— Podemos conversar? - Rick estava sério. Tentei decifrar algo avaliando seu rosto, mas ele ainda tinha o olhar atento nas crianças. 

— Claro. – Respondi dando uma ultima olhada em minhas crianças que dormiam pacificamente.

Em silêncio fomos para a cozinha. Me sentei em uma das cadeiras próxima a bancada enquanto Castle procurava algo nos armários.

— Quer beber alguma coisa? - Perguntou sem se virar.

— Algo que possa me ajudar a dormir? - Tinha dias que eu não dormia direito, a cama parecia grande mais.

— Um chá sempre ajuda. - Disse enquanto colocava algo para aquecer no fogão, em poucos minutos me entregou uma caneca fumegante.

— Beba depois que esfriar um pouco. 

— Certo... Sobre o que quer conversar? - Rick estava bem a minha frente apoiado na bancada e parecíamos estar a metros de distância, talvez quilômetros.

— Não quero que se sinta pressionada por mim... –Disse sem nunca me olhar diretamente nos olhos. - Recebi uma proposta na reunião de hoje, que a princípio recusei, mas acho que seria bom.

— Que tipo de proposta? - Perguntei sentindo meu estômago se revirar. Não podia ser algo bom.

—  Encontro Anual de Escritores dos EUA. – Rick falou e finalmente me olhou nos olhos. - Em Vancouver.

— Van-Vancouver? – Gaguejei o encarando e sentindo uma vontade quase incontrolável de lhe dar um soco. – Quantos dias?

— Uma semana. – Disse apontando para xicara. – Já esfriou. – Reviro os olhos e tomo um gole do chá. Surpreendendo-me por estar tão gostoso.

— Você precisa de espaço. – Diz desviando os olhos dos meus novamente. Eu o magoei. Por isso quer ir para longe.

— E as crianças? A casa? – Pergunto quase desesperada. E EU? – Fiquei algumas horas sozinha com Sophie e o resultado não foi nada bom.

— Não foi sua culpa. – Ele me olha com seus olhos azuis carinhosos. – E não vou deixar vocês sozinhos. 

— Vai nos monitorar por câmeras? – Ergo uma sobrancelha o encarando enquanto tomo mais um pouco do chá maravilhoso. Castle sorri me olhando.

— Engraçadinha. A Sra. Dulce vai estar aqui segunda. Ela é a nossa ajudante. Você ama a comida que ela faz. – Sorrio o olhando, mas não me lembro de nenhuma Sra. Dulce.

— Não me lembro dela... – Suspiro olhando para as minhas mãos. Minha aliança brilha na luz fraca da cozinha e sinto meu coração apertar. – Não me lembro de tantas coisas.

— Temos que ter paciência. – Gentilmente Castle aperta minhas mãos. – Vai se lembrar.

— Vou? – Pergunto o olhando. Castle sorri e solta minhas mãos.

— Você é muito durona pra ser vencida por uma amnesia, capitã. – Sorrio.

— Acho que você tem razão... – bocejo. – O que você colocou nesse chá? – Castle ri.

— Nada demais. – Castle se levanta e me estende a mão. – Você precisa dormir.

— Quero conversar. – Cruzo os meus braços e tento permanecer seria, mas bocejo novamente.

— Deixa de ser teimosa. – Ele continua com as mãos estendida na minha frente. – Vou ter que te levar? 

— Não seria ruim... – Falo baixinho e seguro em suas mãos. – Mas eu consigo subir até lá. – Rick ri e me pega nos braços.

— Acho que exagerei na camomila. – Rio apoiando minha cabeça em seu ombro enquanto ele me carrega para o quarto. Fecho meus olhos sentindo seu perfume e suspiro. Com cuidado ele me coloca na cama e retira meus sapatos. Encolho-me na cama enorme sem deixar de o olhar enquanto Castle ajeita a colcha sobre mim. – Tudo bem? – Pergunta sentando na pontinha da cama.

— Por que não pode ficar? - Castle suspira olhando para qualquer coisa que não fosse eu.

— Você precisa de espaço.

— Eu te magoei? – Pergunto sentindo meus olhos ficarem úmidos.

— Um pouco. – Diz baixinho e me olha. – Se não puder se lembrar... Quero que pelo menos queira me amar.

— Rick... - Sinto seu dedo sobre meus lábios me silenciando.

— Shh. – Diz e acaricia meu rosto. – pode dormir. – Sussurra e passa a acariciar meus cabelos.

Volto a fechar meus olhos sentindo suas mãos, seu cheiro e durmo.

####

O fim de semana passou com um piscar de olhos.

Castle e eu passamos quase o tempo todo com as crianças e aproveitamos os dias de inverno para brincar em um dos parques que estava coberto por neve e cheio de crianças.

Sentada em um banco observava os três brincarem e não saberia dizer quem estava mais animado. Rick parecia um menino às vezes, um menino lindo e cheio de energia.  Sorri os observando.

Sophie jogava bolinhas de neve em Alex e não parava de rir, enquanto Alex tentava se livrar da irmã e a acertar ao mesmo tempo. Desviei os olhos das crianças quando algo gelado acertar em cheio meu braço esquerdo.

— Rick! – me levanto brava enquanto o escritor dava gargalhadas olhando pra mim.

— É melhor correr! – Aviso e me abaixo para fazer uma bola de neve e o acerto. Rio com a cara de dor que ele faz e então sou atingida por mais duas bolinhas.

— Alex e Sophie? Não acredito! – Digo fingindo estar brava e os dois soltam gargalhadas gostosas.

— Corre Sophie, corre! – Alex grita puxando a mão da irmã enquanto faço mais uma bolinha e corro atrás deles e de Castle.

— Vou pegar os três! – Grito correndo e atiro mais bolinhas em Castle e nas crianças.

— Você perdeu o jeito, capitã. – Castle provoca e se vira me tampando outra bolinha que acerta meu ombro.

Enquanto ele ri tampo uma bolinha que o acerta em cheio na testa o fazendo cair de bunda no chão.

— Rick? – Grito e corro em sua direção e me abaixo sentindo a neve gelada quando me sento entre suas pernas. – Eu te machuquei? – Pergunto preocupada.

Castle tira as mãos da testa e começa a rir me olhando e acabo rindo junto. Sua testa estava apenas vermelha.

— Pare de rir! – Falo rindo e bato em seu peito.

— Acho que me enganei. – Diz e me puxa para o seu colo. – Você ainda tem uma ótima pontaria. – Diz sorridente.

— Atacar o papai! – Me agarro a ele quando escuto Alex e Sophie. Correndo os dois se lançam sobre Castle e eu e rimos untos.

Aconchego-me em seu peito sentindo o corpinho de Sophie sobre o meu e Alex se espremendo ao meu lado. Os braços de Castle nos seguravam firmemente enquanto as crianças ainda riam, só conseguia pensar em fazer com que ele ficasse.

“Por favor não vá pra essa conferencia. Por favor não me deixei “ quis gritar enquanto permanecia sobre seu peito.