Botânica escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Botânica


Notas iniciais do capítulo

Primeiro conto que publico dessa categoria, simples mas fofo hehe



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A sineta tocou informando que havia um novo cliente que abria a porta da livraria. Era uma quarta-feira de sol, aliás, a quarta-feira mais quente dos últimos cento e oitenta anos que a cidade já viu. Essa informação não passou desapercebido por Crowley, que na época havia cometido um gravíssimo acidente ambiental de proporções inimagináveis ao qual iniciaria a contagem da Terra e o derretimento das calotas polares.

Voltando ao presente momento, a sineta avisou a chegada do cliente, dessa forma Aziraphale deixou alguns livros sobre uma das mesas e foi atendê-lo. Ao ver Crowley em seu casaco preto e cabelos rebeldes, o anjo suavizou mais ainda sua expressão.

— Anjo, eu preciso de um livro que fale sobre pragas. Me refiro as pragas das plantas, e não aquela vergonha lá que fizeram no Egito.

O anjo se aproximou e o olhou com um sorriso gentil nos lábios, dando um leve suspiro.

— Oh! Bom dia, Crowley, é inenarrável vê-lo visitando minha livraria em busca do conteúdo adequado paras proteger aquelas criaturas que você trata com tanto desmazelo. — Disse estendendo a mão.

— Corte o blá blá blá e me arrume de uma vez esse livro, ou eu teria comprado na Amazon. — O demônio usava seu par de óculos escuro muito habitual, mas Aziraphale tinha gravado a expressão indócil dele.

— Tenho alguns exemplares em bom estado escrito por Carl Friedrich Philipp von Martius, um botânico alemão, excelente na descoberta de várias espécies, trabalhou muito com pragas. — O Anjo sorriu, mas depois o sorriso se desfez. — Infelizmente ele morreu depois de uma expedição no Brasil, contraiu uma doença tropical perigosa da época. — Ele falou com um pouco de temor na voz, enquanto Crowley gargalhava ao seu lado.

— Eu me lembro disso, nós estávamos entediados e pensamos, por que não dar para esse inseto um poder de picar e adoecer as pessoas até elas morrerem? — O demônio caiu na gargalhada, batendo a mão com força nas costas do anjo, que deu um passo para frente sem vontade própria.

Aziraphale ajeitou o seu paletó.

— Ora, mas que atrevimento macular uma obra divina com veneno. — Ele soou ofendido pela história.

— Relaxa, Anjo. Agora traga o livro, tenho coisas a fazer.

— Muito bem, eu vou procurar, mas preciso de garantias de que não vai queimá-lo ou jogá-lo pela janela depois de usar. É um livro com poucos exemplares no mundo, e eu não gostaria de ver sua história acabar na sarjeta.

O demônio tirou os óculos então seus olhos de serpente tremeluziram diante da imagem divina do anjo. Crowley sorriu, tentando uma técnica de simpatia, sempre funcionava com Aziraphale.

— Seu livro não poderia estar mais em boas mãos do que as minhas. — Ele voltou a colocar os óculos escuros e seguiu o Anjo até a prateleira em que estava os livros de botânica.

— Tenho também Luca Ghini, Richard Spruce e Jacques Huber. — Orientou o anjo, apontando para a borda dos livros enfileirados devidamente organizados na estante.

— Pelo Diabo, só tem homem nesse círculo? — Crowley perguntou, ainda que não fosse um entusiasta das discussões de igualdade de gêneros.

— Mas é claro que não. — Aziraphale logo ajeitou a postura e olhou para o demônio. — Leda Dau e Graziela Maciel Barroso estão devidamente expostas em minha livraria. Sem contar que alguns botânicos costumavam ficar mais confortáveis com os vestidos de suas senhoras. — Ele deu uma risadinha, ficando corado. — Você acha melhor eu colocar as escritoras na entrada da livraria para que todos vejam melhor? Eu poderia fazer uma pilha de livros com indicação das minhas favoritas, creio que seria complicado escolher as cinquenta melhores, mas eu acho que posso fazer isso agora mesmo.

— Faça o que você quiser. — O demônio deu de ombros, passando a mão nos cabelos.

— Eu deveria também fazer uma pilha de livros para aqueles que não se identificam nem como homem e nem como mulher? — Crowley enrugou o cenho e moveu os ombros novamente. — Vou procurar a forma correta de falar, não quero ofender ninguém.

— E os meus livros, Anjo?

— Oh! Sim, é verdade. Aqui está, leve esses três volumes, fala sobre como destruir pragas e salvar a vida das plantas, com certeza elas vão durar mais tempo. — O anjo suspirou e depois pousou a mão sobre o peito de Crowley. — Estou feliz que tenha vindo buscar ajuda para aquelas plantas. Elas são a luz divina sobre a Terra.

— Eu não quero livros para salvar planta nenhuma. — Crowley olhou horrorizado para os livros e os devolveu para Aziraphale. — Eu vim buscar um livro sobre como colocar pragas nas plantas. Do tipo que não estrague muito os vasos nem cause um enxame de insetos, da última vez que eu usei o meu poder, apareceu um bicho voando do tamanho de seu nariz.

— Mas por qual motivo pretende usar o livro?

— Vou deixar o livro aberto na página em questão para elas verem enquanto eu estou fora de casa. Assim quando eu retornar, quero ver quem não vai fazer a fotossíntese direito.

Aziraphale recuou e guardou os livros com pressa.

— Eu não vou fazer parte dessa tortura vegetal, você às vezes é totalmente lunático, sabia?

— Sim, eu sei. — Crowley tirou os óculos e piscou para o Anjo. — Se não vai me dar esses livros, vou procurar um inseticida novo no mercado.

Com isso, o demônio saiu da livraria com um sorriso largo no rosto. Ele não necessariamente estava ali por causa dos livros, mas porque era uma desculpa muito esperta de ver o Anjo, simplesmente porque tinha vontade disso.


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Notas finais do capítulo

Os botânicos são reais, e o cara morreu mesmo anos depois de uma expedição ao Brasil com uma doença tropical.

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