Depois de estar ciente de seus sentimentos em relação à Yaoyorozu, Todoroki pensou que teria tempo para refletir sobre isso e ver como lidaria com tudo. Ele deveria seguir o conselho de Iida, talvez, embora internamente se perguntasse se Yaoyorozu apreciaria aquilo.

De qualquer forma, não é como se tivesse muito tempo para pensar sobre isso, visto que assim que estava voltando da caminhada que fizera naquele final de tarde de domingo, encontrou uma figura familiar e de cabelos brancos em frente a porta de seu dormitório.

— Natsuo-nii, o que está fazendo aqui? — Shouto perguntou para o irmão, confuso — Aconteceu alguma coisa?

— Ah, não, não! Nada disso! — O Todoroki mais velho falou, apoiando o braço no ombro de Shouto, parecendo descontraído — É domingo e como eu não quis ir para casa, pensei em te fazer uma visita aqui, afinal você só fala dos seus amigos e da escola pra mamãe...

Shouto deu de ombros, se afastando ao andar, fazendo com que Natsuo tirasse o braço dele.

— Entendo. — Foi tudo o que disse, entrando no dormitório ao lado de Natsuo, sabendo que se rendesse mais sobre o irmão não ir para casa, resultaria em Natsuo explodindo sobre o comportamento do pai e toda a raiva que ainda nutria por ele.

Não que Shouto de fato se importasse com o ressentimento que Natsuo tinha por Endeavor, não quando ele ainda possuía uma certa raiva do pai também, mas o aspirante a herói não queria ver seu irmão mais velho reclamando do Herói nº 1 com todos os seus colegas de turma presentes ali.

Aquele não era o lugar para isso.

— De qualquer forma, eu já visitei a nossa mãe hoje cedo, mas ela praticamente me ordenou sair para aproveitar o resto do dia... — Natsuo continuou resmungando, coçando a cabeça — Então, me diga Shouto, o que tem de bom para fazer aqui?

— Não sei.

E por mais que o Todoroki caçula amasse seu irmão, não significava que era sempre fácil aturá-lo.

Mas pelo visto essa era só a opinião de Shouto, já que bastou para Natsuo entrar na sala de estar do dormitório para se sentir em casa e fazer amizade com os alunos presentes ali.

Ele se sentou no sofá, brincando e rindo com os aspirantes a heróis, de forma natural, enquanto Shouto o seguiu, sentando-se silenciosamente ao seu lado e pegando o celular de forma preguiçosa.

— O Shouto nunca fala sobre ele mesmo, é sempre frio desse jeito aí! — Natsuo conversava com Kaminari, Sero e Ashido, rindo, como se já fossem melhores amigos e se conhecessem há tempos. — Mas vocês devem saber mais alguma coisa dele, já que estão vivendo juntos há algum tempo, e então, o Shouto tem alguma namorada?

Todoroki olhou para o irmão então, se perguntando se seria melhor congelá-lo ou queimá-lo.

Talvez os dois.

— Nosso Todoroki? Uma namorada? — Kaminari exclamou, rindo abertamente — É mais fácil a escola ser invadida por vilões do que isso acontecer!

— Bem, a escola já foi invadida por vilões… — Sero comentou baixinho, relembrando o fato.

— Kaminari, você funciona melhor de boca fechada, cadê a Jirou nessas horas? — Ashido reclamou, olhando para Natsuo então — E sobre ele ter uma namorada, eu diria que você deveria fazer essa pergunta para a nossa Yaomomo!

Ela piscou para Natsuo e este ficou ainda mais curioso.

Shouto olhou da rosada para o irmão, agora confuso.

Estava assim tão transparente que ele gostava dela?

Ele ainda não tinha falado nada com Yaoyorozu, certo, mas mesmo assim Todoroki supôs que não era tão perceptível para as pessoas perceberem aquelas coisas. Talvez porque ele próprio também nunca percebia ou nunca tinha parado para prestar atenção na relação romântica das outras pessoas.

De qualquer forma ele ficou confuso. E até mesmo um pouco surpreso.

Porém antes que pudesse fazer qualquer comentário ou Natsuo pudesse perguntar (de forma empolgada) para ele, a outra pessoa do assunto surgiu na sala de estar.

— Oh, Yaomomo, que bom te ver aqui! — Ashido exclamou, saltando do sofá ao ver a garota se aproximar, agora parecendo um pouco receosa.

— Algum problema, Ashido-san? — Ela olhou então para a única figura desconhecida no sofá, confusa.

— Yaoyorozu, este é meu irmão — Shouto se adiantou, fazendo as apresentações.

Momo imediatamente abriu um sorriso depois disso, se aproximando de Natsuo e se curvando em um cumprimento.

— Oh é um prazer te conhecer, Todoroki-san!

— Deixe disso, me chame de Natsuo, e acredite, Yaomomo-chan, o prazer é todo meu! — Ele exclamou, se levantando e sorrindo para ela.

Shouto não disse nada, embora não pudesse deixar de sentir um certo desconforto por ver seu irmão tratando Yaoyorozu de um modo mais íntimo.

— Então, me diga, você é a namorada do meu irmãozinho?

A sala de estar pareceu estar congelada com a peculiaridade de Shouto depois daquela pergunta, pois nenhum deles, exceto Natsuo, se moveu ou sequer pareceu respirar.

Ashido, Kaminari e Sero olhavam ao fundo, parecendo curiosos para ouvir a resposta também, enquanto Shouto encarava surpreso seu irmão, e Yaoyorozu, bem… esta simplesmente pareceu não processar a pergunta direito.

Embora ela não se movesse, seu rosto foi ficando cada vez mais vermelho, atingindo um nível que realmente preocupou Todoroki.

— Yaoyorozu, você está… — Ele começou a perguntar, se levantando e se aproximando dela, mas logo sendo interrompido.

— Eu-eu… o que? Não! Todoroki-san e eu somos apenas amigos! Bons amigos! Isso, só isso! — Ela exclamava de modo nervoso e apressado, completamente encabulada com a situação.

— Hm… — Natsuo murmurou, se virando para o irmão e esboçando um sorriso para ele — Mas você gosta dela, não gosta Shouto?

Talvez Shouto devesse ter pensado melhor e não ter respondido de forma rápida e direta, mas aquela pergunta, depois de conversar tanto com Midoriya e Iida no dia anterior, pareceu tão simples de ser respondida, que tudo o que ele fez foi falar de forma quase automática:

— Sim, eu gosto dela.

E novamente o silêncio preencheu o lugar, mas este não durou muito, sendo interrompido pela gargalhada de Natsuo, que parecia achar aquilo tudo de repente bem engraçado.

— Cara, você nem deve saber do que eu estou falando! — Ele exclamou, colocando a mão no ombro de Shouto — Um dia eu ainda vou te explicar tudinho, pode deixar, Shouto!

Aquilo pareceu aliviar até mesmo a tensão que estava para os “telespectadores”. Kaminari e Sero sorriram também, iniciando uma conversa entre eles de como era fora de lógica a ideia de Todoroki realmente se interessar por alguma garota assim e como ele parecia ser “quase um robô” que mal demonstrava emoções – com isso Natsuo logo se juntou à conversa dos dois, rindo e compartilhando algumas histórias de Shouto e de si mesmo, ainda agindo como melhor amigo dos alunos.

Shouto olhou para Yaoyorozu então. A garota estava vermelha, mas não tanto quanto antes e parecia estar com a mente distante, olhando para o chão.

— Yaoyorozu — Ele a chamou e ela despertou de seus pensamentos, olhando-o — Natsuo-nii costuma fazer brincadeiras e comentários inapropriados, espero que esteja tudo bem com você.

— A-ah, está tudo bem, não se preocupe com isso, Todoroki-san… — Ela respondeu, sorrindo de leve, mas ainda parecendo um pouco abalada.

Será que a pergunta de Natsuo a incomodou tanto assim? Ou foi a resposta dele que a deixou ainda mais afetada?

Shouto não soube dizer, mas as palavras de Iida, no dia anterior, lhe vieram à mente. De que o certo a se fazer era se declarar. Ele tinha feito isso… ou algo similar, já que seu irmão quem conduziu a conversa. Mas Todoroki tinha quase certeza de que Momo não tinha entendido ou ao menos acreditado em suas palavras, já que ela não se pronunciou de nenhuma forma sobre o assunto.

— Yaoyorozu, está com fome? — Ele perguntou de repente, uma ideia surgindo em sua mente.

— Bem, sim… um pouco.

— Eu conheço um restaurante de soba aqui perto, quer ir? — Perguntou agora já se afastando, se dirigindo até a porta do dormitório, olhando para ela por cima do ombro.

Momo demorou alguns segundos para responder, olhando-o surpresa.

— Ah, sim, claro! — Ela deu alguns passos em sua direção, parando em seguida — Espera, mas e quanto ao seu irmão?

Todoroki olhou para o sofá, aonde Natsuo conversava com Sero, Kaminari e agora Kirishima que se aproximava, completamente distraído e sem nem notar que ele se afastava.

— Acho que ele não vai se incomodar ou sequer perceber que eu saí. Vamos?

Ela sorriu então, concordando e voltando a acompanhá-lo.

E enquanto saíam do dormitório, eles não escutaram – ou pelo menos fingiram não escutar – os comentários empolgados de Ashido (que até então estivera quieta, apenas observando tudo), falar sobre como eles eram fofos juntos e como os garotos eram verdadeiros idiotas por não perceberem aquilo.