Felicidade Clandestina Ver. New Roman escrita por Thales New Roman


Capítulo 1
Felicidade Clandestina




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Ela era muito bonita, inteligente, talentosa e, por causa de tudo isso, invejada e adorada. Eu não tinha nada contra ela, mas preferia não me aproximar muito dela também, afinal eu não sei lidar com pessoas, nunca fui o mais social ao ponto que qualquer tipo de atenção pode me fazer gaguejar e ficar corado de vergonha, mas a situação mudou quando eu descobri que o pai dela era dono de uma livraria extravagante, eu gosto de ler, mas admito que após crescer tenho mais gosto por mangás, nome dado as histórias em quadrinhos japonesas, algo que eu sabia que a livraria continha.

                Mesmo vivendo no auge da internet, onde eu poderia simplesmente ler online, admito que ter a posse física me dá um sensação de poder que sempre quis, essa era uma oportunidade que não poderia deixar escapar. A princípio, tomei bastante coragem e respirei fundo antes de tentar achar um momento onde ela estivesse a sós para perguntar se seria possível emprestar livros. Temia a resposta pois não era amigo dela e recentemente, ela começou a namorar um outro rapaz da turma ao lado de nossa sala que nunca gostou de mim, sei lá qual era o motivo.

                Infelizmente, achei impossível achá-la sozinha. Se não estava em sua roda de amigos eu apenas a encontrava nos braços dele e percebi que se eu quiser cumprir meu objetivo, devo sair da minha zona de conforto.No outro dia, fui até ao encontro dela e das amizades da mesma e simplesmente perguntei. Olhando para essa cena, várias sugestões surgem em minha mente: poderia ter perguntado melhor, poderia ter pedido para falar a sós com ela ou talvez, reformular a minha frase para não soar tão rude.

                Francamente, não me surpreendi por ela me dizer “não" sem nem pestanejar, além de ter me esnobado. Que vergonha! Tinha vontade de pular a janela só para escapar dali, não era necessário ela ter falado alto para toda a sala escutar. Foi aí que eu percebi... Eu já sabia por que tantas garotas a odiavam (por ela ser tudo aquilo que eu já disse), mas eu não conseguia entender por que tantos garotos a odiavam também... Até agora: eles devem ter perguntado algo para ela também, apenas para serem rejeitados dessa maneira.

                Queria sentir raiva, mas fiquei preso no vexame e tristeza. Sendo honesto, fiquei com ódio de alguém sim... De mim, pois eu tinha certeza em minha mente que algo assim poderia acontecer se eu tentasse, afinal nenhuma garota até hoje me disse sim. Voltei a questionar minha beleza e inteligência, mas com o passar de alguns dias, vi que talvez eu não era o problema: ela também não demorou a terminar com o namorado dela após humilhá-lo também. Era uma constante: ela rejeitava todos, fossem bonitos ou feios, mas eu ainda queria poder ler aqueles mangás, até pensava em conseguir algum tipo de emprego. No entanto, para a minha surpresa, ela veio até mim antes mesmo de eu tentar algo novo e me emprestou o próximo volume do mangá que eu mais cobiçava da livraria de seu pai, a versão mangá de As reinações de Narizinho, história de Monteiro Lobato e desenhado por Fábio Shin.

                Além disso, ela me ofereceu um passe vip para a livraria de seu pai, junto com sua própria companhia. Aquilo era algo tão bom que não poderia deixar de ficar confuso e desconfiado. Eu agradeci e perguntei a razão de tudo isso, e ela me respondeu “Bem, eu achava que você era só mais um garoto usando o fato de meu pai ter uma livraria para tentar ficar comigo, mas o pessoal me contou o quão raro é ver você tomando atitude e isso me intrigou. Tudo ficou claro quando o vi puxando um mangá da sua mochila na hora do intervalo: você realmente está interessado é na livraria do meu pai, não em mim. Enfim, eu pensei no assunto e decidi que não ia me custar nada, até mais”.

                Eu comecei a pensar que um dia o karma, lei universal que dita que toda ação terá consequências futuras dependendo da sua natureza, dessa situação ia me matar, mas por hora, decidir apenas aproveitar essa vitória! A partir daí, sempre saíamos da escola juntos e íamos até a livraria do pai dela. O passe vip me permitia ler quantos mangás eu quisesse e até comecei a ler alguns livros também que me interessavam. Inesperadamente, os pais dela estavam até gostando de mim. No entanto, um dia ela chegou para mim e disse que essa nossa relação acabou: boatos sobre nós dois começaram a se espalhar e ela não queria isso.

                Bem, eu também não queria isso, mas eu poderia simplesmente manter meu passe e ir sozinho à livraria, correto? Errado! Ela me negou, então questionei se isso era realmente necessário, e foi aí que ela foi sincera pela primeira vez. “Não me importo, eu sou uma sádica insensível, beiro a psicopatia. O sofrimento alheio é meu único prazer: eu tiro boas notas, assim sinto a angustia dos que tiram notas baixas; eu constantemente evoluo no campo das artes, assim sinto o desdém dos menos talentosos; eu sou naturalmente bonita, então  só preciso me cuidar mesmo para causar inveja; eu vi que você gostava de mangás e livros, então lhe dei uma felicidade momentânea, só para tirá-la repentinamente e fazê-lo se afogar em tristeza no futuro” foi o que ela disse.

                O pior é que ela tinha conseguido: eu não tinha dinheiro para frequentar uma livraria daquelas; sem o meu passe, estava tudo acabado. A partir daí, caí em um rio de amargura, assim como ela tinha previsto, e nenhum mangá online conseguia suprimir esta minha perda, nunca imaginei que sentiria falta de folhear as páginas apenas na expectativa do que iria acontecer.

                ...Até aquele fatídico dia.

                Esse tal dia foi quando o pai dela me enviou um e-mail, eu tinha esquecido que trocamos contatos para que ele pudesse me informar quando novos mangás e livros fossem chegar. “Aconteceu alguma coisa? Por que você não vem mais aqui? Peço-lhe perdão se faltei respeito com você em algum momento, nunca será a minha intenção. Sinto falta da sua presença, é por leitores famintos como você que abri este negócio. Se foi algum desentendimento com a minha filha, nós quatro podemos ter uma conversa: você, minha filha, minha esposa e eu. Tenho certeza que se conversarmos, resolverá este atrito”, foram suas palavras. Eu não conseguia acreditar aquilo, até reli mais duas vezes para ter certeza que havia entendido corretamente e eu tiinha entendido o correto: as coisas estavam indo ao meu favor de novo.

                Eu conversei com seus pais e com ela, e eles me devolveram meu passe. É claro que não contei sobre a saúde mental da filha deles, optei por apenas contar o motivo sobre os boatos (porque não seria muito fácil acreditar na verdade e temi o que ela poderia fazer comigo), mas tudo ainda deu certo: eu voltei a frequentar a livraria e a ela ainda teve de se desculpar comigo. Seria isso o que chamam de felicidade clandestina?

 


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