27 de novembro de 2020

Sakura terminou de lavar a louça do almoço, colocando o último prato no armário. Olhou pela janela verificando se Sasuke ainda estava sentado na varanda com Sarada, confirmando sua teoria, suspirou em cansaço. O dia estava um tanto quanto difícil, Sasuke recusou-se a almoçar e foi necessário muito jogo de cintura de sua parte para fazê-lo comer.

Naruto passou pela porta da frente e, deixou um embrulho no balcão da cozinha. Sakura o olhou confusa, mas pegou o pacote assim mesmo. Abriu e viu que se tratava de um pendrive.

— Sakura-chan, onde está o Teme? — Naruto perguntou em sussurro.

— Com Sarada, lá fora — apontou para a janela atrás de si — ele está quieto hoje...

— Sei... ele me pediu para te entregar isso — Naruto apontou para o pendrive — me fez promete que te daria e-

— Quando foi isso?

— Quando ele descobriu... disse que eu deveria entregar quando “ele não fosse mais o mesmo”.

— Entendo. Você pode ficar um tempo com ele para mim? Estou curiosa para ver o que é e-

— Tudo bem, Sakura-chan — Naruto a interrompeu — vou fazer companhia a ele, qualquer coisa eu te chamo, ok?

— Estarei no meu quarto se precisar de mim — Sakura comentou já andando rumo a escada.

Subiu devagar apoiando no corrimão, olhou de relance para a cozinha. Reparando o quão modificada a casa foi, no chão foi colocado carpete e apoio nas paredes e no banheiro. Tudo foi organizado para o conforto e segurança de Sasuke.

Chegando ao quarto sentou-se na cama e pegou o notebook que estava no criado mudo, plugou o pendrive e, verificando que tipo de arquivo havia. Surpreendeu-se por ser um vídeo, puxou um fone de ouvido da gaveta e acomodou-se dando play.

“Sakura.”

Somente sua voz fazia o coração dela bater descompassado, há quanto tempo não o ouvia a chamar daquela forma? Com firmeza e certeza? Faziam meses.

“Não sei bem como começar...”

Sasuke pigarreou e ajeitou a gola da camisa, Sakura sorriu com o velho hábito dele quando estava nervoso.

“Quando soube que tinha Alzheimer meu mundo caiu, sabe? Na hora pareceu que tudo para mim havia terminado. Mas..., depois eu pensei que já que não havia mais nada a fazer eu deveria aproveitar e... eu deveria dizer tudo o que precisava.”

Sakura aumentou o volume para concentrar-se melhor na voz do esposo.

“Eu estou com medo, Sakura. Tenho medo de acordar amanhã e não reconhecer você ou Sarada... tenho medo de não conseguir fazer mais nada sozinho. Tenho medo de ser um fardo. Eu sei o que está pensando agora, sei que para você eu jamais seria um estorvo..., mas é cruel o que farei com você, Sakura. Você sabe como vai ser daqui para frente, não é? Eu vou definhar e, você não poderá fazer nada para evitar e-”

Sasuke inspirou fortemente para conter o choro e Sakura já deixava as lágrimas rolarem por seu rosto.

“Eu sei que não vai ser fácil, Sakura... e, por isso eu te agradeço por permanecer ao meu lado. É cruel, toda essa situação, mas eu sou egoísta... É um mau dos Uchihas, sabe? Ser egoísta. Eu sou egoísta porque sei que você vai sofrer, mas... eu não quero que você me deixe. Não quero que me deixe porque você é a melhor parte da minha vida... se você for embora eu... acho que não teria o restante de mim aqui...”

Sakura pausou o vídeo para controlar a respiração que estava em frangalhos, ver seu marido assim, tão vulnerável e, com medo a machucava de uma forma surreal. Quando se sentiu calma o suficiente apertou o play novamente escutando a voz de Sasuke ressoar em seus ouvidos.

“Eu queria te dizer mais coisas, mas você sabe, não é? Você sempre soube de tudo sem que eu precisasse te falar. Diga a Naruto que... diga a ele que ele foi um bom amigo... diga a ele que eu não o merecia, mas ele foi o melhor amigo que eu poderia querer.”

Sasuke permaneceu em silêncio por alguns segundos antes de continuar.

“Diga a Sarada que eu... diga a ela que eu a amo. Peça para que ela não chore e, que sempre dê seu melhor para atingir seus sonhos.... Peça desculpas a ela por mim... porque se ela casar um dia eu acho que não poderei levá-la ao altar.”

Sasuke encarou a câmera e Sakura percebeu que seu queixo tremia. O homem respirou fundo novamente antes de terminar.

“Amor, mesmo que minha mente esqueça... ou que eu não te diga com essas palavras... saiba que meu coração sempre vai amar você. Ele sempre pertenceu a você e, essa coisa... essa doença... ela nunca vai conseguir mudar isso. Obrigado Sakura. Obrigado pela vida boa que você me proporcionou. Eu queria ter tido mais tempo, mas... estou feliz por ter passado tantos anos ao seu lado e ter recebido todo seu amor.... Obrigado, Sakura.”

O vídeo terminou, Sakura chorava copiosamente segurando o notebook. Escutou passos no corredor, fechou o notebook, limpando o rosto rapidamente. Sarada entrou no quarto e fitando a mãe decidiu não perguntar o que havia acontecido. Sasuke estava logo atrás com o olhar vago e o rosto carrancudo.

— Vou tomar um banho, mãe – Sarada disse por fim.

— Tudo bem. Sasuke-kun, gostaria de deitar-se um pouco? — Sakura já levantava e ia em direção ao esposo. Sasuke gostava de contato físico, principalmente nas mãos e Sakura as tocava sempre — que tal um filme?

— Hmmm — Sasuke murmurou voltando o olhar para ela, não havia aquele brilho perspicaz que Sakura tanto sentia falta, mas ainda era seu amado marido — Sakura?

— Sim, querido? — Sakura lhe sorriu enquanto o direcionava a cama e ajeitava as almofadas para confortá-lo. Sasuke pegou nos cabelos dela, acariciou a olhando com atenção.

— Você lavou o cabelo? — Ele perguntou inocentemente.

— Sim, querido. Obrigada por notar — Sakura lhe sorriu e viu ele sorrir levemente de volta, era um bom sinal.

— ‘Tá cheiroso — ele murmurou.

— Obrigado, Sasuke-kun. Quer ver um filme?

Ele a encarou por um tempo e assentiu. Sakura o deixou escolher e deitando-se ao seu lado, em pouco tempo Sasuke adormeceu. Ela o cobriu e, beijou sua testa.

— Meu coração sempre amará você, Sasuke-kun.