Supernova escrita por Romanoff Rogers


Capítulo 3
II - Estrela Solitária




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— Está doente, tenho certeza. – minha mãe colocou a mão na minha testa e só aí acordei do transe e percebi que comia as goiabas que ela picou para mim. Fingi vômito, afastando o prato.

— Mãe!

— Nunca vi isso, jogador de futebol que não come goiaba. – meu pai disse, soltando a fumaça do cigarro que tragava.

— Que saco, é só uma fruta, pai. – revirei os olhos, colocando leite nos meus cereais.

— Só estamos pegando no seu pé, campeão. – ele riu.

— Não ficou até tarde namorando aquelas coisinhas lá em cima não, certo Steve Grant Rogers? - minha mãe perguntou, colocando café em sua caneca.

— Não, mãe. – respondi.

— Você parece tão avoado. Essa semana inteira de achei muito distante. – a mulher de cabelos loiros e olhos azuis intensos respondeu. Sarah Rogers é o ser mais doce e mais zangado do mundo ao mesmo tempo, não dá pra descrever o tamanho da bronca que levei semana passada. E Joseph Rogers finge que não consome drogas e que eu tenho dez anos a menos.

Meu pai tem uma oficina na mesma rua que nossa casa, é só dar alguns passos. Se chama Rogers' oficine e é bem movimentada, meu pai trabalha muito e tem uma paixão por carros difícil de entender. Minha mãe vive com ciúmes dos carros, diz que ele gosta mais deles do que dela, o que é puro drama, meus pais são completamente apaixonados um pelo outro a vinte e sete anos. Ele fuma e bebe desde que minha irmã morreu. Já minha mãe é professoa do primário de uma escola aqui perto, seu amor com crianças a faz ser uma incrível educadora e faz terapia toda semana.

— Está apaixonado, são os hormônios! – riu, e eu levantei, pegando minha mochila e afastando os devaneios sobre meus pais ou eu me atrasaria.

— Pelo amor de Deus, não preciso ouvir isso. – respondi, beijando a bochecha da minha mãe.

— Juízo, Steve Grant Rogers! – minha mãe disse enquanto desci os degraus da cozinha. – Use camisinha, não se esqueça!

Ela gritou o mais alto que conseguiu de propósito, conheço Sarah Rogers. Mas eles estavam certos. Eu estava completamente atordoado sem ver a ruiva bailarina. Sequer sabia o nome dela, mas estava. Ela não tinha mais aparecido no auditório e isso quebrou meu coração de tanta preocupação. Fui até o hospital uma tarde dessas para tentar descobrir algo sobre ela, mas não consegui nada.

Eu sonhava com ela dançando. A música, que descobri ser Canon in D minor que me encantou tanto tocava em minha mente o dia todo. Quando fechava os olhos podia imagina-la deslizando magicamente pelo palco iluminado. Seus olhos verdes tiravam meu chão. Foram quatro dias inteiros tropeçando nos próprios pés e balbuciando quando Wanda me fazia interrogatórios sobre a garota em questão. Não tinha o que responder, não sabia nada sobre ela a não ser o fato de ela me encantar arrebatadoramente.

Não que não confiasse em Wanda, mas contei a Bucky sobre ela, já que era mais discreto e recebi algo não muito agradável.

— Você está apaixonado, Steve.

— Não é possível, Bucky, não é assim que funciona... Não posso me apaixonar por alguém que não conheço!

— Como funciona então, Rogers? – ele perguntou, me encarando com um sorriso convencido nos lábios. – São os sintomas do amor, cara, lide com isso.

— E se eu nunca mais ver ela? – perguntei, estacionando na frente do colégio.

— Hm.... Na literatura geralmente os personagens se matam quando isso acontece. – ele piscou para mim, descendo do carro. Bufei, passando os olhos na multidão, sempre esperando encontrar os cabelos ruivos dela. Via alguns, mas nenhum tão brilhante quanto os dela. Balancei a cabeça para afastar os pensamentos e acompanhei bucky até o banco em forma de L onde encontrávamos nossa "gangue" todos os dias.

Bucky é meu vizinho desde que cheguei na cidade. A coincidência é que ele também veio do Brooklyn, então sempre tivemos um pedaço de casa um no outro. Desde que nos conhecemos fomos nós dois, os garotos do Brooklyn contra toda Washington. Não tem ninguém que eu confie mais que ele.

— Steve! – Wanda me abraçou, beijando minha bochecha como todos os dias. Ela é minha melhor amiga, não tem ninguém que eu proteja como ela. Ela abraçou Bucky, sorrindo para nós e vi ele quase babar nela. Soquei seu ombro, fazendo-o acordar.

— Pepper, já disse que não curti a foto dela! – Tony disse, revirando os olhos. – Okay, eu curti mas descurti depois!

— Anthony Stark! – ela bateu no ombro dele mais uma vez.

— Que isso, gente. – Bucky disse, atraindo a atenção de todos para nós.

Pepper vestia suas saias xadrez como sempre, agarrada a Tony, com o mesmo casaco vermelho, branco e preto com o símbolo do colégio Avengers que eu, Thor, Sam, Clint, Bucky e o resto do time usavam todos os dias. Jane estava sentada no colo de Thor, ao lado de Bruce que tentava explicar a matéria de Literatura para Clint de última hora. Cumprimentamos todos eles com abraços e soquinhos.

— Hm... Então Herman Melville escrevia comédias, certo? – perguntou Clint, roendo as unhas de nervoso.

— O que? Não! – Bruce devolveu. – Moby Dick, Clint!

Cumprimentamos eles e rapidamente ocupamos nossos lugares.

— Você precisa de nota em literatura? – Wanda questionou Clint, abraçada em Pepper.

— Sim, porque talvez eu não tenha lido nenhum dos livros do bimestre porque dormi nas aulas do Fitzgerald. – disse, abraçando o skate contra o corpo. - Ah, foda-se. Vou dormir.

— Que vai dormir o que! – Bruce cutucou-o. - Repete comigo. Romancista que escrevia literatura de viagem.

— Hm...

— Cadê o Sam? – perguntei.

— Já viu ele chegar cedo em algum lugar? – Clint respondeu, sorrindo. Dei de ombros, checando o celular. Ele iria acabar sendo expulso por atrasos no colégio.

— E porque você estava batendo no Tony, mesmo? – Wanda questionou a Pepper.

— Porque ele curtiu a foto daquela... Baranga da Harper que dá em cima dele descaradamente! Eu disse pra ele não fazer isso porque ela ia entender errado, mas não! Os dedinhos de Tony Stark não se controlam!

— Ah, amor, você ama meus dedinhos descontrolados. – Wanda gargalhou, o que resultou em mais tapas em Tony.

— Informação demais! – Thor disse, espiando o livro que Jane lia, concentrada mesmo com a barulheira que eles faziam. – Que livro é esse?

— Astrofísica interplanetária. – disse, e eu finalmente comecei a prestar atenção.

— Porque você está lendo isso? – ele disse, enojado.

— Porque cai na prova o MIT e eu ainda não sei bulhufas disso!

— Posso ajudar, se quiser. – ofereci, e seu rosto se iluminou.

— Aí, ainda bem que tenho o maior astronauta do mundo para me salvar! – disse, estendendo a mão para mim.

— Não é tão difícil quanto parece, você vai ver. – pisquei para ela.

— Chato! – Thor murmurou, revirando os olhos e Jane deu um rápido selinho nele.

— Relaxa, meu trovãozinho, depois a gente se diverte.

Jane é a garota mais inteligente do colégio, venceu inúmeras olimpíadas e campeonatos em mil áreas diferentes desde os cinco anos de idade. Já Thor, o pai é um nórdico rico que tem uma empresa de biomedicina que ele herdará no futuro. Embora se esforce para parecer bobão e engraçado ele sabe muito sobre biologia. Tem um irmão chamado Loki que é super antissocial.

Já o pai de Tony era uma das pessoas mais ricas do país, seu pai é o dono das Stark Industries que fabrica tecnologia para o mundo todo. A relação dos dois não é a melhor, mas Tony é o melhor cara em robótica que conheço, ele conseguiria construir uma armadura num deserto, se necessário. Já Bruce é o melhor em química e física, é uma pessoa realmente brilhante e empenhada, além de ser faixa verde no judô, o que é bem impressionante devido sua calma diária. Mas quando ele se irrita, jesus. Ele quebrou uma mesa em duas da última vez.

Pepper é representante do grêmio estudantil e capitã do time de debate. Ela é uma pessoa incrivelmente boa que praticamente faz esse colégio andar. Consegue tudo o que quer no diálogo e é uma amiga incrível, não sei o que seria do Tony sem ela. Wanda sempre anda de preto e lápis de olho, nada comparado a sua personalidade de uma criança de dez anos. Eu considero-a uma irmã, embora briguemos constantemente nos amamos. Ela é a maior estilista que conheço. Sam nunca chegou na hora na vida.

Seus pais são diplomatas então sempre rola festas estrondosas em sua casa que fica sempre vazia, mesmo ele tendo uma ótima relação com os pais, fazendo vídeo chamadas ao redor do mundo. E Clint tem uma fazenda maravilhosa. É conhecido por estar constantemente chapado e carregando seu skate, ele tem muito talento nisso, embora só venha pra escola para comer.

Esse são meus melhores amigos no mundo inteiro.

— Querem ir lá em casa domingo ver a Champions? – Tony perguntou.

— Opa, agora falou minha língua! – Clint sorriu, colocando o skate no chão.

— Você é um caso perdido, Clinton. – Bruce desistiu. – Desculpe, tenho que estudar e... não gosto de futebol.

— Eu digo o mesmo. – Jane disse.

— Ah, amor... – Thor fez um biquinho.

— A olimpíada de química é sexta que vem, amor. E da outra vez eu fui. Depois te compenso, okay? – ela acariciou sua bochecha.

— Eca, porra, sai pra lá. – Clint revirou os olhos.

— Eu posso ir. Bucky? – perguntei ao meu amigo.

— Claro.

— Também vamos, né Peps?

— Pode ser. – disse, indiferente e analisando o celular. – Gente, era para eu ter recepcionado uma garota nova duas semanas atrás mas ela nunca apareceu, acreditam?

— Queria nunca ter aparecido nessa escola também. – Clint disse, e Bucky me olhou. Devia ser ela mesmo. Meu coração gelou.

O sinal tocou e fomos cada um para sua aula. Minha única companhia na aula de física agora cedo só seria Wanda.

— Então, Rogers... E essa garota, ein? Já resolveu me contar?

— Esse papo de novo, Wanda? Qual é, troca a fita! – disse, em sentando atrás dela.

— Eu te conheço, Steve Grant Rogers, sei quando está inutilmente tentando me enrolar!

Ela virou para frente, irritada. Bufei, me jogando para trás na cadeira. Ela fala igual minha mãe.

(...)

— Vamos, maricas! Essas bolas não vão parar no gol sozinhas! – o treinador Colson berrou e eu larguei a garrafinha.

— Putz, ele está com um fogo no rabo hoje que meu Deus! – Sam disse, chutando a bola para mim. Concordei, chutando de volta. Tony sempre era minha dupla, fui até ele e começamos a treinar os passes. Ele sempre se distraía com Pepper do outro lado do campo, de sainha curta e dando estrelinhas, e eu tinha que traze-lo de volta. Os treinos eram pesados e duravam horas.

— VAMOS, QUATRO VOLTAS NA PISTA! – gritou, com a prancheta na mão.

— Merda. – Clint murmurou do meu lado, sei que ele odeia correr em círculos. Obedeci, sendo o Capitão do time de futebol eu tinha que servir de exemplo.

— A esquerda! – disse, passando por Sam, como todos os dias e ele simplesmente odiava isso.

— Ah, qual é!

Sorri, aumentando o ritmo. Acabei primeiro, bem ao lado de Bucky, e Thor suava com aquela blusa de goleiro. Ele era fantástico, a bola só entra no gol quando nós erramos e fazemos defesas ruins. Eu era atacante central, junto com Tony, Bucky, TChalla e Sam. Clint e Logan atuavam como meio-campo, Scott e Quill na defesa.

Fizemos treino intervalado diagonais em cones, corrida, treinamos embaixadinhas, mais corrida, cabeçadas, abdominais, flexões. Hoje até que era um dia bom, não pensei tanto na ruiva misteriosa. Mas foi só pensar nisso que eu simplesmente parei de funcionar. De novo pensei se ela não tinha aparecido por ter piorado. Congelei, e minha vez de chutar a bola pro gol se aproximava. Tentei me concentrar, mas foi em vão. Chutei e errei. De novo, chutei e errei. De novo, e de novo...

— Que isso, Rogers?! – Colson disse, e eu esfreguei os cabelos. Ele me chamou e os outros continuaram chutando bolas. – Nunca te vi errar um chute desses, agora cinco consecutivos?

— Seis. – corrigi. Droga de honestidade.

— Está com algum problema? – perguntou, com uma mão no meu ombro.

— Ele está apaixonado! – Bucky gritou, antes de chutar a bola em direção ao gol.

— Ah, então tudo bem. – Colson sorriu e eu lancei um olhar fulminante na direção do meu amigo futuramente morto.

No final sentamos juntos para estudarmos estratégias técnicas. Eu estava morto, precisando de um banho e um dorflex urgente. Mas futebol era outra coisa que dividia minha atenção. Eu realmente amava os jogos, amava competir e essa dedicação gerava resultados ótimos, diziam que eu era o melhor do time o Capitão América, o astro, mas eu dizia que era só o mais esforçado.

O treinador falava sobre os próximos jogos, nossos adversários, fazia parênteses em nossa defesa e ataque num geral, explicando sobre o próximo treino. Tony murmurava hora com Clint, hora com Thor, depois Sam e Bucky. Ignorei ele me chamando, queria prestar atenção no treinador Colson.

— Psssssssss, Steve!

— O que é? – respondi, irritado.

— Ei, silêncio, Stark. – Colson brigou, me fazendo olhar para frente, irritado. – Vamos fazer um rápido jogo nos quinze minutos finais do treino, certo? Vamos, vamos!

Dividimos os times, sempre mudávamos as estratégias. Eu seria o capitão do meu e Tony do outro, já que ele é meu co-capitão. Passei as estratégias rápido para meu time, nos posicionando. Fiquei no centro, encarando Tony com a bola em meu pé. Assim que Colson apitou eu e ela éramos um só. Imaginei que era uma estrela esférica em meus pés e era esse meu segredo que me fazia lançar a bola no gol, como aconteceu segundos depois.

As líderes de torcida gritaram meu nome e dei um hi-five em TChalla, rapidamente assumindo minha posição. Continuamos jogando e fui para o ataque cabecear a bola, junto com Clint e Logan. Foi no momento decisivo que vi. Um par de cabelos ruivos e olhos verdes assando perto das arquibancadas com um homem negro. Ela olhava para mim. Não é possível.

— STEVE! – ouvi uma voz, e quando vi pulei para cabecear. Acho que errei e cabeceei uma cabeça, porque apaguei.

(...)

Ela dançava para mim. Eu estava na primeira cadeira assistindo-a dançar. Rodopiando e rodopiando, a música era Canon in D minor. Ela sorria, ao invés de chorar. Não estava triste, estava feliz. Ela apenas dançava, rodando e rodando, e rodando... eu estava tonto.

— Steve. Steve. Steve. – dizia meu nome. Mas logo percebi que era Bucky, não ela.

Levantei a cabeça rápido, tendo como primeira visão o círculo de jogadores a minha volta. Depois, as líderes de torcida todas me encarando, preocupadas, junto com todos os outros que assistiam o treino. Uma dor latejante atingiu minha cabeça quando me sentei.

— Hm... Cadê o Clint? – disse, recobrando os sentidos.

— Vem. – Bucky me ajudou a levantar e fui com ele até o culler, pegando água e gelo.

— Estou bem. – disse, e Bucky gargalhou.

— Você apagou, véi, que isso! Essa garota está te deixando pirado!

— Vai jogar, vai, seu corno. – disse, revirando os olhos, e fui até Clint, que andava até mim zonzo e com um gelo na cabeça. – Sinto muito, Clint, foi culpa minha.

— Relaxa. Doeu menos que a prova de literatura. Acontece. Já viu sua testa?

Toquei nela, sentindo um galo dolorido. Fiz uma careta, desabando no banco. Coloquei gelo e bebi água, mal vendo o jogo. Meus olhos procuravam por ela e tinha medo de não achar. Assim que o jogo acabou sentamos de novo e recebi uma bronca, claro.

— Próximo reino faremos um jogo para ver se as maricas estão em forma. Vão logo para o chuveiro, estão fedendo mais que uma manada de bois. Passem longe das meninas!

Levantei, enxugando mais uma vez minha testa, e segui para o vestiário ao lado de TChalla. Os meninos passaram na frente para usar os poucos chuveiros e eu esperei, deixando todos irem na frente. Todos tomavam banho e fazendo brincadeiras imundas de meninos que incluíam correr pelado. Bucky ficou ao meu lado, temendo que eu estivesse mal mas na verdade eu estava chateado por não ser ela. Chateado de verdade.

Fiquei meia hora no banho de propósito para ficar sozinho. A essa hora de sexta feira os caras que cuidam do campo uma vez por mês passavam produtos para cuidar do gramado, então não estaria sozinho completamente. Quando saí eles já tinham ido embora. Coloquei meu casaco do time, analisando na câmera o roxo em minha testa. Vi três chamadas perdidas da dona Rogers e deduzi que ela descobriu sobre o pequeno acidente e já estava desesperada. Ia ligar para ela mas aquela energia eletrizante me interrompeu. Eu senti ela se aproximando de mim.

Ergui a cabeça e vi do topo da arquibancada ela correndo a toda velocidade pelo colégio a fora. Fiquei em choque, não acreditando no que via. Parece uma estrela cadente. Me senti em chamas novamente. Mas tudo foi interrompido quando vi para onde ela ia.

Merda. Ela ia bem na direção da porra do campo lotado de produtos químicos. Nem vi quando comecei a pular os degraus da arquibancada e assim que cheguei lá embaixo corri o mais rápido que consegui bem na pista de atletismo contornando o campo.

— HEY, PARA! – tentei, mas ela não me ouviu. Fui chegando cada vez mais perto e nossos corpos finalmente se chocaram. Segurei sua cintura, fazendo-a cair em mim para amortecer a queda.

A ruiva levantou a cabeça para me fitar, assustada, e percebi que ela estava chorando, mas naquele momento suas lágrimas congelaram. Ela ficou me encarando, com aqueles olhos verdes perfeitos petrificados. Nossos rostos quase se tocavam, estávamos ofegantes, mas ela respirava com muita dificuldade, e senti sua respiração pesada no meu rosto. Saí de choque, ficando instantaneamente preocupado. Levantei-a com os braços, fazendo-a sentar a minha frente.

— Tem tipo doze produtos químicos diferentes para tratar da grama aí, você quer morrer ou algo do tipo?! – gritei, e ela fechou os olhos. Ah, não, não...

— Não grita comigo! – berrou de volta, voltando a chorar compulsivamente. Droga. Ela começou a se arrastar no chão daquela pista de atletismo para tentar se levantar e sair de perto de mim.

— Espera, ei. – segurei seu braço, fazendo-a me encarar. – Por que você está chorando?

— Porque você é um completo babaca! Não precisava me denunciar para a porra do diretor desse colégio horrível!

Pisquei, completamente atônito. Eu não entendia sequer 1% daquela menina.

— O que?

— Me denunciaram, contaram que eu matei aula todos os dias da semana e que estava vindo no colégio depois do fim das aulas. – explicou. – Agora o Nick veio aqui, ele gritou comigo e vai me fazer vir pra essa merda de aula!

— Quem é Nick? – foi só o que consegui perguntar.

— Meu pai. – disse, analisando as unhas.

— E por que não chama ele de pai?

— Porque ele não é meu pai, porra. – falou, irritada, e se virou para sair de perto de mim.

— Ei. Eu não denunciei você. Eu juro. – murmurei enquanto ela fitava meus olhos fungando. Me lançou um olhar hostil e continuou com as lágrimas escorrendo e cabeça baixa. – Você não está chorando tanto assim porque tem que vir para a aula.

— Não é da sua conta, eu nem te conheço. – ela disse, tentando enxugar os olhos, e entrou num silencio mortal. Parecia fraca demais para se levantar e ir embora, então ficou ao meu lado no chão da pista de atletismo naquele colégio vazio com o sol dourado da tarde em nossas cabeças. Ela evitava ao máximo me olhar e seus esforços pareciam completamente voltados para limpar as lágrimas escorrendo.

— Sabia que Plutão é menor que a Rússia? – eu disse, e ela direcionou os olhos inchados para me fitar.

— Você é um cara muito estranho. – disse, e eu sorri.

— A maior parte das vezes que te vi você estava chorando. E se recusou a dizer seu nome. Acho que nós dois somos. – ela deixou escapar um início de um sorriso e negou com a cabeça.

— Você deve estar tonto por causa daquela pancada feia pra caralho.

— Você viu? – corei, engolindo em seco.

— Ah, vi. – disse, irritada. - Você deve estar acostumado a ter todas as garotas querendo conversar com você, mas eu não quero. – ela disse e eu me mantive impassível. – Por que ainda está aqui?

— Porque não quero que fique sozinha triste. – eu disse e sua máscara de durona pareceu rachar. Segundos depois seus olhos voltaram a se encher de lágrimas.

— Por que se importa? Você nem me conhece.

— Mas eu sinto que conheço. – murmurei, fitando seus olhos emocionados. – Te vi dançar e chorar todos os dias por uma semana e... eu sinto quanta dor tem aí. Você não precisa carregar sozinha.

E essa foi a gota d'agua. As lágrimas que ela tentava tanto segurar rolaram e seu rosto ficou vermelho por vergonha. Ela se levantou rapidamente, abraçando o corpo e indo para longe de mim mas quando vi já tinha segurado seu braço e abraçado sua cintura.

Coloquei um braço por baixo do seu, abraçando suas costas e a outra apertando sua cintura. Ela murchou, cansada de lutar e os soluços invadiram sua garganta. Ela é bem mais baixinha que eu, então apoiei o queixo no topo de sua cabeça e acariciei sua pele coberta pela blusa fina enquanto segurava seu corpo trêmulo. Ela parecia tão frágil, prestes a quebrar em mil pedaços. Senti naquele momento que devia protege-la de tudo. Queria destruir o motivo de todo seu sofrimento e nunca mais deixa-la só.

— Está tudo bem, ruivinha. – Murmurei diversas vezes sem parar as carícias. Observei o céu ficar cada vez mais dourado enquanto seus cabelos macios refletiam o brilho. Eles têm cheiro de amendoim.

Meus olhos se fecharam firmemente enquanto ela chorava em meus braços selados ao seu redor. Eu não pretendia solta-la tão cedo, seu corpo em meus braços fez minha alma se concertar um pouco. Não sentia nada assim desde... Amber. De repente me senti completo, aquele sentimento de vazio que estava em mim todos os dias sumiu. Foi desintegrado. Por um segundo eu fui inteiro.

— Meu nome é Natasha. – ela disse, de repente, afastando a cabeça do meu peito para fitar meus olhos. Que nome perfeito, combinava exatamente com ela.

— Achei que não fosse importante.

— Não é. – disse, se afastando um pouco. Natasha me encarava curiosa. Parecia questionar se eu realmente existia, igualzinho eu fazia com ela. Parecia estar sentindo as mesmas vibrações intensas com nossa proximidade. Parecia lutar contra todas as suas células para se afastar.

Ela se virou, limpando as lágrimas e começou a andar o caminho de volta na pista.

— Você sabe sair daqui? – perguntei, cruzando os braços com um sorrisinho convencido.

— Sim. – respondeu, firme.

— Então porque está indo pro lado errado?

Natasha se virou, claramente irritada e com um bico adorável no rosto.

— Eu sabia. – ela disse, passando por mim e eu ri, andando ao seu lado.

— O que mais você faz ao invés de balé e chorar?

— Não acho que seja da sua conta. – disse, sem me encarar.

— Hm, certeza? – perguntei, sem me abalar nem um pouco com seu comentário.

— Sim, Steve Rogers. – disse, e ergui as sobrancelhas, parando, surpreso.

— Eu não te disse meu nome, muito menos o sobrenome. – apertei o passo para alcança-la. Ela não tirava aquele sorriso pretencioso dos lábios.

— Eu tenho meus métodos. – disse, e eu abri o portãozinho vermelho para ela passar.

— Não vai me contar? – cruzei os braços.

— Não. Então você joga? – ela apontou para o campo ficando para trás. Assenti. – E você é bom?

— Não muito, como pode ver. – eu disse e ela me encarou, desconfiada mas não disse nada. Natasha ficou quieta enquanto andávamos pela escola, observando as coisas ao redor. Eu não conseguia afastar o pensamento de que parecia que conheço ela a anos. Ela já é tão importante para mim que não conseguia respirar. Sabia que ela estava triste e não podia fazer nada para mudar isso agora. Quando chegamos na frente da escola ela parou, olhando ao redor.

— Como vai para casa?

— Andando. – ela disse, descendo os degraus e foi em direção a calçada do estacionamento da frente.

— Posso te dar uma carona. – eu disse, e ela continuou andando.

— Me esquece, Rogers. – meu sobrenome saiu tão natural em seus lábios que me fez sorrir. Andei na direção da minha caminhonete azul marinho e entrei nela, rapidamente ligando o motor. Dei ré antes de virar e seguir pelo estacionamento vazio.

Desacelerei quando cheguei perto dela, andando a uns dois quilômetros por hora. Natasha em encarou, irritada, e aumentou o passo. Aumentei a velocidade. Repetimos isso mais umas três vezes até que ela bufou.

— Droga, porque não me deixa sozinha? – disse, parando, e fiz o mesmo, encarando-a.

— Porque seus olhos dizem o contrário da sua boca? – perguntei, debruçando a cabeça na porta da caminhonete surrada que ganhei do meu pai dois anos trás. Já havia vivido inúmeras aventuras com ela, desde a garotas vomitando no meu carpete até duas horas preso no meio do barro com Bucky.

— Você não me conhece. – ela disse, cruzando os braços. Ela fica tão linda irritada.

— Eu sei. Só não quero te deixar sozinha. Já já vai escurecer.

A cada vez que eu demonstrava e preocupar com ela seus olhos se enchiam de lágrimas.

— Por favor. – murmurei, fazendo um biquinho engraçado para tentar despistar suas lágrimas. Funcionou, ela bufou para fingir que não sorriu e entrou no carro, sentando ao meu lado. Sorri, vitorioso.

— Então, seu pai que não é seu pai te deixou aqui? – perguntei, e ela me olhou.

— Disse para ele que ia embora com meus amigos.

— E onde estão eles?

— Só tenho um, o mané chato do meu lado. – ela disse, desviando os olhos para o caminho lá fora. Abri um sorriso de orelha a orelha, sem tirar os olhos da estrada.

— Somos amigos? – perguntei e ela revirou os olhos.

— Pareço não ter escolha.

— Então posso te chamar de Nat?

— Não. – disse, sorrindo e eu abri um maior ainda.

— Okay, Nat.

— Droga. – ela sorriu, fingindo que eu não existia, como sempre. Ela colocou os dois pés em cima do porta luvas, balançando a cabeça ao som da música.

— Não disse que podia colocar o pé aí – eu disse, e ela me olhou com um sorriso, e apenas aumentou o volume do rádio. Revirei os olhos e num segundo passei a amar que ela colocasse o pé no meu carro. Ninguém colocava o pé no meu carro. Só ela, a partir de agora.

Fizemos o resto do caminho em silêncio. Sempre olhava para ela para checar se estava bem. Tinha algo nela que me deixava perplexo. Não sabia o que exatamente, mas ela parecia tão frágil. Mais que qualquer pessoa do mundo. Uma estrela solitária num universo gigantesco. A maioria das estrelas compõem sistemas binários ou múltiplos, mas Natasha parecia uma estrela solitária como o sol.

— De onde você é? – ela perguntou, com a voz baixa. Olhei para ela.

— Brooklyn. – eu respondi.

— E o que faz em Washington? – pensei por alguns instantes. Não respondi.

— E de onde você é?

— Miami. – respondeu.

— Uau. E o que faz em Washington?

— Pessoas saem das suas cidades para superar coisas.

— E o que você precisa superar? – devolvi, olhando para ela rapidamente. Natasha deu um sorriso debochado.

— Não posso superar isso. – disse.

— Nem eu. – murmurei, mantendo meus olhos na pista.

Eu não sabia nada sobre aquela garota, apenas que algo estava acontecendo com ela. Sabia que ela mora com o Nick e fica linda chorando. Franze os lábios quando está irritada, fez cirurgia nos sisos e dança balé como uma deusa. Sei que seus cabelos ruivos brilham no sol e ela mora num bairro rico. Sabia que seu nome é Natasha e vi o sobrenome Romanoff em sua carteira dois segundos atrás, quando ela usou o espelhinho para ver se o rosto ainda estava vermelho. Sei também que ela completou meu vazio, mesmo nossos encontros cósmicos tendo durado alguns minutos eu sei que quero que tudo seja eterno. Sei que quero conhece-la e ajuda-la. Protege-la. Queria que ela me visse como eu vejo ela.

— É aqui. – disse, apontando para uma casa grande com janelas enormes e transparentes. O muro é de ferro preto, com pontas grandes em cima. O jardim é bonito, com um chafariz bem na frente e ciprestes enormes. A casa em si tinha três andares e uma escada de piso branco que subia um morrinho de grama cheio de flores até a porta lá trás. Pude ver carros estacionados e uma piscina. Uma enorme, maravilhosa e vazia mansão. Ela parecia com vergonha da casa, mas eu não dei a mínima. Continuei olhando para ela.

Nem se mexeu, não parecia animada para entrar naquele reino de solidão onde sua única companhia seria a tristeza. Aumentei um pouco o rádio e não me mexi, com medo de ela achar que está me incomodando. Natasha começou a cantar a música que cantava no rádio baixinho.

— Say something, I'm giving up on you – olhei para ela usando o canto dos olhos e vi seus olhos vidrados no pôr do sol que começava a ficar alaranjado. Em alguns mjnutos estaria de noite. - I'll be the one, if you want me to. Anywhere, I would've followed you. Say something, I'm giving up on you.

Natasha parecia incapaz de fazer algo mal. Sua voz era doce e me fez encher os olhos de lágrimas. Eu não ficava emocionado frequentemente, então ela não precisava saber.

—And I am feeling so small It was over my head I know nothing at all.

Ela cantou tudo, Ouvia com atenção cada palavra que ela murmurava, brincando pacientemente com o volante. Quando essa acabou vieram mais, e quando estava quase escuro, ela se virou para mim, sorrindo levemente. Não era um sorriso debochado, como todos que ela deu, era um sorriso verdadeiramente lindo e verdadeiro. Não era triste como seus olhos.

— Obrigada, Steve.

— Sempre que precisar. – disse, e ela pegou uma caneta no porta-copos. Ela simplesmente escreveu no meu carro. Não me reconheci, mas fiquei feliz por ela escrever no meu carro. Seu telefone. - Nem me deixou fazer a cantada de astronomia que aprendi ontem.

— Pode fazer. – cruzou os braços, colocando a bolsa de alça no ombro.

— Dizem que as galáxias são as coisas mais bonitas do mundo, isso porque não conhecem você.

A gargalhada espalhafatosamente exagerada fez todo meu corpo sorrir. Eu estava literalmente pegando fogo e sua risada única e estranha me faz inflamar como querosene.

— Horrível, Rogers, mas valeu a tentativa. Melhore. – ela abriu a porta do carro, ainda sorrindo e eu não conseguia parar de olhar para ela. Natasha desceu, batendo a porta. – E pare de me olhar assim.

— Assim como? – perguntei, sabendo exatamente como eu olhava para ela.

— Com cara de idiota apaixonado. – disse, dando as costas para mim. Vi ela abrir o portão, lançando um último olhar para mim antes de entrar. Subiu as escadas e trancou a porta atrás de si. Fiquei ali, parado, tentando absorver aquela garota. Não consegui. Só liguei o carro quando a janela mais alta da casa se acendeu.

Olhei para o céu, e na mesma hora a primeira estrela da noite surgiu.


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Notas finais do capítulo

comentem por favorrrr, não esqueçam de favoritar xuxus



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