Paralelo 22 escrita por Gato Cinza


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui novamente em mais uma bagunça literária...

Sejam bem vindos e boa leitura.



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As coisas tende a piorar, Nicolas sabia disso. Estava tendo uma semana ruim, sua agência foi envolvida num caso de desvios de fundos de uma instituição de caridade e ele teve que resolver o problema, antes que a imprensa transformasse tudo num espetáculo irreversível. Depois o mau tempo atrasou a viagem de volta. A secretária se aposentou e a assistente que devia ter assumido seu lugar entrou em licença maternidade, com o fim de semana sobrecarregado nem teve tempo para resolver isso. De todos os dias possíveis, o carro estragou logo na segunda de manhã e precisou chamar um táxi. E para encerrar a situação estava preso no elevador outra vez, se sua sala não ficasse no nono andar passaria a usar as escadas.

O que viria á seguir? Ele ainda tinha o dia todo e uma maré de má sorte pela frente. Ia pedir para Camila alguns comprimidos para dor de cabeça... Esquece, Camila tinha se aposentado. Ele amaldiçoou a sorte dela quando soube que tinha ganhado na loteria e resolvido se aposentar, a mulher tinha trinta, um marido ciumento e uma filha que odiava cor-de-rosa (que menina de quatro anos odeia rosa?), e agora era rica para poder montar e gerir seu próprio negócio. Que ela fosse feliz, por que ele sabia que dificilmente encontraria outra secretária com o nível profissional de Camila que falava seis idiomas e não tinha problema em dizer o que pensava mesmo que contrariasse o chefe ou os clientes. Quando finalmente saiu do elevador, suspirou de alivio, desta vez o elevador ficou travado só por dez minutos, mesmo assim estava atrasado.

— Bom dia Pérola – cumprimentou á recepcionista que lhe abriu um enorme sorriso.

— Bom dia, Nicolas.

Um arrependimento? Ter dado á liberdade da informalidade no ambiente de trabalho, achou que a relação entre os funcionários fosse melhor se afrouxasse um pouco as regras, mas esqueceu de que algumas pessoas tinham o dom de confundir liberdade com libertinagem. Pérola era boa exercendo sua função de recepcionista, mas gostava de flertar e isso era incômodo. Cada gesto dela era medido para ser sensual, abusava da aparência.

— Preciso que ligue para o RH e diga para me arranjarem uma secretária, enquanto isso você terá que assumir essa função.

Pérola franziu o cenho, a postura forçadamente relaxada ficou tensa.

— Mas já mandaram uma substituta. Ela está na mesa da Cam... Digo da Elle.

— Uau, finalmente resolveram um problema sem que eu precisasse gritar com eles.

— Na verdade quem a mandou foi Elle – Pérola informou com um revirar de olhos – Mas vou avisar a garota que está dispensada, e ligar para o RH.

Nicolas agiu por impulso ao segurar o pulso dela antes que pegasse o telefone, já era enervante ter que lidar com ela na recepção, se a deixasse agir como sua secretária seria um pesadelo.

— Vou ver se a garota da Elle consegue fazer alguma coisa útil, se não tiver metade da eficiência necessária, você assume.

Pérola sorriu com malicia. É claro que aquela menina não ia conseguir, fosse por Nicolas ser muito exigente, fosse por ela não parecer capaz de lidar com o temperamento dele. Desde que entrou na agência de contabilidade há oito meses que não media esforços para atrair Nicolas, ele era lindo e rico, tinha uma personalidade explosiva, mas dava para suportar isso. Ela já tinha ficado com ele algumas vezes, sexo casual não chegava nem perto do que ela queria. Se ao menos conseguisse engravidar, o golpe do baú podia não funcionar mais no século 21, mas alguém como Nicolas não hesitaria em abrir mão de uma pequena fortuna para poupar o bom nome de sua empresa e da sua família de um escândalo. Pérola era adepta do conceito de que ‘os fins justificam os meios’.

Nicolas se dirigiu para sua sala que ficava no fim do corredor, olhou para a mesa da secretária que estava vazia. Aquilo ia ser complicado, ela devia pelo menos ter se dado ao trabalho de estar na mesa para se apresentar ao chefe. Ia entrar na sua sala quando viu a porta da sala de arquivos entreaberta, provavelmente era uma das secretárias buscando por algum contrato antigo ou guardando novos, mesmo assim foi verificar. Para seu espanto quem estava ali não era ninguém que ele esperava.

— Dandara?!

— Não, a irmã gêmea.

Nicolas travou a mandíbula para não xingar aquela coisinha desagradável. Dandara era a melhor e possivelmente única amiga de seu primo e o odiava. Razões? Desconhecidas. Era um daqueles sentimentos coletivos, se um não gostava acabava despertando desagrado dos outros, Jonas já fora seu melhor amigo agora sentia apenas desprezo por ele.

— Eu não sei o que vocês estão tramando, mas quero você fora da minha agência, agora – disse com toda sua autoridade, apontando para a porta.

— O que? Não, espera – Dandara se levantou deixando as pastas sobre a mesa onde outras pastas estavam sendo empilhada – Eu sou a irmã de Dandara, mesmo. Meu nome é Malvina, vou substituir Elisabete como secretária do senhor Navarro, mas ele está atrasado por isso estou terminando de organizar os arquivos que era o que Elisabete estava fazendo.

Nicolas avaliou a indivídua, realmente era muito igual á Dandara, mas os cabelos muito curtos e os óculos de grau a diferenciava, além do sotaque estranho que surgiu quando começou a tagarelar defensiva.

— Não sabia que Dandara tinha uma irmã.

— É o que todos dizem – informou num tom menos agitado – Eu não sei e nem quero saber o que o senhor tem contra minha irmãzinha, mas não deve e nem pode me julgar pelas ações dela.

— Como eu disse, eu não sabia que ela tinha uma irmã.

Ela assentiu, como que concordando que a culpa não era dele.

— Posso voltar para o trabalho ou vai me mandar embora outra vez, por que se for terá que arrumar as pastas no lugar de novo.

Nicolas olhou a mesa, ela estava separando tudo por ordem alfabética e datas. A maioria das pessoas permaneceria constrangida pelo modo com que a tratou, pediria desculpa e a deixaria voltar ao trabalho. Nicolas fazia parte da minoria que agia do modo contrário.

— Deixe isso aí, não é importante. Eu quero minha agenda do dia e um café.

— E quem seria você? – ela questionou inclinando a cabeça para o lado.

— Nicolas Navarro, o chefe da Elle.

Ela estreitou os olhos, a postura parecia de alguém prestes á fugir.

— Não é não. Elisabete disse que o chefe era um velho ranzinza que tingia os cabelos para parecer jovem.

— Quem é Elisabete?

— Elisabete, a secretária do senhor Navarro. Ela não gosta do nome por isso usa o apelido... Elle, Own! Ela estava sendo irônica. O senhor disse que queria um café e sua agenda? Vou buscar.

E antes que Nicolas processasse a informação, ela já tinha saído da sala de arquivos. Era mais maluca que a irmã, pelo menos não o olhava como se estivesse planejando algo cruel. Ele teria que ficar atento a ela, qualquer pessoa que era amiga de Jonas não era confiável.


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