— Você tá falando sério? – questionei perplexa. 

—  Claro – respondeu, sorrindo. Não consegui dizer nada, estava imóvel. Nunca tinham me pedido em namoro na vida, isso era estranho, não sabia o que precisava dizer.

—  Você devia falar alguma coisa –  Harry me olhou, ele não sorria mais. Continuei calada. –  Você não quer namorar comigo?

— Não, não é isso – comecei a dizer,  gesticulando mais que o necessário — É que isso foi meio... rápido, não foi?

—  Pensei que estivéssemos na mesma página – soltou, parecia decepcionado. E eu odeio mais que tudo saber que alguém está desapontado comigo.
—  Só fiquei surpresa, eu nunca namorei – expliquei-me, torcendo pra que fosse o suficiente.

Nesse momento lembrei-me das cartas anônimas e de repente aquilo fez sentido, afinal, se esse não é um bom motivo pra namorar alguém, não sei qual é.

—  Eu quero  –  falei, vendo seus olhos se iluminarem – quer dizer, namorar o admirador secreto parece uma boa história de primeiro namoro, não acha? –  soltei rindo, como se tivesse o pego no flagra.

Eu já tinha certeza que os bilhetes pertenciam a ele, então não vi motivos pra não falar sobre, afinal, era o motivo para eu aceitar o pedido. 

— Do que você está  falando? – ele me olhou com os olhos franzidos, deixando-me apreensiva. 

— As cartas anônimas que você me mandou, Harry – seu rosto continuava preenchido por confusão – Eu já sei que é você, não precisa mentir. 

— Malu... eu não sei – o interrompi começando a rir exageradamente, ele só pode estar com vergonha.

Tinham que ser dele, de quem mais seriam? Eu precisava que fossem dele. 

— Vai dizer que não foi você quem me enviou isso? – Peguei os bilhetes em minha bolsa e o mostrei – Não precisa ter vergonha, eu amei. Quer dizer, é tão mágico receber cartas assim. — continuei a dizer sem sequer respirar —  No início eu fiquei louca tentando descobrir quem havia mandado e quando percebi que foi você,  isso só me fez ficar mais interessada. Um garoto que escolhe essa forma pra se declarar, com certeza só pode ser minha alma gêmea – finalizei por fim, e ele apenas riu parecendo desconfortável em seu próprio corpo.

— Eu... não sabia como lhe contar – falou com um sorriso amarelo, e eu agradeci aos céus por não ter ficado louca – que bom que descobriu – sua gagueira era perceptível, provavelmente estava aflito por eu ter descoberto.  

— Eu tô tão feliz por ser mesmo você – sorri e o beijei intensamente, como nunca tinha feito antes. Estava beijando meu admirado secreto, isso era tão excitante.
— Uau – ele sorria após o beijo – fico feliz por você estar feliz, quer dizer... – ele gaguejou outra vez, estava mais nervoso do que imaginei – podemos não falar sobre isso?
— Como assim? – arqueei a sobrancelha, afastando-me – você sabe como sou tímido, prefiro que não falar muito sobre esse lance das cartas – continuou. 

Era horrível ouvir isso. Eu havia passado muito tempo pensando o que diria pro meu admirador secreto, sobre como ele sabia as minhas citações prediletas, como ele colocava cada carta lá, como ele decidiu dar início a elas e porque logo no dia nos namorados, mas por outro lado eu o entendia, se eu fosse ele também ia querer me enfiar em um buraco. 

— Tudo bem, só tenho uma pergunta: quando você pretendia me contar?

— Não pensei nisso – riu nervoso e outra vez, não era aquilo que eu queria ouvir  – só o que importa agora é que eu te amo. 

Puta merda. Ele falou mesmo que me amava, logo agora? 

 fiquei calada o encarando, certamente não era a reação que ele imaginou ao dizer tais palavras, afinal, é comum amar alguém quando se namora, certo? pra que não ficasse estranho demais dei um sorriso sem dizer nada.  

— devíamos ir embora já que não posso fazer perguntas sobre as cartas – mudei de assunto, torcendo pra que ele deixasse passar. 

— Ok – concordou, era uma dupla via. Eu não falava sobre as cartas, e ele não me forçava a dizer que o amava. 

Enquanto estávamos no carro, eu pensava sobre ser uma garota de dezoito anos que tinha um namorado, eu era oficialmente uma adulta. Peguei meu celular, abri as notas e comecei a fazer uma lista sobre namorar Harry Campball, é como lido com as coisas que não consigo tirar da cabeça desde que me entendo por gente, talvez eu devesse parar de fazer isso agora que tenho dezoito anos e sou uma adulta, mas não vou.
lista de prós e contras de Harry
prós:
cartas anônimas
 me trata bem
 tem uma irmã incrível
é fofo.
contras:
gosta de stars wars.
não o amo. 

Eu gosto de Harry, gosto muito, e amo o fato dele ser meu admirador secreto, mas não o amo. não ainda.
maldita lista.
Quando Harry para em frente a minha casa ele insiste tanto pra entrar que acabo cedendo. Noah não ia gostar disso porém, harry já havia decidido por nós dois.
Só quando abro a porta de casa que finalmente entendo tudo: o motivo dele insistir pra entrar, o motivo de Redd ter ido embora antes que eu acordasse, Noah deixando-me sair com Harry sem implicar. tudo fazia sentido. 

— SURPRESA – todos aquelas pessoas gritam. Eu não fazia ideia de quem maioria delas eram. Olho para Noah e Redd que estavam com um chapeuzinho de aniversário, obviamente era coisa deles.
— Eu não acredito nisso – comecei a rir. Minha casa estava cheia de balões, tinha uma mesa de doces muito bem decorada, com um bolo escrito: "já posso ser presa" com um desenho do que provavelmente era pra ser eu atrás de uma grade. 

— Ignora esse bolo ridículo, fui eu quem fiz – redd explicou-se – Feliz aniversário! – ela me abraçou. 

— A ideia foi sua? – perguntei, quando ela se afastou. 

— claro, você não podia fazer dezoito anos sem uma festa digna – disse. 

— eu poderia largar seu irmão e me casar com você agora mesmo – brinquei e ela gargalhou, fazendo Harry revirar os olhos. 

— Não dê todos os créditos a ela, foi ideia minha também – Noah falou como uma criança mimada – enchi todos esses malditos balões, ok? 

— É justo – redd deu de ombros – e quem chamou todas essas pessoas foi ele também. 

— todas essas pessoas que eu não conheço?  – ironizei. 

— e isso importa desde que elas tragam presentes? – noah retrucou, fazendo-me sorrir. 

— E se eu não tivesse distraído a Malu, vocês não iam poder arrumar nada disso — Harry manifestou-se, tentando ganhar algum mérito também. 

— Qualquer um faria isso, cara – Noah implicou. 

— Eu amo vocês – falei, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas, era a primeira vez que eu recebia uma festa surpresa assim. 

— oh céus, nem pense em chorar! – redd berrou – Temos que tirar muitas fotos, não ouse deixar esse rostinho lindo inchado. 

— Antes das fotos eu tenho que fazer uma coisa – noah falou, e correu pra pegar seu violão que estava em cima do sofá. 

— ele não deve ter entendido a parte de não fazer chorar — redd reclamou, vendo Noah pegar um microfone que não faço ideia de onde surgiu, eles haviam realmente se dedicado pra essa festa.

— Boa noite, gente – Noah começou a dizer, e todas aquelas pessoas o encararam – como vocês sabem, hoje é o aniversário dessa garota que me salva de mim mesmo todos os dias, essa garota que me mudou sem nem tentar, essa garota que ri das minhas piadas horríveis – todos riam enquanto ele dizia de forma expressiva, eu por minha vez, já podia sentir as lágrimas queimando em meu olho outra vez – e você não sabe oque fazer quando alguém assim faz aniversário, quer dizer, nada que eu faça vai ser o suficiente pra descrever o quanto eu sou grato por alguém como ela existir. Por que se querem saber, se hoje eu acredito que o mundo é algo além de muita merda, é por causa dela.  Porque eu vejo bondade toda vez que ela sorri. 

Senti algumas lágrimas escorrerem por meus olhos, mas logo Redd as limpou por mim antes que descessem por meu rosto, o que era extremamente estranho, porém isso não importava agora.

Voltei a fitar Noah, agora ele começava a tocar algumas notas daquela música que eu conhecia muito bem: Photograph.

Ele cantava muito bem pra ser sincera, e o fato de fazer isso pra mim na frente de todas essas pessoas é muito corajoso, além do mais maioria dessas pessoas mesmo sendo da nossa escola, nem sabem quem é essa "Malu" pra quem ele canta.
Toquei no colar que Noah havia me dado mais cedo, eu o amava tanto. Não parecia ser real que eu realmente merecia alguém como ele.

No final da música eu já chorava tanto que Redd desistirá da ideia de limpar minhas lágrimas. 

— eu odeio você por fazer isso comigo – falei quando Noah aproximou-se de mim, ainda chorando feito uma criancinha – eu amei – joguei-me em seus braços abraçando-o, ele retribuiu com força.
— Eu também amo você, ok – ele sorriu, enfiando a cabeça em meu cabelo de leve. 

— que romântico – harry disse, claramente com cinismo na voz – espero que não tenham se esquecido que estou aqui – ele parecia mesmo incomodado. 

— Não sei porque ficou tão emocionada, Malu – Redd falou – ele só fez isso porque agora todas as garotas da festa querem muito dar pra ele – brincou, porém não achei graça. 

— danos colaterais — noah brincou de volta. 

Decidi por fim ir tirar as fotos que Redd tanto insistiu antes que ela surtasse. Harry tirou algumas ao meu lado e depois foi sentar-se no sofá emburrado, parecia ter mesmo ficado chateado por Noah ter cantado pra mim. O que é totalmente infantil, afinal de contas, ele não precisava ter ciúmes do meu melhor amigo.

Passamos no mínimo uma hora tirando fotos, eu já estava cansada de tanto sorrir, porém nenhuma ficava realmente boa pois o idiota do noah se enfiava no meio de todas fazendo alguma careta, isso irritou tanto Redd que por um minuto me perguntei se ela ainda tinha um crush nele.

— Devíamos brincar de verdade ou desafio – gritou uma menina loira  e alta, com uma garrafa de cerveja nas mãos e todos comemoraram.

— Não se esqueçam que estou aqui – minha mãe rebateu, sua voz parecia vir da cozinha – não ajam feito adolescentes idiotas que ficam pelados e fazem loucuras nesse jogo. 

— acho que está na hora da senhora ir dormir, mamãe – gritei de volta com cinismo, o que fez todos rirem.

Incrível. Eu fiz mais de trinta pessoas rirem durante a minha festa de aniversário, sou uma celebridade agora. 

Após uns minutos eu, redd, Harry(por muita insistência) e noah estávamos sentados em volta de uma roda com mais umas dez pessoas. A loira virou a garrafa que parou em Sam e Jenifer.
Ambos eram da minha sala desde o fundamental, embora não tenhamos conversado mais de duas vezes. Eis meu nível de popularidade. 

— verdade ou desafio? –  a menina soltou em tom de provocação. 

—  de-sa-fio –  sibilou, fazendo todos da roda gritarem, animados.

—  Eu desafio você a me beijar – soltou deixando-me boquiaberta, enquanto todos gritavam ainda mais alto. 

—  como ela tem tanta coragem? –  sussurrei para Redd que gargalhou. 

—  talvez hoje eu me dê bem com o Noah –  sussurrou de volta para mim, e não sei bem o porquê, porém isso me irritou profundamente. 

Poxa, é o meu aniversário, devia ser contra lei ela transar com o meu melhor amigo, não é? 

Quando voltei minha atenção ao jogo notei que os jovens se beijavam exageradamente, pareciam querer se engolir, enquanto todos berravam. Após dois minutos eles subiram as escadas, provavelmente iam transar no meu quarto. Eu já devia imaginar que isso fosse acontecer embora me enojasse.

A garrafa voltou a rodar e dessa vez parou nas duas pessoas que menos imaginei: Noah e Harry.

— Verdade ou desafio? – Harry perguntou, agindo como se aquilo fosse um saco.
— desafio – Noah retrucou, e todos gritaram feito uma torcida de futebol, outra vez. 

— Você fez a merda de uma serenata de amor pra minha garota, cara. E a segunda, pelo que me consta. – harry soltou, fazendo-me arquear a sobrancelha. O que ele estava fazendo? 

— Isso não é um desafio – noah ironizou. 

— Escolha verdade – Harry ordenou. 

— o seu desejo é uma ordem, Campbell. Verdade, pode mandar. – Noah sorriu sarcasticamente, todos na roda estavam calados dessa vez. 

— Você já sentiu algo pela Malu? – Harry soltou, e eu engoli seco. que diabos ele queria com isso?

— eu nunca fiquei com ela. – noah retrucou como se fosse óbvio. 

— não fuja da pergunta, Noah. Você já sentiu algo por ela? — Harry pressionou. 

— Parem com isso, por favor – implorei, aflita. 

— claro. Já senti gratidão, carinho, várias coisas. Nós somos melhores amigos, afinal – Noah respondeu, ignorando-me – sou eu quem roda essa merda de garrafa agora? – continuou, mudando de assunto. 

— Você só pode estar brincando – Harry gritou dessa vez, levantando-se e aproximando-se de Noah. Meu coração disparou. – você é apaixonado por ela? 

— Para com isso agora! – gritei de volta, levantando-me e o afastando para trás – Que merda você está dizendo? 

— Responde cara, seja homem o suficiente – Harry continuava gritando feito uma criança, fingindo que eu não estava ali. 

— porque está perguntando se já sabe a resposta? – Noah retrucou, calmamente, levantando-se também, pude ver os olhos de Harry pegarem fogo. Provavelmente Noah disse isso para irritá-lo, o que funcionou muito bem. 
Nesse momento Harry perdeu de vez a noção, e tentou partir para cima de Noah, porém, não sai de sua frente e o segurei ainda mais firme, então o mesmo me empurrou para o lado agressivamente. 

— Não encosta nela, seu babaca – dessa vez foi Noah quem gritou, e de repente eles estavam se dando socos. 

Tentei entrar no meio para impedir, mas Redd me segurou. Nesse momento, comecei a chorar, meu coração estava disparado e as lágrimas desciam sem parar, eu simplesmente não acredito que meu aniversário se tornou esse caos.