A story painted Black escrita por crowhime


Capítulo 5
Capítulo 5




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Hogwarts era um local seguro. Protegido por barreiras mágicas, com os melhores e mais capacitados professores, e um poderoso diretor. A guerra acontecia lá fora, mas lá fora, e os alunos conseguiam, apesar das preocupações com pais e familiares, viver em relativa segurança, porém Remus logo se formaria - era seu último ano, afinal - e os boatos que percorriam os corredores lhe deixavam inseguro e mesmo toda segurança do castelo era incapaz de afastar o medo.

Entre os alunos do sexto e sétimo ano havia conversas sobre como era possível se juntar a Voldemort. Que ele recrutava bruxos proeminentes para ajudar a construir o futuro que estava por vir. Voldemort era forte. Mesmo com os maiores esforços do Ministério, aurores e do próprio Dumbledore, o Lorde das Trevas estava a pleno poder e ninguém parecia páreo para ele e seu exército: os comensais da morte.

Desde o último ano ficou sabendo que aquelas conversas existiam, que a partir dos dezesseis você poderia se devotar à causa que muitos achavam certa, ou tinham medo de ser contra. Remus nunca havia dado muita atenção, residindo em sua bolha dentro da Grifinória, mas agora o cenário era diferente. Havia Regulus, com dezesseis anos. E a família Black. E toda a casa das cobras, cuja grande maioria abertamente apoiava o Lorde das Trevas. Todo o contexto lhe aterrorizava. Porque não falavam disso. Não discutiam sobre famílias, amigos, ideais, futuro. No fundo, sabiam que não existia um futuro para eles.

Não que precisasse conversar com Regulus para saber. Sirius era o suficiente. Já sabia da propensão do Black mais novo às artes das trevas, talvez nem por escolha própria, uma vez que seus pais praticamente mandavam na vida dos filhos.

Mas Sirius fugiu.

Sirius, com dezesseis anos, fugiu de casa.

Sirius tinha James. Tinha os Marotos. Tinha a Grifinória.

E Regulus?

Mais uma vez, se perguntava: o que Regulus tinha?

Era fácil se rebelar quando se tinha suporte para tal. Estrutura. Para onde ir e quem o acolhesse. Era fácil ser um herói com as condições certas. Difícil era lutar contra o fluxo. Remus, melhor do que ninguém, sabia disso, só percebendo a perspectiva de uma vida além das correntes e do isolamento quando Dumbledore lhe estendeu a mão.

Quem estenderia a mão para Regulus Black?

Apesar da natureza secreta da relação que tinha com Regulus, daria todo suporte para ele, se fosse o caminho que escolhesse. Daria todo apoio. Mas o que Remus podia oferecer?

Nada.

Não precisava ser um gênio para descobrir.

Não tinha nada; nada além de seus sentimentos. Não era rico, não tinha uma casa grande, uma mãe amorosa e super protetora, porém um pai rígido, e nem mesmo poderia dizer que havia um futuro promissor o aguardando, não com a maldição que estava fadado a viver com, que se sobrepunha a todo o esforço para ser um bom aluno e às notas boas.

O que tinha era apenas uma doença. Marcas e cicatrizes. Licantropia.

Não podia ser egoísta. Não a esse ponto, de exigir quando não tinha nada para dar em troca.

Mas era cada vez mais difícil não tocar no assunto. Regulus estava cada vez mais distante. Seus sorrisos, já raros, se tornaram ainda mais escassos, e era perceptível como estava tenso. Machucado. Como se prestes a explodir.

"Reggie." Chamou baixinho, não queria estragar a noite tranquila que dividiam, mas as férias de fim de ano se aproximavam e o incômodo chegou a um nível insuportável. Cada noite que passavam juntos era inevitável procurar pela marca negra em seu corpo, e cada vez que não a encontrava era um alívio, sempre momentâneo, pois o medo sempre voltava no dia seguinte. E o que aconteceria quando retornassem após o Natal? Os olhos escuros o miraram,  dando-lhe atenção. Ficou sem fala e precisou se esforçar para procurar as palavras. "Não tem nada que queira… conversar?"

"O que teria?" Ele devolveu, sua voz distante. Sabia que ele sabia a o que Remus se referia. Este suspirou, não querendo entrar naquele jogo.

"Você… vai se juntar a ele, não é?" Indagou baixinho, com sincero medo da resposta.

Sempre evitava aquelas perguntas por seu próprio receio. Mas, uma hora, precisavam ser feitas.

Remus sabia que Regulus sabia a quem ele se referia. E Regulus sabia que Remus já sabia a resposta. Mas o coração do grifino não podia deixar de estar confuso, dolorido.

Regulus suspirou.

"Por que esse assunto agora?" Sua expressão era de desagrado. Remus soube ali que havia estragado a noite. "Não é como se você me contasse tudo também."

O mais velho franziu o cenho. O que deveria saber agora? Genuinamente ficou confuso.

"Eu conto tudo que acho importante para você."

"Ah, é?" A voz de Regulus soou repleta de ironia, junto a um sorriso seco. Seus olhos eram duros e frios, como obsidianas. "Não me lembro de ter me contado o que você é."

O mundo de Remus desabou.

O sangue congelou em seu corpo.

Arregalou os olhos, fitando o mais novo com surpresa, toda a cor sumindo de seu rosto.

Lobisomem, era a o que ele se referia.

"C-como…" Começou, mas o Black não deixou que finalizasse a sentença.

"Eu não sou idiota. Achou que o papo de garoto doente colaria, quando sempre vem na época da lua cheia? Por favor, Remus. Sou mais esperto que isso e tenho um calendário. Observo você faz seis anos."

Regulus soava como uma cobra. Venenoso. Silencioso. Mortal. Vendo através de seus olhos de pedra, via o fogo queimar, forte e intenso. Sua alma era pintada em preto - entendeu naquele momento. Como uma sina que seu nome trazia. Black. Ele já estava colorido com a ausência de qualquer cor, desprovido de salvação, afundado em uma piscina de piche. E, ainda assim, Regulus brilhava. Mesmo no meio do preto, da ausência de qualquer luz, reluzia intensamente.

Ou seria exatamente por não haver luz que era tão brilhante?

Não conseguia fitá-lo diretamente, como se seus olhos fossem queimar. Remus entendeu. Não era um herói, e nunca seria. Por mais que estivesse no lugar certo, não tinha capacidade de salvar ninguém. Era como Ícaro, que voou próximo demais ao sol, e encontrou sua morte. Mas, ao contrário de Ícaro, Remus não era um herói. Era um lobo. Um nada. Um ser das trevas que sobrevoava próximo ao sol negro, quando todos sabiam que lobos não eram feitos para voar. E sabia de sua sina se ali continuasse, perto do sol que lhe assustou ao expor sua própria escuridão, ao ponto de fazê-lo recuar. Porque eram iguais.

E, diferente de Ícaro, não teve coragem de tocar aquele sol. Não estava pronto para encontrar seu fim.

Não tinha direito de sequer pensar em ser um herói.

Não conseguiria se sacrificar pela pessoa que… amava.

No fim, não era tão nobre assim.

Ouviu Regulus estalar os lábios, a raiva silenciosa e contida. "Não se preocupe, não contei e não vou contar para ninguém se é com isso que está preocupado. Adeus, Remus", ele disse por fim, e foi como se fosse repentinamente empurrado a milhas de distância, mesmo que sequer fosse tocado fisicamente.

Não conseguiu se mover, ainda em choque. Regulus sabia. Regulus sabia que era um lobisomem. Desde quando? E ainda ficou junto a si? Por quanto tempo? Por quê? As dúvidas revolviam em sua cabeça, quando caiu em si, correu para abrir o mapa do maroto, vendo os passos do sonserino cada vez mais distantes. Pensou em ir atrás, pedir desculpas, porém não conseguiu.

Sempre haveria o amanhã. Sempre haveria o após as aulas. Após as férias. Sempre haveria o depois.

Até que não houvesse mais.

Essa foi a última vez que viu Regulus Black.


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Notas finais do capítulo

Bem... Depois disso, ainda teremos um epílogo. Não vou demorar a postá-lo, prometo.
Eu simplesmente amei escrever esta história, que saiu de forma natural da minha cabeça, e fluiu relativamente bem, fazia tempo que não tinha esse sentimento! Não esperava que alguém sequer lesse, mas me fez muito feliz mesmo ver que sim ;;
Não que eu esteja finalizada de escrever com Regulus Black, e com esse ship, além do desafio de drabbles de outubro (momento jabá), ainda tenho algumas coisas planejadas pela frente haha
Obrigada a quem está lendo! Não se esqueçam de deixar um reviewzinho ;w; ♥



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