Conectando-se escrita por Dri Viana


Capítulo 13
Capítulo 13 - "Vou ao Alabama conhecer o Arthur!


Notas iniciais do capítulo

O cerco vai se fechar legal para o lado do Grissom.



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Sara enviou o pedido e ansiosa ficou no aguardo da resposta do amigo. Não era de hoje que ela sentia vontade de ligar para ele. A curiosidade em saber como era a voz de Arthur já estava grande há semanas. E como ele nunca mandou um áudio sequer, então ela ficava imaginando como seria o tom de sua voz.

Sua consciência lhe recomendou que primeiro pedisse ao amigo para lhe ligar, ao invés de já ir ligando sem avisar. Vai que Arthur não aprovasse sua atitude de fazer a ligação sem prévio aviso.

Sua torcida era para que ele concordasse em atender sua chamada de voz. Queria muito descobrir de uma vez por todas, se a voz dele combinava com a imagem que criou baseada nas informações que Arthur deu a seu respeito, já que até o momento ele tampouco mandou uma foto apesar de seus pedidos por uma. A justificativa dele era a timidez e ela até o entendia e respeitava. Jamais ia obrigá-lo a tirar uma foto se esta não fosse sua vontade.

"Arthur? Posso?"

Ela enviou diante da ausência de resposta dele a sua pergunta anterior.

Do outro lado da tela, mais precisamente em certo apartamento há algumas milhas de distância de perita, um supervisor entrou em pânico diante das mensagens recebidas.

— Céus! E agora? - Grissom largou o aparelho telefônico sobre o peito e cobriu os olhos com ambas as mãos.

Se aceitasse falar com Sara, a chance de ela reconhecer sua voz seria grande. E, deste modo, tudo estaria perdido. Não queria que ela descobrisse a verdade assim. Mas como sairia daquela enrascada.

— Pensa Grissom. Pensa! - repetiu em voz alta, pressionando as mãos aos olhos.

Alguns segundos mais e ele acabou achando uma desculpa bem esfarrapada para dar à amada. Apanhando de volta o celular, digitou e enviou a seguinte mensagem:

"Sabe o que é, Sara... A a minha voz é horrível. Você não vai gostar dela, vai por mim."

Em sua casa a perita acabou esboçando um sorriso pela resposta que leu. Seu amigo e suas gracinhas. Prontamente, tratou de responder a mensagem dele.

"Por que não deixa que eu mesma tire as minhas próprias conclusões sobre a sua voz, ao invés de você fazer isso por mim, hein?"

Frações de segundos e a resposta dele veio.

"Na verdade estou te prevenindo de uma decepção. Sério! Você não vai gostar da minha voz."

Outra vez ela sorriu e balançou a cabeça antes de bebericar um pouco de café que há poucos instantes havia feito.

"Olha vamos fazer assim... Eu te ligo. Você diz 'Oi, Sara'. E nós desligamos."

Ela só queria ouvir a voz dele e nada mais. Mas, óbvio, que não seria de todo mal se a ligação se estendesse por mais um tempinho. Contudo, a julgar pela resistência de Arthur isso não rolaria. Deste modo, Sara já se dava por satisfeita em apenas ouvir a voz do amigo.

"Por que será que eu não acredito muito que depois do 'Oi, Sara', você vá desligar?"

Se fosse somente pela vontade dela não ia desligar mesmo, mas caso ele pedisse isso Sara o faria. E foi o que escreveu em resposta a Arthur. Em seguida fez sua última tentativa para convencer o amigo a deixar que ligue para ele. Caso recebesse outra negativa sua ia desistir para não acabar se tornando chata e aborrecê-lo.

"Olha, serei honesta. Quero muito ouvir sua voz. E como você nunca me mandou uma foto sua porque é tímido. Então me deixa pelo menos saber como é a sua voz, por favor?"

Para a frustração de Sara seu amigo visualizou a mensagem e cinco segundos depois deixou de ficar online.

— Droga! Ele bem se chateou com a minha insistência.

Ela prontamente começou a digitar uma mensagem se desculpando pela insistência. No meio do pedido a tela do aplicativo sumiu para dar vez a uma chamada de voz de Arthur.

Excitação. Alegria. Frio na barriga. Tudo isso e muito mais se acendeu em Sara. Seu coração na hora acelerou e um sorriso brotou em seus lábios. Depois de dois meses de papo apenas por mensagens de texto, ela ia enfim falar com Arthur e escutar sua voz pela primeira vez.

***

Nas horas vagas da faculdade, quando já eram bem mais amigos, Grissom e Arthur tinham por passatempo um imitar a voz do outro, até mesmo o sotaque. Dos dois amigos, Grissom era o que se saía um pouco melhor imitando Arthur do que o inverso. Tanto que houve uma vez em que Gil para livrar o amigo de uma bela enrascada com a namorada, se passou por Barth ao telefone para Ivy, namorada de Arthur, que ligou no celular do namorado querendo saber do seu paradeiro. Na ocasião Arthur estava no quarto transando com a líder de torcida da universidade. Ivy jamais desconfiou que não estava falando com o namorado para a sorte de ambos os amigos, principalmente de Arthur.

E foi se valendo dessa antiga habilidade, que o supervisor resolveu atender ao pedido de Sara mesmo ciente do risco que corria em ser descoberto por ela.

Porém, ao invés de conceder que sua amada lhe ligasse, ele mesmo tomou a iniciativa de ligar à ela. Só torcia para não ter perdido o jeito de imitar o sotaque e a voz de Arthur, já que há anos não fazia isso. Ou do contrário estaria em sérios apuros.

— Alô.

Grissom pôde sentir na voz de Sara certa empolgação quando ela se pronunciou ao atender a chamada. Isso foi o suficiente para fazer se dissipar no supervisor a ligeira vontade que se abateu nele em desligar a chamada e inventar a sua amada que foi a ligação que caiu, ou então ficar calado e dar a impressão de que ela não escutava sua voz. Seriam ótimas 'saídas estratégicas' que ele não seguiu. Assumiu o risco e mesmo não sendo nada religioso, rezou para dar tudo certo no final.

— Arthur?

Um leve pigarro e ele respondeu cheio de apreensão.

— Oi... Sara! - pronunciou-se em um carregado sotaque sulista, exatamente como seu velho amigo falava.

O tom da voz não saiu tão parecido como quando Grissom imitava Arthur na época da faculdade, mas como Sara não sabia como o Arthur verdadeiro falava, então Grissom não se preocupou muito em ser idêntico. Sua preocupação maior era em não deixar sua voz ser reconhecida.

Assim que ouviu a saudação de seu amigo, Sara sorriu em apreciação. A voz dele era bonita. O tom era grave, bem grave e o sotaque era gostoso e tão agradável de escutar. Só ele mesmo que achava horrível a própria voz, porque Sara tinha adorado.

— Sua voz não é horrível como disse. -ela comentou. No entanto, achou alguma coisa familiar naquela voz e não resistiu em comentar a este respeito. - Engraçado... Mas tenho a sensação de que algo nela me parece familiar, como se eu já tivesse escutado antes, sei lá.

Aquele comentário dela, rendeu uma rusga de preocupação em Grissom. Na hora ele pensou em finalizar a chamada de maneira abrupta. Contudo, o fato de Sara não ter lhe reconhecido de imediato e dito seu nome com todas as letras, o fez se acalmar e não encerrar a ligação logo ali. Porem, ainda havia o receio de ser reconhecido. Tanto que ele não deixou de comentar:

— Não era depois do 'oi, Sara', que você ia desligar?

O som da risada dela ecoando do outro lado da linha fez o coração do supervisor se derreter em alegria, apesar do temor de ser reconhecido lhe rondar a ponto de quase não respirar direito durante aquela ligação que já ia para um minuto.

— Você quer mesmo que eu desligue? Eu, sinceramente, não quero fazer isso.

Nem ele! Porém, a razão e o bom senso lhe gritavam a plenos pulmões que dissesse "sim" em resposta ao questionamento de Sara, para assim evitar de ser descoberto por ela. No entanto, o coração se negou a pôr fim naquela ligação, ainda mais por imaginar o desapontamento que causaria em Sara. Sendo assim, seguiu o coração.

— Não! - sabia que estava assumindo um risco e alto. Contudo, resolveu encarar a parada. Já foi medroso demais no passado com ela.

Sua negativa fez a alegria de Sara do outro lado da linha.

E pelos trinta minutos que se seguiram da ligação, eles conversaram.

***

Os dias foram passando com certa rapidez e transformando-se em semanas em um piscar de olhos, e ao longo desse período as rotinas de Grissom e Sara foram mais puxadas.

O supervisor depois de anos liderando a equipe do turno da noite, deixou seu posto para assumir sua mais nova função como Diretor do Laboratório Criminal. Na ocasião houve todo um cerimonial, que contou com a presença de alguns mandachuvas e autoridades da cidade, inclusive até houve a presença de alguns fotógrafos para registarem o momento, o que causou certo desconforto em Grissom que detestava exposições.

O início na nova e mais exigente função foi um pouco complicado. Não era nada fácil se ambientar em um cargo onde tinha sob sua responsabilidade os departamentos todos do laboratório. Mas Grissom aos poucos foi conseguindo fazer seu trabalho.

Com a nova função ele quase não parava. Seu tempo livre passou a ser escasso e a rotina corrida. A demanda de serviço como diretor era infinitamente maior que a de um supervisor. E o pior, a grande maioria do serviço era relacionado a trabalhos burocráticos e/ou políticos para desgosto de Grissom, que não apreciava fazer ambas as coisas.

Reuniões com Deus e o mundo para angariar novos investimentos; gerenciamento de departamentos; sem contar Ecklie mais ativamente em seu pé. E para completar ainda tinha que andar para cima e para baixo todo empacotado com terno e gravata, vestuário ao qual ele não suportava, mas que era necessário e mais condizente com seu cargo de agora.

Sentia falta de ir a campo, estar em uma cena de crime solucionando os casos; falta de suas "crianças" que mal passou a ver depois que se tornou diretor; de sua antiga sala e até mesmo da antiga rotina de trabalho senti falta. Às vezes, lhe batia certo arrependimento de ter aceito ser diretor, mas agora já era e não havia mais volta.

E enquanto Grissom se via as voltas com a função de diretor, Sara estava as voltas com suas sessões de fisioterapia, que se intensificaram e ficaram mais exigentes.

Com muitos exercícios de equilíbrio e propriocepção, ela foi sentindo uma melhora gradativa. Porém, em alguns exercícios ainda sentia certa dificuldade em articular o pé para baixo e para cima, não conseguindo com isso subir e descer escadas confortavelmente.

Seu médico então passou a trabalhar com ela exercícios de instabilidade em um aparelho que simulava escadas. O primeiro dia desses exercício foram bem desconfortáveis. Bastaram algumas repetições mais intensivas dos exercícios para Sara ir sentindo uma dor no tornozelo que ia irradiando para o restante do pé e assim, pediu para parar a sessão no meio porque não estava aguentando.

Já nas sessões seguintes as coisas foram gradativamente ficando mais tranquilas. A dor ainda a acompanhava de leve, mas fazia parte da recuperação e um dia ela ia passar garantiu o fisioterapeuta.

A cada etapa do processo de reabilitação que Sara vencia e deixava para trás, era partilhado com Arthur através de mensagens de texto e ligações de voz ou então áudios empolgados que a perita trocava com o amigo.

Eles estavam mais ainda (se é que isso era possível) em constante contato. Grissom sempre buscava tirar uma hora ou duas da loucura que se tornou a sua vida e rotina após virar diretor, para falar com Sara. Não houve um dia em que ela e ele não se falaram ou não trocaram uma única mensagem. 

Para ambos os momentos em que estavam papeando pelo aplicativo de mensagem ou em uma breve ligação de voz, eram os melhores momentos do dia de ambos. Acalentava o coração e alegrava a alma dos dois conversar ou ouvir um a voz do outro. Os papos divertidos regados à  algumas risadas nada discretas de Sara e as contidas de Arthur eram quase uma constância quando estavam em uma ligação. Não havia momento ruim, só bom enquanto se falavam. Não havia tristeza, apenas alegria.

Sara mal podia imaginar que o mesmo responsável por seus sorrisos de agora, também foi o responsável por suas inúmeras lágrimas derramadas até bem poucos meses atrás.

***

— Você já está liberada das sessões, Sara. Esta foi a última. - doutor Rolt avisou sua paciente que não escondeu a felicidade por ouvir aquilo.

— Ai, que bom! - Sara comemorou, batendo palmas.

Ao ver a empolgação de sua paciente diante da notícia, Rolt não perdeu a chance de fazer um comentário brincalhão.

— Nossa fui um médico tão ruim que  quer me ver pelas costas?

— Não. - ela se apressou em negar com um sorriso. - Você foi um excelente médico, na verdade. Porém, eu já estava cansada de tanta sessão de fisioterapia.

Ele sorriu em compreensão.

— Eu estava brincando, Sara. Fica tranquila.

— Imagino que também já esteja liberada para voltar ao trabalho?

Não via a hora de voltar à ativa. Sentia falta do trabalho. O laboratório era sua segunda casa e há quase três meses não colocava os pés lá, que era impossível não sentir falta.

— Eu vou te dar mais dez dias de folga.

— Doutor já estou ha quase três meses. - resmungou descontente.

— Então aproveita esse dez dias mais, porque algo me diz que não terá vida fácil depois que retornar ao trabalho.

— Isso é verdade.

— Mas Sara é sem excessos hein. Nada de exagerar e forçar o pé no trabalho.

— Pode deixar!

Eles ainda conversaram mais alguns minutos. Rolt fez algumas recomendações à Sara e a instruiu a aproveitar esses dez dias que ainda teria para seguir fazendo em casa alguns exercícios básicos que fizeram ao longo das sessões todas. Logo depois, eles já se despediam com um abraço diante da porta ainda fechada da sala dele.

— Espero não te ver mais por aqui como minha paciente.

— Pode apostar que não verá.

— Até mais, Sara. E cuidado quando for correr atrás de suspeitos em quintais com grama alta.

— Vou me lembrar desse seu conselho. - ela sorriu sendo acompanhada por seu médico. - Até mais, doutor Rolt.

Ao sair da sala, Sara encontrou Greg aos risos com Sheryl. Seu amigo lhe contou recentemente que o lance com a atendente do consultório tem ido de vento em poupa, tanto que ele já ensaiava um pedido de namoro. Sara ficou feliz pelo amigo. Ele e Sheryl faziam um casal bonito, além de parecer terem uma boa química juntos.

— Desculpa interromper o papo animado de vocês, mas já podemos ir, Greg.

— E aí, como foi? - ele se virou para ela.

— Doutor Rolt disse que hoje foi minha última sessão. E que em dez dias já posso retornar ao trabalho sem cometer excessos.

— Olha que bom. - com um largo sorriso, Greg bateu palmas em comemoração. Porém, logo em seguida com um semblante sério, completou: - E eu vou me encarregar de não cometer excessos, viu mocinha. Vai andar na linha comigo.

— Greg deixa de palhaçada. - ela o golpeou de leve no ombro.

Ele caiu na risada, desfazendo a fingida cara de sério que sustentava. Ao seu lado Sheryl também sorriu. A atendente achava bonita a amizade entre Greg e Sara. Se bem que, no fundo às vezes sentia um pouco de ciúmes da grande proximidade que havia entre aqueles dois. Porém, entendia que ali só havia uma pura amizade apenas.

— Se despede da Sheryl e vamos embora seu engraçadinho. - bateu outra vez no ombro dele que apenas riu. Depois se dirigindo a atendente, ela se despediu dela. - Tchau, Sheryl.

— Tchau, Sara.

Depois da despedida entre as mulheres foi a vez de Greg se despedir de Sheryl. Momentos depois Sara e o amigo estavam dentro do carro dele rumo ao apartamento da perita. Greg a deixaria lá e depois ia para o laboratório. O turno àquele dia ia começar uma hora mais cedo.

— Aí, Sara. Você terminou as sessões de fisioterapia e ainda tem mais dez dias de folga, o que pretende fazer? - ele lançou um olhar a amiga antes de pegar o retorno.

Ela sorriu e sem pensar duas vezes disparou com uma escancarada empolgação:

— Vou ao Alabama conhecer o Arthur!!

Há dois dias ela teve de súbito tal ideia. E desde então vinha pensando seriamente em seguir aquilo, já que outra oportunidade de dias livres para viajar estaria fora de cogitação depois que voltasse a trabalhar. E como não haveria mais as sessões de fisioterapia, melhor ainda. Poderia ir de boa conhecer Arthur e de quebra passear no Alabama.

— Você enlouqueceu?... Vai viajar sozinha até outra cidade para conhecer um sujeito de quem nem viu a cara?... Pode esquecer. Eu não vou deixar!

Ela franziu a testa e olhou chocada para o perfil de um Greg emburrado.

— Ô, Greg, eu não preciso da sua autorização, sabia? Sou maior de idade há anos.

Aproveitando a parada no semáforo,  Greg se virou para a amiga e tentou convence-la a desistir daquele plano.

— Sara presta atenção é perigoso. Já vimos em nossa profissão alguns casos de garotas inocentes que foram conhecer caras com quem mantinham papo pela internet e acabaram se dando mal, porque o sujeito não era o bom moço que parecia.

— Greg, você disse bem... 'Garotas inocentes' e eu não sou uma. Sei me cuidar, está bem.

Ele balançou a cabeça em negação. Achava aquela ideia dela uma loucura pura.

— Não acho uma boa ideia essa sua.

— É um direito seu. Mas eu pretendo ir. Até porque se eu não for agora, sabe lá quando poderei. E eu quero conhecê-lo pessoalmente, Greg. E nem você e nem ninguém, vão me impedir disto, que fique claro.

Depois dessa fala dela o restante do trajeto até a casa de Sara foi feito em total silêncio pelos dois amigos.

No fundo Sara chegou a se arrepender de ter soado tão ríspida com Greg. Seu amigo só estava preocupado com ela e em troca ela o tratava daquela maneira hostil. Ele não merecia, não depois de tudo que vinha fazendo por ela depois de seu acidente.

— Chegamos!

Sanders anunciou, quebrando o silêncio e lançando um olhar nada contente para a amiga no banco do carona.

— Desculpa por ter falado daquele jeito com você. - pediu Sara ao perceber no semblante do amigo que havia o magoado.

Greg balançou a cabeça e argumentou que somente estava preocupado com ela.

— Eu sei. - com carinho ela tocou seu rosto.

Se antes Sara já tinha um carinho enorme por seu amigo. Agora, depois de todos esses cuidados que ele prestou a ela ao longo desse tempo em que ficou de molho em casa, seu carinho por Sanders ficou gigantesco. Tinha uma dívida de gratidão e amor por ele e os demais, que dedicaram seu tempo a cuidar dela, principalmente Greg.

— Fica despreocupado que não vai me acontecer nada de ruim.

— Como pode saber isso, Sara? E se esse tal de Arthur não for esse bom moço que pinta pra você?

— Olha tudo que eu posso te prometer é que tomarei o devido cuidado.

Sanders suspirou em insatisfação. Sua amiga quando botava uma ideia na cabeça era fogo.

— Você se apaixonou por esse cara do Alabama, não foi?

A pergunta dele feita de súbito pegou Sara totalmente de surpresa. Porém,  ela sabia muito bem a resposta para tal questionamento. Assim como sabia também que a reação de Greg ao ouvir a resposta não sentia das melhores.

A frequência com a qual já mantinha contato com Arthur só fizeram com que os sentimentos que Sara nutria pelo seu amigo virtual crescessem e muito, tanto que o que sentia por Grissom esfriou e se escondeu em algum canto profundo de seu coração.

Seu supervisor não era mais o dono de seus pensamentos, muito menos lhe arrancava suspiros sonhadores. Não mais!

Agora quem lhe fazia sentir borboletas no estômago e uma felicidade ímpar ao escutar a voz, era Arthur. Seu coração até batia mais acelerado só pelo simples fato de estarem trocando mensagens e mais ainda, quando escutava sua voz grave ou seu sorriso tímido e contido do outro lado da linha.

Arthur alegrava seus dias de um jeito bom, muito bom. Tão bom que recentemente, ela chegou a conclusão de que não era mais apenas uma simples amizade que nutria pelo Arthur. Era mais que isso!

Um sentimento diferente, que mexia com suas emoções e sensações; lhe fazia suspirar, sorrir bobamente e ter até sonhos juvenis.

— Sim, Greg. Me apaixonei. - respondei sem entremeios.

Jamais lhe passou pela cabeça que aquilo poderia acontecer, mas aconteceu em algum momento. Havia se apaixonado por Arthur e seu jeito carinhoso e atencioso de ser. Ele era um amor de pessoa, alguém que lhe fazia bem. Um bem que Grissom fez logo que o conheceu.

— Sério? - de olhos arregalados Greg quase não acreditou no que ouviu.

— Muito.

— Uau! E acha que ele sente o mesmo?

— Eu não posso falar por ele, Greg.

Ela esperava que houvesse reciprocidade, porque sofrer uma segunda vez por sentimentos não correspondidos não estava em seus planos.

— Eu espero que ele sinta o mesmo. Mas, principalmente, espero primeiro de tudo, que esse cara seja quem diz ser e não te decepcione porque é comigo que ele vai acertar as contas se te magoar. Eu reviro todo o Alabama atrás dele se fizer algum mau à você.

Ela não conseguiu esconder o sorriso diante daquela declaração de amor e carinho de seu amigo.

— Você é o melhor amigo do mundo, sabia?

— Sabia sim. - ele puxou a gola da camisa se gabando.

— E um convencido também.

Eles caíram na risada. Depois já sem sorrir, Greg quis saber de sua amiga:

— O tal Arthur já sabe que pretende ir lá?

— Não.

Ela sequer tinha contado seus planos ao amigo. Greg estava sabendo em primeira mão.

— Me promete que vai tomar cuidado se realmente for lá conhecer esse sujeito?

— Prometo!

— E que vai me mandar mensagem sempre?

— Sim, senhor. E o que mais papai?

— Sabe... Talvez eu devesse ir com você. O que acha?

— Péssima ideia.

Ele sorriu e ela acabou por acompanha-lo. Momentos depois eles se despediram e Sara desceu do carro. Ao entrar em seu apartamento a primeira coisa que ela fez foi ligar para Arthur com a finalidade de lhe contar tanto sobre a alta na fisioterapia, quanto a sua ideia de ir a cidade dele para lhe conhecer.

***

Enrolado em uma toalha branca, Grissom saiu do banheiro anexo ao seu quarto, depois de tomar um bom banho quente. Fazia um fim de tarde acalorado em Vegas.

Se dirigindo ao guarda-roupas posicionado no outro extremo do quarto, ele parou no meio do caminho ao escutar o celular tocar em cima da cama. No mesmo instante o homem gemeu em frustração só de imaginar que fosse algum problema no laboratório que o tiraria daquele seu restante de descanso. Um merecido descanso diga-se de pasagem, já que durante vários dias não houve folga, apenas muito trabalho. Não imaginava que as coisas seriam tão puxadas e desgastantes assim. Contudo, estava começando a gostar de ser diretor, exceto a parte da politicagem e ter que usar terno e gravata todo dia, isso era um saco.

Ele se aproximou da cama torcendo muito para não ser do laboratório, que nem foi na sua última folga na qual foi tirado dela por Ecklie.

Para seu alívio e alegria não se tratava de uma chamada do laboratório, tampouco de Ecklie, mas sim de Sara.

Dando um pigarro para limpar a garganta, ele se sentou na ponta da cama e atendeu a chamada como passou a ser seu hábito quando se tratava de uma chamada de Sara para Arthur: usando o sotaque do sul.

— Oi, Sara!

— Oi! Tô interrompendo seu descanso?

— Imagina, Sara.

— Hum... Pode falar de boa? É que preciso conversar com você sobre umas coisas, por isso liguei direto e não mandei mensagem pelo aplicativo.

Ele pode sentir na voz dela certa euforia.

— Posso falar sim. - ele saiu de onde estava e foi se acomodar mais confortavelmente a cabeceira da cama, apoiando as costas no encosto estofado e esticando as pernas, resolveu deixar para depois a tarefa de se vestir. - O que houve? Sobre o quê quer conversar comigo?

Ele estava curioso a respeito do assunto.

— Primeiro de tudo tenho que te dizer que hoje foi minha última sessão de fisio. O médico disse que estou liberada.

— Que maravilha, querida. Vai poder voltar ao trabalho como desejava.

Semana passada ela lhe confessou que já não aguentava mais ficar sem trabalhar, que não via a hora de voltar.

— Sim. Mas só daqui a dez dias. O médico ainda me deu mais esses dias de folga. - pelo tom de voz emburrado dela, Grissom deduziu que ela não parecia nada satisfação com aquilo.

— Você não me parece contente com isso, estou errado?

— Nenhum pouco errado. Como sabe já quero voltar ao trabalho. Não aguento mais ficar em casa. Porém... — ela entoou com entusiasmo. - Esses dias a mais vieram a calhar.

— Ah é? Por que? - ele não escondeu sua curiosidade diante da fala entusiasmada dela.

De repente bateu uma apreensão nela sobre compartilhar com Arthur sua ideia. E, se por acaso, ele não quisesse que ela fosse até o Alabama lhe conhecer? Se inventasse alguma desculpa para rechaçar sua ida? Seria um belo balde de água fria nela. Não saberia como lidar com uma negativa sua. Ser rejeitada uma segunda vez seria dolorido.

— Sara ainda esta aí?

Grissom achou estranho o silêncio de quase meio minuto dela. Por um segundo ele cogitou a hipótese da linha ter caído, mas ao consultar o celular viu que a chamada ainda continuava rolando.

Ao escutar a fala de Arthur, Sara despertou dos questionamentos que se fazia.

— Estou, sim. Desculpa.

— Está tudo bem, querida?

Ela sorriu pelo termo carinhoso. Depois que ouviu sua voz pronunciar pela primeira vez aquela palavra, ela passou a apreciar muito mais ainda a forma pela qual ele lhe chamara.

— Sim, Arthur.

— Hum... E a minha pergunta anterior vai ficar sem resposta mesmo?

— Desculpa. O que você perguntou mesmo?

O som do sorriso fraco de Arthur entrou pelo ouvido de Sara e alcançou seu coração, fazendo-o bater um tom acima, além de arrancar um sorriso bobo da mulher.

— Você disse que esses dez dias a mais vieram a calhar. Aí, eu questionei por que?

Ela suspirou e resolveu ser direta com Arthur, assim como foi momentos atrás com Greg.

— Eu pretendo usar esses dias que me restam de folga pra ir aí no Alabama te conhecer, Arthur!

O outro lado da linha emudeceu por longos e torturantes dez segundos.

— Você não vai dizer nada, Arthur?

Ela começou a se preocupar e temer uma possível recusa dele quanto a sua ida até o Alabama.

— Ir até... Ou melhor... Vir até aqui... Me conhecer?

Ele estava aparvalhado com aquela ideia dela.

— É! - confirmou com nervosismo e em seguida mordeu o canto dos lábios. Sua torcida era ferrenha para que ele concordasse com aquilo, porque o contrário seria uma batia decepção para ela. - Não sei quando haverá outra oportunidade para eu viajar depois que retornar ao trabalho. - explicou ao se levantar do sofá e aproximar-se da janela de vidro que ficava na sala. Seus olhos observaram a cidade lá fora. Fazia um fim de tarde bonito com o sol já se pondo lá no horizonte, deixando a paisagem ainda mais bonita. - Então, achei que seria uma boa aproveitar agora pra gente se conhecer pessoalmente. O que acha?

A pergunta saiu baixa e cautelosa, como se houvesse medo de fazê-la, quando na verdade o medo era pela resposta... Uma resposta negativa.

Do outro da linha um Grissom mudo e apavorado com aquela situação. Um pavor que beirava a níveis estelares. Não podia deixar que Sara fosse até o Alabama, mas como dizer isso sem magoa-la? Porque ele sabia que ia acabar magoando-a no fim das contas.  E isso era tudo que ele não queria que acontecesse.

— Se você não quiser que eu vá até aí... É só dizer.

Escutou-a falar do outro lado em um tom baixo e dando mostras de tristeza.

Aquilo mexeu com ele. Imaginou que naquele momento ela estaria com uma expressão triste (como realmente estava devido a ausência de uma resposta dele) e isso mexeu mais ainda com o ex-supervisor.

Até quando vai estender isso, Gil? Ela precisa saber a verdade. Não pode ficar nessa história por mais tempo.

A fala de Barth na última e mais recente ligação que trocaram dias atrás veio povoar a mente de Grissom.

Sua vontade de abrir o jogo com ela era enorme, mas o medo da rejeição também. Porém, as palavras de seu amigo lhe fizeram pôr a mão na consciência e se encher de uma abrupta coragem para tomar uma decisão que só vinha protelando.

— Você não precisa vir, Sara. Eu vou até Vegas em três dias para nos conhecermos.


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Notas finais do capítulo

Eita nós! A hora da verdade chegou.

Não havia mais como Grissom retardar esse momento. Portanto, no próximo capítulo teremos o Gil se revelando à Sara.

Como será que nossa perita vai reagir ao descobrir que sua nova paixão, na verdade, é a mesma pessoa que pensou ter superado?

Até lá, meninas.



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