A Última Chance escrita por Caroline Oliveira


Capítulo 33
O que é o amor? - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Já estou de cara lisa de pedir desculpas pra vocês pelo atraso, mas é que a vida não tá fácil pra ninguém nessa pandemia, né? Acho que eu até perdi um pouco do feeling pra escrita, então por favor tenham paciência comigo kkkkk
Aqui está a parte dois do capítulo passado e o próximo promete!
Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/780685/chapter/33

Susana Pevensie

Contive um gemido assustado quando vi a figura que tinha a minha aparência sair dos cristais e passar a me guiar por um caminho entre as pedras. Tive o ímpeto de tocá-la para ver se era apenas fruto da minha imaginação - ou ilusão provocada pela poção estranha -, porém me questionei se isso teria algum tipo de consequência em nossa missão.

Avaliando sua aparência - que nos cristais e em minha frente mantinha o mesmo penteado desgrenhado, as mesmas roupas, contudo o semblante mais saudável -, parecia ser alguém do futuro que veio me avisar de algo terrível. Não conseguia deixar de visualizar a sabedoria, um conhecimento que eu não tinha, pairando em seu olhar. Ela estava menos sorridente do que quando nos falamos nos cristais, como se compreendesse a seriedade da missão.

Como sabe, Susana— Ela disse após alguns minutos de silêncio me guiando pela escuridão. Seus passos tiveram sua velocidade diminuída até que pararam - A serpente do deserto foi derrotada pela força de um grande amor.— Parei pouco depois dela - Mas você sabe o que é o amor?

— Mas é claro que…– Minhas palavras foram cortadas pela iluminação repentina em minha volta, forçando-me a fechar os olhos.

Quando consegui abrir os olhos de novo, a escuridão à nossa volta havia sido substituída pela paisagem do Monte de Aslam. Os narnianos estavam em frente ao monte e a minha figura liderava os arqueiros lá em cima. Do outro lado da campina,  os exércitos telmarinos ocuparam toda a área em frente à floresta.

Pedro já havia terminado seu duelo com Miraz. Ele estava de joelhos diante dele, porém meu irmão se negou a matá-lo: ao invés disso, ofereceu sua espada a Caspian, que caminhou lentamente até os dois, tomando a arma das mãos de Pedro.

Obviamente eu não podia saber o que falavam de tão longe, mas pude ver a boca de Miraz se mover com dificuldade, devido aos ferimentos do duelo que consumiam suas forças. Meu coração acelerou contra as costelas, temendo que Caspian deixasse o desejo de vingança corrompê-lo outra vez. Eu fiquei profundamente decepcionada com ele após o incidente com a Feiticeira Branca, porém seu desejo de nos ajudar sugerindo o duelo a Pedro para nos dar tempo e o fato de ter me salvado de ser morta pelos telmarinos diminuiu significativamente meu ressentimento. Agora ele estava prestes a matar o tio, o que era justo de certa forma pelo assassinato de seu pai e a perseguição cruel que Miraz fez contra ele e contra os narnianos, mas ainda assim… eu sabia que Caspian tinha um coração diferente dos outros telmarinos, podia sentir isso! Ele era bondoso, corajoso, gentil e eu havia me apaixonado por ele.

Recusei-me a fechar os olhos quando Caspian bradou, prestes a trucidar Miraz, porém quando a espada desceu, encontrou ao invés do corpo do tio, o solo. Quando Caspian voltou para nós, foi aplaudido por todos e eu me permiti sorrir para ele, orgulhosa, o coração leve por ele ter tomado a decisão certa.

Qual a sua resposta?— Indagou a minha guia.

Pisquei por um momento. Ela me perguntou o que era o amor e havia me mostrado aquela cena, que aparentemente não tinha significado algum. Ela poderia ter me mostrado tantos momentos diferentes: quando conheci Caspian na floresta, quando ele me salvou dos telmarinos, quando dançamos juntos no baile, nossa despedida… Por que justo aquele momento?

Arrisquei um olhar para minha guia, que tinha as mesmas roupas de batalha que eu usava naquele dia. Era como se uma Susana do futuro e uma Susana do passado houvessem se fundido à minha frente.

Ela ergueu uma sobrancelha, inquirindo-me mais uma vez.

— Acredito que sei o que é o amor. - Respondi, forçando minha mente a extrair algum tipo de ensinamento. Expirei - Mas baseando-me no que você me mostrou… - Dei de ombros - Não consigo entender o que quis dizer.

— Pense um pouco - Sugeriu - Quanto a perceber os erros e os acertos do amado, como acha que uma pessoa que ama de verdade se comporta? O que a diferencia de uma pessoa apaixonada apenas?

Pisquei um par de vezes. Ao meu ver, uma pessoa somente apaixonada dificilmente reconhece os erros do parceiro, não admite enxergar imperfeições nele. Desde o início, porém, Caspian e eu percebemos os defeitos um do outro e conseguimos nos amar apesar deles. E eu me alegrei ao vê-lo tomar a decisão certa.

— O amor é bondoso - Constatei - Não incita o ódio; se alegra quando a pessoa amada faz a coisa certa.

Eu não via os meus sentimentos em relação à Caspian com tanta profundidade naquela época. Quando cheguei ao meu mundo depois de me separar dele, tentei me convencer de que era apenas uma paixão boba, que passaria logo, que seria esquecida. Eu aprendi com Caspian, porém, muito mais coisas sobre o amor do que imaginava e aquela cena era uma delas, mesmo que eu sequer tenha percebido.

O cenário ao nosso redor voltou a se escurecer e a Susana que me guiava nada disse enquanto caminhava comigo pelas sombras.

 

Liliandil, a estrela

A natureza da barreira mágica que a serpente do deserto criara ao redor da cela de Edmundo era como uma trama de tecidos, fibras que se entremeiam como teias de aranha, porém de um material muito mais resistente. É como se a olho nu fosse uma barreira sólida, porém quando vista de perto era possível perceber as frestas que poderiam nos dar a chance de destruí-la.

Eu podia sentir Edmundo apreensivo atrás de mim. Eu me esforcei bastante para atravessar a barreira, forçando meus poderes ao máximo para abrir passagem, contudo fora tudo em vão. Os batimentos do meu coração iluminado estavam acelerados, a respiração irregular parecia dificultar meus pensamentos.

— Lilian, tenha cuidado, por favor! - Implorou ele, a voz grave suplicava em preocupação. Ele não queria me ver desfalecer por causa dos meus poderes novamente.

Eu já deveria saber dos seus sentimentos por mim desde aquela época. A forma carinhosa e respeitosa com a qual me tratou desde o início, somada a sua coragem de enfrentar meu pai a cada vez que nos confrontava… Edmundo lutou por mim desde o primeiro instante que viu minha magia ser roubada e demonstrou seu amor a cada momento, sempre me encorajando, sempre dizendo que tudo ficaria bem. Era a minha vez de lutar por ele.

Elevei minhas mãos na direção das paredes que ladeavam a porta, mostrando minhas palmas para elas, os olhos fechados em concentração.

— Aslam, me de forças - Supliquei em um sussurro, sentindo a textura da magia que embuía as estruturas da cela - Me ajude a abrir um caminho.

Pude sentir um estalo inaudível quando lancei um golpe preciso em um ponto da barreira. As fibras se soltaram como uma rede rasgada por um peixe agitado que luta pela vida, abrindo um buraco invisível.

— Isso! - Comemorei ainda falando baixo. Com um movimento dos dedos, lancei outro golpe, próximo ao anterior, alargando ainda mais a passagem. Esse era o caminho.

— O-o que está acontecendo, Liliandil? - Indagou Edmundo, porém eu estava extasiada demais pela possibilidade de minha investida dar certo que o ignorei.

Os golpes foram sucessivos, desmanchando a rede de magia em diversos pontos, até que tornou a barreira frágil como uma casa construída sobre a areia.

— Que as palavras da serpente sejam ouvidas - Declarei - Que a cela seja aberta por dentro e que o rei seja liberto de seu jugo injusto! Que os que não ouviram seu clamor ouçam agora o seu brado de vitória!

Senti a magia pulsar dentro de mim e exerci força sobre a barreira, que ainda resistia. Cheguei a sentir algo se rasgar por baixo da minha pele, como os músculos distendidos de alguém que faz exercícios em demasiado.

Grunhi com a dor.

— Lilian! - Edmundo gritou.

Mais fibras começaram a se partir e eu senti a barreira se enfraquecer. Eu precisava de mais força. Rangi os dentes ao forçar ainda mais a minha magia contra o feitiço da serpente e podia jurar que minha pele pegava fogo.

Algo como o estilhaçar de vidro trincou nos meus ouvidos e eu soube que havia conseguido. Senti o corpo vacilar quando a luz que eu emanava diminuiu gradativamente. As pernas enfraqueceram e eu tive uma vertigem.

Edmundo estava de prontidão para aparar meu corpo antes que se chocassem contra o chão. Senti seu toque em meu rosto e o ouvi chamar meu nome, porém  demorei até recobrar a plena consciência.

— Eu consegui… - Sorri ainda de olhos fechados - Aslam tinha razão… eu consegui.

— Q-quebrou a barreira? - Gaguejou ele, o ar de riso em seu tom de voz. - Lilian, você é incrível! Eu não sei o que seria de mim nesse lugar se não fosse você!

Consegui olhá-lo finalmente e não havia nada mais gratificante do que ver seu rosto irradiando alegria.

— Nós precisamos sair daqui - Declarei, as forças voltando a se estabelecer aos poucos.

 

Caspian X

Após responder à pergunta do meu guia, o cenário do monte de Aslam desapareceu. O Caspian que seguia à minha frente continuou vestido das roupas que eu usava naquela ocasião e mantinha a ausência de barba e o rosto jovem. Evitei pensar se eu estava realmente louco ao me ver a poucos metros diante de mim, afinal precisava me concentrar no que viria a seguir.

Susana possivelmente estava passando pelo mesmo tipo de provação. Por um momento, a imaginei seguindo a si mesma pela escuridão. Perguntei-me se ela via as mesmas memórias que eu e o que estava respondendo.

Repentinamente outra vez, o cenário negro mudou. Fui levado ao meu gabinete no castelo, a sala na qual eu frequentemente me trancava para solucionar assuntos do reino e refletir sobre meus próprios conflitos. Susana e eu estávamos abraçados e ela tinha uma expressão confusa no rosto.

— O que houve, Caspian? - Ela perguntou - O que houve entre você e Ahadash?

Lembrava-me de ter hesitado em responder. Envergonhado por ter cedido à intriga do Tisroc e prestes a magoar a mulher que amo. Eu precisava ser sincero com ela, no entanto.

— Acredite, não é com ele que estou preocupado. Susana, eu… estou me sentindo um tolo, mas preciso ser sincero com você. Ahadash trouxe a tona seu passado com o príncipe Rabadash.

— O que ele disse?

— Ele pôs em dúvida as circunstâncias que a fizeram sair escondida de Tashbaan e os motivos pelos quais Rabadash tomou o exército e veio contra Nárnia. [...] Mais do que qualquer mentira que ele pudesse contar, ele pôs em xeque a própria verdade: somente você sabe o que aconteceu. E eu me sinto ridículo por me sentir incomodado por não saber também, porque foi isso que ele usou para me atingir. [...] Bem, Susana, isso me fez repensar sobre outra coisa. Eu desfiz o noivado com Liliandil porque você é a mulher que amo. [...] Mas não posso evitar ter medo do que acontecerá quando o enorme desafio que teremos pela frente acabar. E eu pergunto, Susana... ficará em Nárnia comigo?

— Você sabe que não posso prometer isso, Caspian. [...]. Mas não minto quando digo que te amo e que meu desejo é compartilhar o resto dos meus dias com você.

Um pouco depois disso, pedi a Susana que me deixasse sozinho. A culpa que eu sentia por não estar tão confiante e o estranho sentimento de ciúme por não saber o que houve em Calormânia me impediam de continuar perto dela naquele momento. 

— Então, Caspian - O meu guia vestia as mesmas roupas que eu na memória, agora congelada. - O que é o amor?

Um sentimento de pesar tomou meu coração naquele momento. Jamais conhecera alguém como Susana. Gentil, determinada, dona de uma beleza ímpar e de um coração cheio de senso de justiça. Será que eu fazia jus a tudo o que eu via de bom nela? Será que mesmo diante do que houve, o meu amor era de fato verdadeiro?

Foi então que me lembrei de Glenstorm, o centauro. Nesses anos desde que comecei a governar, ele tinha sido meu braço direito. Certa vez, ele me confidenciou que apesar de ser um grande líder, visto como bravo e forte por todos, em casa era Windren quem ditava as regras. Ele disse que o casamento era um constante aprendizado, em que os dois cometiam erros e acertavam, mas um nunca abandonava o outro após um erro.

Apesar de ter deixado o ciúme me dominar, entendi que aquilo não estava certo. Arrependi-me dos meus erros e pedi perdão, disposto a acertar dali para frente.

— O amor não é ciumento, nem orgulhoso - Encarei o meu guia ao responder - É humilde para pedir perdão e disposto a aprender a acertar.

O Caspian que me guiava deu um sorriso de canto. O cenário ao nosso redor voltou a ficar negro, então me preparei para o próximo desafio. O meu guia, entretanto, desapareceu na escuridão e eu senti uma leve pontada na cabeça, que me fez fechar os olhos. Ao abri-los novamente, estava de volta à gruta, de frente ao pedestal.

 

Edmundo Pevensie

Esperei que Liliandil se recuperasse do excesso de magia gasta que consumiu para podermos fugir. Ela me deu os grampos que havia posto nos cabelos para que eu pudesse abrir a porta. Não me orgulhava de ter essa habilidade, mas tenho que admitir que meu período de rebeldia quando criança me rendeu muitos aprendizados, sendo esse um deles que agora me era útil.

A porta destrancou com um ruído alto lamentável. Liliandil se agitou para levantar, ciente de que provavelmente havíamos sido ouvidos por algum guarda. Esperei alguns segundos para ouvir passos, mas nada aconteceu. Precisávamos arriscar.

— Vamos? - Liliandil perguntou em um sussurro e eu confirmei com a cabeça.

Abri uma pequena fresta para que meu olho esquerdo visualizasse o ambiente hostil do lado de fora. Nenhum sinal de guardas. Eu estava começando a ficar preocupado, a primeira coisa que faria do lado de fora era encontrar uma espada.

O corredor em que a cela estava localizada era de um silêncio fúnebre. Não sabia se realmente não havia outros prisioneiros, ou se estavam em situação semelhante ou pior que a minha antes de Liliandil chegar. Somente naquele momento eu pude sentir o frio invernal que tomava o castelo. O efeito de Jadis sobre o reino já havia se instalado.

Permiti a contragosto que Liliandil fosse na frente, afinal a princesa Neriah havia lhe passado as instruções sobre para onde deveríamos ir. Havia mais de mil anos desde que eu fui a Anvard - apesar de que para mim fazia uns três apenas -, então o castelo passou por pelo menos duas reformas, que poderiam comprometer minhas memórias.

Subimos os degraus com cautela e eu peguei uma tocha apagada para usar como bastão até encontrar uma espada decente. Meu coração estava acelerado e nossos passos rápidos camuflaram um pouco o frio crescente conforme subíamos.

— Espero que o moleque não tenha morrido - Ouvi a voz da serpente do deserto ao longe e puxei Liliandil para trás, colando nossos corpos contra a parede. A escadaria era em espiral, semelhante a escadas de uma torre, embora estivéssemos no subsolo.

Ouvi passos de pelo menos quatro pessoas na direção da escadaria em que estávamos. Meu peito subia e descia, a tensão consumindo meus nervos com a possibilidade de sermos descobertos e termos um destino pior do que o que as feiticeiras tinham reservado para mim antes de ser salvo pela estrela. E o que era ainda mais perturbador era saber que Liliandil sofreria a mesma pena.

Troquei um olhar com ela. Precisávamos ser rápidos e precisos.

Fiquei na frente dessa vez, preparando o bastão para atingir o primeiro soldado. Liliandil se posicionou também e eu mentalizei que provavelmente deveria fechar os olhos ao seu sinal para não ser cegado.

Os passos ficaram cada vez mais altos, o vestido de Cietriz farfalhando conforme se arrastava pelos degraus. Quando o primeiro guarda entrou no meu campo de visão, meu golpe no meio de sua testa foi certeiro. Sua cabeça foi lançada para trás e o guarda atrás dele tropeçou. Liliandil e eu voltamos a colar nossos corpos na parede e os dois guardas saíram rolando escada abaixo, o de trás soltando berros enquanto caía.

Foi a vez de Liliandil agir. Fechei os olhos quando ela fez menção de mover as mãos para seu encantamento, fazendo uma luz irresistível tomar conta do ambiente escuro. Cietriz e os guardas restantes gritaram com a luz cegando seus olhos e eu agarrei a mão de Liliandil, os empurrei para fora do caminho e corri pelas escadas acima.

— Peguem eles! - Ouvi Cietriz gritar.

Ao chegarmos no corredor em direção a mais lances de escadas, fomos abordados por mais guardas. Seus olhos pareciam estar cobertos por uma membrana, um véu esbranquiçado, azulado, mas não pude reparar muito mais, afinal eles estavam tentando me matar.

Esquivei-me de um golpe pela frente e bati a tocha em seu ombro pelas costas, acertando de leve a nuca, o sangue descendo em resposta. Outro guarda veio para cima de mim e eu consegui segurar suas mãos que empunhavam a espada, soltando a tocha em consequência. Empreguei um pouco mais de força e dei um chute em seu abdômen quando consegui roubar sua espada, rasgando seu peito em seguida.

Quando nos livramos dos guardas, Lilian e eu continuamos correndo.

— Para onde vamos?

— Para a lavanderia e em seguida, para a cozinha!

Avançamos para mais um lance de escadas. O badalar de um sino anunciava nossa fuga e tentei não me preocupar com a multidão de guardas que provavelmente viria ao nosso encalço.

 

Susana Pevensie

A cena diante de mim estava congelada. A minha guia esperava sua resposta.

Eu fui um idiota com você— Caspian disse, passando a mão no rosto – Eu não sei nem o que dizer, não sei nem como olhar para você agora.

Eu não contei isso para que se sentisse culpado. Contei porque eu precisava; eu não quero que esse infeliz episódio se torne uma sombra em nossa história. Que seja usada para nos separar, como Ahadash fez.

Quem nos separou fui eu, Susana. Sabe disso. Eu... peço que me perdoe, do fundo do meu coração. Você não merecia isso [...]. Eu tentarei ser mais sensato, principalmente com você. Eu não queria ter precisado ouvir essa história para entender o seu lado na intriga de Ahadash...

Não digo que foi o melhor, mas foi necessário. Eu quero ficar com você, Caspian, de verdade. Eu jamais imaginei que iria ter a chance de ver você de novo. As vezes eu me pego perguntando se tudo isso não é sonho e eu não vou suportar se for...

E não é— Assegurou.

Então vamos fazer valer a pena— Pedi – Eu quero aproveitar cada segundo ao seu lado, ao lado do homem que amo.

Sorri ao ver a cena. Quando se está de fora, as coisas parecem ficar mais claras e até mais belas, de certa forma. Eu havia permitido que minha trágica história com Rabadash se tornasse em um trauma. Graças a Aslam ela não me impediu de me apaixonar, porém me impediu de confiar em Caspian desde o início para confidenciar essa história. Não penso que o meu amor por Caspian houvesse me curado daquela dor, porém meu profundo sentimento por ele me fez perceber que valia a pena o esforço para deixar aquilo no passado. Eu havia dito a Caspian que o amor é confiança, e precisei confiar nele também. O amor também era perdão, a coragem de deixar os ressentimentos para trás e viver o amor que tanto esperamos. Aquela intriga era pequena demais para nos separar. Precisávamos ser mais fortes que ela.

— O amor é confiança, perdão, compreensão - Verbalizei - É sacrificar o próprio ego e orgulho em prol da liberdade de amar o outro sem ressentimentos. É compreender que por vezes magoamos a pessoa amada por medo de perdê-la, mas principalmente é entender que quanto mais livre a pessoa se sentir ao nosso lado, mais nossa ela será.

A Susana que me guiava não esperou que eu terminasse de falar para começar a desaparecer junto a todo o ambiente do jardim do castelo telmarino ao meu redor. Uma certa aflição povoou meu coração, com medo do que viria a seguir. Por um momento, pensei que ela me levaria a outro desafio, mas não fazia sentido ela ter desaparecido.

A escuridão ao meu redor de repente se tornou uma fraca luz e eu estava de volta à gruta, diante do pedestal, com Caspian na minha frente.

Alívio preencheu meu peito ao fitar seu rosto e eu toquei sua barba e suas bochechas antes de abraçá-lo. Ele afagou meus cabelos enquanto eu massageava seu ombro com a palma da mão.

— Não vai acreditar se eu contar o que vi - Ele assegurou. Sorri de canto e me separei dele.

— Você que não vai acreditar no que eu vi - Retruquei sorrindo. Eu suspeitava que ele tivesse sido submetido à mesma experiência que eu, mas ainda não havia compreendido se havíamos passado nos testes ou não.

— Alguém do lado de lá - Uma voz nos interrompeu. Caspian imediatamente colocou a mão no cabo da espada e eu icei o braço para trás para buscar o arco na aljava - Uma vez disse que “quanto mais amor temos, tanto mais fácil fazemos a nossa passagem pelo mundo”.

Era um homem calormano, a julgar pelas vestes. Não sabia dizer de onde ele havia surgido, mas não estava armado, o que me tranquilizava um pouco. Suas vestes eram reais, me fizeram lembrar o príncipe Adalias, irmão de Rabadash. Era o tipo de seda que ele gostava de usar. A diferença entre Adalias e o homem à minha frente era que o calormano em questão não tinha malícia no olhar ou maldade no rosto. Seu tom não era de um vilão contando grandeza e sim de alguém que oferece sabedoria.

— Immanuel Kant - Respondi. Caspian me lançou um olhar rápido, claramente não entendendo de quem eu falava - Como sabe sobre isso?

— Seu desempenho foi animador até agora - Ele me ignorou completamente - A sabedoria de Aslam repousa sobre vocês. Nem sempre é possível retirar tanto aprendizado de acontecimentos recheados de tanta tensão, mesmo quando se assiste às cenas de fora.

— Quem é você? - Caspian indagou, incapaz de baixar a guarda. Não que ele estivesse errado.

— Meu nome é Nihor - Meu queixo caiu como fruta madura despencando do pé. - E estou aqui para condicioná-los ao seu último desafio.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
Algumas cenas utilizadas nesse capítulo são de capítulos passados, como o 14, 15, 18.
Não se esqueçam de comentar o que acharam! É muito importante pra mim!
Beijos e até mais!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Última Chance" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.