O período em Kalos era agradável. O Sol estava morno e um vento refrescante batia nas folhas das árvores. Um dia perfeito para descansar das batalhas pokémons e se concentrar em passar um tempo com os amigos. Ash olhava concentrado para Clemont, que se ocupava montando mais uma invenção. Enquanto isso, Serena e Bonnie ajeitavam a mesa para o almoço. Do outro lado do acampamento, Pikachu, alheio a tudo e a todos, descansava sob o pé de uma macieira. 

 

“Venham comer!”, chamou Serena com o tom usual de mãe carinhosa.

 

Ash não esperou segunda ordem e, imediatamente se levantou e foi até a mesa.

 

“Vamos lá, onii-chan! Deixe isso pra depois!”, reclamou Bonnie ao ver que Clemont não saía do lugar.

 

“Só um segundo, Bonnie! Só faltam alguns ajustes!”, respondeu o garoto concentrado.

 

“Clemont não sabe mesmo a hora de parar!”, comentou Serena gentilmente para Ash, enquanto lhe servia um prato com comida.

 

“ É como o Clemont diz, a ciência não pode parar!”. O garoto falou com os olhos brilhando de empolgação. Serena sorriu, lembrando-se que Ash tinha a mesma determinação, só que com pokémons.”Uma vez que você começa, não pode parar até terminar!”, complementou Ash.

 

Foi então que um barulho repentino entrou em contraste com a calmaria daquele dia. Uma explosão se fez ouvir ao longe. Ash, Serena, Clemont e Bonnie olharam para onde vinha o barulho e viram uma enorme fumaça cinza invadir aquele pedaço do céu azul.

 

“O que será que foi isso?”, perguntou Bonnie preocupada.

 

“Não sei, mas melhor dar uma olhada!”, respondeu Ash já se adiantando para o local, “Vamos, Pikachu!”

 

Sem segunda ordem, o rato elétrico levantou-se da macieira e correu atrás de seu treinador. Clemont, Bonnie e Serena foram logo atrás. 

 

Quando chegaram ao local, Ash recuou surpreso. Uma máquina enorme estava no chão, destruída. De repente, vozes atrás de algumas árvores chamaram a sua atenção. O treinador se inclinou e manteve-se escondido para ouvir. Clemont, Bonnie e Serena repetiram o movimento dele quando o alcançaram. 

 

“Isso é uma desgraça!”, falou a voz de Kouga, e Ash o reconheceu imediatamente. Era o líder do Ginásio de Saffron, em Kanto. “É com isso que vocês tem perdido tempo?”.

 

“Nós temos feito o melhor possível!”, respondeu James como se pedisse desculpa. 

 

Ash se inclinou mais e conseguiu ver três figuras muito conhecidas. Jessie, James e Meowth. Eles estavam ajoelhados perante Kouga. Mas ainda havia uma figura que Ash não conseguiu reconhecer. Uma pessoa coberta com uma capa preta dos pés a cabeça. 

 

“Estamos cada vez mais perto de pegar aquele Pikachu!”, falou Jessie repentinamente.

 

“Isso não nos interessa!”, falou uma voz vinda da capa preta. E por incrível que fosse, aquela voz era extremamente familiar para Ash, embora ele não soubesse dizer a quem pertencia.

 

“Vocês acham mesmo que Giovanni está preocupado com um simples Pikachu?!”, completou Kouga com rispidez. “Mas isso não importa agora! Vocês tem uma nova missão! Encontrem os outros grunts e juntem-os com rapidez...a Equipe Rocket voltou!”.

 

Ash sentiu o coração gelar ao ouvir essa frase. Kouga fazia parte da Equipe Rocket? Como isso era possível? O ginásio dele havia sido atacado por Jessie e James quando ele o enfrentou pela insígnia. E como assim a Equipe Rocket voltou? 

 

“Cumpram a função de vocês e deixem aquele Pikachu em paz!”, ordenou a voz vinda da capa. “Parem de perder o nosso tempo e dinheiro!”, complementou.

 

Pikachu, ao lado de Ash, percebeu um cheiro familiar conforme ia dissipando a fumaça da explosão. Era um cheiro tão familiar e tão memorável, que Pikachu se censurou por não o ter percebido antes. Era o cheiro que ele mais gostava no mundo, porque esse cheiro lhe lembrava de uma amiga que ele muito amava.

 

“Pikachupi!”, disse repentinamente, fazendo Ash se virar para ele com o olhar surpreso.

 

“Pode deixar, vamos cumprir suas ordens!”, respondeu Meowth.

 

Kouga e a pessoa de capa se afastaram. Ash tentou dar mais uma olhada, mas não havia mais ninguém. Eles já haviam ido embora, incluindo Jessie, James e Meowth. 

 

“Você tem certeza, Pikachu?”, perguntou Ash ainda estarrecido. 

 

“Pikachupi!”, respondeu o pokémon, confirmando o que havia dito antes.

 

“O que aconteceu aqui?”, perguntou Clemont confuso.”O que eles quis dizer com ‘A equipe Rocket voltou’?”.

 

“Ash?”, chamou Serena observando o olhar compenetrado do treinador. 

 

Ash, por outro lado, não percebeu Serena o chamando. Sua mente estava a milhão. 

 

“Precisamos de um Centro Pokémon agora!”, falou se levantando repentinamente, assustando os amigos. 

Ash não esperou resposta de nenhum deles, apenas saiu correndo. 

 

Serena, Clemont e Bonnie se entreolharam confusos e foram atrás dele mais uma vez.

 

Enquanto corria, Ash tentou se convencer de que Pikachu estava enganado. Mas, se ele estivesse certo, o que isso queria dizer? Ele tinha certeza de que ela jamais iria se juntar a Equipe Rocket. Será que ela havia sido sequestrada? Será que ela estava bem? 

 

Quando chegou ao Centro Pokémon, Ash imediatamente pegou o telefone.”Ligue para o Ginásio de Cerulean, em Kanto.”, ordenou para equipamento. 

 

Quando finalmente Clemont, Serena e Bonnie chegaram ao Centro Pokémon, Ash ainda esperava a linha ser atendida com ansiedade.

 

“Ash, o que aconteceu com você?”, perguntou Bonnie inconformada por terem sido deixados para trás.

 

“Ash, está tudo bem?”, insistiu Clemont

 

“Eu não sei…”, respondeu o garoto ainda olhando firme para a tela do Poke-vídeo. “Atenda, atenda”, pensou enquanto observava a animação da chamada. 

 

E os pedidos de Ash foram atendidos. Porém, quem atendeu não era quem ele esperava.

 

“Ginásio de Cerulean, boa tar...Ash! Quanto tempo!”, cumprimentou animadamente a garota de cabelos loiros.

 

“Daisy!”, exclamou o garoto surpreso, “A Misty tá por aí? Preciso falar com ela, urgente!”.

 

Ash percebeu que ele soou mais desesperado do que deveria estar e se culpou por isso. Ele não tinha certeza de nada, e, de verdade, não queria parecer um louco, principalmente se Misty estivesse tranquila no Ginásio. 

 

“A Misty não está! Ela viajou há algumas semanas a pedido do Professor Carvalho!”. A resposta de Daisy só piorou os sentimentos que percorriam o corpo do treinador. “Agora estou cuidando do ginásio sozinh…”, Daisy tentou continuar, mas foi interrompida.

 

“Hey, é o Ash?”, uma outra voz surgiu por detrás de Daisy, e Ash nem precisava esperar que o dono dela aparecesse no Poke-Vídeo para reconhecê-lo.

 

“Tracey!”, falou o garoto confuso e um pouco desconfiado, “O que está fazendo em Cerulean?”

 

“Misty pediu para eu ajudar Daisy a cuidar do ginásio, enquanto ela esta fora!”, informou.

 

“O Tracey sempre foi uma mão na roda aqui no ginásio! Tão bonzinho, faz tudo o que minha irmãzinha pede!”, provocou Daisy, fazendo Tracey sorrir sem graça. 

 

“Sabe onde ela foi?”, a voz de Ash soou mais seca do que ele gostaria que soasse. A verdade é que ele não estava com tempo para esse tipo de provocação e tampouco estava se divertindo com ela. 

 

“Professor Carvalho não nos disse nada! Mas você pode ligar pro Laboratório dele!”, respondeu Tracey com o mesmo tom sério de Ash, talvez percebendo que a situação era mais complicada do que Ash deixou transparecer. 

 

“Obrigada, Tracey! Vou fazer isso!”, falou Ash desligando em seguida. “Laboratório do Professor Carvalho, em Pallet, Kanto!”, ordenou Ash para a máquina.

 

“Ash, será que você pode explicar o que tá acontecendo?”, pediu Clemont agora um pouco mais incisivo.

 

“Eu bem que gostaria, mas eu próprio ainda não sei bem o que está acontecendo!”, respondeu o treinador enquanto aguardava a chamada ser atendida.

 

“Quem é Misty?”, perguntou Bonnie curiosa.

 

“Bom...Misty é…”, mas Ash foi interrompido por uma voz vinda no Poké-Video. 

 

“Ash, bom receber sua ligação, meu rapaz!”, cumprimentou o Professor Carvalho “A que devo a honra?”.

 

“Professor, você sabe onde está a Misty? Me falaram que ela estava com o senhor!”, dessa vez, Ash não se importou de parecer ansioso ou desesperado.

 

Professor Carvalho não respondeu imediatamente. “Posso saber o motivo da pergunta?”, perguntou em seguida.

 

“Pikachu e eu achamos que vimos Misty por aqui em Kalos!”, Ash respondeu, fazendo com que Serena, Bonnie e Clemont exclamassem surpresos. 

 

“Hum, entendi! Esqueci que você estava em Kalos…”, Professor Carvalho ia continuar, mas um outro telefone começou a tocar. “Ash, meu rapaz, espere um pouco! Acredito que em alguns segundos eu poderei te dar a resposta que você quer!”, e sem esperar por qualquer resposta, Professor Carvalho colocou a ligação em espera.

 

Ash suspirou fundo, impaciente. 

 

“Quando você viu a sua amiga?”, perguntou Bonnie, “Foi durante o encontro com a Equipe Rocket?”.

 

“Na verdade eu não a vi! Mas Pikachu sentiu o cheiro dela, eu acho!”, explicou Ash. 

 

“Pikapi!”, confirmou Pikachu no ombro de Ash. 

 

Antes que mais alguns deles pudessem fazer mais perguntas, Professor Carvalho retornou para o Poké-Vídeo. “Só um segundo Ash, vou colocar você na outra ligação!”, informou.

 

A tela do vídeo se dividiu em duas. Em uma, o já conhecido Professor Carvalho em seu laboratório. Na outra, para a surpresa de Ash, era Misty, usando uma roupa preta e com os cabelos ruivos, que geralmente ficavam presos num rabo de cavalo lateral, soltos. A garota parecia estar em uma espécie de armazém. 

 

Assim que a viu, Ash não pode deixar de sorrir aliviado. 

 

“Oi, Ash!”, cumprimentou a garota com um sorriso. “Quero um pedido de agradecimento especial por ter impedido Jessie e James de te importunar hoje!”, complementou dando uma piscadela. 

 

“Pikachupi!”, gritou Pikachu animado, pulando do ombro de seu treinador para a mesa, ficando mais perto da tela. 

 

“Oi, Pikachu! Estava morrendo de saudades de você!”, falou animada.

 

“Pikapi!”, concordou o pokémon. 

 

“Misty, então era você mesmo?”, perguntou Ash ainda surpreso. “O que estava fazendo com a Equipe Rocket? E o Kouga, o que ele estava fazendo?”. 

 

Tanto Misty quanto Professor Carvalho ficaram sérios e reagiram ao mesmo tempo. 

 

“Shhhhhh!!”, falaram em uníssono. 

 

“O Centro Pokémon não é o local pra falar disso, Ash!”, Misty disse com o seu tom de bronca habitual. 

 

“Imagino se você gostaria de ajudar Misty na missão dela, já que está em Kalos!”, sugeriu o professor.

 

“Com certeza!”, Ash falou com sua empolgação imediata. 

 

“Professor, é muito perigoso!”, rebateu Misty preocupada.

 

“Se é perigoso, é mais um motivo para eu te ajudar!”, respondeu Ash decisivo.

 

Misty reconheceu o brilho de determinação nos olhos do amigo. Ela o conhecia bem demais para saber que quando esse brilho aparecia, o modo teimosia do amigo era ativado. Misty suspirou resignada. 

 

“Certo, eu sei onde vocês estão acampados!, Voltem pra lá e me esperem! Assim que eu puder eu saio e conto tudo! A propósito, Ash, onde estão seus modos? Olá!”, falou se dirigindo a Clemont, Bonnie e Serena que até então, só assistiam a conversa tentando entender o que estava acontecendo. 

 

“Ah é...Esses são Clemont, a irmã dele Bonnie e essa é a Serena! Gente, essa é a minha melhor amiga, Misty!”, Ash apresentou.  A empolgação com que Ash se referiu a Misty, deixou Serena um pouco incomodada.

 

“É um prazer!”, falou Misty acenando pelo monitor. “Bom, eu vejo vocês mais tarde! Poke-desligo!”. 

 

A tela com Misty imediatamente saiu do monitor, deixando apenas o Professor Carvalho, que olhava para o grupo com seriedade.

 

“Ash, sei que talvez eu nem preciso alerta-lo, mas peço para que mantenha em segredo tudo o que Misty irá lhe contar! É confidencial e nem mesmo Tracey está ciente!”, avisou.

 

“Pode deixar, professor!”, concordou Ash.

 

“Ótimo! Vejo você em breve, Ash!”, despediu-se, desligando a ligação logo em seguida.

 

Enquanto voltavam para o acampamento, era visível a diferença no humor de Ash. Se antes ele estava preocupado e alarmado, agora estava empolgado e feliz. Ash tinha certeza de que Misty deveria se sentir igual. Uma nova aventura juntos. A verdade é que, internamente, ele agradeceu por o que quer que a Equipe Rocket estivesse aprontando, apenas por ter a oportunidade de rever e passa um tempo com a amiga. 

 

“Hey, Ash...que tal você contar melhor o que tá acontecendo?”, Bonnie iniciou a conversa que Clemont e Bonnie também estavam curiosos para saber.

 

“Bom, eu ainda não sei o que houve! Mas sei que Misty está aqui!”, respondeu animado.

 

“Mas quem é ela?”, perguntou Clemont. “Já entendi que ela é uma antiga amiga sua!”.

 

“Misty é minha melhor amiga! Foi a primeira pessoa que conheci quando iniciei minha jornada com o Pikachu! A gente brigava muito no início, mas com o tempo, nós dois crescemos e nos tornamos os melhores amigos!”, contou o treinador.

 

“E por que ela não viaja mais com você?”, foi a vez de Serena perguntar. A garota ainda estava incomodada com aquela situação. Se Misty era a melhor amiga de Ash, porque ele nunca a havia mencionado antes? 

 

“Depois da liga de Johto, Misty teve que voltar pra Cerulean e assumir o ginásio, que era da família dela! Ela não queria ir embora e pra ser sincero, nem eu queria! Mas as coisas são como são!”, respondeu Ash, agora um pouco mais nostálgico com as imagens do dia que os dois se despediram passando em sua cabeça.

 

Na época, se tinha uma pessoa que ele jamais imaginou que fosse embora de sua jornada, era Misty. E quando ela foi, ele imaginou que seriam apenas por algumas semanas e que, depois ela iria voltar, assim como Brock. Mas conforme os meses foram passando, Ash percebeu que aquela despedida era permanente. Aquele era um assunto que o incomodava tanto, que com o tempo, ele preferiu parar de falar a respeito. 

 

“Espera...sua amiga é Misty, A Misty, líder do Ginásio de Cerulean?”, perguntou Clemont, agora com uma expressão incrédula no rosto.

 

“Isso…”, respondeu o treinador incerto com a reação do amigo.

 

O queixo de Clemont caiu. Serena, Bonnie e Ash olharam para o amigo com indagação.

 

“O que tem Clemont?!”, perguntou Serena.

 

“Ela é MARAVILHOSA!” A única pessoa que conseguiu ensinar Flamethrower para um Gyarados! Ela é uma treinadora de pokémons aquáticos incrível e o Ginásio de Cerulean é um dos mais famosos de Kanto!”. Enquanto falava, Clemont retirava da sua mochila várias revistas com entrevistas e pôsteres de Misty. “Bem que eu achei ela familiar no Poke- Vídeo!”

 

“Mas qual o seu interesse em Pokémons aquáticos? Seu ginásio é de pokémons elétricos!”, observou Serena pegando uma das revistas que Clemont retirou da mochila.

 

Foi então que Bonnie soltou um sorriso travesso. “Huuu, Onii-chan tem um crush!”, provocou a menina. 

 

“Heeee???”, exclamaram Ash e Clemont, ambos com os rostos corados.

 

“Não diga besteiras, Bonnie!”, repreendeu Clemont ainda com o rosto vermelho, “Eu gosto de ler artigos sobre outros líderes de ginásio! Tudo bem que ela também é bem bonita, mas eu leio mais por causa da belez...da técnica de batalha dela!”

 

Bonnie e Serena trocaram olhares e riram. Bonnie pegou uma das revistas com Misty na capa e a usou como se fosse uma máscara. “Oi, Clemont, eu sou Misty! Por que não vem me dar um beijo, hein?!”, provocou a garota, tentando fazer uma voz sedutora. 

 

Clemont corou ainda mais e tentou tirar a revista das mãos de Bonnie, mas a garota foi mais rápida e saiu correndo. Clemont saiu correndo atrás dela. “Aie, Clemont! Já disse o quanto você é bonito?!”, Bonnie continuou provocando enquanto fugia do irmão.

 

 Serena olhou para a cena rindo, mas então seus olhos recaíram sobre Ash, que observava um dos posteres de Misty com um sorriso no rosto e um brilho nos olhos que a garota nunca havia visto antes. Ash dobrou cuidadosamente o pôster e o colocou em seu bolso.

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Ao voltarem pro acampamento, Ash ficou aguardando do lado de fora. Eles já haviam jantado, conversado e agora todos se encontravam em seus pijamas, com exceção de Ash, que olhava para o horizonte. Já se passava horas desde a ligação do Poke-Vídeo e ainda nenhuma notícia de Misty.

 

“Será que ela se perdeu?”, perguntou Bonnie, saindo de sua barraca e indo de encontro a Ash. 

 

Ash riu da observação. “O senso de direção dela é sempre certo, normalmente eu era o motivo da gente se perder! Mas não diga a ela que eu falei isso!”, inseriu rapidamente.

 

Porém, Bonnie tinha um ponto. Misty podia não ter se perdido, mas com certeza estava atrasada. O treinador ficou imaginando se algo pior não tinha acontecido. A vontade de voltar ao Centro Pokémon e ligar para o Professor para saber se havia algo errado crescia. 

 

“Pikachupi!”, gritou Pikachu pulando do colo do seu treinador e assustando Ash e Bonnie.

 

Ash pode ver a figura encapuzada de antes, que estava na companhia de Kouga, se aproximando. Ao chegar mais perto do acampamento, a figura removeu o capuz e revelou a figura de Misty por baixo dele. 

 

“Misty!”, exclamou o treinador correndo na direção dela. Ele não reparou quão grande era o tamanho do sorriso em seu rosto ao ver a amiga pessoalmente.

 

Pikachu foi o primeiro a pular no colo da garota. Misty o recebeu em seus braços e o abraçou.

 

“Eu também estou feliz em te ver, Pikachu!”, falou a garota. “Também estou feliz em te ver, Ash!”, disse agora se referindo ao amigo.

 

“Fiquei preocupado! Achei que tinha acontecido alguma coisa!”, falou o treinador.

 

“Eu tive uns problemas pra sair! Mas eu explico melhor depois! Tem algum lugar onde podemos ficar mais...escondidos?”, perguntou Misty olhando em volta.

 

“Dentro das tendas!”, sugeriu Bonnie. “Vou chamar a Serena e a gente se reune na tenda do Ash e do onii-chan!”.

 

“Obrigada, Bonnie!”, Misty falou sorrindo, “É um prazer conhecê-la!”.

 

Foi então que Bonnie percebeu Misty. Ela deu uma boa olhada e de repente, ela teve uma epifania. Ash percebeu, para seu temor, o que se passava na cabeça da menina.

 

“Oh, meu Arceus...Por favor, cuide do meu…”. Ash, mais que rapidamente pegou Bonnie pelo colarinho, como normalmente Clemont fazia.  “Erh, não precisa fazer isso...quer dizer...Misty é…”, mas Ash não teve coragem de completar. Bonnie, porém, não precisou que o amigo o fizesse, o rosto corado do amigo lhe disse tudo. Ela apenas deu uma piscadela para Ash. “Pode deixar, eu entendi!”.

 

Misty, porém, olhou para a cena com indagação. 

 

“Não é nada!”, se adiantou Ash, ainda com o rosto corado. “Vamos entrar na tenda!”, ofereceu Ash, abrindo a entrada. Foi então que o treinador percebeu suas roupas jogadas em cima do seu saco de dormir. 

 

Ash se adiantou a recolheu com rapidez todas as suas roupas e as escondeu dentro do saco, fechando-o logo em seguida. Essa agitação, acordou Clemont, que estava ao lado do saco de dormir de Ash. 

 

“O que houve?”, perguntou o garoto, ainda sonolento. Mas antes que Ash lhe respondesse, Misty adentrou a tenda. O coração de Clemont deu um pulo.

 

“Deu tempo de arrumar as roupas, Ash ou você quer que eu espere mais tempo?”, a garota perguntou espirituosa para o amigo.

 

O rosto de Ash corou. “Hunf...elas já estavam arrumadas!”, rebateu envergonhado. Misty riu e isso definitivamente não ajudou Ash a se sentir menos embaraçado. 

 

“O...o...o...oi”, começou Clemont, mostrando todo o seu nervosismo.

 

“Olá, você deve ser o Clemont! Muito prazer!”, Misty cumprimentou. 

 

“So...so...sou…”, respondeu ainda nervoso. 

 

Serena e Bonnie adentraram a tenda dos meninos. 

 

“Olá!”, cumprimentou Misty novamente, “Muito prazer, Serena! Eu sou Misty!”.

 

Por mais incomodada que Serena estivesse, ela não pode deixar de retribuir Misty pela sua gentileza.

 

“O prazer é meu!”, respondeu a garota com um sorriso.

 

Todos se sentaram confortavelmente. Pikachu preferiu aproveitar a presença de Misty e se aconchegar no colo dela. A garota retribuiu o afeto fazendo cafuné na cabeça do Pokémon, o que Pikachu acreditou ser a melhor forma de retribuição.

 

“Certo, Misty! O que Kouga e você estão fazendo do lado da Equipe Rocket?”, começou Ash, sem rodeios. Ele nunca precisou de rodeios com Misty. 

 

“Kouga e eu estamos na Equipe Rocket  por motivos diferentes!”, respondeu a garota,” Mas eu vou começar essa história do início!”.

 

“Foi há dois meses atrás. Eu estava no ginásio quando uma carta chegou. Era um envelope preto e tinha apenas uma data com horário e endereço!”

 

“Esse envelope tinha algo a ver com a Equipe Rocket?”, perguntou Serena.

 

“Tinha tudo a ver com a Equipe Rocket!”, respondeu Misty, “Eu fui ao local, e, para minha surpresa, todos os líderes de Kanto estavam lá. Forrest, o irmão do Brock, Kouga, Sabrina, Érica, Blaine, todos eles!”

 

“Então eles convidaram todos os líderes de ginásio? Por que?”, falou Ash confuso.

 

“Bom, estávamos lá, aguardando o quer que fosse o motivo desse encontro acontecer, quando o antigo líder da cidade de Veridiana aparece, Giovanni!”, Misty fez uma pausa aqui e se focou no carinho que estava dando a Pikachu. “Agora, aqui eu preciso abrir um pouco para explicar sobre Giovanni!”.

 

“Ash, eu não sei se você se recorda dele,pois quando você deveria tê-lo enfrentado, você enfrentou Jessie e James no lugar! E agora eu sei o motivo! Giovanni não só era o líder da cidade de Veridiana, como também é o líder da Equipe Rocket!”.

 

“O que??!”, exclamou Ash surpreso.

 

“Um líder de Ginásio é também líder de uma organização criminosa?”, Bonnie comentou perplexa.

 

“Pois é, também fiquei surpresa!”, falou a ruiva, “E depois que Giovanni apareceu, imediatamente Kouga e Sabrina o reconheceram! E adicionei a minha lista de surpresas para aquela noite a informação de que eles também eram parte da equipe Rocket antes!”.

 

“Giovanni começou a falar sobre a chance da equipe Rocket voltar a ativa e convidou todos os líderes de ginásios a fazer parte da ‘Nova Equipe Rocket’! Sabrina e Kouga imediatamente se debandaram para o lado dele. Érica também. Somente o Surge e o Blaine recusaram imediatamente!”.

 

“E você?”, quis saber Ash estranhando a amiga não ter mencionado o nome dela na parte da recusa.

 

“Eu ainda estava muito surpresa, mas logo que Blaine recusou, eu pensei na possibilidade de ser uma agente dupla! Se a Equipe Rocket estava voltando, eu tinha uma chance de descobrir os segredos dela e evitar que ela ressurgisse! Quem sabe, até prender, Giovanni!”

 

“Você percebe o quanto isso é perigoso?!”, Ash agora estava levemente alterado. Misty até arriscava em dizer que o amigo parecia zangado com ela. 

 

Misty suspirou. Não é como se ela não imaginasse que isso podia acontecer.

 

“Falou a pessoa que se joga de um precipício sem um plano!”, rebateu a ruiva com um humor ácido. Ash não sabia como rebater e se manteve em silêncio. Misty percebeu que havia ganho a batalha e continuou. “Eu me voluntariei para o lado de Giovanni e depois entrei em contato com Surge e Blaine, contando-lhes o meu plano! Imediatamente, eles aderiram a minha ideia e mandaram uma resposta positiva para o convite da Equipe Rocket! Forrest quis se candidatar também, mas eu o impedi! Brock certamente iria me matar se soubesse que fiz o irmão mais novo dele fazer amizade com a Equipe Rocket!” Misty complementou com divertimento na voz, mas Ash não riu. O treinador ainda a encarava firme. Ainda estava bravo com ela, certamente, pensou a garota.

 

“Depois entrei em contato com o Professor Carvalho e contei tudo o que aconteceu! O professor sugeriu que eu não contasse a mais ninguém sobre o meu plano e conseguiu alguns aliados! Lance, que você conheceu e Cynthia, que acredito que você conheça também, já que ela fala muito de você!”

 

“Lance e Cynthia estão nesse plano também?”, surpreendeu-se Ash.

 

“É! Lance foi o responsável pela primeira prisão em massa da Equipe Rocket, então ele sempre trabalhou como agente duplo! Cynthia acabou de entrar, o que é ótimo, porque eles nem desconfiam dela!” Misty falou com empolgação.

 

“Quem são Lance e Cynthia?”, perguntou Serena.

 

“Lance faz parte da Elite de Kanto! Eu o conheci quando ajudamos um Gyarados vermelho! Já Cynthia é a campeã de Sinnoh! Ela me ajudou a combater a Equipe Galática!”, informou Ash.

 

“Eu já ouvi falar deles!”, disse Clemont, “Eles são conhecidos por serem treinadores muito poderosos!”.

 

“E são!”, afirmou Misty.

 

“E qual sua parte nisso? O que você está fazendo em Kalos?”, perguntou Bonnie olhando para Misty.

 

“Bom, uma das primeiras missões que recebi, junto com Kouga, é reencontrar os antigos parceiros da Equipe Rocket e avisá-los para ficarem alertas, para quando Giovanni entrasse em contato!”, explicou, “E três deles sempre estão atrás de um certo treinador de Pallet que viaja por aí com um Pikachu!”. Misty deu uma piscadela para Ash, o que fez Ash sorrir e corar levemente.

 

“Então você sabia que ia me encontrar?!”, falou Ash de repente percebendo o que Misty havia acabado de falar.

 

“Sabia! Por que você acha que eu explodi aquela máquina ridícula da Jessie do James?”, rebateu Misty. “Eu imaginei que você não iria me reconhecer, mas eu tinha esperanças que Pikachu o faria! Como de fato fez, não é?!”, Misty se dirigiu sorrindo ao rato amarelo, ainda em seu colo.

 

“Pikapi!”, confirmou o Pokémon com alegria.

 

“Mas além de te encontrar, vim para Kalos por outro motivo forte! A Equipe Rocket montou uma base aqui! Parece que tem um detetive liderando uma investigação atrás deles em Kanto e Johto, então acharam seguro montar a nova base em Kalos!”, Misty suspirou. “Minha missão é encontrar essa base central e pegar todos os documentos que possam incriminar Giovanni!”.

 

“Eu vou te ajudar!”, falou Ash incisivamente. “Você não pode ficar mais tempo nesse disfarce! É muito arriscado, principalmente se te pegarem!”.

 

Misty sorriu. “Pra ser sincera, tenho mais medo da minha reputação como líder do que com a minha segurança! Por isso queria encontrar você! Não queria que você achasse que fui pro lado deles e me tornei uma Rocket!”

 

“Eu jamais pensaria isso!”, Ash falou honestamente, “Pra ser sincero, quando Pikachu disse que sentiu seu cheiro, eu pensei que você tivesse sido sequestrada ou algo do tipo!”.

 

Misty sorriu novamente para o amigo. Era óbvio que ela estava aliviada com a resposta do amigo. Ash também a encarava com uma mistura de preocupação e um outro sentimento que se assemelhava a saudade. Eles ficaram alguns segundos se encarando, até Serena quebrar o silêncio.

 

“Mas como podemos ajudar você? Se verem você com Ash ou com a gente, eles vão perceber! Ash é a pessoa mais anti-rocket do mundo! Nem que ele fingisse muito, eles iriam acreditar que ele foi pro lado deles!”.

 

“Você tem razão, Serena!”, falou Misty, “A ideia do professor é que vocês atuem nas sombras!”

 

Ash ergueu uma sobrancelha ao ouvir a proposta. 

 

“Como assim?”, perguntou Clemont.

 

Misty respirou fundo. “Eu acredito ter encontrado a base deles! Eu preciso de ajuda para invadi-la!”, falou, “Eu dou minha cara a tapa, mas preciso de um backup! Alguém que me guie por lá!”.

 

Ash não gostou nada desse plano. Misty ia correr todo o risco sozinha, enquanto ele só ia ficar do lado de fora, sem poder de fato ajudá-la caso ela fosse pega.

 

“Parece um bom plano!”, falou Bonnie, “Dessa forma, podemos te ajudar sem denunciar o seu disfarce!”.

 

“Eu tenho a invenção perfeita!”, lembrou Clemont empolgado.

 

“Ah, Ash comentou que você inventa coisas! Como é mesmo ‘A ciência é incrível’?”, falou Misty, tentando se lembrar das palavras exatas que Ash usou.

 

“Ash falou de nós pra você?”, perguntou Serena confusa, já que o contrário nunca aconteceu.

 

“Sim! Você é a amiga que ele conheceu criança, no acampamento do Professor! Clemont é líder do Ginásio de Lumiose e Bonnie é a irmã dele que fica tentando arrumar uma noiva para cuidar do irmão! Ash fala muito de vocês nas cartas dele!”, falou Misty.

 

“Só não sei por que você não comentou nada desses acontecimentos antes! Da Equipe Rocket, Giovanni e etc!”, o comentário de Ash soou meio amargurado, afinal, ele contava tudo para a amiga.

 

“O professor não me permitiu, e eu até entendo o motivo! Cartas podem ser extraviadas!”, respondeu Misty com compreensão. 

 

“É, tem razão…”, concordou o treinador contrariado.

 

“Bom, Clemont, me fale mais da sua invenção!”, pediu Misty empolgada.

 

“É uma câmera! Você pode colocar na sua roupa e assim, podemos enxergar o que você enxerga! Dessa forma vai ser fácil te guiar pela base dos Rockets!”.

 

“Humm, vamos ver…”. Misty removeu a capa que usava, revelando uma roupa preta tão justa, que acentuava cada curva da garota. Era uma peça única, que ia do pescoço até os tornozelos da garota. No pé, Misty vestia uma bota, também preta. Os cabelos ruivos soltos contrastavam com a cor escura da roupa.  Ash deixou o queixo cair e sentiu o rosto arder diante da visão. O treinador agradeceu imensamente por Misty não ser, de fato uma Rocket. Ia ser muito difícil se concentrar em derrotá-la com essa roupa. Clemont não estava muito diferente de Ash. 

 

“Onde eu coloco?”,Misty perguntou, alheia a reação dos meninos. 

 

“Hamm...na...que? Ah, sim...na...gola da...roupa!”, Clemont respondeu sem graça, evitando olhar para Misty. 

 

Misty obedeceu às instruções de Clemont. “Pronto!”, anunciou, “E agora?”.

 

Clemont respirou fundo e pegou seu computador. “Agora eu tenho a visão do que você vê!”. o garoto mostrou a tela para os amigos. Uma imagem ao vivo da câmera estava sendo transmitida.

 

“Uau, a ciência é mesmo incrível!”, falou Ash impressionado. 

 

“Mas não é só isso! Essa câmera também tem um sistema GPS! O que quer dizer que podemos saber onde você está!”, incluiu Clemont animado.

 

“Isso é incrível mesmo!”, Misty também se mostrou empolgada.

 

“Só espero que não exploda!”, provocou Bonnie, já acostumada com as invenções do irmão. 

 

“Bom, já que vocês tem meu GPS, é melhor eu ir agora!”, informou Misty recolocando a capa.

 

“Você não vai ficar aqui?”, perguntou Ash um pouco desapontado.

 

“Ash, se ela ficar por aqui, o disfarce dela já era!”, falou Bonnie com uma obviedade agressiva. 

 

“É...tem razão! Eu tinha esquecido!”, respondeu o garoto, mais uma vez contrariado.

 

“Não esquenta!”, Misty se aproximou dando um leve soquinho na cabeça do garoto, “Amanhã eu vou pra base depois do almoço! Podemos nos encontrar lá!”.

 

Apesar de parecer positiva, Ash conhecia bem a amiga pra saber que ela estava tão contrariada quanto ele. O que só fez Ash sentir a necessidade de tirar ela da Equipe Rocket crescer.

 

“Espera, tem mais uma coisa!”, Clemont falou e começou a revirar sua mochila. Clemont retirou uma escuta. Um par de microfone com fone. “Use um, o Ash pode usar outro. Daí podemos nos comunicar amanhã, sem problema!”

 

“Perfeito!”, falou Misty, “Você é mesmo um grande inventor, Clemont!”.

 

Clemont sentiu o rosto corar violentamente. Ash, por outro lado, sentiu um incômodo grande crescer nele. Ele sabia exatamente o que era e o motivo que o levava a isso. Depois de tanto tempo, ele já tinha percebido algumas coisas que ele ignorava quando tinha dez anos. Apesar disso, era curioso para ele perceber que, apesar de ter consciência do que o levava a se sentir dessa forma, ele não conseguia não se sentir dessa forma.

 

Misty se despediu do grupo e de Ash, prometendo que se veriam amanhã, assim que ela chegasse a base. Ash se despediu da amiga sabendo que a veria de novo na manhã seguinte. Mas um aperto no peito o invadiu ao vê-la partindo. Ele só desejou que essa despedida também não se transformasse em uma despedida permanente.