Ao descer da estação, Ren, que estava com um inquieto gato em sua bolsa, reclamando de não poder sair dali logo, sentiu um estranho arrepio na espinha. Alguma coisa estava errada. Pegou seu celular da bolsa (Morgana mordeu seu dedo ao fazer isso) e olhou para o relógio: 20:00 da noite. Havia apenas 1 mensagem, era de Ryuji, e dizia "Já tentou chupar o próprio *****?" Ren olhou com cara de desgosto e guardou de volta o aparelho. Seguiu pelas ruas de Tokyo, esbarrando em muita gente, até sentir aquela sensação de estar quase em casa. E não deu outra, lá estava: a cafeteria Le'blanc, lugar que se hospedou durante 1 ano, e foi o melhor ano até agora. Se aproximou da porta, a placa dizia aberto, e a abriu. O local era o mesmo de sempre. Quase vazio, apenas com seus clientes locais, as cafeteiras em cima da mesa, o quadro de Sayuri ao lado esquerdo perto da entrada, as mesas sempre limpas, o telefone antigo que usava para ligações, e até Sojiro tinha o mesmo rosto rabugento.

— Cheguei, velhote.

O senhor, ao ouvir isso, se virou com violência para xingar quem lhe tratara com tanto desrespeito, mas logo seu rosto bravo se abriu num enorme sorriso, revelando seu ar bondoso. Sojiro saiu de trás do balcão do café e se dirigiu para Ren, lhe dando um abraço tão forte que quase lhe quebraram as costelas.

— Ren, meu pirralho! Como assim, você nos visita sem avisar?! Droga, poderiamos ter planejado uma festa!

Ren sorriu e ouviu miados bravos dentro de sua bolsa. Lembrou de Morgana e o soltou, o gato se espreguiçou e pulou direto para os braços de Sojiro.

— Ei, pequeno. Quanto tempo, está com fome? -Morgana miou fraco e baixo, provavelmente com raiva de Ren por ele ter esquecido de trazer petiscos para ele. Sojiro pegou um pouco de ração que havia sobrado desde a ultima visita e serviu para o gato, que quase devorava o pote de ferro. Ren largou sua bolsa em cima de uma das mesas da cafeteria e se sentou, exausto.

— Sojiro-san, como andam os outros? Ryuji, Ane, etc...

Sojiro acordou de seu transe(observava Morgana comer a comida) e foi servir duas xícaras de café, se sentando do outro lado da mesa em que o garoto estava.

— Estão todos bem. Eles vem nos visitar todo fim de semana, todos sempre animados. Devia ter visto, outro dia, Ryuj--

— E Futaba, Sojiro-san?

Sojiro mudou completamente a expressão, suspirando e mostrando um ar triste. Tomou um gole de seu café antes de continuar.

— Ela... Ela não está nada bem. Anda muito estranha, desanimada, solitária. Está quase do mesmo jeito de antes. Me preocupa demais aquela garota, sabe?

Ren acenou a cabeça positivamente, pensando. O que poderia estar incomodando Futaba? Sem dúvida, ela foi a pessoa mais difícil de roubar o coração. Todos achavam que aquilo já havia passado. Morgana, que terminara de comer, subiu graciosamente em uma das mesas, olhou para Joker e disse :

— Quer ir vê-la, Joker? Temos muito tempo.

Ren confirmou, indo em direção ao sótão para deixar suas coisas. Subiu as escadas e ao chegar na entrada, viu uma pequena garota ruiva deitada em sua cama. Bom, não deveria se preocupar em encontrá-la. Ele se aproximou da cama, largando suas coisas em cima da garota de propósito. Ela se assustou e olhou para ele rapidamente, com uma expressão de quem estivesse vendo um fantasma. Ele sorriu e se sentou ao lado dela.

— Ops, não te vi.

— REN!!— Ela levantou depressa e o agarrou, derrubando-o sobre a cama, berrando de felicidade, quase estourando os ouvidos dele. — Ren! Ren, Ren, Ren, REN!

Seus olhos estavam lacrimosos, o que deixou o garoto surpreso e corado com toda aquela situação. Ela nunca havia demonstrado todo aquele afeto por ele antes, por quê agora? Ele levou a mão até a nuca dela e lhe acariciou, ainda constrangido.

—  Tudo bem, tudo bem. Estou do seu lado.