Shh! that's a secret escrita por morphmagus


Capítulo 1
Capítulo Único




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ATO 1 - “O começo do segredo”

 

 

Hogwarts, sala de monitoria.

20h15min.

 

    Lily se encontrava deitada no pequeno sofá que existia na sala dos monitores, tinha a cabeça apoiada num dos braços do sofá e as pernas pendiam do outro lado, já que o sofazinho não suportava seu tamanho. Balançava os pés no ritmo de uma música trouxa, se ela estivesse certa era uma dos Beatles. Fazia isso para se distrair do pensamento de que James Potter estava prestes a entrar pela porta e deixá-la completamente sem reação. Ainda não sabia o que, de fato, havia acontecido para que o garoto que ela jurava odiar a vida inteira, se tornasse o motivo da confusão de seus pensamentos e do calor que a preenchia toda vez que estavam no mesmo cômodo. 

  O beijo que trocaram duas noites atrás, voltou ao seus pensamentos, fazendo-a se contorcer no sofá e suspirar sofregamente. Por Merlin, o beijo do Potter iria levá-la a loucura. Sentia que era uma daquelas meninas do quarto ano que quase entravam em erupção quando o garoto passava e exibia o menor dos sorrisos ou um olhar rápido. Sequer conseguia imaginar a sua reação ao vê-lo, talvez fizesse o mesmo que as tais garotas. A verdade é que nesses dois dias em que se esforçou ao máximo para evitá-lo, durante todos os segundos que se passaram, no intuito de pensar e ser capaz de uma reação controlada, Lily não chegou a nenhuma conclusão além de que James Potter beijava muito bem. Ah, e é claro, a curiosidade sobre todos aqueles de boatos de que o garoto faz outras coisas muito bem. 

  Tão perdida nos pensamentos que estava nem percebeu que James havia entrado na sala e, com um aparente nervosismo, a observava. Ele, assim como Lily, não sabia como agir perto dela. Na sua mente, um letreiro neon escrito “Você estragou tudo, idiota!” piscava sem parar, fazendo-o se martirizar como se tivesse cometido o pior dos pecados. Bagunçou os cabelos e ajeitou o óculos que escorregava na ponta do nariz. Foi até a mesa perto de onde Evans estava fazendo o máximo de barulho que conseguiu, tentando não entrar de surpresa. Quanto mais evitasse irritar a garota, melhor pra ele. 

  “Hmn… é… ei, Potter.” A visão de Lily Evans vermelha e gaguejando por conta de sua presença foi satisfatória por alguns segundos, já que na maioria das vezes aquela era sua própria reação. 

  “Olá, Evans.” Se esforçou o máximo para falar sem gaguejar. “Vamos decidir os horários das rondas?” 

  Lily balançou a cabeça e soltou um muxoxo confirmando. E pela próxima hora tudo que houve de diálogo, além dessas míseras palavras trocadas, foi sugestão de rondas e murmúrios em concordância ou negação. Aquilo estava irritando a garota. Tudo bem que estava evitando James, mas tudo que menos queria era que aquilo acontecesse. Sentia falta das conversas paralelas e brincadeiras que ele fazia nas outras reuniões em que apenas os dois estavam. Quase três meses naquela rotina haviam feito a garota se acostumar e passar a apreciar a companhia de James. Naqueles tempos de trevas e em que a maioria dos assuntos abordados tinham relação com Você-sabe-quem, conversar com James era uma das melhores coisas de seu dia. Com ele, Lily esquecia completamente das outras coisas, até mesmo dos N.I.E.M.s. 

  Sem aguentar passar mais cinco minutos naquela mesma coisa, Evans falou a primeira coisa que passou por sua mente. 

  “Acho que vou no próximo jogo de quadribol.” Potter levantou o rosto, olhando-a e erguendo uma das sobrancelhas grossas. “Marlene me chamou, insistiu na verdade. E… não sei, quero ver se você é tão bom capitão quanto todos falam.”  

  “Você já me viu jogar outras vezes, Evans. Sabe que jogo bem.” Tentou manter-se sério, mas por dentro gritava de alegria que ela havia quebrado aquele pseudo-diálogo que estavam tendo. “Qual a diferença dessa vez?” 

  “Eu vou realmente assistir, sabe, julgar com propriedade.” Largou a pena em cima do pergaminho, deixando que manchasse a ponta do mesmo de tinta. “Todas as outras vezes eu fui arrastada pela Marlene e nunca prestei atenção. Por que eu me daria ao trabalho de assistir o jogo de um bando de egocêntricos liderados por um ainda mais que eles?” 

  “Eu até me ofenderia, se você não estivesse aqui, sentada, conversando com esse que chama de egocêntrico.” Com um sorriso ladino, a observou ruborizar e em seguida revirar os olhos. 

  “Se preferir podemos voltar aquele diálogo interessantíssimo que estávamos tendo.” Seus dedos estavam inquietos, desenhando círculos sobre o pergaminho. “Eu não disse que isso ainda é o que penso.” 

 “Não, aquilo mal era um diálogo.” Levantou-se e caminhou até o sofá. “Então não me acha mais um egocêntrico?”

  “Não é para tanto, Potter. Ainda te acho egocêntrico, só não acho que isso é tudo que você é.” Ela se virou, ainda sentada na cadeira, na direção em que o garoto estava. “Agora até te acho uma boa companhia. Ah, e suas piadinhas até que são legais.”

  “Se alguém me dissesse que eu estaria, numa sala de monitoria, ouvindo Lily Evans, a temida Evans, me elogiar, eu mandaria a pessoa para o St. Mungus na hora. E em uma viagem sem volta.”

  “Não exagere, Potter. Já falei que se preferir podemos voltar aos diálogos de antes.” Ele balançou a cabeça, fazendo os cabelos ficarem ainda mais bagunçados, fazendo Lily desejar arrumá-los. “Você é uma ótima companhia, não fala de Você-sabe-quem a todo instante. Ultimamente parece que as pessoas só falam disso. Eu entendo o porquê, mais do que muitos, mas é exaustivo.”

  “Eu sei, entendo um pouco do que sente, Lily.” O nome dela saiu doce de seus lábios. “Tenho amigos que correm riscos. Por Merlin, nunca estive tão preocupado com Remus e com Sirius, sabe Merlin o que aquele maluco faria com um lobisomem e um traidor de sangue.” Lily fechou os olhos e sacudiu a cabeça, tentando afastar as imagens que sua mente insistia em criar. “Nunca estive tão preocupado com você.” 

  A última frase que James deixou escapar causou uma onda de arrepios em Lily. Seus amigos diziam que ele se preocupava com ela, mas ouvi-lo dizer isso, da maneira como falou, um suspiro pesaroso e cansado, era completamente diferente. Num ímpeto, Lily levantou e andou os poucos passos que os distanciava. Abraçou a cintura dele, encostando a cabeça em seu peito, ouvindo o coração dele se acelerar. Rapidamente, James rodeou os braços nela, mantendo uma mão fazendo carinho nos fios ruivos. Encostou sua cabeça na dela, inspirando o cheiro adocicado. Ficaram vários segundos, talvez minutos, naquela mesma posição. 

  “Também me preocupo com você, James.” Ergueu a cabeça para conseguir encará-lo sem quebrar o abraço. “Você é um traidor de sangue, afinal. Um que é amigo de outros traidores, de nascidos trouxas e um lobisomem. Além de ser um maldito grifinório que se jogaria na frente de Você-sabe-quem, sem pensar nem mesmo uma vez, apenas para salvar quem ama.” 

  “Você fala como se não fosse igualzinha. Quantas vezes se jogou na frente daquele Ranhoso quando fazíamos aquelas brincadeiras estúpidas?” Apesar de falar do Snape, James tinha um leve sorriso por falar da coragem da grifina. 

  “Não me fale daquele estúpido.” Fez uma careta de nojo misturado com pena. Apesar daquela careta, James sabia que ela carregava uma grande decepção por aquele que já chamou de amigo. “Fico feliz que admite que eram brincadeiras estúpidas.” 

  “Uma hora o homem precisa crescer.” Lily se soltou do abraço rindo dele. 

  Sentaram no sofá lado a lado, ambos com a cabeça apoiada no encosto do sofá, ficando alguns minutos em silêncio. James a olhava de lado, observando os fios ruivos espalhados, os olhos verdes atentos a tudo, os lábios vermelhos entreabertos. Merlin, como ele queria beijar aquela boca e nunca mais parar. Sentia que poderia passar dias naquela mesma posição, apenas a olhando. Mesmo que desejasse mais que isso, já era suficiente. 

  “Precisamos terminar o horário das rondas. Ainda precisamos marcar uma reunião o quanto antes com todos os monitores. A monitora da Sonserina está muito desleixada, isso pode causar problemas. Aquela corvina veio me dar algumas sugestões, acho que temos que cogitar algumas, eram realmente muito boas…” 

  Lily continuou tagarelando, enquanto James continuava da mesma forma de antes. Um sorriso ia se abrindo em sua cara conforme a garota ficava entusiasmada contando as sugestões da tal corvina, era uma pena que seu cérebro não conseguia se concentrar em nada mais do que os olhos verdes e os lábios de Lily. 

  “Me desculpe.” 

  A única coisa que precedeu o que ele faria a seguir foi este pedido. Em segundos, James colou os lábios no de Evans, que, após alguns milésimos, correspondeu ao toque, entreabrindo os lábios, permitindo que a língua do maroto acariciasse a sua. Levou as mãos aos cabelos negros e bagunçados dele, anotando mentalmente que eram mais macios do que imaginava. Ele puxou sua cintura, apertando-a de leve. Lily suspirou quando James sugou seu lábio, arranhou a nuca do mesmo levemente, sentindo-o arquear as costas por conta da onda de arrepios. 

  Pararam o beijo e ficaram apenas se encarando, os cabelos bagunçados, os olhos desnorteados e os corações acelerados. Devagar, Lily passou uma das pernas por James, ajeitando-se no colo do moreno que arfou com a recém descoberta ousadia dela. Potter apoiou ambas as mãos nos quadris da ruiva, pressionando-a contra si. Lily puxou os fios da nuca de James, mantendo a cabeça dele inclinada para trás, e distribuiu beijos por seu maxilar e pescoço, recebendo apertos pelo corpo, onde a mão dele percorria, como resposta. Iniciaram um beijo mais desesperado e quente que o anterior. 

  Tão de repente como começou, aquilo terminou. Como se tivesse despertado de um sonho, Lily pulou do colo dele rapidamente. James a encarou sem entender o que havia feito de errado. 

  “Me desculpe se fui rápido demais.” O moreno passou a mão pelos fios, suspirando nervoso.

  “Nós… eu… não deveríamos fazer isso.” Lily tinha a respiração ofegante, o peito subia e descia de forma veloz.

  “Por que?” Franziu a testa em dúvida. “Se ambos queremos, não vejo porque não faríamos.” 

 “Você é você, James. Ninguém nos deixaria em paz, não vou enfrentar uma Hogwarts inteira.” Suspirou, lutando para se controlar e clarear a mente. “E como posso ter certeza que isso iria dar certo?”    

  “Nunca podemos ter certeza de nada, Lily. Só descobrimos quando tentamos.” Se aproximou dela, levando a mão até a dele e se pondo a fazer uma leve carícia ali. “Podemos tentar descobrir isso, só nós dois. Hogwarts não precisa saber, ninguém precisa além de nós. Eu estou disposto a tentar.”

  Encarando os olhos castanhos de James Potter, Lily deixou-se cogitar aquela proposta. Não podia negar que havia algo surgindo em seu peito com relação a ele e que seu peito gritava para que aceitasse. Não era uma promessa de que ficariam juntos para sempre, muito menos um acordo de pura curtição. Era realmente tentar algo, ver como funcionavam. 

  “Vamos tentar.” 

 

 

ATO 2 - “A gata do inferno” 



Hogwarts, algum corredor.

00h54min.

 

  Não era dia de ronda de James e Lily, mas eles perambulavam pelos corredores de Hogwarts aquela hora da noite. Desde que decidiram tentar aquilo que estava começando a se desenvolver, aquela era uma situação corriqueira. Se encontrar durante o dia, sozinhos, era quase uma missão impossível. Ou James estava com os marotos, ou Lily estava rodeada pelas amigas. Isso quando os dois grupos não acabavam por se juntar em um só grande grupo, o que sempre acontecia. Então, as horas disponíveis eram essas, altas horas da noite, que quase ninguém além deles se ousava a andar por aí. 

  Normalmente, eles tinham o uso da capa e do mapa, mas nesse dia não foi possível pegá-los. Sirius havia saído com Peter até Hogsmead para comprar alguns doces, tudo bem que não havia nenhum vendedor na loja aquela hora, mas os marotos deixavam galeões suficientes para pagar o que pegavam.  Então, os dois haviam pegado os artefatos antes que James conseguisse arranjar uma boa desculpa para fazê-lo, o que deixava o casal soltos a própria sorte. 

  “Ande mais rápido, James. Nem parece que você é um atleta.” Lily ralhou com ele por conta de seus passos lentos e arrastados. 

 “Estou andando devagar por isso, Evans. Aquele balaço me acertou em cheio na perna.” Tocou o lugar machucado com a mão, lembrando da pancada que havia levado. “Madame Pumpfrey me ajudou o máximo que podia, mas sem os ingredientes da poção para dor ficou complicado.”

 “Não entendo como a escola pode estar sem esses ingredientes, principalmente com esse jogo violento acontecendo sempre.” Ela passou a arrastá-lo pelo braço, dando seu corpo de apoio. “Quando vi Avery jogar aquele balaço em você… A vontade que tive foi pegar o balaço e jogar em sua cabeça. Por que você tinha que jogar isso?”

 “Adoro sua preocupação, Lírio, mas não é sempre que isso acontece. Você sabe que Avery sempre vai agir de má fé conosco.”    

 “Eu sei disso, mas me preocupa.” De repente, Lily parou no lugar que estava, virou para James fazendo sinal de silêncio, enquanto olhava ao redor desconfiada. 

  “Lírio? O que está fazendo?” Por um segundo, James achou que ela estivesse louca. 

  “Cale a boca, Potter.” Continuou olhando ao redor tendo os olhos do Potter grudados em si.

  Poucos minutos depois, uma gata surgiu do canto mais escuro do corredor. Os olhos, que mais pareciam duas lâmpadas, os analisaram de cima a baixo. Com a cabeça levemente inclinada, passou a caminhar até eles, esticando-se e abrindo a boca como se fosse soltar um miado agudo. James e Lily sabiam que isso aconteceria, a gata miaria e seu dono apareceria em segundos para apanhá-los. 

  “James, precisamos sair daqui.” A ruiva começou a caminhar para trás, levando Potter consigo. “Agora.” 

  Puseram-se a correr desesperadamente, sem ao menos olhar para onde iriam. A única certeza era a necessidade de fugir daquela gata e do aparecimento iminente de Filch. 

  Quando pararam para descansar, perceberam que estavam nas masmorras. O ar frio e o sombrio dali causou arrepios em Lily. 

  "Vamos sair daqui. A gata já deve ter se desviado da gente." Evans olhava ao redor, tentando ter qualquer visão da gata. 

  “Podemos não correr? Minha perna parece que vai cair.” Potter pediu, seu rosto se contorcia em uma careta de dor.

  “Você é muito molenga, Potter.Vamos devagar, princesa.” Lily debochou da cara dele, sabia que o machucado era sério, mas não podia perder a oportunidade. 

  “Que namorada que eu fui arrumar.”

  “Então somos namorados? Não sabia que já estávamos assim.” 

  “Claro que somos, a não ser que você não queira. Aí não somos mais.” Evans riu do desespero dele. 

  “Claro que somos, James.” O moreno suspirou aliviado, por um instante pensou estar indo rápido demais. 

  “Ótimo, não pretendo te largar nunca mais.” 

  Caminharam a passos lentos pelo corredor, com ocasionais paradas para beijos. Entretanto, do nada, parecendo ser enviada do inferno, Madame Nor-r-ra surgiu no corredor, na direção contrária a que eles seguiam, proporcionando uma visão perfeitos de seus olhos loucos. Desta vez, a gata não esperou e logo começou uma longa sessão de miados. Novamente, Lily e James começaram a correr com a gata atrás deles miando como louca. Quando conseguiram ouvir passos humanos atrás deles, aumentaram a velocidade. Nunca percorreram os corredores tão rápido quanto. 

  Merlin sabe como, o casal conseguiu chegar a Sala Comunal da Grifinória antes que Filch pusesse as mãos em suas roupas. Não pensaram nem duas vezes, e nem em quem possivelmente estaria acordado, quando entraram na Sala correndo. Para sua sorte, estava completamente vazia e eles não foram flagrados. Decidindo que aquilo era sorte demais para uma noite só, concordaram em subir cada qual para seu dormitório.

 

 

ATO 3 - “Síndrome da Cinderela”



Hogwarts, dormitório dos Marotos.

7h00min.

 

  Como de costume, James Potter estava atrasado. A aula começava em meia hora e ele tinha acabado de levantar e ainda precisava tomar café. Trancado no banheiro, James se jogou embaixo do chuveiro na esperança de conseguir tomar um banho de 5 minutos, além de ser uma ótima forma de abafar os gritos desesperados dos meninos o apressando. Remus já estava a beira de um colapso com a lerdeza dos amigos, já que Sirius e Peter acordaram apenas alguns minutos mais cedo que ele. Portanto, Remus acabou tendo que acordar os três, ordená-los até o banheiro e esperar, nem tão pacientemente, que eles se arrumassem para poder descer e tomar café da manhã. 

  Estendendo-se um pouco mais no banho, James acabou relembrando o acontecido da noite anterior. Remus conseguiu arrastar Sirius e Peter para estudar, só na o levou junto porque o Potter alegou estar com uma dor de cabeça excruciante, o que fez com que o dormitório estivesse vazio e fosse possível Lily ir até ali. O casal conseguiu passar boa parte da noite no quarto, aproveitando o conforto da cama do maroto. Graças a Merlin, os professores tinham passado várias atividades nos últimos dias e Remus tinha que atualizar uma grande lista de exercícios atrasados dos outros dois. James achou melhor cortar as lembranças por ali, antes que seu banho tivesse que ficar muito maior e Remus lançasse um Avada em sua direção. 

  Saiu do chuveiro com a toalha enrolada na cintura, os pés ainda molhados deixando o chão úmido. Parou em frente ao espelho, tentando dar um jeito nos fios bagunçados. Desistiu depois de poucas tentativas, sabia que era uma luta perdida. Com um feitiço, secou a roupa do corpo e se pôs a vestir o uniforme. Estava terminando de colocar a gravata quando um grito o fez correr até o quarto. 

  “O que isso faz aqui?” Pettigrew segurava com a ponta dos dedos uma peça feminina e tinha cara de completo choque.

  “Parece que a dor de cabeça de um certo viado rendeu.” Disse Sirius virando para encarar James. 

  “Já disse que é cervo, Padfoot. Cervo!” Potter disse sem paciência, aquela não era nem a primeira vez e nem a última dessa brincadeira. 

  “Não tem nada a dizer, Prongs? Sabe, não é muito comum um sutiã aqui nesse quarto, a não ser que o Sirius esteja tentando algo novo.” Remus segurava o riso, tentando parecer sério. 

  “Nós não temos que ir pro café da manhã? Se a gente quiser chegar a tempo, é melhor irmos logo.” James foi até o banheiro pegar a capa e voltou apressando os amigos até a porta do quarto. 

  Desceram os degraus correndo e quase esbarraram nas meninas que também desciam do quarto. Era um milagre que estivessem atrasadas, Lily era o Remus da amizade delas e fazia questão que todas chegassem na hora. 

  “Que milagre vocês estão atrasadas, acho que o fim do mundo tá chegando” Sirius ecoou seus pensamentos. 

  “Culpa da Lily que acordou atrasada. E ainda demorou procurando as roupas” Marlene que respondeu, agarrada na cintura de Dorcas, sua namorada. 

  “Já disse que não dormi muito bem, só consegui pegar no sono bem tarde. E não sei o que aconteceu com as roupas, uma peça simplesmente desapareceu.” A ruiva parecia muito bem e feliz, apesar das reclamações. Sirius achou aquilo um pouco suspeito. “Pare de reclamar, Marlene. Você se atrasa quase todos os dias e eu não fico com essa ladainha.” Recebeu um olhar incrédulo de Marlene. 

  “Fica sim. Não sei como ainda suporto ouvir você reclamar sem te lançar uma azaração.”

  “Vamos logo, meninas. Essa discussão não vai levar a nada.” Remus tomou a dianteira da situação e pôs todas a andar em direção a saída. 

  “Abençoado seja Remus Lupin, o salvador da pátria!” Dorcas gritou, jogando as mãos pro alto. 

  “Salvador da minha comida! Oh grande Remus!” Peter fez a mesma coisa que a negra, ovacionando Remus. 

  Sirius e James estavam mais atrás, andando lado a lado. Black olhava cada garota que passava por eles, algumas o encarava sorrindo e outras parecendo que iam matá-lo. Agia como se fosse conseguir descobrir quem era a dona do sutiã olhando apenas em seus olhos. O que era muito engraçado para James, afinal a dona estava com eles e nem ao menos havia sido cogitada pelo outro maroto. Foi esta mesma coisa o caminho inteiro até o Salão Principal. 

  “Pare de fazer isso, Sirius, daqui a pouco vai apanhar.” James sussurrou para o moreno.    

  “Você sabe que vamos descobrir a dona, não sabe?” O Black lhe lançou um olhar de desafio. 

  “Quero ver como, não acho que sair por aí perguntando vá lhe render boas amizades, Pads.” 

  “Não duvide, James. Eu vou descobrir.”



ATO 4 - “O incidente com a estrela e o lobo”



Hogwarts, dormitório dos Marotos. 

15h45min.

 

  Era um domingo de tarde, James e Lily estavam juntos no dormitório dele, os amigos estavam cada um em um canto. Dorcas e Marlene curtiam juntas nos jardins, assim como Frank e Alice. Mary Macdonald, Emmeline Vance, Peter, Remus e Sirius estavam em algum lugar jogando qualquer jogo que fosse. Portanto, tinham o dormitório livre por algumas horas. 

  Estavam deitados na cama do maroto, James com a cabeça apoiada no travesseiro e Lily com a dela em seu peito. Brincava com os dedos da mão esquerda dele, enquanto a mão direito do garoto subia e descia na lateral do corpo da ruiva, da coxa até próxima ao peito. Evans passou uma das pernas por cima das dele, esfregando-as de leve. Inclinou a cabeça para cima caçando os lábios dele, dando início a um beijo calmo. Rapidamente o beijo se transformou, ficando mais apressado e caloroso. 

  A menina apoiou os braços na cama para conseguir sentar no colo de James que continuava deitado. Tinha a mão nos fios ruivos, segurando-os com firmeza. Fez com que se sentassem na cama, ainda se beijando. Agora, suas duas mãos deslizavam pelo corpo dela que não fazia diferente dele, explorando todos os lugares que conseguia do corpo do moreno. Lily começou a rebolar no colo dele, que respondeu ao estímulo com um aperto em sua bunda. James mordeu o lábio inferior dela, em seguida desceu os beijos pelo pescoço, usando a mão no cabelo para fazê-la inclinar a cabeça para trás. Com a outra mão, apertou um de seus seios. Lily puxou o rosto de James para si, dando início a outro beijo. 

  Foi então que ouviram conversas do outro lado da porta e uma mão forçando a maçaneta, e claro, percebendo que estava aberta. 

  “Olha só, parece que está vazio.” A voz maliciosa de Sirius, seguida pela risada de Remus se fez presente. 

  Em milésimos de segundos, James puxou as cortinas da cama para esconder os dois. Não acreditava que com tantos lugares pros outros dois irem, haviam escolhido o quarto. E muito menos em como tinha sido burro de não trancar a porta. Rezando para que eles não demorassem, James fez sinal para Lily para que eles ficassem quietos, apenas esperando. Ouviram barulho de pessoas sentando em uma cama, em seguida barulhos estranhos, que pareciam de beijos, mas não podia ser. 

  “Definitivamente aqui é melhor que qualquer armário de vassouras.” Ouviu Remus dizer. James olhou espantado para Lily, que não parecia surpresa.

  “É óbvio, Remus, aqui podemos nos beijar direito. Já somos muito grandinhos para aquele sufoco.” Ambos riram. 

  Daí em diante eles pouco falaram, e o barulho, que agora James tinha certeza serem de beijos, aumentava a cada minuto que se passava. Prevendo que algo mais estava prestes a acontecer, algo que ele com certeza não queria ser um ouvinte, resolveu aparecer. Fingindo a maior cara de sono que conseguiu, James abriu um pedaço da cortina dando um pigarro, obviamente depois de esconder Lily na coberta. 

  “Será que o casal pode me deixar dormir?” 

  A visão de Remus e Sirius, que estava em cima do outro, o olhando com a maior cara de espanto que ele já viu era uma das melhores visões do mundo. James segurou o riso, tentando encará-los com seriedade. Ambos ficaram alguns segundos, na mesma posição, abrindo e fechando a boca sem saber o que dizer. 

  “E então? Vão me deixar dormir ou preferem que eu saia?” James voltou a questionar, atrás de si conseguiu sentir Lily tremer por conta da risada silenciosa. 

  “Desde quando está aí?” Sirius foi o primeiro a se recuperar. 

  “Desde que entraram no quarto. Achei que fossem dormir também e não iniciar essa sessão de amassos.” 

  “James… eu… nós podemos explicar.” Remus parecia ter perdido o dom da fala completamente. 

  “Vocês não precisam me explicar nada, Moony. Só me importo com a felicidade de vocês, e pelo que vi os dois estão muito mais que felizes.” Observou-os trocar um rápido olhar, ambos com sorrisos tímidos. “Mas, eu realmente adoraria continuar dormindo. Eu aconselho a Sala Precisa, é bem privado.” 

  “Como você não pensou nisso, Remus?” Sirius questionou ao outro. “É o mais inteligente de nós, essa ideia deveria ser sua.” 

  “Me perdoe se eu pensei no lugar mais rápido, Sirius.” Remus disse já arrastando o Black até a saída. 

  “Saiam logo.” Potter jogou um travesseiro neles. “Por favor, sejam felizes, não importa o que qualquer idiota falar de ruim.” Recebeu um sorriso dos dois. 

  “Quem diria? Sirius Black e Remus Lupin?” Lily saiu de debaixo dos cobertores. “Há alguns anos eu jurava que o Remus mataria ele.”

  “Eu também, achei que Sirius enlouqueceria todos nós.” Puxou ela para seu colo novamente. 

  “Você fala como se fosse um santo.” 

   “Vamos deixar essa discussão para depois e voltar para onde estávamos.”

  Rindo dele, Lily lançou um feitiço para trancar a porta, só por garantia de que nada os atrapalharia. Voltaram ao que faziam antes e passaram a tarde inteira ali,  graças a Merlin, sem outras interrupções. 



 ATO 5 - “Não é um segredo”



Hogwarts, Sala Precisa.

19h30min.

 

  “Alguém poderia explicar por que estamos aqui?” Dorcas fez a pergunta que todos queriam fazer. 

  “Espere James e Sirius chegar.” Lily respondeu. 

  Estavam todos os amigos reunidos na Sala Precisa. Marlene e Dorcas, que dividiam uma poltrona, Emmeline, Mary, Peter, Alice e Frank que dividiam um sofá espaçoso, e Remus sentado na outra poltrona. James e Sirius estavam para chegar. Lily andava de um lado para o outro. Estava nervosa, tentava respirar fundo e se acalmar. James e ela haviam conversado muito nos últimos dias e decidiram que tinha chegado a hora. Já era tempo de contarem aos amigos que estavam juntos, fazia quase 6 meses que escondiam que as coisas tinham começado. 

  Eles se amavam mais do que já amaram qualquer pessoa. Lily tinha certeza que era com James Potter que queria passar toda sua vida e depois dela. e James tinha certeza que Lily Evans era a mulher de sua vida e com quem passaria a eternidade. Eles sabiam também que os amigos só queriam que fossem felizes e que amariam saber que estavam juntos. Mas isso não impedia Lily de ficar nervosa. E se eles ficassem irritados por ela ter escondido por tanto tempo? E se achassem que eles não confiavam nos próprios amigos? 

  Antes que pudesse criar mais paranóias, os dois que faltavam entraram na sala. Depois que Sirius se acomodou no colo de Remus e James parou ao lado de Lily, eles começaram a falar. 

  “Então, nós chamamos todos aqui porque queremos contar algo.” James começou explicando. 

  “Para de enrolação, Potter.” Frank gritou, estava curioso. 

  “Cale a boca e deixe ele explicar, Frank.” Alice ordenou, deixando claro quem mandava naquele relacionamento. 

  “Obrigada, Allie.” Lily direcionou um olhar agradecido a morena. “Como James disse, queremos contar algo. Primeiro, peço para que calem a boca e escutem. Segundo, perdão por demorar tanto para contar, mas precisávamos ter certeza.” 

  “Nos últimos seis meses, aconteceu algo em nossas vidas. Foi inesperado, começou sem compromisso, mas quando vimos já estávamos envolvidos demais para conseguir voltar atrás.” James continuou a explicação, se aproximando de Lily. 

  “Enfim, achamos que já está na hora de contar a todos, e queremos que os primeiros sejam vocês.” Lily segurou a mão de James, suspirando nervosa. “Nós estamos juntos. Estamos namorando.” 

  Diferente do que imaginaram, os amigos continuaram com a mesma expressão de tédio estampadas em suas faces. O casal trocou um olhar confuso. Questionaram se foram ouvidos com clareza e só receberam respostas positivas. 

  “Era isso?” Remus perguntou. 

  “Vocês acham que isso é uma surpresa?” Mary tinha a voz de tédio. 

  “Tão bobinhos.” Emmeline riu debochada. 

  “Vocês são ótimos!” Até Peter, o mais lerdo, estava rindo deles. 

  “Nós já sabíamos, lindinhos.” Marlene ria escandalosamente. “Vocês dois realmente acharam que não íamos descobrir?” 

  “Eu te avisei que ia descobrir, James. E não demorou muito inclusive.” Sirius mantinha a pose de quem sabia de todas as coisas. 

  “O que? Como vocês sabem?” James perguntou, genuinamente confuso. Lily nem conseguia se pronunciar. 

  “Vamos lá.” Marlene se dispôs a explicar. “Primeiro, vocês não discretos e a Lily é uma péssima mentirosa.” Sirius gritou que James também era. “Segundo, Lily saía todas as noites e voltava muito tarde, segundo ela resolvendo coisas da monitoria. Depois, você comentou que não estava achando o seu sutiã vermelho e o Sirius, mais tarde, comentou que achou um, adivinhe só, sutiã vermelho no quarto do James. Eu já estava desconfiada, vocês conversavam sempre, andavam pra lá e pra cá fingindo que resolviam coisas de monitoria.”

  “E você foi zero convincente naquele papel de quem tinha acabado de acordar, James.” Sirius completou, esboçando um sorriso maroto. “Vocês estavam sempre sorrindo, demonstrando preocupação um com outro.” 

  “Sem contar todas as noites de lua cheia que você passava em claro, Lily.” Dorcas completou. 

  “Ok, já entendemos. Somos péssimos mentirosos.” James aceitou a derrota. 

  “Mas, vocês estão chateados?” Lily questionou com medo. 

  “Claro que não, Evans. Vocês são perfeitos e merecem a felicidade.” Remus respondeu. 

  “Já te adorava como uma irmãzinha, Lily. Agora você é minha irmãzinha oficialmente.” Sirius abraçou os dois. 

  O resto dos amigos aproveitou para fazer um grande abraço em grupo, todos desejando felicidades ao nem-tão-novo casal. James e Lily estavam bem mais leves sem o peso do segredo. Estavam genuinamente felizes. Sabiam que teriam aqueles juntos com eles em todas as felicidades e tristezas. Sabiam que teriam um ao outro até a eternidade.  


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