Flores da Primavera escrita por EsterNW


Capítulo 2
A fortuna da estação


Notas iniciais do capítulo

Olá, povo o/
Alguns podem ver a notificação de capítulo novo e pensar: O QUE TACO TECENDO AQUI?
Bem, já cheguei a comentar aqui que eu queria escrever uma continuação pra essa one quando o concurso acabasse (ela ganhou o 2° lugar, fiquei super feliz ♥), mas o tempo passou e eu sofri calada. Não, mentira. O tempo passou e eu não consegui escrever...
Mas eis que o bichinho da inspiração é traiçoeiro e, quando eu achei que essa segunda parte (que transformou a oneshot numa twoshot) nunca fosse sair, eu venho aqui do nada com ela.
Agora chega de falar e vamos logo ao que interessa e ver esse Baile.
Boa leitura ;)



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— Anne! Anne! — Marilla gritou o nome da garota para dentro da casa. — Anne, venha logo ou vamos nos atrasar!

Ela esperou por alguns instantes, soltando um suspiro em seguida e saindo para a varanda. Apertou um pouco o casaco de lã sobre o tronco, descendo os poucos degraus para onde Matthew estava sentado na charrete. 

Apesar de o inverno tê-los deixado havia algumas semanas, ainda restavam poucos resquícios por Avonlea, como aquela brisa que soprava do sul. Mas, aos poucos a natureza mostrava que a nova estação estava vindo para ficar pelos próximos meses.

— Deixe-a, Marilla — Matthew disse para a irmã, que se aproximou do veículo da família. — Não há problemas em nos atrasarmos um pouco — comentou, ajeitando o chapéu escuro sobre os cabelos grisalhos.

A mulher mais velha balançou a cabeça, parecendo contrariada.

— Você sempre faz as vontades dela — retorquiu em um tom entre leveza e repreensão.

Matthew apenas sorriu e continuou olhando para frente, o caminho parcialmente escuro àquela hora da noite. Ainda era cedo, mas mesmo assim a lua cheia iluminava o chão. 

Após mais alguns minutos de espera e breves reclamações de Marilla, os irmãos foram capazes de ouvir passos e a porta dos fundos sendo aberta e se fechando em seguida. 

— O que acham? — Anne questionou, descendo os poucos degraus quase saltitando e aproximando-se dos Cuthbert. — Não estou deslumbrante? O que é algo raro de acontecer, se tratando de mim. — A garota era toda sorrisos, talvez o que mais chamava atenção em seu rosto sardento. 

A ruiva trajava um vestido que ganhou de Matthew em seu último aniversário — apesar dos comentários de Marilla que aquilo era caro demais —, o verde do tecido trazia um contraste interessante ao seu semblante. As mangas bufantes, como ela sempre queria, estavam lá, com a adição de fitas nelas e uma que arrodeava sua cintura. Os mesmos adereços decoravam seu cabelo, que estava parcialmente solto naquela noite. 

— Você e suas vaidades, Anne — Marilla comentou com um abanar de cabeça e indicou para a garota que deveria subir na charrete. — Vamos, já estamos atrasados.

Matthew ajudou as duas a subirem e então fez um barulho com a boca, para que Belle começasse a trotar para fora de Green Gables.

— Eu não vejo problemas em chegarmos atrasados — Anne disse, retomando o assunto. — Noivas sempre se atrasam em seus casamentos, é uma tradição e assim todos olham para ela, entrando na igreja esplêndida em seu vestido branco. — Gesticulou com as mãos, empolgada com a imagem que formava em sua mente.

— Você ainda não é uma noiva, Anne — Marilla interveio, amenizando um pouco a animação da garota. Ou tentando. — E quanto mais tempo demorarmos a chegar, menos tempo teremos no Baile. 

A charrete seguia um ritmo constante por entre os caminhos de terra batida, demorando um pouco mais do que o caminho pela floresta, o qual Anne costumava pegar para ir todos os dias à escola.

— Ah, o Baile! — a garota exclamou com seu sorriso brilhante. — Vai ser o primeiro que eu vou participar na minha vida toda. Sabe que eu sempre sonhei com isso? A primavera é uma estação tão maravilhosa, a minha favorita, que é admirável que alguém faça uma comemoração a ela. Parece até um conto de fadas, celebrar a primavera.

A ruivinha desatou a falar sem parar, fazendo com que Marilla suspirasse e Matthew sorrisse, nunca se cansando de ouvir Anne falar. Ela falava pelos dois e mais um pouco.

— Como costumava ser o Baile na época de vocês? — a garota questionou para os irmãos Cuthbert. — Ouvi dizer que… — E ela continuou em suas falas quase ininterruptas e questionamentos. Os mesmos que fizera durante praticamente a semana toda. 

Conforme a hora se aproximava, Anne sentia uma sensação de que seu estômago dava voltas dentro de si. Talvez fosse fome. Ela esperava que fosse. Ou talvez fosse a ansiedade. Pela festa, pela beleza, pela estação e pela dança. Talvez a última fosse aquela que fizesse seu estômago dar um pulo toda vez que pensava nisso. Talvez pelo nervosismo em errar algum passo? Era uma opção. A outra era que estava nervosa por dançar com Gilbert Blythe. Por que estaria nervosa por dançar com ele? Ela ponderava para si mesma toda vez que esse pensamento corria por sua mente. 

Talvez por Ruby estar com catapora e não poder participar, ele escolheu a ela como segunda opção. É claro! Só podia ser isso. Ele foi educado e não queria ficar sem um par no Baile. Gilbert era sempre educado. Junto de seu sorriso estonteante. Aquele mesmo que parecia fazê-la esquecer toda a pronúncia das palavras sempre que seus olhos batiam nele. Mesmo ela, que sempre tinha tanto domínio sobre as palavras.

Após o que parecia um falatório e questionário interminável pelos minutos que se passaram, as luzes da comemoração começaram a se fazer visíveis. Antes delas, o som das risadas e da música se espalhou pela brisa uns bons metros à frente.

— É magnífico! — a ruivinha exclamou, erguendo-se em seu assento na charrete para tentar enxergar melhor.

Matthew conseguiu um ponto de terra para fazer Belle parar e desceu primeiro, para auxiliar as duas em seguida. Antes que Anne pensasse em pisar o pé para fora, Marilla a interrompeu.

— Deixe-me arrumar isto para você — ela pediu, virando-se de frente e começando a fazer um laço com movimentos delicados pelas fitas que adornavam o vestido verde da garota.

— Eu ainda preciso aprender a fazer um laço bem feito. Diana disse que iria me ensinar, mas não tivemos tempo — Anne soltou.

Marilla sorriu, desfazendo o quase nó da fita que envolvia a cintura da ruivinha. Anne sequer precisava pedir para Diana ou esperar mais. Ela própria ensinaria para Anne, quando esta assim desejasse.

— Pronto, pronto — Marilla disse, analisando o trabalho finalizado. — Agora pode ir.

Com isso, Anne saiu da charrete feito um raio, ignorando até mesmo a mão que Matthew estendia para ajudá-la a descer. Marilla balançou a cabeça pela agitação da garota e aceitou a ajuda do irmão. Ambos olharam para o rastro que Anne parecia deixar no ar, envolta em alegria e empolgação, que dava a impressão exalar pelo ar como o perfume das flores. 

Ela estava realmente linda naquela noite.

A ruivinha deu um giro no próprio eixo, pondo-se a admirar a comemoração. Barracas e mais barracas, com comidas, brincadeiras ou pessoas apenas dialogando, como se tivessem todo o tempo do mundo. O banhar da luz das estrelas e da lua parecia se misturar com os das luminárias a gás. O ar era preenchido pela brisa suave e pela música, que era tocada por um grupo de músicos ao centro da comemoração e aos pés da entrada para a construção da escola. Sanfoneiro, violinista e um bandolinista, que parecia muito com Charlie, mas que Anne não parou para considerar se era ou não o colega de classe. A melodia se misturava com o sopro conhecido do vento, que também espalhava o aroma dos quitutes e das flores. Ah, as flores. Não poderia ser um Baile da Primavera sem elas.

— Anne! — A garota se virou na direção de onde a chamavam, de pronto reconhecendo a voz de Diana, sua melhor amiga. — Anne, aqui! 

Avistou a morena e Tillie a lhe acenarem um pouco ao longe. A ruivinha correu na direção delas, suas saias e cabelos balançando enquanto o fazia.

— Você está linda, Anne — Diana foi a primeira a comentar ao ver a amiga mais de perto. A outra sorriu com o elogio.

— Aposto que você irá ganhar como Rainha da Primavera essa noite — Tillie comentou rindo, concordando com Diana. 

— Rainha? — Anne pareceu confusa, tomando nota que ainda havia muitas surpresas quanto àquela comemoração.

— Sim! Nós ficamos sabendo de última hora, achamos que nem teria dessa vez — Tillie respondeu e as três puseram-se a caminhar a esmo. Ou talvez procurando em uma das barracas uma brincadeira que as interessasse.

— Eles levam as garotas e os garotos mais bonitos do Baile para o palco. — Diana apontou com a cabeça para onde os músicos tocavam, às costas delas. — E o público escolhe quem será o Rei e a Rainha da Primavera.

Anne franziu as sobrancelhas e abriu um sorriso triste.

— Não acho que vou conseguir ganhar uma coisa dessas — retorquiu desanimada. — Há garotas muito mais bonitas do que eu, como a Josie Pye, por exemplo. — Apontou com a cabeça para a jovem em seu vestido cor de rosa, a alguns poucos metros de distância.

Como se percebendo seu nome ser citado, a loira virou o rosto na direção delas, sorrindo com educação para o trio, como a dama que a ensinaram a ser.

— Meninas, que surpresa vê-las por aqui. — Seus olhos dançaram pelas três, parando na ruivinha, na ponta do pequeno cordão formado pelas amigas. — Anne, como você está linda nesse vestido — elogiou com um sorriso amarelo feito seus cabelos, analisando a outra de cima a baixo.

Anne agradeceu, sequer percebendo as intenções da garota.

— Vamos comer alguma coisa? — Tillie propôs, o aroma saboroso sendo convidativo para qualquer um que pudesse senti-lo.

— Vou pegar algo para beber e me encontro com vocês — Josie informou, se afastando delas.

— Vocês viram como ela olhou para a Anne? — Tillie comentou, o trio se dirigindo para uma das barracas. — Aposto que está com inveja porque não vai ganhar como Rainha. — Riu-se e Anne franziu as sobrancelhas, descrente.

— É claro que ela vai ganhar, Tillie — a ruiva retorquiu, sempre se colocando para baixo quando o assunto em questão era sua aparência. Se ela apenas pudesse ver…

— Diana! Diana! — Minnie May pareceu aparecer em pleno ar, puxando a saia azul de sua irmã mais velha. — Eu quero um bolinho, Diana — pediu com um bico.

— Por que não pediu para a mamãe, Minnie May? — Diana questionou para a mais nova, incomodada com a insistência da garotinha.

As quatro se aproximaram da barraquinha, fazendo seus pedidos e preparando as moedinhas dos bolsos de seus vestidos para pagar. 

— Que bom vê-las de novo. — Josie Pye voltou a aparecer ao lado de Anne, colocando uma mão sobre o ombro da ruiva. — Parece que em breve o baile irá começar — comentou, um copo fumegante em uma das mãos.

— Você não vai dançar com o Gilbert, Anne? — Tillie a questionou, um sorriso maroto enquanto recebia seu bolinho.

Anne sentiu o rosto esquentar e tentou disfarçar, usando como desculpa aquela que criou para si mesma desde que recebeu o convite e o aceitou.

— Ele precisava de um par e Ruby está doente. 

Nenhuma das três se deu por convencida, mas tampouco se manifestaram.

— Me dá o bolinho, Diana! — Minnie May voltou a pedir enérgica, saltitando e tentando alcançar a mão da irmã mais velha. — Eu quero o bolinho.

Elas se afastaram alguns centímetros da barraca, com a garotinha tentando capturar o doce da mão de Diana. Vendo que, sem querer, Minnie May criara a oportunidade perfeita, Josie deu um esbarrão para o lado, fazendo o conteúdo de seu copo verter todo no pobre coitado que estivesse perto. O alvo em questão foi justamente Anne. 

— Anne! Perdoe-me — a loira tentou pedir, colocando a mão livre sobre a boca em uma tentativa de mostrar-se surpresa.

As únicas a mostrarem suas reações de fato foram Tillie e Diana, pouco se importando em esconder as bocas escancaradas com as mãos.

— Anne, você está bem? Não se queimou? — Diana foi a primeira a se manifestar, entregando os dois bolinhos para a irmã mais nova, que comemorou, alheia a tudo. 

Anne sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, conforme avaliava o estrago feito. Toda a frente do seu vestido estava envolta em uma mancha, tirando a beleza da veste. O laço que Marilla fizera permanecera intacto, apesar da mancha cobri-lo.

Sentindo a vontade de chorar presa na garganta, a ruiva correu, dando as costas para as amigas que chamavam o seu nome.

Quase atropelando algumas pessoas pelo meio do caminho, e pouco se importando com isso, ela se dirigiu para o amontoado de árvores que indicava o início da floresta a rodear a área da escola. Tendo uma pedra disponível, deixou-se cair sobre ela, pouco se importando com o quão duro era. Sentiu algumas lágrimas no canto dos olhos e limpou-as com as mãos, seu olhar ainda focado no estrago em sua roupa.

— Anne — Diana a chamou, sendo seguida por Tillie e Minnie May, mais curiosa do que preocupada. — Não fique assim, podemos consertar.

— Se colocar seu vestido de molho por algumas horas, nem vai parecer que isso aconteceu — Tillie tentou soar positiva, as duas se abaixando ao lado de Anne.

Minnie May apenas assistia a tudo como uma espectadora.

— Isso amanhã, como eu vou continuar hoje com o vestido assim?! — Anne exclamou, apontando para si mesma. — É um desastre, um desastre completo. Haverá alguém tão desafortunada quanto eu em Avonlea?

— Não fique assim, Anne — Diana continuou tentando consolá-la. — Nós podemos conseguir algo para cobrir a mancha e…

— Ouçam! — Tillie interrompeu de repente, pondo-se de pé. — A banda parou de tocar. Será que o baile já vai começar? — questionou quase rimando, não que fosse intencional.

Anne soltou um grunhido de exasperação e escondeu o rosto nas mãos, pensando justamente naquele que parecia fazer seu estômago dar voltas e mais voltas dentro de si: Gilbert.

— Digam a Gilbert que eu não pude vir — a ruivinha pediu repentinamente, segurando nas mãos da melhor amiga. — Digam que eu peguei uma doença terrível e estou de cama em Green Gables. Digam que eu sinto muito por não poder comparecer ao Baile, mas minha má sorte foi mais forte do que eu. 

Com sua invenção de última hora, Tillie e Diana se encararam, as sobrancelhas erguidas e ponderando entre si silenciosamente como colocariam aquilo em palavras, de uma forma que não soasse absurdo demais.

— Mas e se ele viu os Cuthberts… — Diana tentou intervir na ideia de última hora da amiga aflita, contudo, foi interrompida mais uma vez.

— Digam que eu insisti para que eles viessem sem mim. Minha doença não poderia tirar essa alegria deles — a ruivinha respondeu de pronto, confiante de si mesma, apesar de tudo.

Diana se levantou e Tillie acenou com a cabeça para ela, indicando que deveriam retornar.

— Nós voltamos em breve, Anne, prometo — jurou para sua melhor amiga, que apenas assentiu com a cabeça.

Com um olhar para a irmã mais nova, a morena indicou para segui-la. Minnie May a ignorou, mais ocupada em retirar a coroa de margaridas de cima da própria cabeça.

— Não fica assim. — A garotinha se aproximou, pondo o objeto sobre os cabelos acobreados da outra. — Fica bom em você.

Com um sorriso travesso de dentes faltando, Minnie May correu para alcançar a irmã. 

Anne viu-se sozinha entre as árvores, tocando as margaridas com a ponta dos dedos. Ela sorriu, pensando em como elas ficaram sobre sua cabeça. Deveria estar esplêndida. Deveria, se não fosse aquela mancha enorme, começando a ficar mais forte no tecido claro de seu vestido.

Ela teve vontade de chorar, pensando consigo em como tudo tinha que dar errado para ela. Talvez algumas pessoas estivessem certas e ela realmente fizesse mais drama do que o necessário em relação a algumas coisas. Mas a veia dramática corria através de seu sangue e não poderia negá-la.

A ruivinha encostou a testa nos joelhos e grunhiu, pouco se importando se a coroa de margaridas caiu de sua cabeça. Ela se sentia a pessoa mais desafortunada de Avonlea naquela noite. Talvez da Ilha de Príncipe Eduardo inteira. Não poderia haver alguém tão azarada quanto ela.

Apenas permitiu-se ouvir as risadas felizes dos presentes no Baile. Sortudos, poderia pensar. A música começou e talvez o baile também. 

Gilbert ficaria decepcionado. Pôde imaginar perfeitamente suas sobrancelhas franzindo, quase unidas, e o rosto se contraindo em uma expressão desapontada. Talvez fosse melhor ele ter convidado Ruby. Se não fosse a catapora… E se ela não fosse tão azarada também… Talvez se não fosse Josie a sujar seu vestido, Anne tropeçasse nos próprios pés enquanto dançava e caísse, se sujando de terra. E mais uma vez manchando o vestido que Matthew lhe deu com tanto carinho. Ela era um desastre, essa era a grande verdade.  Ela sempre tinha que estragar tudo.

— Anne? — Foi capaz de ouvir uma voz familiar a chamar seu nome e seu estômago deu um pulo. 

A ruivinha ergueu o rosto e contraiu os lábios em uma linha reta, tentando se manter calada. Talvez não fosse encontrada, havia barulho demais em volta para isso.

— Anne? — Gilbert apareceu, vindo da mesma direção que as três garotas passaram minutos antes.

Talvez Anne pudesse se considerar a pessoa mais azarada de todo o Canadá naquela noite.

— G-Gilbert — a garota gaguejou o nome do rapaz, vendo-o se aproximar da pedra em que estava sentada. — O que está faze… Digo, Diana e Tillie não passaram meu recado?

Seu coração acelerou como nunca dentro de seu peito. Ela estava nervosa por ter sido descoberta na sua mentira, era apenas isso. 

— Diana tentou me contar algo sobre uma doença incapacitante. — O rapaz se abaixou, capturando a coroa de flores do chão. — Mas eu te vi quando os Cuthbert chegaram — informou simples assim. Como se não estivesse incomodado pela mentira que tentaram lhe contar.

Gilbert era simples assim. Compreensivo. E simples assim, Anne sentiu o coração parecer querer sair pela boca.

— Eu, eu, eu… — a ruivinha continuou a gaguejar, tentando desviar os olhos quando Gilbert se abaixou, ficando na altura dela. — Eu sinto muito, Gilbert. Estava tudo perfeito, mas eu sou azarada demais, e a Josie Pye acabou manchando o meu vestido, e eu não podia ficar assim…

Anne parou de falar desembestadamente quando sentiu o toque suave das flores sobre sua cabeça mais uma vez. Gilbert devolveu as margaridas para onde não deveriam ter saído. Mais uma vez a prova de que Anne combinava com elas.

A garota exalava o aroma da primavera, da vivacidade, das cores, com seus cabelos cor de cobre, o sorriso que podia aquecer qualquer frio deixado para trás pelo inverno rigoroso. Uma flor. Gilbert queria poder dizer que Anne era assim, uma flor. Mas suas bochechas coravam apenas ao pensar em verbalizar o pensamento.

Também viu que Anne estava corada, um tom rosado adorável se misturando com as sardas nas bochechas e no nariz.

— Combina com você. — Foi tudo o que ele disse. 

Os dois permaneceram se encarando, as íris escuras e as claras, uma firmada na outra, como se a resposta para todos os mistérios da natureza estivesse ali. 

Gilbert sorriu, vendo como o verde das fitas nos cabelos de Anne pareciam se misturar com as flores. Branco, verde, vermelho. A frase "você está linda hoje" ficou presa em sua garganta. Quando Anne não estava linda? Não precisava de adereços para isso. Ela era… Apenas ela. Uma flor. Linda como uma flor.

— Me daria a honra? — Gilbert se pôs de pé em um pulo, estendendo uma mão para a ruivinha. Anne o encarou confusa, não compreendendo suas intenções. — Você me deve uma dança. 

Ele riu de si mesmo e Anne ficou sobre os próprios pés, deixando a pedra dura para três. Um sorriso insistia em querer brotar em seu rosto. Era mais forte do que ela. 

— Gilbert Blythe — ela disse o nome dele no que poderia ser uma tentativa de censura. Mas por que reclamar daquilo?

A garota aceitou a mão que lhe era oferecida e Gilbert puxou-a onde a grama era baixa e pouco haveria pedras para lhes atrapalhar os passos.

As mãos se encaixaram uma na outra e os olhos se focaram um no outro. Gilbert girou Anne, ouvindo-a rir, a gargalhada gostosa espalhada pelo vento.

Mesmo que o baile estivesse quase no fim, pouco se importaram. Também pouco se importaram que a música ao longe mudou de ritmo.

Eles bailaram ao som da brisa, tendo apenas a natureza como testemunha.


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Notas finais do capítulo

Quem morreu de fofurinha com esses dois aí, levanta a mão o/
Uma curiosidade que eu acho legal compartilhar: a ideia pra essa fic só foi surgir quando eu me lembrei da Festa da Primavera, que acontecia todos os anos na escola em que eu estudei o Ensino Fundamental. A descrição que eu dei é parecida com ela, com a diferença que eu adptei pro contexto da série xD E sim, tínhamos concurso de Miss/Mister Primavera, com a diferença que ganhava quem vendesse mais rifas ao longo do mês xD
Bem, é isso. Agora é o fim mesmo e matamos a vontade de ver esses dois bolinhos dançando :3
Vejo vocês nos comentários, pra quem quiser.
Até mais, povo o/