“You were the one, but you were born to say goodbye

Kissed me, half a decade later

That same perfume, those same sad eyes”

Era o beijo mais doce de sua vida, aquele da despedida que sabia que tão logo os obrigaria a se afastar. Era o beijo do adeus, era o selar de lábios à um futuro incerto que os aguardava com a fome de um dementador a lhes sugar a felicidade. 

O toque cálido daquela mão em seu rosto seria algo que Sirius não esqueceria. Foram tantos beijos trocados ao longo dos anos de estudo, em meio às estantes de livros na biblioteca ou até mesmo quando descobriram a sala precisa. Cada um era especial, como se fosse o primeiro e o último, tal como aquele que selava o término, que concretizava o azar que os cercava.

—  Se cuida. —  O polegar passou pela maçã do rosto, secando a lágrima solitária que Remus sequer se permitia, mas rompia mesmo assim. A intensidade do olhar trocado, as testas que colavam-se mesmo com a diferença de altura. Era a despedida afinal, aquela que acharam só os abater em meio a velhice, sentados numa cadeira à beira mar.

—  Se cuida. —  Lupin respondeu, ciente de que quando Sirius saísse, levaria consigo boa parte de seu coração, de sua alma.

Por que não poderiam seguir juntos? Por que caçavam-o como se ele fosse o culpado pelas atrocidades, pela traição à Lilian e James Potter? Era tão injusto, tão injusto forçar-se a frente para mais um beijo de adeus, um ao qual não estavam preparados, a despedida que os feria muito mais que as transformações de Lupin em lua cheia. 

—  Quando puder volto para você, volto para darmos à Harry uma vida boa e feliz. —  Sirius disse esperançoso, um sorriso tão confiante nos lábios, os olhos mostrando a determinação digna de um Black. 

Sobrou à Lupin menear a cabeça, um sim singelo e de olhos que forçavam-se a conter as lágrimas que vieram quando Sirius transformou-se num cachorro e correu para longe. Restou a ele tocar os lábios com a ponta dos dedos, as falanges trêmulas e a certeza de que a vida nunca parecera tão desesperançosa. As lágrimas silenciosas salgavam o sabor daquele beijo, deixando a memória tão marcada como uma de suas cicatrizes. 

Foram anos. 

Anos de uma distância forçada, da incerteza da segurança e do “bem estar” alheio. Foram anos engaiolados em celas de um presídio, para um literal, para outro figurativo. Ainda assim, presos na distância que os feria. 

Quando por fim se reencontraram, o beijo lhes fora negado por tantos espectadores, mas foi consumado quando a sós, quando os olhos tristes e repleto de lágrimas de Lupin encontraram-se com aqueles tão determinados de Sirius, e sua típica mania de se achar certo ao dizer um sonoro:

—  Não te disse… Voltaria para você, para Harry. Só me atrasei um pouco.

Eram marcados por beijos. De despedidas, de reencontros e de beijos que nunca mais poderiam dar, quando sugados pelo véu da morte. Deixando apenas a sensação de formigamento nos lábios, como se ainda pudesse sentir.