Dedication escrita por Mandalay


Capítulo 1
Dedication — capítulo único




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Fazia-se algum tempo que Saruhiko não sentia o aroma tão característico das refeições que Misaki preparava. Era algo difícil de se descrever, mas ele conseguia dizer sem sombra de dúvida quando o outro estava na cozinha. Sempre fora assim. Ele apenas ajudava com as finanças, Misaki cuidava do resto, principalmente das refeições e por tabela isso fazia dele um ser humano parcialmente ativo, já que metade do que o outro preparava ele relutava em comer.

As notas cítricas de um abacaxi enlatado em calda voltavam a sua memória, junto com aquilo que destacava os pratos dele. Misaki sempre inventava de colocar frutas na comida, detalhe que ele sempre desprezou, por mais que o outro retrucasse, dizendo que ele não comia o mínimo de vitaminas.

Mas nada naquela birra invalidava o aconchego que Saruhiko sentia de poder comer algo que Misaki preparasse novamente.

— Sem frutas dessa vez.

— Com frutas dessa vez. Quem mandou você ficar doente e vir pedir ajuda logo 'pra mim?

Aquilo ele não poderia responder, se contendo com um mero estalar de língua. Querendo ou não, a relação que tinham era tão boa que nem mesmo as discussões duravam muito tempo, assim como essa, todas terminavam de forma breve, sempre com um dos dois calados. Saruhiko gostava disso, era bom poder ter por perto alguém que o entendia, que sabia o que ele pensava quando não queria ter de dizer com palavras. Além de Misaki, apenas três outras pessoas tinham esse dom, mas com ele essa sintonia parecia ser a mais correta.

Sem contar que ter seus superiores com essa habilidade já era constrangedor o suficiente.

Saruhiko perdera a conta de quanta vezes ficara de cama devido a um resfriado, tendo o outro para cuidar dele - e fora nisso que pensara quando percebeu o cansaço tão característico consumir seu corpo. Naturalmente ele ignoraria o ocorrido, trabalhando no próprio quarto mas, algo lhe dissera que talvez irritar Misaki fosse uma boa opção.

Só de ouvi-lo retrucar, pelo outro lado da linha era certo de que viria. Munakata por algum motivo não fizera vista grossa quanto aquilo e agora algo incomum acontecia, um antigo membro da HOMRA entrava tranquilamente na sede da Scepter 4 pela porta da frente para preparar uma refeição para seu amigo resfriado e, se o outro deixasse, cuidar para que seus espirros cessassem assim a dupla problema de tempos atrás se reunia mais uma vez. Sem confusões dessa vez.

Nem mesmo Misaki conseguia acreditar nisso.

— Awashima disse que você é o único da equipe que fica no dormitório permanentemente, já pensou em se mudar daqui?

Ele tinha ciência de que perguntar aquilo seria perda de tempo mas, eles tinham poucos momentos assim desde que fizeram as pazes.

— Você sabe que não tenho exatamente um lugar para retornar.

— Mas já pensou no assunto?

— Não me interessa.

— E se a gente voltasse a dividir um lugar?

Talvez Misaki estivesse indo um pouco longe demais ao perguntar aquilo porém, visto que suas respostas eram as mais evasivas possíveis, não custava tentar.

— Desde quando você conversa normalmente com mulheres, Misaki?

— Foi ela que me guiou aqui dentro, tem como demonstrar um pouco de gratidão?

— Vamos parar com isso, estou com fome.

A contra gosto, ele dispôs sobre a mesa um farto prato de curry, com fatias redondas de abacaxi decorando uma das bordas, bem em frente a Saruhiko.

— Coma e depois tome os remédios. É melhor eu ir, depois a gente se fala- e antes que ele pudesse colocar um dos pés em direção a saída, teve um de seus braços puxados na direção oposta, enquanto Saruhiko se colocava sobre a mesa para trazê-lo de volta.

— Fique. Eu não saio daqui porque não preciso, mesmo. Eu trabalho aqui, não preciso criar um empecilho para isso.

— Bem a sua cara dizer algo assim. Agora coma. Até mesmo o abacaxi!

Nenhum dos dois esperava que aquele dia fosse correr de tal forma. Depois de um prato e dois comprimidos, Saruhiko já não espirrava tanto e reclamava menos da garganta. Cuidados que ele poderia ter tomado sozinho sem grandes problemas, mas ele nunca teve muito cuidado com sua saúde.

Depois de liberarem o refeitório, seguiram em direção ao cômodo que ele ocupava sozinho, que lembrava muito o pequeno espaço que ele ocupara naquele mezanino, anos atrás.

— Não mudou nada.

Sua única resposta fora um estalar de língua.

— Se vai me chamar para cuidar de você, por que não faz isso mais vezes, sem ser com esse motivo?

— Gosto da sua comida.

Já não era tão difícil admitir isso por mais que, em algum momento, ele se esquecera da facilidade que Misaki tinha para perceber certos detalhes que somente ele ignorava e aquilo o incomodava. Na maior parte do tempo, dissecá-lo em suas ações não era tarefa difícil mas, em momentos assim seu único amigo conseguia ser alguém imprevisível. A maneira que ele tinha para lidar com aquilo era tão natural. Poder dizer o que bem queria, sem se incomodar com o que poderia causar a quem ouvia.

Era um talento único dele.

— Minha mãe pediu 'pra te chamar 'pra ir lá em casa. Ela e meus irmãos querem te ver, Minoru disse que tem novas espécies de besouros para mostrar.

Só de imaginar a barulheira que era a casa dos Yata, os pelos de seus braços se arrepiavam. Ah, as memórias do passado. Por mais que quisesse, ele não conseguia se incomodar com aquela família, eles foram os primeiros a receber ele de braços abertos.

— Eu vou.

Misaki sorriu.

— Nunca imaginou que alguém além de mim pudesse ir com a sua cara?

— É claro, eu me esqueci que é a sua família, afinal de contas.

— Ei! Tem como você demonstrar um pouco de gratidão uma vez na vida, Saru?

O riso que se sucedeu a isso chamou a atenção de Misaki, aquela era uma das raras vezes que ouvia Saruhiko rir tão abertamente. Depois de tanto tempo sendo reprimido, ele finalmente conseguira um lugar onde pessoas o entendessem pelo o que era. De verdade. Sem sombras do passado, sem a perseguição da memória de seu pai.

"Cem pontos"


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Notas finais do capítulo

E depois de tantas tentativas, é isso aqui que consigo para sarumi. É.



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