O inverno havia começado a pouco mais de uma semana, e por onde o quarteto viajava, o que eles mais viam era neve por todo lado; ela cobria o chão, os tetos das casas, as árvores e muito mais. A baixa temperatura não era tão incômoda durante o dia – caso estivesse usando roupas apropriadas, mas quando a noite chagava, começava a nevar de forma suave e o tempo ficava mais frio. Entretanto, o grupinho mal sentia a queda da temperatura por já estarem a caminhar durante muito tempo; o sangue estava correndo quente nas veias, o que mantinha os rapazes aquecidos – já Nezuko se mantinha quente por estar sendo carregada naquela caixa de madeira por seu irmão. Quando o sol se punha, ela saía da caixa e caminhava junto aos meninos; sendo uma oni, o frio não a incomodava de qualquer forma.

O grupo havia entrado em uma floresta após passar por uma vila para descansarem as pernas e comerem um pouco; não faltavam muitos quilômetros para chegarem na próxima cidade, que seria o local de sua próxima missão, então eles não queriam perder tempo; matar onis e proteger as pessoas era mais importante, então queriam se apressar. Devido ao horário – por volta de oito da noite, alguns flocos de neve caíam do céu, mas não chegava a atrapalhar a visão. Para passar o tempo de forma mais divertida, eles iam conversando e jogando “eu espio com meu olhinho” enquanto caminhavam. Devido ao fato de Nezuko não poder falar – mesmo que Inosuke conseguisse entender sua comunicação não-verbal, ela ia observando a paisagem; ver as árvores cobertas por neve e o ambiente colorido de branco a fazia lembrar vagamente de sua casa. Ela desviou o olhar para seu irmão ao ouvi-lo falar com Inosuke sobre sua falta de roupas.

— Inosuke, está frio. Você deveria usar algo para se aquecer. Vai ficar doente se ficar andando no frio com o peito desnudo. – O rapaz falava claramente preocupado em ver a pele quase pálida do outro com flocos de nove sob ela.

— Não diga besteiras Monjirou. Eu sou o Grande Hashibira Inosuke-sama, o Rei do Montanha. – Ele disse se vangloriando, mas os amigos não entenderam o que ele quis dizer com aquilo. – Eu sou como a sua irmã, não sinto frio.

— Isso é impossível porco. Todo mundo sente frio. - Zenitsu disse desacreditado das palavras do outro.

— Para o Chefe Inosuke, isso não é impossível. – Mesmo que estivesse em uma pose orgulhosa, dava para ver que Inosuke tremia de frio, mesmo que de leve.

Tanjirou não queria que seu amigo passasse frio, então parou de andar – assim como os outros ao verem o Kamado mais velho cessar seus passos – e tirou a caixa das costas e colocando-a no chão, se virando para Inosuke que lhe olhava confuso.

— Aqui Inosuke, pode usar o meu haori. – Disse assim que tirou a peça xadrez e oferecendo ao outro, que tentou se desvencilhar da roupa, já que odiava camisas e coisas parecidas.

— Sai pra lá Tantarou, já disse que não quero.

— Mas você precisa Inosuke! Não vou deixar você passando frio.

Nezuko, ao ver seu irmão oferecendo seu haori ao outro rapaz, tirou o seu próprio e estendeu a peça marrom á Tanjirou, querendo colocar em seus ombros. - Mmmh – “Falou” para o outro algo como “aqui”.

— Ah, Nezuko-chan! Você vai ficar com frio assim. Aqui, use o meu haori. – Zenitsu disse de forma animada ao retirar a veste amarela e a oferecer a menina.

Após isso, eles ficaram de tal forma: Inosuke estava usando o haori de Tanjirou, que estava com o de Nezuko, que por sua vez vestia o de Zenitsu. Eles se entreolharam e riram abafado. Era engraçado ver a si mesmos e os amigos com roupas que não eram suas e sim dos outros. Mesmo que Zenitsu estivesse sorrindo, ele abraçava o corpo como se estivesse passando muito frio – já que estava quente usando seu haori.

— Zenitsu, você não está com frio? – Tanjirou perguntou ao ver o loiro tremendo e batendo os dentes.

— C-claro que n-não. – Disse com o queixo tremendo. – Só de v-ver a Nezuko-chan v-vestindo m-meu haori a-aquece meu c-corpo e c-coração. E-estou b-bem. – Mesmo que dissesse tais palavras, seu corpo trêmulo não mentia. Inosuke olhou para a atitude patética do outro por alguns instantes e bufou por baixo da cabeça de javali.

— Você é um péssimo mentiroso Benitsu. – Inosuke colocou as mãos na cintura e retirou a peça peluda que vestia, andou até o loiro e pôs sobre seus ombros.

— Eu, o Grande Inosuke-sama, permito que você use isso para se aquecer. Agradeça ao Rei da Montanha por ser tão benevolente. – Riu orgulhosamente consigo mesmo, como se tivesse feito algo grandioso.

Ao primeiro momento, Zenitsu ia reclamar daquela roupa peluda, mas segundos depois, fechou a boca ao sentir como, em instantes, já se sentia mais quente. De fato aquela roupa peluda era bem quente e macia – entretanto, ele não queria saber de que animal saiu aquele pelo. Ajeitando a veste nos ombros, escondeu parte de seu rosto vermelho pelo frio.

— Hm, valeu. – Disse corando levemente, o que fez Inosuke rir mais alto e Tanjirou e Nezuko sorrirem.

— Mmmh mmh – Nezuko tentou falar algo ao olhar para seu irmão, mas o mesmo não entendeu; nisso, Inosuke interveio como um tradutor.

— Suzuko disse que seria melhor nós darmos as mãos para ficarmos mais aquecidos. – Nezuko acenou com a cabeça e acariciou a cabeça do rapaz por ter lhe entendido.

— Oh sim, é claro, e o nome dela é Nezuko. – Tanjirou sorriu gentilmente e ofereceu sua mão para Inosuke e Nezuko; ambos seguraram rapidamente suas mãos. Nezuko então segurou a mão de Zenitsu, que quase teve um treco e por pouco não desmaiava de felicidade.

— N-Nezuko-chan está segurando minha mão!!! Ahhh, já posso morrer em paz. – O loiro murmurava coisas consigo mesmo, o que fez os outros lhe olharem com feições estranhas, mas deixaram de lado.

Estando todos aquecidos, e de mãos dadas, voltaram a caminhar no frio, mas estavam tão confortáveis que o inverno não era nada para eles.