de estar com medo, Rosalie se esforçou em não deixar o irmão perceber.

— Claro que você pode.

— Você nunca deixa Connor e eu entrar no seu quarto — Tristan lembrou.

— Ah, mas aqui não é meu quarto. E aquela não é minha cama de verdade.

— Tem razão — concordou o menino.

— Vem — Rosalie ficou de pé. Tristan fez o mesmo. Na cama ao lado, puxou as cobertas deixando que o irmão subisse no colchão primeiro.

Connor ressonava na outra cama, exausto da viagem.

Rosalie deitou ao lado de Tristan. O menino encarava o teto. Alguma coisa caiu no andar de baixo. Ouviu o pai se queixando com a mãe de alguma coisa. Tristan estremeceu ao seu lado.

— Está tudo bem. É só o papai e a mamãe discutindo de novo.

— Rose?

— O quê?

— Você promete não me deixar sozinho enquanto estivermos aqui.

Ela olhou no rosto dele, bem de pertinho. Sem ser capaz de ignorar tamanha aflição.

— Eu posso tentar.

— Você tem de fazer. Não posso pedir ao papai ou a mamãe.

Rosalie sabia a que o irmão se referia.

— Feche os olhos — pediu, estendendo a mão para apagar a luz.

Tristan se precipitou, segurando sua mão.

— Não. Você ainda não prometeu.

— Eu não vou a lugar algum. É hora de dormir.

— Não é só sobre o agora. — A mão dele estava sobre a dela, impedindo de apagar a luz do abajur.

Rosalie concordou, sem dar muita importância.

— Está bem. Agora dorme.

Tristan se encobriu por inteiro. Ela finalmente apagou a luz.

Tarde da noite, Rosalie precisou levantar para ir ao banheiro. Retornando ao quarto encontrou a janela aberta, a luz da lua entrando no cômodo, o vento soprando levemente a cortina.

Mesmo desconfiada, caminhou até lá e fechou a janela. Tentou enxergar além do vidro e da escuridão, mas não percebeu muita coisa. Por um instante, pensou ter visto a silhueta de duas pessoas, uma maior que a outra, caminhando em meio à escuridão.

Sacudiu a cabeça, sabendo que estava imaginando aquilo. Estava com sono. E as coisas que Emmett disse ainda estavam em sua cabeça.

[…]

Acordou pela manhã com a voz dos pais no andar de baixo. Provavelmente, discutindo por alguma coisa.

Connor entrou e saiu do quarto correndo, levando um objeto qualquer na mão.

Ela olhou para o espaço na cama, o amontoado de cobertas logo ao lado. Colocou a mão em cima, lembrando o quanto Tristan esteve com medo à noite. A mão afundou nos cobertores vazios. Ela tomou um susto.

— Connor? — chamou em voz alta.

— O quê? — o irmão respondeu do banheiro.

— Tristan está aí com você?

— Aquele medroso ainda está dormindo.

Rosalie se viu sentando na cama com um pulo. Os óculos de Tristan estavam na mesinha de cabeceira ao pé do abajur.

— Não, ele não está — falou. Em seguida saiu da cama, correndo pelo corredor com os pés descalços. — Tristan? — alcançando a escada, desceu dois degraus. — Mamãe. Papai. Tristan está aí com vocês?

Esme saiu de detrás da ilha, secando as mãos no pano de prato. Carlisle bebia uma xícara de café e, mesmo àquela hora da manhã, já estava com o celular na mão.

— Do que está falando? — pediu, olhando no alto da escada onde estava Rosalie. — Tristan ainda não levantou.

— Tristan não está aqui, mas os óculos dele estão — Rosalie soltou consciente de que algo ruim poderia ter acontecido enquanto dormiam.

— Como assim, não está aqui? — repetiu a mãe. — Ele não sairia sozinho, muito menos sem os óculos dele. — Rosalie reconheceu o tom de pânico na voz dela.

— Eu achei que estivesse dormindo, mas não está. Ele pediu para dormir na minha cama a noite. Estava com medo. Na verdade, ele estava apavorado.

Esme já estava alcançando o primeiro degrau da escada. O coração acelerado. O olhar em Rosalie, atento a tudo o que dizia.

— Mamãe — lembrou Rosalie. — A janela estava aberta quando voltei do banheiro no meio da noite. Acontece que eu tinha fechado antes de ir para a cama.

— Tristan — Esme gritou, correndo escada acima. — Tristan? — escorregou no corredor, precisando segurar na parede para não cair. — Tristan? — Ela entrou no quarto. Arrancou as cobertas da cama, chamando o nome de Tristan. Rosalie ficou parada na porta vendo a mãe procurar pelo o irmão em todos os cantos do quarto, como ele estivesse se escondendo como fazia quando menor.

Connor parou bem ao lado dela. Os olhos arregalados, sem entender o que estava acontecendo.

— A mamãe pirou? — sussurrou.

De repente, Esme se voltou para ele.

— Onde está seu irmão, Connor?

— Eu não sei.

— Não minta para mim.

— Estou falando a verdade, mamãe.

Esme se afastou deles. As mãos nos cabelos, sem saber o que fazer.

— Tristan? — tornou gritar por ele.

Rosalie tomou a mãe em um abraço.

Connor correu pelo corredor chamando pelo pai.

— Papai, papai. — Do alto da escada, continuou: — Tristan desapareceu e mamãe está surtando.

Carlisle, finalmente, largou o telefone subindo a escada a passos largos alcançando Connor num instante.

— Do que está falando?

— Tristan sumiu — o menino tornou falar.

Os dois se apressaram pelo corredor. Em pouco tempo, estavam no quarto.

— Esme? — ele chamou, indo até ela.

— Carlisle, Tristan desapareceu — contou alarmada. — Temos de encontrá-lo.

Finalmente, Carlisle compreendeu a real situação.

— Papai — Rosalie chamou. — Acho que alguém o levou. — Vendo o olhar de quem não está entendendo nada estampado no rosto do pai, explicou: — De madrugada, quando voltava do banheiro encontrei a janela aberta.

— Temos de chamar a polícia — Carlisle se apressou saindo para o corredor outra vez.

— Papai — Rosalie tornou chamar. — Desde que chegamos, ele disse que tinha alguém nos espiando. Mas também disse que não conseguia ver o rosto, que talvez fosse por conta da névoa. Ele estava com muito medo.

— Por que não me contou isso antes?

— Você e a mamãe estavam discutindo, como sempre.

Carlisle se envergonhou.

— Fiquem juntos — ele ordenou enquanto se afastava.

— Onde está indo? — Esme pediu.

— Chamar a polícia.

Esme encobriu o rosto com as mãos enquanto chorava. Connor abraçou a mãe.

— Vamos encontrar ele, mamãe. Tristan é medroso, mas também é inteligente. — Então lembrou: — Ele esqueceu os óculos, talvez não seja tão inteligente assim.

Não fosse o que estava acontecendo, Rosalie teria dado risada do que disse.

— Tristan… — Esme gemeu. — Meu Deus, onde estará meu filho?!

Rosalie se juntou aos dois no abraço.

— A polícia irá encontrá-lo, mamãe — ela quis muito acreditar no que dizia. E se esforçou para isso.

[…]

A polícia chegou ao chalé com cães farejadores. O dia estava quase no fim, e nem uma só pista do paradeiro de Tristan foi encontrada. Foi Rosalie quem descreveu as roupas que o irmão usava as autoridades. Os pais não souberam dizer como ele se vestia quando desapareceu.

Três viaturas da polícia estavam diante o chalé quando Emmett parou o jipe logo ao lado do carro de Carlisle. Saltou do carro, preocupado com Rosalie.

Primeiro avistou o pai dela conversando com alguns oficiais. A mãe abraçada a Connor. Então, avistou Rosalie, sentada num tronco tombado, os braços em volta dos joelhos. Ela tinha uma manta sobre os ombros, e seus olhos estavam úmidos.

Aproximou-se devagar.

— Vim o mais rápido que pude — contou, sentando ao lado dela no tronco. Passando o braço sobre seus ombros, trazendo-a para perto, ouviu-a soluçar contra seu peito.

— Meu irmãozinho está desaparecido — repetiu o que tinha dito a ele por telefone. — E o pior de tudo que tenho quase certeza de que alguém o levou.

Emmett beijou no alto de sua cabeça.

— Eles irão encontrá-lo. Contou a eles tudo o que Tristan vinha te falando desde que chegaram?

— Uhun…

— Vai dar tudo certo, você vai ver.

[…]

Carlisle e Esme entraram na igreja de mãos dadas. Rosalie e Connor, logo atrás deles. Familiares e amigos se reuniram para um culto em memória de Tristan. Há um ano ele havia desaparecido do chalé alugado pela família para o fim de semana e nunca mais foi encontrado.

Emmett chegou pouco depois de o reverendo começar a falar.

— Desculpe o atraso — sussurrou ao pé do ouvido de Rosalie, após sentar-se junto dela. Percebendo o olhar de tristeza, segurou sua mão.

Rosalie sentiu o coração aquiescer. Sabia que podia contar com Emmett para qualquer coisa. Não importa o que acontecesse, estaria ao seu lado.

Connor olhava os pais de mãos dadas, e também a irmã com o namorado. Sentiu-se sozinho. O olhar de Rosalie encontrou o dele. Sabia a imensa falta que sentia do irmão gêmeo, apesar das brigas. Ofereceu a mão livre para Connor segurar. Ele aceitou grato por não estar sozinho.

De vez em quando, Esme limpava o rosto com o lenço. Carlisle estava sempre ao seu lado agora, lhe dando forças, ajudando enxugar suas lágrimas. As discussões tinham deixado de fazer parte da família. A dor da perda de Tristan os unira.

O desejo de Esme era que a família fosse unida. Se aproximasse mais, esse havia sido o motivo de terem ido passar o fim de semana no chalé. Tristan era apenas uma criança, não merecia o que aconteceu.

Antes de saírem da igreja, o reverendo foi falar com eles. Depois, alguns amigos fizeram o mesmo.

Connor foi para fora da igreja, acompanhado do filho de um vizinho. O garoto era apenas um ano mais velho que ele. Eles costumavam brincar juntos algumas vezes.

Rosalie viu a tia abraçar a mãe e dizer, num tom de voz afetuoso, que ficariam todos bem.

Saiu de lá com Emmett ao seu lado. Olhando para ele pensou que, com seu porte grande e forte, ficava muito bem com terno e gravata.

— Você está bem? — ele sondou, a caminho do estacionamento.

— Ainda me sinto culpada por ter deixado Tristan sozinho aquela noite. Mesmo que para ir ao banheiro.

— Não foi culpa sua o que aconteceu. Ele não ficou sozinho, ficou com Connor.

— Mamãe ainda se culpa por ter nos levado para o chalé. Papai diz que não é culpa de ninguém. Eles estão unidos agora. Papai não dá mais tanta atenção ao trabalho como antes. E tem estado mais presente para mim e Connor — ela se calou um instante. — Eu queria que eles se entendessem, mas não há esse preço.

Emmett ergueu a mão dela até a altura dos lábios depositando um beijo no dorso de pele macia.

— Vocês irão conseguir superar.

— Por que tinha de acontecer isso a Tristan para que nossa família ficasse unida? Não é justo. Não é justo com ele. Ele merecia estar aqui.

Emmett segurou o rosto dela entre as mãos e a beijou brevemente nos lábios.

Carlisle e Esme se aproximaram de mãos dadas. Connor estava com eles agora.

Rosalie se despediu dos pais e do irmão. Iria voltar para casa com Emmett.

O carro da família deixou o estacionamento primeiro. Emmett os seguiu de perto com o jipe.

O celular de Rosalie vibrou com uma mensagem no aplicativo de conversas. Connor havia escrito, usando o celular que ganhou no último aniversário: “tinha alguém nós espiando no estacionamento”.

Ela olhou o carro à frente. Connor olhava para ela pelo retrovisor traseiro.

— O que foi? — Emmett perguntou. Notando a mudança em seu rosto.

Rosalie arrancou o cinto para girar o corpo no assento e olhar para trás, na estrada.

— O que está fazendo? — questionou novamente, sem saber se olhava para ela ou prestava atenção na direção.

— Connor acabou de enviar uma mensagem. Havia alguém nos espiando.

— Está vendo alguma coisa agora?

— Não. Mas também não via quando Tristan dizia ver.

— Havia muitas pessoas deixando a igreja quando saímos. Ele deve apenas ter imaginado. É normal, o dia de hoje trouxe muitas lembranças.

Encostou a mão na lombar dela, sutilmente sugerindo que se sentasse.

— Agora sente. Põe o cinto. — como ela não fez o que pediu, insistiu: — É perigoso o que está fazendo. Coloque o cinto, por favor, Rose.

Ela acabou sentando e colocando o cinto de segurança novamente. Tornou a ler a mensagem de Connor, antes de apagá-la do celular de uma vez.

— Você ainda acredita que tudo isso possa estar ligado, de alguma forma, a lenda do Slender Man?

— Não sei mais em que acreditar. — Emmett segurou sua mão. — Tente não pensar mais nisso, está bem?

Ela assentiu. Sabendo que talvez jamais viessem, a saber, de verdade o que aconteceu a Tristan na noite que desapareceu do chalé sem deixar rastros.

Fim

 


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Notas finais do capítulo

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