Aos Fracassados escrita por Adrielle


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Uma ideia que eu tive enquanto assistia a primeira temporada na Netflix, mais uma vez.



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Jade se encolheu sob o sobretudo negro que usava enquanto atravessava a rua correndo em direção ao bar na calçada oposta, disposta a encher a cara e brigar com alguém até ser expulsa ou desmaiar de tão bêbada. Está farta de seus pensamentos, e precisa desesperadamente parar de tê-los.

Entrou no estabelecimento buscando um lugar ao bar e se perguntando como sua vida tornou-se tão deprimente. Há cinco anos ela estava enfim se formando no ensino médio, com os sonhos tão grande quanto Nova Iorque, para onde veio estudar artes dramáticas, e um namorado ao lado. Agora não passa de uma artista frustrada na grande cidade se perguntando se não deveria ter escutado o pai enquanto teve a chance e sem nenhuma amizade além do barulhento roedor que vive nas paredes de seu apartamento.

É claro, ela sabe que Cat também vive em Nova Iorque. Mas a Valentine, de agora cabelos castanhos, está em ascensão como uma das novas favoritas da Broadway, e ela não quer chegar pedindo favores, ainda mais quando foi tão rude da última vez que a encontrou.

Foi no último verão, Jade havia terminado com Beck recentemente porque descobriu que ele estava a traindo com uma garotinha qualquer, que tão irritantemente parecia com Tori, e esbarrou com a namorada de Robbie no metrô. Infelizmente, seu humor apenas permitiu que ela fosse apática, e se explodisse num acesso de raiva quando a amiga mencionara o sucesso da Vega mais nova em uma série que estava fazendo sucesso.

A West balançou a cabeça, espantando as lembranças.

Suspirou, se inclinando sobre o balcão para pedir um uísque e só então o vendo, ali, encarando sua cerveja e absorto em seus pensamentos, o único que ela realmente considerava um amigo em sua adolescência.

André estava perdido. Quando mais jovem, no colegial, não se imaginava um fracassado cinco anos depois da formatura. Na verdade, ele tinha uma visão muito diferente de onde realmente está. Costumava pensar que teria um ou dois álbuns de estúdio, seria um notório nome emergente do mundo da música e estaria, no mínimo, abrindo shows importantes.

Bufou, por fim pegando sua cerveja agora já morna e levantando os olhos, para com surpresa encontrar os de Jade.

Ela continua linda. Ele reparou. A West tinha os cabelos agora lisos e negros na altura dos ombros e de alguma forma seus olhos pareciam mais intensos e esverdeados. Ela também parecia surpresa em vê-lo ali, e ambos ficaram parados se encarando até o momento em que o garçom deu a ela um copo de uísque e ela se levantou caminhando até o banco vazio ao lado dele.

— Oi. – foi ela que começou, quase num sussurro, e o Harris se levantou e a abraçou, o que fez Jade sorrir involuntariamente, muito tempo não sabia o que era ser abraçada.

— Oi. – respondeu o homem de pele negra, sorrindo abertamente.

— O que faz aqui? – ela perguntou e antes que ele pudesse responder, acrescentou: - Sabe, em Nova Iorque.

— Me lamentando. – André sorriu triste indicando com a cabeça a garrafa de cerveja e ela crispou os olhos na direção dele.

— Então me juntarei a você. – decretou, se sentando ao lado dele. Ambos em um silêncio constrangedor.

Depois da formatura na Hollywood Arts, o contato entre eles não durou muito. André foi para Seattle após receber uma oferta de uma gravadora e Jade seguiu para Manhattan com o namorado da época, ambos aprovados na faculdade de artes de Nova Iorque.

— E o que você está lamentando hoje, caro amigo? – Jade indagou, tomando um gole de seu uísque.

— Meu fracasso fenomenal. – ele disse, e virou a cabeça para encará-la. A West não se lembra de vê-lo tão deprimido antes, ele com Cat e Tori faziam o trio da felicidade e otimismo dia após dia durante quatro longos anos.

— Qual é, não pode ser maior que o meu. – ela deu de ombros, deixando os olhos dele para olhar o balcão que parecia ter sido limpo.

— Como anda sua vida, West? – perguntou ele, despretensiosamente.

— Bom, não consigo que ninguém compre meus roteiros e a minha única companhia é um rato que mora na parede do meu apartamento minúsculo do Brooklyn. – ela soltou tudo em apenas um folego. – e a sua?

— A gravadora de Seattle? Uma piada. – ele disse. – A única música que eu emplaquei, foi a que eu fiz para vo... Enfim, não tenho tido muito sucesso.

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos.

— Nova Iorque é minha última tentativa. – ele riu fraco e Jade arregalou os olhos. – Estou jogando a toalha. – falou. – Se nada me acontecer até o fim desse ano, vou voltar para Los Angeles e me formar em administração ou sei lá. – bebeu mais um gole de sua cerveja.

— Eu não posso voltar para Los Angeles. – disse ela, antes de dar um longo suspiro. – Eu não posso voltar depois que desafiei meu pai.

André pediu mais duas bebidas antes dela continuar falando:

— E pensar que eu achei que seria o próximo Tim Burton, ou sei lá. – ela riu, debochadamente do próprio sonho.

— Ainda não é tarde para você, Jade. – ele pôs uma das mãos no ombro dela. – Roteiristas não tem idade.

— Cantores também não.

— Ah, qual é? – foi a vez de ele rir. – Quantas nomes da música realmente se ascenderam depois dos 25?

Jade ficou em silêncio, cansada demais de tudo aquilo.

— Pelo menos os outros se deram bem. – Jade deu de ombros. – Talvez nós não nascemos para sermos estrelas.

André olhou-a, incrédulo, mas por fim concordou.

— Cat está em cartaz agora, não é? – ele perguntou depois de um tempo.

— Sim. – Jade confirmou. – Tori está naquele filme da Marvel.

— Robbie viajando com seus stand-ups. – ele acrescentou.

— Beck estrelando como coadjuvante em Grey’s Anatomy. – disse entredentes. – Até a Trina está estrelando o live-action de Padrinhos Mágicos.

— E nós aqui. – ele ergueu a cerveja com a qual brindou. – Aos fracassados.

— Aos fracassados. – ela riu para ele e se encararam por alguns segundos.

— Sabia que eu tinha uma queda por você? – ele confidenciou, tornando a olhar para a garrafa de cerveja quase vazia em suas mãos. – No segundo ano da Tori na escola.

— Sério? – ela sorriu, corando, levemente envergonhada. – Por que não disse nada?

— Bom, você estava com Beck na época. – ele deu de ombros. – Ele era meu melhor amigo, eu não faria nada para magoá-lo.

— Vocês ainda se falam? – ela questionou e ele negou.

— Não perdi o contato só com você, Jade. – ele disse amigável.

— Eu gostaria que não tivéssemos perdido o contato. – ela socou o ombro dele de forma amigável, antes de sorrir. – Senti tua falta.

— Olha se não é Jade West sendo fofa. – André riu e ela rolou os olhos.

— Você sabe que sempre foi meu único amigo de verdade ali, André.

— É, eu sei. – sorriu convencido, o que a fez dar um sorrisinho de lado. – Também senti tua falta, West. – admitiu e eles ali permaneceram, sorrindo e falando bobagens pelo resto da noite, se sentindo um pouco menos perdidos no mar de sonhos frustrados em Nova Iorque.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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