Cerejeiras

by Aleksia Kyle

Ainda lembro da sensação de desolação que perpassou por todo o meu ser, quando em meio a nuvem de poeira não conseguia te encontrar. Naquele momento, o peso dos escombros recaiu sobre meus ombros de forma degradante e avassaladora, cada ínfimo poro de minha pele foi tomado pelo desespero e estado de alerta.

Eu não podia perder você! Não depois de tudo o que passamos. Não conseguiria sobreviver sem você. Sarada não aguentaria.

Quando senti o impacto do desmoronamento minha mente gritou em angústia, ao mesmo tempo em que apenas uma única palavra era pronunciada por mim, sete tons acima do habitual: Sakura.

Sakura! Onde está você? Tal questionamento era entoado como um mantra sagrado, e a plenos pulmões, a cada bloco de concreto que removi naquele dia. A ausência de seu chakra energizante, ia eliminando toda a sanidade que construí ao longo dos anos.

Nossa missão era importante para nós dois, pois apenas com ela conseguiríamos ajudar aquele que sempre fez de tudo para nos proteger e havia chegada a hora de retribuir cada pequena e grande ação de Naruto em nossas vidas. Porém, em meio aos destroços do centro de pesquisas, a única coisa que ansiava era tê-la em meus braços, respirando e consciente.

Rememorei todas as primaveras que estive distante de casa, em que cada desabrochar das cerejeiras sinalizava os períodos longe de você e de Sarada. Meu peito já ardente entrou em combustão, mas tal qual as flores de cerejeiras brotando ao horizonte você despontou em meio a avalanche de detritos.

Debilitada, ainda tentara falar sobre a missão sendo cortada instantaneamente por mim. Naquele momento a minha única missão era encontrá-la viva e nada mais importava para mim.

...

— Não entendo, mama...

— O que você não entende, Sarada? – a jovem de olhos expressivos e verdes como uma pedra preciosa questiona a pequena a suas costas.

— A senhora possui uma caixa cheia de cartas do papa, mas elas são totalmente diferentes dessas que o papa esconde – o olhar atento de Sarada é direcionado para as pequenas folhas nas mãos de sua mãe – E por algum motivo, a senhora prefere essas do que as que a senhora guarda.

— Você já ouviu a expressão “Os Uchiha amam demais”, Sarada? – dobrando as folhas que segurava, Sakura declara com um sorriso gentil e reconfortante em seus lábios.

— Claro! A senhora sempre fala isso. Kakashi e Iruka também...

— Então... essas são as primeiras notas das cartas que Sasuke-kun me enviou e bom... – guardando a grande caixa amadeirada com o símbolo do clã gravado – É nelas que ele demonstra sem nenhum receio o que sente, não só por mim ou por você, mas por tudo e todos.

— Então ele escreve primeiro com o coração e depois com a razão?

— Não, querida. Primeiro ele escreve com a alma e o coração e posteriormente apenas com o coração. E eu amo cada pequena linha que ele redigiu seja as enviadas ou não.

— Hmm... – a garota olhava para a mãe com ar de entendimento – Mama, a senhora tem certeza que ele não sabe que a senhora não tem a mínima ideia desses rascunhos?

— Eu tenho a absoluta certeza que ele sabe disso, Sarada – a mãe a olha de forma faceira e com cumplicidade.

— E por que a senhora me manda vigiar, sempre? – revoltada a pequena pulou de cima da mesa, onde havia sentado anteriormente.

— Porque adoro vê-la emburrada, sempre que não deixo ler nenhuma das cartas.

— Mama! – o grito é em alto e bom tom.

— Temos que nos preparar para o hanami, depois discutimos sobre isso, Sarada.

De forma divertida Sakura abandona o escritório do marido, tendo a filha em seu encalço ainda chateada pela confissão que ouviu. Mas ela não perderia tal evento por nada. Todo o país do fogo comentava que naquele ano as cerejeiras haviam desabrochado de forma surpreendente, mais belas do que o ano anterior, e seria a primeira vez em anos que a família Uchiha iria completa apreciar o florescer das cerejeiras.