A story painted Black escrita por crowhime


Capítulo 2
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/782159/chapter/2

Quarto ano. As brincadeiras contra Snape ficaram mais pesadas. Remus odiava fazer parte daquilo, mas não tinha forças para impedir os amigos, sequer falar algo, e silenciosamente era grato por Lilian não engolir aquele tipo de comportamento e brigar com o grupo, ela parecia ser a única que tinha coragem - ou vontade - para tal. Os Marotos, especialmente James e Sirius, ganhavam popularidade crescente entre os alunos da Grifinória, mesmo com os mais velhos, e qualquer um na escola sabia das frequentes brincadeiras e pegadinhas não tão inocentes que eles faziam.

Remus não se considerava no mesmo barco, não era nem de perto tão popular quanto os outros dois, e estava mais preocupado em manter as notas altas do que caçoar outros alunos, tudo que fazia era assistir e ficar por perto, não tinha nada a ver com aquela bagunça. Ao menos, era o que pensava.

Só entendeu que também fazia parte quando, um dia na biblioteca, véspera das provas finais, o único lugar disponível era cruzando olhares com Regulus Black. Ultimamente, o via andando às vezes com o Ranhoso, porém na maior parte das vezes continuava acompanhado do amigo Barty, como era o caso. Estavam sentados lado a lado na mesa, cada um com os próprios papéis, e alguns livros em torno. O lufano tomava praticamente toda a extensão da mesa, enquanto Regulus era mais organizado e deixava a cadeira à sua frente disponível para uso. Lembrava-se do último e único encontro deles e ficou incerto se deveria, mas fazia tanto tempo… e precisava estudar. Assim, se aproximou e pediu licença para se sentar, porém quando o sonserino ergueu os olhos para ver quem era, ele pareceu ficar assustado. A raiva também estava presente, mais branda, mas o que predominou em seus olhos escuros foi… medo? Ele já não era tão expressivo quanto antes, mas Remus quase podia farejar aquele cheiro.

Tentou não se incomodar e focar nos próprios estudos, porém se assustou quando o lufano gritou de surpresa e dor como se tivesse sido acertado na canela, e ergueu os olhos brevemente para a dupla enquanto um sonoro “shiii” ecoava pela biblioteca, pedindo silêncio àquela mesa em específico. Não ouviu o que Regulus cochichava no ouvido do loiro que pela primeira vez o fitou, mas logo desviou o olhar, e momentos depois ambos se levantaram e o deixaram sozinho.

Regulus era amigo de Severus Snape. Deveria saber das piores coisas que os marotos faziam (toda a escola não sabia?). Não conseguiu culpá-lo por ficar com medo, embora não gostasse da sensação. Não queria ser temido por quem quer que fosse.

Sabia como era ruim. Ele vivia com medo, afinal. Medo do lobo dentro de si. Mas não podia deixar de dar razão a Regulus.

Não foi fácil, porém ignorou.

No quinto ano, Remus achou que estava no ápice de sua vida. Seus amigos finalmente haviam conseguido virar animagos, faziam-no companhia nas noites de lua cheia, havia tido os esforços reconhecidos e virado monitor, e até se aproximava de Lilian Evans, que também havia sido escolhida. Não podia estar melhor.

Mas, como em uma montanha russa, todo ápice tem sua queda, e o baque veio forte.

Sirius, por uma simples brincadeira, quase revelou seu segredo a Severus Snape. Por uma simples “brincadeira”, quase fez com que Remus o matasse. Se não fosse por James, teria o sangue de uma pessoa nas mãos. Teria virado o monstro que sempre temeu: o lobo fazia parte de si, afinal. E podia não controlá-lo, mas tinha plena ciência de tudo que ele fazia. 

Já não era mais uma simples brincadeira.

Acabou por se afastar dos Marotos. Por muito tempo, não conseguiu sequer olhar na cara de Sirius, que, mais uma vez, nunca o pediu desculpas. Orgulhoso como era, nunca o faria. Já reconhecia os padrões: ele fazia merda e depois se aproximaria como se nada tivesse acontecido ou tentando compensar o que havia feito. Por muito tempo, havia se sentido culpado, porque era sensível demais e ligava para besteiras, mas aquilo não era besteira, e não seria sendo bajulado ou recebendo um presente caro de aniversário que mudaria o que houve. Que quase havia assassinado uma pessoa. E podia até conversar com James e Peter, mas preferia manter distância amigável de Sirius Black - próximo só o suficiente para não deixar o clima entre os quatro estranho. Por consideração a James e Peter, apenas.

Começou a passar mais tempo com Lily ou sozinho, e o trabalho de monitor era ótimo para que ocupasse a cabeça, embora na maior parte do tempo não houvesse o que patrulhar de fato. Ao menos logo viriam as férias de verão e, quem sabe se afastando aquele tempo, sua raiva passasse.

Estava sozinho aquela noite, o professor de Poções, Slughorn, havia chamado Lilian, e ela lhe pediu desculpas, mas entendia, afinal a ruiva precisava atender ao chamado do professor. Ela era uma de suas alunas favoritas, afinal.

Geralmente não havia o que patrulhar, porém algumas noites acabava se deparando com alunos fora de seus dormitórios. Nessa noite em particular, ouviu uma voz abafada que parecia familiar, embora não soubesse de onde, vinda de uma das salas de aulas escuras, mas não deu atenção e se aproximava para mandar quem quer que fosse dormir quando se deteve antes de alcançar a porta, finalmente sendo capaz de compreender as palavras.

“Deveríamos voltar, algum monitor pode nos pegar…”

Ouviu uma segunda voz soltar uma espécie de riso baixo, soando como se sorrisse.

“Ah, vamos, só mais um pouco, Reg.”

Reg?

“Eu disse um beijo, Barty, você que não sabe quando parar.”

Remus sabia que não deveria espiar. Só deveria abrir a porta de uma vez e mandar os dois para a cama, mas discretamente se inclinou para ver através do vidro da porta da sala.

As luzes estavam apagadas e a que vinha do lado de fora não era suficiente para que visse muita coisa, mas ficou aliviado ao ver que os dois estavam ao menos vestidos. Não diminuiu sua vergonha, porém, ao perceber quão intensamente os dois se beijavam. Regulus - e fazia sentido não ter reconhecido de primeira sua voz que estava mudando pelas poucas vezes que havia a ouvido - estava sentado em uma das mesas com os braços ao redor do pescoço de Crouch, que apertava-lhe a cintura sobre as roupas. Remus sentiu o rosto esquentar, perdendo a conta de quanto tempo ficou observando, voltando a se esconder quando os dois se afastaram. Ou Regulus afastou com a mão o rosto de Bartemius.

“É sério, Barty, chega.”

Já havia beijado garotas antes. E em algum momento se pegou imaginando fazendo o mesmo com um aluno mais velho, porém suprimiu a memória porque com certeza estava fora de si na época, era novo demais e não entendia nada, e seus amigos só falavam de garotas, então deveria ser estranho, e desde então ignorava a possibilidade como se fosse impossível de fato, mas agora…

O lufano soltou um grunhido contrariado.

“Você deveria ser da Lufa-Lufa, não teria que ficar se preocupando com monitores.”

“Você foi depois de mim, se não se lembra, então é você que está na casa errada.” Regulus resmungou, eles falavam tão baixo que Remus precisava apurar os ouvidos para ouvir atrás da porta. “Anda, vai logo. Não que desconfiem se nos verem andando juntos.”

Remus ficou em pânico, mas no meio do corredor não havia onde se esconder. Apenas se juntou mais à parede e rezou para passar despercebido ao lufano que saía pela outra porta, e respirou aliviado só quando o viu virando no corredor mais à frente.

Estava prestes a fazer o mesmo quando a porta se abriu e seu corpo se trombou com o de Regulus Black.

O pânico de ter sido pego espionando deve ter sido visível em seu olhar, pois o sonserino franziu o cenho e disse entredentes:

“Você estava espionando?”

Lupin hesitou, a culpa perceptível no tom alterado quando respondeu:

“O quê? N-não!”

Claramente o mais novo não acreditou e, de súbito, agarrou-lhe o colarinho e o virou contra parede, fazendo suas costas se chocarem ali com força, a varinha apontada diretamente para seu pescoço. Regulus ainda era mais baixo, mesmo ambos certamente tendo crescido desde a última vez que ficaram em uma situação similar, e a ferocidade estava presente em seu olhar. Como da última vez, suas bochechas estavam vermelhas, porém Remus tinha certeza que o motivo era outro - tinha visto, afinal.

“Se falar para alguém sobre isso, eu te mato.”

A voz de Regulus era baixa e ameaçadora, ele discorria com detalhes tudo que faria e que maldições usaria para atingi-lo, mas Remus não prestava atenção, só conseguindo encarar os lábios vermelhos e inchados de Regulus Black.

Uma parte de si quase disse que não contaria a ninguém desde que ele o beijasse, porém mordeu a língua antes de fazê-lo, porque com certeza seria azarado sem uma segunda chances e, céus, era Regulus, irmão de Sirius! No fim, apenas assentiu mecanicamente e em silêncio, recebendo um último olhar mortal antes do garoto sumir no corredor escuro.

Ficou mais fácil ignorar Sirius, simplesmente porque agora sua mente estava ocupada pensando no irmão dele, o que era deveras vergonhoso e sinceramente queria esquecer, mas era difícil quando por vezes o via lançando olhares fulminantes da mesa da Sonserina em sua direção, ou quando era fixamente encarado nos corredores pelo par de olhos escuros. Era como se ele estivesse o lembrando de manter a boca fechada, mas não importava o motivo, simplesmente se pegava olhando de volta quando o mais novo não estava vendo, como se compelido por ele. Regulus ainda era uma estrela, afinal.

E podia até não entender a amizade improvável entre um sonserino e um lufano, porém foi fácil entender porque Regulus queria beijar Bartemius. O loiro era alto (provavelmente ainda mais baixo que o próprio Remus, mas alto), tinha um sorriso charmoso, fácil e contagiante, era de uma daquelas famílias sangue-puro, provavelmente rico e ainda inteligente. Mas não era possível, deveria ter algum defeito. Remus podia apostar que ele beijava mal. Ou ao menos ele beijava melhor, porque não podia simplesmente ser pior em tudo do que um riquinho mimado, não que fosse uma competição ou ele quisesse beijar Regulus, só estava curioso, é claro, era o que dizia a si mesmo até o dia que realmente sonhou que estava beijando o agora-oficialmente-herdeiro dos Black, já que Sirius havia fugido de casa no último verão, e nunca quis que as férias chegassem tão rápido.

Havia decidido que só estava confuso e encantado com a possibilidade que havia se aberto à sua frente ao ver os dois se amassando na sala de aula, não era por Regulus por si só, e começou o próximo ano escolar tranquilo…

Até ver que Regulus era o novo monitor da Sonserina.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada a quem leu até aqui! Adoraria se deixassem um reviewzinho :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A story painted Black" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.