happily ever after. escrita por unalternagi


Capítulo 19
Vou apostar, contra tudo, que dará certo


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente

Mais um capítulo fresco para vocês com muitas emoções rolando.

Espero que gostem!



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Capítulo 19 – Vou apostar, contra tudo, que dará certo

|ALICE|

Fiquei imóvel desde que tivemos que sair do quarto de Rose para que ela pudesse ser preparada para a cesárea. Eu não conseguiria descrever o que eu sentia, não conseguia racionalizar onde a minha mente havia se perdido entre a preocupação que eu sentia com ela, com meu sobrinho ou com o meu noivo, tudo girava de forma perturbadora.

Isabella e Edward mantinham-se cada um de um lado meu, ambos quietos. Eu percebia quando eles se olhavam e Bella sorria ou fazia qualquer outra expressão. Edward se movia como se entendesse o que ela pensava. Levantou sem perguntar e trouxe o café que ela queria e um que eu gostava. Sorri para o rosto angelical do meu irmão, retorcido em preocupação.

Os minutos correram, as horas acompanharam e eu só fui tirada de minha apatia quando minha mãe parou, literalmente, na minha frente, tentando me tirar da nulidade em que eu me mantinha sem conseguir sair. 

—Princesa – ela chamou amorosamente e eu a encarei.

Não sorri ou chorei, apenas levantei e a abracei sentindo exatamente a força e coragem que eu precisava sentir. Que só ela conseguia me passar.

Nossos pais só sabiam que Rosalie tinha passado muito mal e o parto havia sido marcado, mas não sabiam dos piores detalhes, porque ninguém teve coragem de conta-los por telefone, e agora tio Charlie pedia para Edward e Bella contarem o que tinha acontecido.

—Rosalie recebeu uma ligação da base militar de Jasper e o nervosismo deu uma crise nela, ela passou muito mal e foi cochilar, mas acordou com o líquido amniótico vazando por nossa cama, corremos com ela, mas ela quase teve um aborto espontâneo – Bella contou meio passada, parecia que nós duas estávamos no mesmo estado de choque.

—O que eles disseram? – tio Charlie perguntou preocupado.

—Algo sobre o enterro de Jasper – Edward falou sem emoção.

Percebi que, nós três, deveríamos estar apáticos e imaginei como é que Rosalie e Emm estavam.

—O enterro de Jasper? – Anne indagou surpresa e observei ela perder o equilíbrio. Papai a segurou já que meu sogro mantinha-se atônito.

—Alice é a ligação direta dele – Edward explicou.

—Eu sou – John disse parecendo despertar.

—Alice é o nome que tinham em Nova Iorque, Rosalie como segunda opção.

—Talvez quando ele estivesse em Nova Iorque vocês o fossem, mas em Suffolk a ligação direta dele sou eu, a segunda é Charlie – John disse certo – Não está fazendo sentido essa informação.

—Não sei o que dizer, foi o que Emmett entendeu Rosalie dizendo – Edward falou sem paciência de entrar em tecnicalidades e, eu o entendia. 

—Jasper – escutei Anne chorar e foi quando reparei no estado lastimável em que ela se encontrava.

Papai a tinha sentado em um dos bancos da sala de espera, tia Renée já estava com ela e minha mãe foi se sentar de seu outro lado, tentando a acalmar, fazê-la respirar fundo e essas coisas simples que de nada adiantariam.

Eu não aguentava ver ou escutar mais nada daquilo, então levantei saindo de lá para tomar um ar, a preocupação e o ar pesado estavam demais, pensei com humor que seria um lugar que Jasper não aguentaria estar.

—Lice – Bella chamou e virei para minha amiga, ofertando-lhe um sorriso contido.

—Muitas pessoas negativas e preocupadas juntas causam-me pânico desnecessário, você sabe. Preciso dos arco-íris e unicórnios – brinquei e ela fez careta.

—Não pode estar tão tranquila assim – Bella disse sincera.

—Eu não consigo ficar de outro jeito – confessei deixando o meu sorriso morrer.

Eu estava presa em meu próprio otimismo, sem conseguir deixar-me ser arrancada dele, sem aceitar o ar que empurrava-me para baixo com tanto afinco. Se eu caísse, seria feio demais, eu não ia conseguir levantar sozinha.

E sozinha era tudo o que eu me sentia agora.

—Faça o que precisar para ficar bem, nós precisamos de positivismo – Bella murmurou vindo para o meu lado.

Ela ia me abraçar?

—Não me abrace – ordenei séria e ela deu um passo para trás, quase como se eu tivesse lhe dado um choque.

Encarou-me com a expressão séria.

—Alice.

—Não quero abraços, nada de ruim está acontecendo – cortei o que quer que ela fosse dizer – Eu não preciso de um abraço – falei friamente.

—E se eu precisar de um?

—Que me desculpe pela falta de sensibilidade, mas não me importa. Peça um a Edward.

Ela assentiu devagar. Ficou comigo, quieta. Sem me olhar, sorrir ou tentar me entender, ela só ficou ali e nos mantivemos fora do hospital por um tempo fazendo a coisa mais importante da vida. Respirando.

Eu precisava respirar. 

Precisava pensar com clareza, precisava que o meu cérebro fosse oxigenado. E, depois de um tempo, parecia que uma chave tinha sido virada em meu cérebro quando algo se encaixou, como a última peça de um quebra-cabeças complexo de mais.

Enterro de Jasper.

Um aperto tomou-me o peito e eu senti lágrimas invadirem meus olhos.

—Ele não pode estar morto – falei para Bella que suspirou – Eu não posso viver sem o Jasper, Bella – confessei como alguém confessa um pecado.

Bella encarou-me, séria. Negou rapidamente quando percebeu que eu falava exatamente o que o meu coração afirmava com certeza.

—Você pode sim, é claro que pode. Preferimos não o fazer, mas que podemos isso é um fato. Ele não segura seu ar nem bombeia o seu coração, então você é um ser independente dele – Bella disse com firmeza e eu a encarei.

Talvez eu quisesse aquele abraço no momento, mas eu não consegui pedi-lo.

—Eu não quero viver sem ele, Bebella – sussurrei e ela respirou fundo.

Ela olhou-me por um tempo, estudando minha reação e então se aproximou e deu-me um abraço. Eu fiquei quieta tentando sentir a confiança que ela parecia sentir. Eu não sabia o que mais fazer, eu precisava tentar me manter positiva, mas estava tão difícil.

Bella não quis ser realista e também não quis mais mentir. Por outro lado, eu não queria ouvir nenhum conselho, só precisei dizer aquilo como um desabafo puro, sem a esperança de algum conselho maravilhoso que me salvaria a vida. Então o silêncio foi bom para mim, e eu achava que para ela também.

—Vamos entrar? – ela pediu, depois de um tempo, e eu assenti.

Dentro do hospital o clima continuava pesado, a tensão era tanta que, se quiséssemos, talvez conseguiríamos cortar o ar com uma faca de tão presente e pesado que parecia, mas eu fiquei quieta. Sentei perto do meu pai que segurou minha mão, beijando os nós dos meus dedos e eu não olhei para ele. Não queria enxergar segurança, eu desabaria se o visse.

Uma porta foi aberta abruptamente e foi quando eu não consegui mais me segurar.

Por minha vida toda eu havia conhecido e convivido com Emmett – com o intervalo dos anos que ele precisou ficar sozinho – ainda assim, eu o conhecia e nunca o tinha visto chorar. Não realmente chorar. Claro que desde o anúncio da gravidez ele se emocionava mais do que estávamos acostumados, mas aquilo não era a mesma coisa.

Ele era um otimista, tanto quanto eu, então porque o meu grande amigo, um dos meus irmãos mais velhos, estava chorando daquela forma? De onde vinha a enxurrada de lágrimas que saiam dos olhos dele?

O que havia acontecido com os gêmeos-milagre dos Hale?, foi o que minha mente se dispôs a pensar no momento que Emmett caiu sentado perto da porta que fechou sozinha. 

Tio Charlie estava no chão com ele no momento seguinte, Emmett chorava copiosamente agarrando a camisa do pai dele, como se fosse ele que o prendesse na gravidade, sem se importar com nada. Os soluços irrompiam ruidosamente pelo peito do meu amigo e minha espinha gelou com todo o pessimismo que passou dele para mim quase como que por um processo de simbiose.

—Não posso perdê-los, papai, eu não posso. Entre lá, mande-os salvá-los. Eu não consegui falar com Rosalie, pai, eu não a disse que a amo mais que tudo em minha vida. Eu a amo tanto – ele chorava e escutei minha sogra chorando em algum lugar perto – Meu filho, pai, o meu filho— Emmett suplicou com toda a dor que sentia.

Tio Charlie não podia fazer nada, mas continuava com Emmett, o embalando da forma que conseguiu fazer, um homem quase que duas vezes maior que ele. Edward abraçou-me e eu reparei que os soluços que eu escutava eram meus, meu corpo reagia no que minha mente não conseguia.

—Ed – eu sussurrei sentindo a dor quase que física e Edward apertou-me mais forte em seus braços.

—Estamos juntos, Alice, vamos estar juntos sempre. 

Que o mundo se partisse ao meio naquele momento, não faria diferença alguma. A sala de espera do hospital foi tomada por choros e lamúrias. Dividimos entre os chorões e os consoladores. Os Hale, Emmett e eu éramos consolados, cada um por uma pessoa e eu não queria estar ali. 

Pensei no meu lugar perfeito. A praia de La Push que Jasper e eu adorávamos. Onde ele me pediu em namoro, perto da qual ele me pediu em casamento. Eu queria me casar ali, eu queria me casar com ele, queria ele naquele momento, precisava do meu noivo. O que tinha acontecido com ele?

A dúvida era pior do que a certeza, o medo e a esperança duelando era doloroso demais. O sim e o não eram definitivos e, por mais que talvez fossem mais complexos para aceitar, decerto eram mais simples para lidar. É “sim” ou “não”, “talvez” não deveria ser uma possibilidade. 

Quem entendia Emmett?

Rosalie estava morta? Henri sobreviveu? 

Chorei mais, agarrada a Edward, ao perceber que apenas de “talvez” era feito o futuro de todos os herdeiros da fortuna Hale.

.

Por cada minuto que tínhamos em nossa vida, aconteciam inúmeros processos químicos e neurológicos com o corpo humano.

Senti cada coisa daquela pelas duas horas que se seguiram.

Os meus olhos enviaram cada dado visual que lhe foi apresentado – cerca de seiscentos milhões de bits de informação visual –, enxerguei Emmett sendo levantado por Edward e tio Charlie, depois Bella entregando cafés para todo mundo, inclusive para mim. Vi Emmett sendo consolado por seu pai, o único que ele deixou se aproximar. Reparei em Emm se acalmando por um tempo e então perdendo a cabeça no momento seguinte, e ficar preso nesse ciclo por todo o tempo que se passou. Senti os meus neurônios, cerca de duzentos bilhões deles, ajudarem-me a manter a respiração compassada e segurar o copinho de café que Bella tinha me entregado, enquanto eu o sentia esfriar aos poucos por entre meus dedos, mas eles não tiveram forças para fazer com que o café tocasse meus lábios. 

Pisquei vinte vezes no primeiro minuto que passou e depois fiquei obcecada em contar cada piscada, até chegar em novecentas e catorze vezes, antes de Edward me distrair quando tirou o café da minha mão e me fez perder a conta. Senti o ar entrando em meus pulmões. Provavelmente recebi uns oito litros de oxigênio em cada singular minuto que se passou e meu coração dolorido bombeou, aproximadamente, cinco litros de sangue por cada minuto também. Parecia como se eu pudesse sentir cada mililitro correr por todas as veias do meu corpo, desde as mais finas até as mais grossas, desde as mais importantes até as menos.

Tudo. Sentido e apreciado. Cada pequena coisa, tudo o que tirava-me da preocupação, do pessimismo. 

Até que, finalmente, o mesmo doutor boa pinta que nos esperava quando chegamos com Rosalie no começo da noite – o obstetra dela desde que chegamos a Nova Iorque -, apareceu na sala de espera, parecendo exausto, e veio para o lado de Emmett quando o encontrou e Emm já estava na frente dele antes que achei ser possível.

—Doutor, por favor, pelo amor de qualquer Deus que seja de sua crença. Eu o obedeci, fiz exatamente o que me disse que eu deveria. Saí quando mandou. Tudo o que prometi que eu faria para que você não se distraísse. Você garantiu, jurou que faria o seu melhor para salvá-los, então me diga de uma vez, como eles estão? – Emm pediu aflito de mais, o doutor abriu a boca, mas a voz de Emmett o interrompeu – Se for coisa boa diga-me logo, mas se for ruim, só sai da minha frente porque eu não vou conseguir me conter e, desde já, eu te peço desculpas – ele falava sem conseguir interromper o fluxo incoerente de palavras que saía de sua boca.

—Emmett, calma – o doutor parecendo calmo – Terei que medir sua pressão? Não me faça interna-lo aqui também – ele falou parecendo bem humorado e foi o bastante para Emmett se calar – Eu falei mesmo, te jurei que tudo ficaria bem e, desde antes de nos conhecermos pessoalmente, quando me ligou no começo do ano eu disse que cuidaria de Rose e do bebê de vocês. Não sou homem de quebrar minha palavra e eles estão bem, papai – o doutor falou simplesmente e escutei o choro irromper do peito de Emmett, novamente.

Emmett se virou para tio Charlie e sorriu, o rosto bem vermelho embaixo dos olhos e o nariz, mas com os olhos brilhantes e as covinhas que eram tão características dele.

—Doutor, eu sou o pai de Rosalie. Será que o senhor poderia discorrer para nós o que foi que aconteceu? – meu sogro pediu e o médico foi simpático, se apresentou e cumprimentou a todos.

Os termos que ele usou não foram computados pelo meu cérebro, mas entendi a história geral. O neném tinha tido um problema de respiração, que era meio comum em prematuros, mas a pediatra já tinha corrigido o que poderia ser corrigido e Henri já estava na incubadora, como permaneceria por mais um tempo.

Rosalie estava bem? Sim, estava, mas ainda estava desacordada.

Nós poderíamos vê-la?

—Não. Pelo menos não agora. Todos estão muito cansados, precisam descansar e se cuidar porque ela precisa disso também e calmaria. Henri é um bebê prematuro e isso suga muito dos pais. Henri precisará de cem por cento de Rose e Emm e, eles, precisarão de mil por cento da família – o doutor disse olhando para cada um de nós.

—Laurent, eu não vou embora. Não posso, você sabe disso – Emm disse e o doutor suspirou, mas assentiu devagar.

—Você é o que mais precisava ir embora, mas sim, eu entendo a sua aflição. Quase nenhum pai aceita deixar a mãe sozinha nas primeiras horas e eu não sou um carrasco, eu liberarei que seja o acompanhante dela, mas quero o resto de vocês fora desse hospital até conseguirem um bom sono. Nada de voltar aqui antes do horário do almoço. Eu falo sério – o doutor dizia já sem tantos sorrisos – É para o bem e saúde de Rose.

Todos nós concordamos com ele e ele se foi. Emmett abraçou tio Charlie com amor e gratidão e sorriu beijando meu rosto e de Bella, abraçou o ombro de Edward enquanto agradecia por todos terem estado aqui e então se apressou para o quarto em que Rose estava, prometendo que nos veríamos amanhã – tecnicamente hoje –, e eu fiquei surpresa por meus sogros não  terem reclamado. 

—Reparou que ele sequer olhou para mim? Eu sou a mãe dele, Charlie – tia Renée disse sentida.

Tio Charlie disse algo, mas eu ainda estava meio aérea de mais para ligar para o problema de comunicação dela com o filho sendo que foi algo que ela mesma desenvolveu ao dar as costas para ele num momento que ele precisava de apoio. Segui Edward e Bella para o lado de fora do hospital e entrei no carro que Bella mandou. Nós três chegamos no prédio e eu ainda estava com a mente limpa. 

Bella pegou um pijama para mim e o deixou em cima da privada. Tomei um banho rápido e ela logo entrou no chuveiro. 

Tudo o que eu fiz foi mecanicamente. Da troca de roupas, a escovar os dentes até deitar na cama. Minha cabeça era uma caixa completamente vazia e eu queria deixar a inconsciência me anular por completo. 

—Eu posso dormir aqui? Não quero ficar sozinho – Edward pediu entrando no quarto um tempo depois de Bella deitar.

Concordamos e ele foi para o meu outro lado, ocupando o lugar que originalmente era de Rosalie. Fechei os olhos sem querer continuar consciente então, finalmente, fui levada pela escuridão do mundo dos sonhos.

.

Acordei com o pensamento de que, dentre todas as pessoas do mundo, com Jasper minha ligação era mais forte. Sendo assim, o meu pressentimento com coisas que o envolviam sempre foi mais intenso. Por que, justamente aquela coisa tão séria, não tinha sido forçada em mim como grande parte do meu mental o era? 

Edward e Bella ressonavam continuamente perto de mim, cada um de um lado, da mesma forma que tinham passado a noite passada quase completa até as primeiras horas daquela manhã – ainda no hospital.

Olhei para o relógio que marcava uma hora da tarde e vi o meu celular brilhar, ao lado do nosso relógio de cabeceira. Saí da cama com cuidado para não acordar nenhum dos dois e fui atender o celular na sala.

—Bom dia – falei.

Alice, está bem disposta?— reconheci a voz do meu sogro e lembrei que tínhamos algo a resolver.

—Sim, acabo de acordar, vou apenas mudar de roupa e te encontro na base militar aqui de Nova Iorque, pode ser?

Já se alimentou?— ele perguntou e eu bufei.

—Estou sem fome.

Imagine você como eu estou, mas isso não é importante. Precisa comer— falou altivo como um pai – Nos encontramos num café perto do hospital, vou levar Anne lá, Rose ainda não acordou e Emmett está com Henri desde manhã cedo— ele contou.

—Só me passar o endereço – falei sem forças para discussões.

Troquei de roupa e fui para o endereço que ele me indicou por mensagem. John e eu comemos sem muita conversa e ele pagou nossa conta antes de seguirmos, no carro que ele tinha alugado, para a base.

Tinham algumas pessoas ali e eu não quis entender o que acontecia. Fui até uma mulher que mexia em um computador e ela encarou-me quando parei de frente para ela, foi educada ao cumprimentar-me e se por a nossa disposição.

—Recebemos uma ligação referente a uma carta que nunca recebemos sobre o soldado Jasper John Hale – meu sogro falou sério, a pose dura como eu conhecia quando ele tratava de assuntos profissionais.

—Precisamos que assine uma autorização de isenção. Como foi avisado por telefone, faremos um enterro coletivo, mas claro que cada família pode fazer o individual. Cada soldado irá ser reconhecido por suas honras e méritos-

Ela falou mais, fez um discurso enorme, mas aquilo estava entediando-me, não era algo que eu queria ter que conversar. Vi uma mulher sair de uma sala e ser abraçada por um homem alto.

—Era ele – ela disse e eu fiquei pensativa.

—Há um corpo que tenhamos que reconhecer? – perguntei cortando o discurso que a garota dava.

—Desculpa?

—Vocês estão falando do enterro do meu noivo, mas eu quero saber onde está o corpo dele.

—Bem, é complexo. Ele estava no avião que foi atingido e nossas buscas não foram bem sucedidas, não achamos os corpos dos soldados que estavam no avião, mas os destroços.

—Calma aí – interrompi-a novamente.

—Alice, deixe-a terminar.

—Espere, tio – falei mais calma – Você está me dizendo que quer que eu libere que um enterro aconteça sendo que não há um corpo para ser enterrado?

—É comum que esse tipo de ataque não deixe corpos para serem encontrados, Srta. Cullen.

—Ora, mas isso é um absurdo – falei ultrajada com a falta de sensibilidade daquelas pessoas.

—Alice, querida, é como as coisas são. Precisamos assinar a liberação do exército.

—Liberação do que? – perguntei confusa.

—Para que eles sejam autorizados a expedir uma certidão de óbito.

—E então vocês não procuram mais ele?

—Não sabemos se há o que encontrar – a garota dizia profissionalmente sem se envolver com a minha irritabilidade.

—Isso podendo significar que pode ou não haver o que encontrar.

—Alice, entendo que é difícil, mas quanto antes aceitarmos-

Bufei e neguei, virando quase de costas para John. Não poderia acreditar que ele estava querendo me fazer aceitar algo sem sentido.

—E se eu não assinar? – perguntei.

—Ele não será homenageado e...

Neguei com a cabeça e tirei o óculos de sol preso na minha blusa o colocando no rosto.

—Não assinarei nada – falei séria.

—Alice – John bufou – Eu assinarei, mas a questão é que você-

—Sou ou não o primeiro contato dele? – perguntei séria para a garota, ainda sem emoção.

—Sim, é a senhorita Alice Cullen, noiva do soldado.

—Só eu posso assinar a liberação? – perguntei meio vitoriosa, prendendo o óculos na cabeça.

—A senhora e a irmã dele, Rosalie Lilian Hale. São as responsáveis por ele – a mulher falou vendo algo no computador.

Rosalie estava com a cabeça em outro lugar e eu só precisava a trazer para a luz que tinha abrilhantado a minha mente. Eu sabia que ela concordaria comigo.

—Não vou assinar nada sem ver o corpo – bati o pé e tio John me encarou, sério.

—Alice, querida.

—Não vou, tio, desculpa – falei sem realmente querer dizer aquilo – Quero que continuem as buscas – disse para a mulher que me encarava.

—Senhorita, as chances...

—Você conhece Jasper? Já o viu? – perguntei a ela que ficou confusa, mas negou.

—Pois muito bem, as chances não se aplicam a ele – falei colocando a minha bolsa em meu ombro.

—Alice, por Deus, seja sensata, Anne e Rosalie precisam disso.

—John, seu neto nasceu, sua filha deve estar para acordar, por que não vamos para o hospital? – perguntei e ele ficou bravo, como reparei no sangue que corou o rosto do meu sogro.

—Alice, vamos resolver isso – ele disse mais firme.

—Sim, assim que eu vir o corpo de Jasper eu assino e começo a lidar com a perda.

—Está em estado de negação.

—O senhor que está preso em um pessimismo sem noção, é um advogado, oras. Deveria querer as provas mais do que ninguém.

—Não sou um alienado, Alice, sei que as chances...

—Não quero ouvir de chances, já falei. Jasper é ponto fora da curva. Você é o pai dele, deveria estar defendendo isso tanto quanto eu – falei séria e ele bufou.

Agradeci para a moça jovem que nos atendeu, ela me fez assinar um documento que dizia que eu estava ciente de tudo, então virei as costas saindo daquele quartel esperando que eu não tivesse que voltar para lá para fazer o que neguei veemente naquele momento.

John me seguia de perto e eu voltei a colocar o óculos no rosto.

—Tudo o que vai fazer é comprar uma briga com o tempo, terá que aceitar isso, Alice. Com que propriedade o dariam como morto se não o estivesse? – perguntou sério segurando meu braço e eu me desvencilhei, irritada que ele tentasse com tanto afinco defender a morte do filho daquela forma.

—Com a mesma propriedade que afirmam isso sem querer apresentar-me um corpo.

—Você não teria estômago para vê-lo, Alice, entenda que as condições que o mataram...

—Ele não está morto! – falei novamente, um pouco alto demais e isso chamou a atenção de algumas pessoas, mas eu não me importava – Que droga. O senhor já se provou errado o bastante nos últimos tempos. Henri não era uma coisa ruim para Rosalie? Emmett não a abandonaria quando pudesse? – indaguei entredentes, sem preocupar-me com os sentimentos dele por conta da displicência com que ele tratava os meus.

—Não ouse.

—O senhor não ouse – falei séria – Não comprarei essa briga com o senhor. Simplesmente saiba que pode entrar nos meios legais para liberá-los de procurar por Jasper, ou apenas aceitar que, se depender de mim, nunca irão parar de procura-lo. Nem que o que tenham para me trazer é um corpo sem vida – eu decidi com a voz cortante como uma navalha.

Ele queria brincar de ser extremista? Que fôssemos então. Eu estava pronta. Já não tinha muito o que perder.


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Notas finais do capítulo

O que acharam da atitude da Alice? E o que acham que Rosalie vai achar de tudo isso?

Espero que estejam gostando!

Um beijo



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