Ela, mulher de trajes alvos e elegantes, bem diferentes de outrora com sua calça jeans puída e regata escura. Ambiguidade de alguém que reconhece o dever e seus instintos. O quadro se repetia. Ali, ela estava no grande salão, sentada à suntuosa mesa, pendendo seu olhar entre sua taça e o falso sorriso de sua amante. 

Entre as conversações e gula dos convidados, Hunson se levanta de seu assento e exige educadamente as atenções para si, ele não pede, ele dissimula as pessoas como se elas possuíssem escolha. E o silêncio prontamente predominou. 

Ele agradece a presença de todos e apresenta uma das causas da reunião: celebrar as novas servas de Inanna. 

O silêncio foi substituído pelas palmas ao início de uma nova era. 

E acrescentou a nova informação como um conto: 

Por tempos, ele fora um homem solitario à espera de sua noiva prometida, como os velhos mestres haviam o confessado. E a paciência restou-lhe somente. O dia chegou, ele encontrou-se em seu olhar, disse, mesmo com aqueles de lado, brincou, e logo soube. Aquela jovem que recebeu reconhecimento por mérito próprio em sua servidão à deusa, sua prometida. E ele recorreu novamente aos deuses, mestres e esses concederam as bênçãos sobre si e sua futura esposa, termina com um sorriso imperioso. E a chama para acompanhá-lo em sua existência. Bonnibel Bubblegum. 

O casal é aplaudido de forma entusiástica pelos presentes. Quase todos.

*** 

Após o jantar, elas se encontraram no jardim. 

Elas se aproximam calmas e sóbrias da roseira, mas Bonnibel desaba. 

— Pare! — Marceline tomou o rosto de Bonnie entre as mãos e esperou resgatá-la de sua insanidade, limpou algumas lágrimas procurando desfazer o olhar perdido da moça. 

Ali encontrava-se novamente nesse amontoado de repetições durante tantos séculos. A sacerdotisa estava cansada. 

Ela recuperou o fôlego, tentando desfazer-se dos antigos resquícios de um personagem que já lhe pertenceu e que ela deixou de ser, mas sua mente contrariava seu querer e aquelas lágrimas obrigavam sua volta. 

Nada fez; considerou a decepção, necessária e permaneceu em silêncio. 

— Recomponha-se! — Ela ordena, ignorando o rosto vazio de sua amante. Atos sádicos costumeiros. 

Por certo, ela desejava confortar Bonnie, mas esse era apenas um comportamento humano que não se adequa ao ambiente, sendo que elas foram apenas vítimas das regras que viviam sob. 

— Mas, o meu pai... — Bonnie diz aos soluços. 

*** 

Após a partida de Bonnibel, os agentes de Hunson assassinaram todas as pessoas da vila, incluindo a pequena amiga dela. Apesar do massacre, o pai de Bonnibel foi poupado para estar presente no casamento de Hunson. 

O motivo, as crônicas da cidade também não contariam. 

Mas, Lilita foi a primeira esposa amada de Hunson, contudo ela ofereceu somente um amor de dever, unilateral. Não correspondido. Ela apaixonou-se por outro homem e esse ofereceu uma nova identidade e vida, possíveis com a fuga para as pequenas vilas da capital, onde Lilita cuidou da filha de seu amante, ela não era de seu ventre, mesmo assim, a criança foi protegida pelo seu amor. Alguns anos depois, Lilita falece. 

O abuso no relacionamento com Hunson Abadeer foram as motivações suficientes para Lilita fugir do Palácio para as cidades periféricas com o jardineiro. E Hunson tê-lo justamente como principal testemunha de seu casamento, a pessoa que mais lhe causou dor no passado, era uma adorável vingança. 

O sopro de brisa suave sussurrava os mínimos pedaços de humanidade e ela procurava utilidade para isso –a esperança– algumas pessoas necessitavam, outras não. 

— Nós não podemos fugir. — Ela sussurrou, não a grande mulher indiferente, mas aquela menina temorosa e presa ao eterno passado.