Wake Up escrita por Sasazaki Akemi


Capítulo 5
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/780532/chapter/5

Eu não entendia, mas eu sempre estive de olho nela durante o horário de almoço e ela sempre continuava sozinha e sendo perturbada, com exceção de que ela não comia mais a merenda escolar. E quanto mais o tempo passava, os julgamentos do inferno pioravam. 

—Trouxe o dinheiro desta vez, Sayu? — Misaki perguntava ao vê-la entrar na sala de aula e fechar a porta.  

—Eu já disse que não tenho nenhum dinheiro — Ela não estava mentindo, porém, ninguém se importava. Empurrando-a e roubando sua bolsa, abrem e pegam um saco de ração de gato. 

—O que é isso? — Hyuuga pergunta em meio a risada. 

—Ela alimenta animais na rua, assim como ela. Inúteis — Misaki respondia ao jogar a bolsa de volta a dona e a ração ao Hyuuga. 

E durante o almoço deste dia, Sayuri, que acostumou levar marmitas de casa, teve sua comida coberta por ração de gato. “Ração para animais indefesos” era o que Hyuuga dizia ao esvaziar o pacote e jogar no rosto da garota. Ao contrário de reagir ou chorar, apenas limpou a mesa com o guardanapo e fora atrás de utensílios de limpeza para terminar, o que piorou sua aparência escolar. 

Ela era forte e seu sorriso demonstrava isso, contudo, era sensível e chorona. Depois das aulas, coincidentemente ou não, ela pegava o mesmo caminho que eu, mesmo que sua casa fosse para a direção oposta: ela costuma ir ao norte da cidade para seus deveres fora da academia e isto incluía cuidar de filhotes de gato ao lado de uma floricultura, e exatamente neste mesmo dia, eu vi. 

—Desculpem-me, eu não... Eu não consegui trazer ração hoje – As lágrimas rolavam tristonhas, fazendo carinho em cada um dos quatro filhotes que miavam alto por amor. Este era o motivo, ela já não havia dinheiro o suficiente para comprar o almoço e alimentar os famintos gatinhos, que arranjou um trabalho meio período na floricultura ali ao lado – Eu que estou dando tudo de mim... 

—Pequena Sayuri — Chamava a senhora ao seu lado, a dona da floricultura — Aconteceu alguma coisa? 

—Eu perdi toda a ração... Eu... 

—Está tudo bem, eu comprarei ração e cuidarei deles esta semana. E você, deveria tirar uma semana de folga — Ela respondeu ao estender uma sacola de papel — Eu comprei doce de feijão para você, aproveite. 

—Muito obrigada – Foi a última frase dita antes de partir, limpando o choro. Pouco antes de caminhar para sua casa, escutou o choro de uma criança e não hesitou em correr de onde vinha, admito que me surpreendi. O choro vinha de algumas lojas à frente da floricultura, a criança chorava por ter se perdido de sua mãe e com um animado sorriso lhe ofereceu ajuda, dando-lhe seu doce para deixá-la mais tranquila. Após concluir seu objetivo, despediu-se e fora para casa. 

Esta fora a Yoshioka Sayuri em que ninguém havia visto apenas eu, por pura coincidência, mas não compreendia. Por quê? Por que ela faria tudo isso? Quanto mais eu me perguntava, quanto mais a curiosidade me consumia, o destino nos ligava e escutava casa vez mais o som de vidro sendo quebrado. E em junho, o mês em que escutei o vidro totalmente partido: Mic encontrou um caderno jogado no pátio e o nome dela estava escrito na capa, a decisão de deixar na sala dos professores foi tomada por mim para que a senhorita Fukuda entregasse a dona, mas ela apenas pediu educadamente: 

“Por favor, entreguem vocês mesmos” 

O motivo seria por ela não haver amigos ou por que ela não conseguia olhar para a sua aluna, após dizer tudo aquilo? Não importava, nós apenas adentramos na sala dela no dia seguinte, sem ao menos avisar ou bater na porta, e foi neste dia em que nós vimos: o momento em que Hyuuga jogou um balde de água gelada sobre Sayuri, enquanto Misaki filmava com seu celular. 

—Hey Sayu, diz novamente. Aquela frase – Ela dizia com um largo sorriso sádico nos lábios – Se disser, eu seco as suas roupas com a minha individualidade. 

Individualidade de Misaki Mika: Vapor, permite criar vapor de sua pele. Consequência: desidratação. 

—Ser herói não significa ter peculiaridade. Ser herói é salvar pessoas – Ela era obediente, com um olhar baixo e distante, sentada em sua carteira, disse a frase em que tanto amava. Complementou em voz baixa – Diferente de vocês em que estão apenas matando... 

—O que? Eu não escutei. Matando o que? — Misaki provocava colocando a câmera no rosto de Sayuri. 

Eu e o Mic estávamos em choque, o quão paciente era ela, por aguentar todos os dias e por tantos meses. Mas ela apenas sorriu para nós e cumprimentou com um “Bom dia”, agradecendo ao ver que eu estava com o seu caderno. O loiro fora o primeiro a dar mais um passo para impedir com tudo, cessando ao ver Sayuri levantar-se do lugar e vir em nossa direção. 

—Estou bem, desculpe — Ela diz ao pegar o caderno em minhas mãos e sair da sala, logo que ela esbarrou em meu ombro, escutei o som de seu coração sendo despedaçado.  

Todos riam, apenas os alunos da sala dos heróis — nós — estavam perplexos, onde ela iria? Não era da minha conta. Dei um sinal para voltarmos a nossa sala e Mic logo me seguiu, sem perceber, estava seguindo as gotas de água no chão. Desciam as escadas e não havia nada para onde ela ir, foi quando olhei pela janela e a vi correr para fora da academia. 

—Droga...! — Murmurei a mim mesmo e corri, deixando Mic sozinho e desentendido. Desci os degraus e fui o mais rápido para fora da enorme construção, eu seria punido junto dela e havia certeza disso, mas por algum motivo eu fui atrás. Por quê? Eu mesmo não sabia, talvez me sentisse culpado por agir da mesma forma que os outros ou por eu ser o único a saber o local onde ela iria. 

Sem fôlego, parei para respirar, quando a vi atravessar a rua em minha frente. Respirei fundo e corri, sem observar a volta e me importar com a situação, gritei seu sobrenome pela primeira vez. Eu que não queria chamar atenção, gritei para chamar o máximo de atenção dela e consegui, ela virou-se para mim com os olhos cheios de lágrimas e vi o quão triste estava, principalmente ao chamar o meu sobrenome. Eu não entendia o desespero em seu rosto e o motivo dela vir correndo em minha direção, mas a gritaria das pessoas em minhas costas me deixava curioso e logo a buzina do carro vindo em minha direção em alta velocidade. “Vou morrer?” fora o que viera em minha mente ao perceber em que eu estava no meio da rua, sem reparar, paralisado, me vi empurrado para a multidão. 

Eu não consegui dizer nada, estava em choque. O estrondo da batida e o ruído do cantar dos pneus invadiram meus ouvidos, a realidade não estava sendo processada pela minha mente e meu corpo não respondia nenhum de meus comandos: estava com medo, pela primeira vez. Os estranhos ao meu redor diziam ou perguntavam alguma coisa, mas a única voz em que permanecia em minha cabeça era apenas a dela: “Cuidado!” e o rosto apavorado dela. Sayuri me empurrou e jogou-se à frente do carro, ela fora arremessada para alguns metros com a enorme pancada e rolou por mais alguns. A ambulância fora acionada e as vítimas foram levadas às pressas para o hospital. 

Eu retornei à academia e levei um sermão. Os professores se responsabilizaram pelo incidente e foram a residência Yoshioka para pedirem desculpa, mas a família não se importou e nem fez a questão de visitar a própria filha hospitalizada. Mic insistiu em comprar algumas flores, acreditava que a deixaria feliz, para irmos visita-la. 

—Senhorita Yoshioka, tem visitas — A enfermeira anunciava a nossa chegada ao bater na porta do quarto. Ao entrarmos, ela estava acordada e lia um livro, no entanto, quando ela se deu conta que éramos nós, ela corou bruscamente e escondeu seu rosto com seu livro. 

—O que vocês estão fazendo aqui? — Perguntava gaguejando, mostrando apenas os olhos para nós. 

—Ele tem algo a lhe dizer — Mic me entrega com um empurrão. Eu estava desconfortável, culpado. 

—Que bom que está bem — Ela diz antes mesmo de eu poder dizer alguma coisa, abaixando o livro e mostrando seu sorriso delicado. Ela estava com os braços e com a testa enfaixada e com alguns curativos no rosto. 

—Desculpe — Saiu em um sopro, desviando o olhar para a parede. 

—Está tudo bem, eu estou feliz que esteja bem — Ela repete. 

—Eu trouxe flores — Mic diz sem cerimônia, estendendo o buque de flores para a paciente. Como consegue agir naturalmente? 

—Sério? Obrigada! — Ela agradece com um sorriso alegre e com os olhos brilhando — Eu gosto tanto de flores, principalmente o lírio. 

—Sério? – Mic pergunta, olhando desconfiado para mim, pois quem escolheu as flores fui eu. Muito bem, eu sabia muito bem do seu gosto por flores e por gatos, todos os dias via você fazendo a mesma coisa. 

—Obrigada por se preocuparem comigo – Ela diz timidamente observando encantada as flores – Eu nunca recebi uma visita. 

Nós sabíamos, pois escutamos da professora Fukuda, que foi pedir desculpas pessoalmente a família Yoshioka. Lembramos do rosto da mulher em que estava tão triste em ver que a própria família lhe abandonou, ela seria uma família melhor do que a sua.  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Wake Up" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.