Havia algo errado com L: Light conseguia perceber apenas por o olhar pelo canto do olho. O detetive tinha estado quieto por grande parte do dia e quando falava não dizia mais que quatro palavras.

 Ele e L tinham estado a trabalhar no caso Kira durante todo o dia e durante todo esse tempo Light suspeitou de que algo estava errado com o detetive.

 Os seus normalmente grande olhos estavam semi-abertos e desfocados como se estivesse no meio de uma luta consigo próprio e tivesse completamente desligado do mundo exterior. E sempre que Light tentava trazê-lo de volta para o caso ao perguntar-lhe o que ele achava de algumas das evidencias ele apenas perguntava a opiniao do adolescente e depois concordava.

 Enquanto Light finjia olhar para um relatório no computador à sua frente não conseguia evitar que os seus olhos castanhos viajassem até ao detetive que se sentava na sua parte do sofá na sua parte do sofá com os joelhos encostados ao peito e o seu polegar ainda preso nos seus lábios.

 Os olhos do adolescente viajaram depois para onde as maos deles estavam, estranhamente mais proximas que o normal, a quase todo o tempo os dedos do detetive encolhiam como se impedindo-se de algum tipo de ação. A corrente que os unia estava hesitante no outro lado do sofá. 

Light contemplou o que queria fazer.

Ele podia fazer nada e deixar L no seu pequeno mundinho, talvez assim ele cometesse algum erro, falhasse um pequeno promenor que, num ou outro dia, fosse prejudicial ao detetive.

Mas por outro lado, ele podia tentar forçar L a dizer-lhe o que o estava a perturbar. Ao fazer isto podia fazer com que ficassem mais próximos e finalmente ele ficasse mais perto de ganhar a informação de qual o verdadeiro nome de L; conduzindo assim para a morte do mesmo.

Então Light virou-se novamente para o pc, começando a pensar sobre a ultima opção. Fazia sentido o motivo pelo qual L escondia o seu nome de Light, ele estava bastante confiante que L não tomaria aquelas medidas só para receber uma reação "à kira". Mas ele podia se realmente quisesse, ele podia revelar o seu nome verdadeiro a Light e se L acabasse morto isso só iria provar que ele era Kira.

O adolescente perdeu-se dos seus pensamentos focando-se na situação à sua frente; mais uma vez virou-se para L com uma decisão em mente.

"Ryuzaki"

"Hmm?"

"Estás bem?"

Os olhos profundos de L ficaram um pouco mais focados e olharam para Light; um arrepio repentino percorreu a sua espinha e ele sabia que estava a ser avaliado mesmo agora. "Claro, porque a pergunta?"

Light deu-lhe um olhar confuso "Tens a certeza?"

"Estas a fugir à minha questão, Light-kun" Disse L.

"E tu à minha" L continuou a olhar sem pestanejar para Light até que ele suspirou, esperando que o outro conseguisse achar uma resposta adequada mais tarde "bom tu parecias bastante distraido, então resolvi perguntar."

"Oh" os olhos de L voltaram a olhar para o computador, sem ainda o ver por completo "além de estar distraido, suponho que estou bem."

O olhar confuso de Light apenas se aprofundou “Porque é que estás tão distraído?”

L ficou silencioso por um longo período de tempo, o olhar na sua face mostrava que ele estava definitivamente num tumulto consigo mesmo só que desta vez era mais visível; ele estava contemplando se devia ou não contar a Light, o seu melhor amigo, o que se estava na sua mente “apenas tenho muito em que pensar.” Disse finalmente.

“Como o quê?” perguntou Light

“porque é que estás tão curioso? Onde estás a tentar chegar?” L perguntou, Light tentou ignorar o facto que L o acusava de ser Kira na esperança que causasse tamanha frustração no adolescente que este confessasse. Light tentou que isso não o afectasse no momento.

“Porque eu sou teu amigo e quero tentar ajudar-te”

L era agora aquele que lhe dava um olhar confuso ‘ajudar-me?’ L pensou para si mesmo ‘ele quer ajudar-me? Nunca pensei que Light fosse desse tipo, eu tinha a certeza que a sua parte da nossa amizade era apenas uma fachada, mas agora… Agora não tenho tanta certeza. Se ele fosse Kira era impossível ele se preocupar o bastante para sequer perguntar o que se passava comigo, ele iria simplesmente deixar-me continuar como estava, nas esperanças que eu fizesse algum erro. Mas se isto é apenas Light a falar, talvez… seria possível… podia ele…?’

L conseguia sentir o nervosismo a aumentar no seu corpo à medida que tomava a decisão que este era o momento de contar ao seu amigo, Light. Ele já não tinha a certeza se haveria um amanhã.

“Então?” Disse Light. Trazendo o detective de volta ao presente.

“Bom…eu…Light-kun, eu…” enquanto as palavras se recusavam a formas frases adequadas ele sentiu que a sua mão que estava no sofá se moveu para mais perto de Light, ele sentiu o seu próprio corpo aproximar-se ele podia sentir o calor viciante que irradiava do adolescente.

Light sentiu-se congelar enquanto L se aproximava mais dele com uma vergonha nos seus habituais confiantes movimentos; os seus olhos estavam presos nos de L.

Sentiu uma mão quente tocar-lhe a face e nesse momento ele soube que estava preso na tentação. Ele não tinha a certeza se isto era certo ou errado, mas aquele momento, ele realmente não se importava. Algo nele lhe dizia que aquilo era certo pelas razões erradas, mas o facto que era certo em qualquer razão era o suficiente para ele.

L se aproximou ainda mais, a sua mão estava trémula, envergonhada e inexperiente. Eles estavam finalmente a apenas alguns centímetros de distancia. Light conseguia sentir o detective mais perto do que nunca; ele tentou se mover para dar uma vista perfeita dos seus lábios a L se ele realmente quisesse…

“Light” a repentina voz de Soichiro Yagami penetrou o quatro afastando, num movimento rancoroso, L de Light, ele olhou por cima do seu ombro para evitar os agora esbugalhados olhos castanhos de Light “Estás pronto?”

Os olhos de Light moveram-se para o seu pai, e novamente para L, que estava procurando algo hesitantemente no bolso. O detective de repente tira uma chave do bolso e começou a destrancar as algemas que os uniam.

“Ryuzaki” Ele perguntou não confiando nas suas palavras no momento, a sua mente estava muito confusa em pensamentos para sequer fazer sentido.

“Eu deixo-te ir para casa, odiaria ter que te manter preso a mim por mais tempo que o necessário.”

O olhar de Light apenas ficou mais confuso, a sua cabeça inclinou levemente para o lado, ele não conseguia perceber este tipo. Observou o olhar afastado de L que parecia consumido pela tristeza.

Os olhos de L olharam para Light “tenho a certeza que vais ser mais feliz assim”Disse.

Os seus olhos prenderam-se por um momento que parecia parar o tempo. Light quase que podia ler o que se passava na sua mente e sentir o que ele sentia. Algo lhe gritava para ele ficar onde ele estava e tentar perceber o detective.

Light finalmente se levantou depois de remover as suas algemas mas continuou ao pé do sofá onde eles tinham estado; os olhos de L seguiram-no e os olhos negros juntaram-se uma vez mais com os castanhos. Havia algo neles agora; uma emoção que quase implorava para ele ficar mesmo apesar de já não estarem algemados.

“Continuamos isto amanhã, acho” Light disse, a sua voz um pouco mais alta que um suspiro, a culpa lavando cada palavra dele. Os seus melhores instintos diziam para ele não sair, para ficar e tentar apagar toda a tristeza que percorria o detective por completo.  Mas outra parte dele sabia que ele tinha que ir para casa e planear, e escrever mais nomes no DeathNote.

“se tu o dizes, Light-kun” L disse divergindo os olhos do adolescente.

Light forçou-se a virar e caminhar em direcção à porta “até amanhã, Ryuzaki” Light disse ao pegar na maçaneta da porta.

L não respondeu.