Uma canção de Sakura e Tomoyo: Vamo alla flamenco escrita por Braunjakga


Capítulo 20
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Meus agradecimentos à todos os que chegaram até aqui! Estou aqui para qualquer coisa, só avisar! Aguardem por mais em "Uma canção de Sakura e Tomoyo: melhor chamar Sakura". Até lá!



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Capítulo 18 

Epílogo 

 

San Sebastián (Donostia), País Basco (Euskadi), Espanha 

28 de junho de 2007

 

I

 

O campo de treino da Real Sociedad estava cheio de rapazes. Aqueles jogadores recém promovidos ao profissional terminavam um jogo contra o sub-17 dos txurri-urdin e guardavam todo o material nas mochilas antes de descer para o vestiário. Syaoran era um deles. Kero também estava acompanhando-o, sempre dentro da mochila. Durante todo aquele treino, o chinês estava profundamente sério. Kero percebeu e perguntou: 

— O que foi, pirralho, porque tá sério desse jeito?

— Não reparou nada não, Kerberos? Não acha que a Sakura tá passando por alguma coisa?

Kero parou um tempo para pensar e depois respondeu:

— Também tô achando isso muito suspeito! Parece que mandaram a gente de propósito pra cá… Mas não esquenta! Se acontecesse alguma coisa com a Sakura, eu já ia saber… 

— Eu espero que você esteja certo… 

Syaoran jogou a chuteira na mochila e depois saiu de lá com o guardião num dos bolsos dela.

 

II

 

Do outro lado do campo dos meninos do sub-17, as meninas da Real treinavam. Antes de entrar em campo, Gotzone se aquecia fora de campo. Enquanto se alongava, viu um senhor vindo de boina na cabeça e jaqueta esportiva da Real. Era Zigor. Ele se aproximou dela e ela se ajeitou. 

— Não conseguiu nada, né? — perguntou Gotzone.

Zigor fez não com a cabeça.

— Eu sabia! Eu sabia que não ia dar certo! O senhor é teimoso mesmo! A gente tinha mais que proteger essas cartas! Mas o senhor não! O senhor não me escuta! — disse Gotzone. A moça ralhava, empurrava Zigor e ficava gesticulando contra ele.

O homem grisalho ficou só olhando os olhos da afilhada por um tempo antes de responder, sem reagir aos impulsos dela.

— Agradeça ao seu pai por eu ser um grande amigo de vocês! Se não fosse por isso, eu já teria pegado essas cartas faz tempo… — disse Zigor.

A jogadora não entendeu.

— O que o senhor tá querendo dizer? — indagou Gotzone, olhando com desconfiança para o padrinho.

— Nada! Só trate de ensinar bem seus filhos…  Quando você ter eles, é claro… — Zigor tirou uma pequena garrafa de uísque da jaqueta e saiu do campo de treino, bebendo.

— Eu, hein? O que deu nele? — disse Gotzone, encabulada. 

— Goti, vamos! — disse uma das meninas já em campo. Ela se apressou e correu.

 

III 

 

Nas arquibancadas do feminino, havia muitos parentes das jogadoras, todos com camisas ou cachecóis da Real, mas só aqueles dois estavam vestidos diferentes. Iñigo usava uma camisa do Athletic Club de Bilbao, o maior rival da Real. O príncipe usava uma camisa do FC Barcelona. Ninguém brigou com eles, aquele povo era educado demais para esse tipo de coisa. Só estavam lá para apoiar as meninas e mais nada. Os dois não tiravam os olhos de Gotzone, Iñigo mais ainda. A loira estava jogando no campo e jogava melhor que as demais. Iñigo estava com água nos olhos só de vê-la. 

De repente, a bola sai do campo e voa até a arquibancada. Iñigo se levantou de imediato e matou a bola no peito. Depois, ficou fazendo embaixadinhas com ela até o príncipe avisar que uma certa pessoa se aproximava.  

— Mano! Olha aí! — disse o príncipe. 

Iñigo se virou e viu que Gotzone estava lá na arquibancada, olhando para ele. A bola caiu na hora, assim que ele se deu conta disso. O príncipe pegou antes que ela continuasse a cair. Iñigo estava sem jeito diante do olhar vivo e curioso dela.

— Desculpa… — disse o rapaz.

— Desculpa por quê? Você tava indo bem! Eu que te atrapalhei, não é? — Goti sorriu. O rapaz estava ainda mais envergonhado que nada. — Aprendeu sozinho, é?

— Não… Minha ama, minha mãe que me ensinou… — respondeu Iñigo. O coração dele pulsava com mais força que nunca e uma lágrima involuntária saiu de seu rosto.

Gotzone sorriu, satisfeita com o que escutava.

— Então, ela te ensinou bem… — A loira sorria.

Iñigo não se aguentou e chorou. O príncipe segurou o ombro dele. A jogadora ficou preocupadíssima.

— Nossa, o que aconteceu?

— Minha ama é txurri-urdin de Donostia, sabia? 

— Txurri-urdin de Donostia, é? Então, ela torce pra Real Sociedad! Que bom, que bom! E só você que se desviou pros “gorri ta zuria”? — perguntou Goti.

Iñigo apenas fez um sim com a cabeça. Sem esperar, a moça deu um abraço forte e caloroso nele. Foi então que ele começou a chorar mesmo e devolveu o abraço, com mais força ainda. Os dois ficaram assim por um tempo e o treino no campo continuou.

— Sua ama não tá com você, né? 

— Não… 

— Não fica assim! Ela sempre vai tá te olhando do seu lado, tá bem? — Gotzone tocou carinhosamente o rosto daquele homem, claramente mais velho que ela. Iñigo tirou a mão dela levemente do seu rosto.

— Ela me disse a mesma coisa antes de partir…  

— Agora é hora de recolher essas lágrimas na mochila e se preparar pro próximo jogo que, com certeza, a gente vai ganhar de vocês! 

Gotzone pegou a bola que tinha jogado na arquibancada das mãos do príncipe e voltou para o campo. Eles continuaram olhando para ela até perdê-la de vista em meio aquele gramado. Iñigo ainda estava com os olhos vermelhos, marejados, querendo continuar a chorar. Parecia que uma parte do seu coração se rasgava por dentro e ele ainda conseguia sentir a dor.

— Não me deixa, ama!

O príncipe agarrou com mais força ainda o ombro de Iñigo.

 

IV

 

Gotzone voltou correndo para o campo e jogou a bola de volta para as meninas. Em vez de continuar o jogo, elas mataram a bola no pé e resolveram fazer algumas perguntas para ela.                             

— Goti, quem era aquele rapaz? 

— Você já conhecia ele, hein? Pelo jeito, parece que sim!

— Não sei. Ele me pareceu ser tão familiar… Parece até que eu conheço ele faz tempo… — disse a loira, com a mão no queixo e uma profunda dúvida no olhar. Tentou olhar para a arquibancada de novo, mas não o encontrou. Uma pontada de dor apareceu em seu coração do nada, preocupada se ele não faria nenhuma besteira.

 

V

 

Caminhando pelas árvores em torno do centro de treinamento, Iñigo ainda continuava a chorar. Seu nariz escorria de tanto que chorava. O príncipe olhava-o preocupado.

— Acho que você não devia ter visto a sua mãe… — disse o príncipe. 

— Você já viu a sua ama, mano! Isso é injusto comigo! Eu nem sei se o anaia tá vivo ainda! — respondeu Iñigo. 

— O aita também tá aqui… Não quer ver ele? — sugeriu o príncipe.

Os dois se olharam silenciosamente e disseram ao mesmo tempo:

— Melhor não!

— Pelo menos nisso a gente concorda… Tô cansado de chorar… — disse Iñigo.

— Vamos voltar… — disse o príncipe. Ele sacou a carta Sakura “retorno” e uma nuvem rosa envolveu os dois, levando-os de volta para onde vieram. 

 

VI

 

Palácio flutuante da Ordem

Madrid, Espanha 

Agosto de 2042

 

Os dois voltavam pela segunda vez para o futuro, dessa vez, para ver como estava o irmão. Só tinham voltado ao passado para ver Gotzone mais uma vez. Pegaram suas armaduras douradas e correram como loucos pelos corredores vazios do palácio até a sala onde o príncipe se transformou em dragão. Abriram a porta com tudo e viram um homem deitado no chão, tossindo e querendo se levantar. Cercaram o homem e viram que o corte no pescoço estava estancado e o sangramento havia parado.

— Mano! Você ainda tá vivo! — disse Iñigo, segurando a cabeça do irmão.

Iñaki ainda tentava se levantar com dificuldade, a armadura dourada ainda encharcada de sangue.

— Foi a Sakura quem me salvou… 

— Cadê ela? — perguntou Iñigo.

— Eu não sei onde ela tá, mas só sei que… Se não fosse por ela, eu teria sangrado que nem um porco nesse chão… 

— Então, ela ganhou! — disse o príncipe. Os três sorriram, satisfeitos em saber que Sakura tinha sobrevivido à luta.

— O mano viu a Gotzone… — disse o príncipe.

Anaia! — repreendeu Iñigo.

— Seu infeliz! Viu a ama sem me levar junto! — Iñaki deu um cascudo fraco no irmão. O príncipe gargalhou, feliz por ver o irmão vivo.  

 

VII

 

Tóquio, Japão

28 de junho de 2007

 

Era o dia da apresentação dos castellers da Universidade Pompeu Fabra. A plateia no novo teatro nacional de Tóquio estava repleta de gente. Era a primeira vez que muitos deles viam a apresentação de um grupo de castellers ao vivo e não queriam deixar a oportunidade passar batida. Atrás das cortinas, os mais de cem rapazes e moças se ajeitavam e faziam os ajustes finais no figurino. Sakura ajudava Tomoyo a se trocar também. Ela ajudava a amiga a enrolar o grande pano preto na cintura, usado para que os demais pudessem escalar até o alto.

— Você vai voltar amanhã, né?

— Hoje mesmo a gente já vai pro aeroporto… 

Sakura ficou calada, continuando a enrolar a cinta de casteller na parceira querida. Respirava fundo para não chorar.

— Quando eu vou te ver de novo? 

— Quando a gente tiver que se ver de novo, Sakura! — disse Tomoyo, séria e sorridente ao mesmo tempo. A cardcaptor não aguentou e começou a chorar.

— Quando você fala assim… Quando você fala assim… Parece que eu nunca mais vou te ver… 

— Eu não te veria mais, Sakura. Agradeça à Deus ou ao Inevitável por eu ter entrado no grupo de castellers da faculdade. Eles que me deram a oportunidade de te ver aqui, agora…  

Sakura gemeu e chorou mais ainda. Tomoyo ficou preocupada. 

— Mas… Mesmo que se eu não tivesse voltado para o Japão, aqui e agora, não faria sentido não te ver, não falar com você… 

— Como assim? 

— Eu sempre vou me preocupar com você, Sakura. Não consigo apagar isso dentro de mim… Essa é a minha sina que eu vou carregar comigo até eu morrer, da mesma forma que minha mãe vai morrer amando a Nadeshiko… Tem coisa que não se apaga tão fácil assim… 

Sakura ficou tão desconcertada com o discurso dela que não soube responder. Tentou mudar de assunto sem desviar da conversa.

— Você falou que tem uma amiga parecida comigo, né? Você não ia me apagar fácil mesmo! — disse Sakura, com cara de brava. 

 — Ela é o oposto de você! Ela é inteligente e charmosa pelo menos… 

— Tá me chamando de burra, é?

— O que ela tem de inteligência, você tem de gracinha… — disse Tomoyo, afagando as bochechas de Sakura. — Só a Sakura é a Sakura, só você quem eu amo… — Ela aproveitou para limpar as lágrimas da parceira com a mão. Sakura ficou com o rosto mais vermelho ainda. Não dava para se desviar do assunto que Tomoyo tinha aberto.

— Eu prometo, Tomoyo, se eu tiver uma oportunidade de te amar nessa vida ou na outra, eu vou te amar! Eu juro! — disse Sakura, beijando as mãos da universitária.

— Não precisa se sacrificar tanto por um desejo egoísta meu! Não sacrifica a sua felicidade pelos outros! Você já tem o meu telefone, meu endereço, meu e-mail… A gente não vai deixar de se falar, e eu não vou deixar de estar presente na sua vida… Se isso te deixar mais feliz, eu fico feliz também…  

— Você também é parte da minha felicidade, sua boba! Esse é um desejo egoísta meu também, não pensa que é só seu! — O olhar de Sakura era firme e sério para ela. Agora era Tomoyo quem ficava vermelha a ponto de não conseguir responder. 

— Vamos lá, já vai começar… — A morena empurrou gentilmente a amiga para fora do camarim.  

 

VIII 

 

Na plateia, estavam Rika, Naoko, Chiharu, Touya, Nakuru, Yukito e Fujitaka. Todos estavam elegantes e com os olhos cheios de brilhos. O teto do teatro nacional era alto, mas parecia que os castellers desafiavam ainda mais a arquitetura daquele palácio. Não raras as vezes, eles quase alcançam o teto.

— Olha lá, a Tomoyo vai subir… — disse Fujitaka, apontando para o palco. 

Os castellers fizeram duas torres no palco. Havia um bolo de gente em cada uma e uma pessoa saia do meio do bolo. Tomoyo subiu nos ombros do colega e ele agarrou seus pés. De repente, ela apontou para a plateia, chamando alguém com as mãos.

— Sakura, a Tomoyo tá te chamando… — disse Touya. Todos sorriram e todo mundo no teatro ficou olhando para ela.

— Hoe! Eu? Como essa feiosa só me faz passar vergonha… — disse a cardcaptor.

Sakura estava de saia. Não ligou. Lembrou-se que estava usando uma ceroula que Tomoyo pediu para ela usar e ela não entendeu na hora para o que era, mas agora compreendia. Não pensou duas vezes. Saiu do seu lugar na primeira cadeira e foi para o palco correndo, com a permissão dos seguranças. Subiu em um, subiu em outro daqueles rapazes e moças de amarelo da sua idade. Agarrou a cinta do cara de baixo e avançou até agarrar a cinta de Tomoyo. Bastou tocar nela para sua sapatilha escorregar e cair.

— Você tá gorda, Sakura! 

— Você vai ver a gorda! — Sakura ficou mais motivada ainda depois do que Tomoyo falou para ela. Subiu nos ombros dela e a morena agarrou os calcanhares dela. Daquela posição, Sakura via toda a plateia, desde a primeira fila até os mezaninos. parecia magia. Seus olhos brilharam, ajudados, é claro, pela forte luz dos spotlight. Distraída como era, nem se tocou quando o castell desabou. Só se tocou quando estava no colo de Tomoyo, no chão. Ninguém se machucava naquela brincadeira, estavam preparados para aquilo. As duas sorriram. O povo aplaudia. Deu tudo certo.

 

FIM 


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