Eternamente dançarina escrita por Apaixonada sama


Capítulo 1
Linda dançarina.


Notas iniciais do capítulo

+ Parceria escrita com um co-autor que não está no site.
+ Contém violência sugestiva.
+ Foi postado no Amino FNAF-BR e na Escritores Amino, Spirit e Wattpad.
+ Arte não me pertence, link ao Tumblr do artista na nota final.



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             Antes que pudesse adentrar o lugar, ele pôde sentir a tensão que o ambiente declarava. O receio era axiomático, assistiria pela primeira vez o ensaio de sua esposa no salão recém-inaugurado. Dirigiu a mão até que ela fosse de encontro à maçaneta, girando-a para o lado, abrenhando o estúdio. Por minutos, permitiu-se admirar o âmbito: Luzes neons arroxeadas, outras azuladas despontavam em direção ao chão de madeira. Os assentos, inúmeros, talvez, eram confortáveis e vermelhos; Tais como as cadeiras de um teatro. – Recentemente lançado numa outra quadra da cidade.

             William sentou-se em uma das primeiras cadeiras da fileira da frente. A vista para o assoalho de madeira clara. De onde estava, sentia o calor invadir-lhe a região do corpo, estando surpreendido: O chão era aquecido. Poderia não ser uma tecnologia ‘avançada’ como a de seu estabelecimento, mas era uma novidade e tanto para si. Anotou mentalmente que deveria investir nisso, se quisesse parecer inovador e original. Riu desdenhoso, era um gênio.

             Sua comicidade fora olvidada, quando atentou sons de passos leves. Olhou para a cortina à sua esquerda, observando uma figura esbelta despontar de forma tímida. Um longo tutu branco chamava a atenção, por possuir bordas de um tecido refletivo nas pontas. Assim que a mulher se aproximou da luz, assemelhava-se com um passe de mágica: Suas vestes brilhavam inteiramente. A tiara perolada em sua cabeça não ficou de fora, reluzia quanto mais se aproximava da iluminação. O homem estava boquiaberto, não deixando de analisar cada detalhe minucioso na bailarina.

             — Seu olhar é um elogio, Will. — Com um leve gracejo, cumprimentou-o, que estava sem reação. Correu delicadamente para o fundo do palco, juntando as mãos em um gesto airoso.

             Não havia música. Somente os sons dos passos leves que mal tocavam o chão. Aquela mulher parecia voar, bailava de forma deslumbrante. Não perdia a compostura tão bem trabalhada. O ‘Grand Jeté’, mais parecia cena de um sonho. Não que tivesse interesse em balé, contudo, assistir sua esposa externando movimentos graciosos como esse, diria de passagem que é um grande fã.

             E, ao contemplar o ‘Adagio’, logo seguido de um “En dehors” para finalizar o bailarico, havia posto em sua mente um discernimento que lhe deixou gratificado:

            “Eu preciso eternizar essa mulher”.

             A volta para casa, fora feita dirigindo. William volvia as mãos levemente no volante, embora seus olhos se cruzassem com os de sua esposa. Dirigia com o máximo de cuidado possível, não por que amava aquela mulher. Queria perpetuá-la, todos os detalhes possíveis deveriam ser idealizados e não permitiria defeitos. Não queria mimosear um único arranhão que pudesse prejudicar a perfeição dela, os fios de cabelo deveriam ser mantidos perfeitamente em sua cabeça.

             Estava obcecado.

             — Will, o que foi? — Ao pararem no suposto semáforo, ela debruçou a mão delicada e enluvada acima da palma do homem. Ele olhou atencioso. — Você parece... Estranho?

             Não estranho, com certeza, abismado.

             — Estou me perguntando o motivo de você ser belíssima. O que você viu em um cara, proprietário de uma pizzaria, como eu? — Indagou, arqueando uma sobrancelha de forma humorada. Logo ambos riram nalguma consonante, mas a atenção voltou para o trânsito.

             — Não vamos discutir isso, novamente. — Ela bufou, cruzando os braços e meneando a cabeça, ainda assim, olhava com carinho para o marido. — Lembre-se que você não era proprietário de uma pizzaria quando nos conhecemos. Você era mecânico, trabalhava para o pai do seu amigo. Quase o quê? Hum... Cinco anos.

             — Sensacional, você se lembrou do Henry.

             — Tenho uma boa memória. — Comentou. — Graças a Deus.

             — Sim... Deus te abençoou. E muito.

             O silêncio despojou-se no veículo, mesmo que fosse de forma confortável. O frio da rua penetrava pela janela e aos poucos chegavam aos pés do casal. A bailarina não deixou de passar a mão no braço, sentindo um leve ar gélido transpassar-lhe. Não demorou muito para que William rodasse a maçaneta, elevando a janela ao lado dela.

             — Eu não estava com frio.

             — Eu sei... — Pronunciou calmamente. — Só quis prevenir. Você não pode estar doente quando for se apresentar.

             — Tem razão, você sabe o que é melhor.

             — Amor, não me dê tanto crédito...

              “Minha perfeição não pode ter defeito algum...”, pronunciou para si mesmo. Apertando o volante com um pouco de mais força. Antes que pudesse se abster do carro ao chegar a casa, suspirou pacientemente. Desligou o veículo e saiu com sua esposa, entrando na moradia. Fora apenas recebidos pelo filho mais velho, Michael, que estava na sala assistindo um programa musical, alegando que os caçulas já dormiam desde cedo.

             Não houve cerimônias para a janta. William apenas degustou de um grande copo de café e biscouto, antes que anunciasse que iria se dirigir para o escritório para trabalhar em um projeto rápido. Recebeu um beijo de boa noite, logo abrindo a porta e trancando-a, ao se acomodar no ofício.

             Com o lápis em mão, começou a rascunhar diversas feições para seu sonho utópico. Não sabia que detalhes queria ressaltar, tudo parecia tão apaixonante, ela era simplesmente inexplicável. Única. Não sabia se era o cabelo moldado em um coque ou as bochechas róseas. Gostava do batom. Dos cílios delineados. As joias.

             Tudo parecia deixar a existência daquela mulher ‘suis generis’, além do sotaque francês que ela tinha. Depois de imaginar tudo, uma coligação de todas as características magníficas que tinha em sua esposa, não hesitou em passar para o papel. Ela seria eternizada, todos conheceriam a magnitude da sua cônjuge, sem que ao menos fosse perguntado.

             Ao terminar o projeto, já era mais que madrugada. O despertador já despontava 3:33 da manhã. Não sentia nenhum pouco de cansaço, muito pelo contrário: Sua determinação era evidente. Jamais suspeitando, já tinha dado início ao corpo robótico que planejou constantemente. Os parafusos estavam se encontravam nos lugares, deixando o androide como uma casca aberta. Odiando esse termo, diria que é um sarcófago – Guardavam as coisas mais valiosas dentro de um. E para William, aquela mulher valia mais que um tesouro.

             Em passos silenciosos, saiu do escritório. Olhou ao redor, a televisão pequena estava apagada. A manta do sofá estava devidamente forrada, além das almofadas estarem dispostas de forma que não dessem ao William um TOC devido à organização exagerada. Subiu as escadas vagarosamente, abrindo as portas do quartos para conferir: Elizabeth dormia tranquilamente e os outros dois filhos também.

             A área estava supostamente, limpa.

             Adentrou o próprio quarto, encontrando a esposa dormindo tranquilamente. Mantinha um sorriso em seus lábios perfeitamente moldados, assim como o cabelo feito em um coque. Não queria desmanchar aquela perfeição e nem sujar as mãos. Olhou ao redor, fazendo máximo de silêncio possível. Até que se deu conta de algo.

             Pegou o travesseiro e o afofou, dando o melhor sorriso que tinha. Subiu na cama lentamente, tentando não acordar a mulher que repousava em um silêncio admirável. Respirou fundo, murmurando em tom mínimo:

             — Bons sonhos.

             Ela abriu os olhos ainda sonolentos, apenas se deparando com uma grande sombra acima de si. Antes que pudesse se alarmar ou questionar o que se sucedia, mal angaria sua defesa. Debatia-se desesperadamente, tentando desferir diversos golpes, apesar disso, não resistiu por muito tempo. William, ao reparar que os movimentos cessaram-se, retirou a almofada branca do rosto da mulher.

             Suas bochechas estavam quase violetas por conta da sufocação. O cabelo claro e perfeito não haviam perdido muito de suas características notáveis: Ainda era brilhante e cheiroso. O perfume dela ainda residia o quarto e todo o travesseiro. Retirou os cordões pequenos e os brincos que ela carregava em seu corpo, deixando na cômoda ao lado da cama. Com tampouco esforço carregou-a em seus braços, se encaminhando ao escritório em passos leves.

             Como alguém vitorioso, consignou a mulher no corpo metálico. Ajeitou as mãos e as pernas para que coubessem perfeitamente e não a machucasse. O cabelo fora perfeitamente ajeitado, até que coubesse no molde proposto. Beijou a testa dela, parafusando cuidadosamente até que estivesse tudo encaixado no lugar.

             Na manhã seguinte, mal dormira. Encaminhou-se direto ao escritório, um pouco ansioso para ver o decorrer de seu projeto. Sua bailarina estava sentada no balcão, com um olhar melancólico e cabisbaixo. Os olhos perfeitamente fechados e o cabelo – que havia feito com diversos materiais para que fosse sedoso o suficiente – lhe diriam facilmente que era ainda sua mulher. Ela ergueu a cabeça calmamente, como se fosse algo natural.

             William sentiu algo como se estivesse corando.

             — Will? — A bailarina indagou. — É você?

             — Sim, sou eu, querida. — Chegou mais perto dela, abraçando o corpo que aquecera com os movimentos propostos. O aquecedor térmico funcionava bem. William sentia-se como um gênio, novamente. — Como se sente?

             — Eu... Não sinto nada...

             O silêncio parecia duradouro para o casal.

             — Oh, isso é bom... — Ele beijou a bochecha robótica. — Quem deve sentir algo, somos nós... Nossos olhos devem ser agraciados com a perfeição e magnitude que você dispõe.

             — William... O que você está falando?

             — Você não deve sentir nada. Só deve ser apreciada. Querida, eu lhe eternizei. Sua plenitude e graciosidade serão eternas. Não existe nada melhor do que isso.

             — Eu não estou entendendo... O que você fez comigo? Eu não sinto meu corpo...

             — Se acalme, amor... — Ele pronunciou, escondendo o rosto na dobra do pescoço da bailarina. Acariciava os cabelos lentamente. — A partir de agora, você será Ballora. Eu te amo e creio que todos irão te amar, lá fora.


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Notas finais do capítulo

Créditos da arte: https://vsemily.tumblr.com/post/187118429564/perfected-prototype



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