Haviam roupas espalhadas pelo chão do quarto, pilhas de sapatos ao lado da cama e um cheiro forte de perfume francês. Hyde parou na porta do quarto que dividia com Jackie, mas que agora havia se tornado o closet particular dela, ele observou sua noiva mexer no armário e tirar um de seus inúmeros vestidos antes de jogá-lo na cama. Hyde sabia muito bem que a impaciência de sua esposa se devia ao fato de sua grande barriga não caber em nenhum de seus vestidos favoritos.

—Apenas mais duas semanas, Jacks. - ele disse como sempre fazia quando ela estava nervosa e a medida que os dias iam diminuindo, a paciência dela ia se esgotando.

—Calado, Steven. - ela grunhiu se virando para ele. Hyde não conseguiu conter o sorriso ao observar a barriga inchada de Jackie. Ser pai não estava em seus planos, nunca esteve. Até porque ele nunca havia realmente pensado sobre isso e também porque com a criação que havia tido, nenhuma criança que realmente poderia crescer normal. 

—Escolha qualquer um, Jackie. Eu não me importo.

—Você nunca se importou com nada do que eu visto. - Jackie resmungou se sentando na cama. Hyde riu balançando a cabeça, aquilo não era totalmente verdade.

—Principalmente se você não estiver vestindo nada. - ele afirmou fazendo a bufar. Hyde caminhou até ela e se sentou ao seu lado. - Olha, em poucas semanas isso tudo terá acabado e voltaremos ao normal.

—Normal? 

—Bem, noites sem dormir e choro alto de criança deverá ser o nosso normal a partir de agora. 

Jackie bufou novamente antes de levantar da cama e pegar o primeiro vestido que viu, um azul claro cheio de babados. 

—Acho melhor se apressar ou Red será capaz de nos trancar do lado de fora. - ele disse beijando a bochecha dela antes de caminhar até a sua parte do closet para pegar sua jaqueta. - Ainda não acredito que a senhora Forman conseguiu convencer o velho rabugento a organizar uma festa.

—Sra. Forman apenas muito animada em ser avó e Red também, mesmo que não demonstre. - Jackie afirmou empurrando o vestido sobre a barriga. Ela então se olhou no espelho por alguns segundos. - Deus, até gorda eu sou bonita.

Hyde revirou os olhos antes de sair do quarto. 

—Dois minutos, boneca. Quero chegar antes da tempestade. 

—Que tempestade? - Jackie indagou cambaleando pelo corredor até a sala de estar. Hyde apontou para a janela do apartamento mostrando o clima cinzento. 

—Ah não! - Jackie se apressou até a janela e subitamente gritou para o céu. - Você não vai chover no meu dia! Pare agora mesmo ou eu… - um trovão forte retumbou pelo céu fazendo Jackie recuar e rapidamente fechar a janela. - Parece que alguém não aceita críticas.

Hyde balançou a cabeça sem conseguir conter sua risada. 

—Boneca, um minuto. - ele disse enquanto caminhava em direção a porta, Jackie o seguiu parando apenas para pegar a bolsa e o casaco. Hyde abriu a porta e deixou que ela a passasse na frente.

—Você sabe que a sra. Forman vai fazer aquele jogo dos nomes, não sabe? Seria mais fácil se escolhêssemos logo, assim não precisaríamos ficar ouvindo os outros opinarem sobre isso. - Jackie falou caminhando lentamente pelo corredor em direção às escadas.

—Jackie, você sabe muito bem que eu não me importo com isso. 

—Mas eu sim! Vamos lá, Stev. Tem que existir um nome que você goste. - ela insistiu segurando no braço dele para descer os degraus até o térreo. 

—Boneca, eu não me importo. O que você escolher estará bom. 

Jackie bufou enfiando as unhas no braço dele, Hyde resmungou baixinho não se importando muito com aquele súbito ataque. Ele já estava se acostumando com aquelas ações inesperadas de Jackie.

—Algumas vezes parece que você nem se importa com isso. - ela murmurou irritada ficando por fim calada. E assim Hyde percebeu que seria um grande dia.

×+×+×

—Donna, coloque esses bolinhos em cima daquela mesa, por favor. - Kitty pediu apontando para a mesa decorada com uma toalha amarela. Donna segurou a bandeja por baixo observando os bolinhos com coberturas coloridas, azul, verde, rosa, amarelo e lilás. Com Jackie e Hyde haviam optado por apenas descobrir o sexo do bebê durante o nascimento, na verdade Hyde tinha conseguido convencer Jackie disso, algo sobre deixar a criança seguir seu próprio caminho e não influenciar as escolhas dela. Mas Donna sabia muito que isso era apenas uma desculpa para evitar o rosa que se acumularia no apartamento deles caso fosse uma menina. 

Agora, a sala de estar da casa dos Forman estava decorada com balões e serpentinas coloridas apenas esperando a chegada dos futuros papais. 

—Mal posso acreditar que Steven Hyde, o bad boy de Point Place é pai do filho de Jackie. É como estar em um universo alternativo surrealista. - Eric disse enquanto esticava o braço para roubar um dos bolinhos de Kitty. 

—E eu mal posso acreditar que ele vão se casar primeiro do que nós. - Donna falou dando um sorrisinho debochado ao noivo. O casamento de Jackie e Hyde estava marcado para dali a seis meses, quando o bebê já estivesse mais velho e o corpo de Jackie voltasse ao normal. Pelo menos era isso que ela tinha falado durante toda a gestação.

—Desculpe, mas foi eu quem havia sugerido casar no mês passado. - ele refutou arqueando as sobrancelhas.

—Mas Jackie está gorda. Eu não quero minha madrinha de casamento gorda nas fotos. - ela protestou cruzando os braços. - Serão memórias que durarão para o resto da minha vida e eu não vou querer um Jackie inchada no meu álbum de casamento. 

—E é exatamente por isso que que você não vai ganhar o processador que eu ia te dar. - a voz irritada de Jackie. Donna se virou e sorriu para amiga, o vestido que Jackie usava era azul claro e soltou, quase como uma camisola, havia babados delicados nos punhos e na gola, uma roupa bem típica de uma mulher grávida. 

—Você está linda, Jackie. - ela disse, o elogio fez o olhar irritado dela amenizar e então Jackie sorriu. 

—Eu sei. A gravidez me deixa radiante. 

—Mas não menos metida. - Eric sussurrou passando por Donna e se sentando no sofá, Jackie sentou ao lado dele com uma certa dificuldade. - Vá com calma, Violet Beauregarde. Não queremos que o sofá afunde.

Donna revirou os olhos diante do insulto disfarçado de piada, Jackie por sua vez socou Eric nas partes íntimas, ele se curvou para frente apertando seu amiguinho. Donna tinha quase certeza que ela havia aprendido aquele golpe com Hyde. 

—Me chame de gorda novamente e não vai ser apenas um soco que o seu amiguinho irá receber. - Jackie ameaçou semicerrando os olhos e o encarando profundamente, outra técnica patenteada por Steven Hyde.

—Jackie, que tal deixar as ameaças para mais tarde? Você terá a tarde toda para isso. - Donna se sentou ao lado de Eric, que ainda estava encolhido de dor. - Onde está Hyde?

—Ele foi pegar Angela na loja, o carro dela quebrou e o namorado está fora da cidade. - ela disse antes de soltar o ar e colocar a mão sobre a barriga.

—E como está?

—Mais duas semanas. 

—Mal posso esperar para ver o rosto da minha sobrinha. - Donna falou sorrindo animadamente.

—Sobrinha? Como você pode ter tanta certeza? - Eric indagou se encostando no sofá com o rosto ainda vermelho. - É um garoto.

—E como você pode certeza disso? - ela questionou arqueando as sobrancelhas.

—Mamãe disse que é um menino e ela era enfermeira, já viu muitas mulheres grávidas e então deve saber.

—Isso é completamente ilógico. - ela retrucou cruzando os braços, Eric apenas deu de ombros. 

—Ok, agora vou ao banheiro. - Jackie informou empurrando as mãos contra as almofadas do sofá para se levantar. - Uma mãozinha seria útil, sabe?

Donna rapidamente se levantou e ajudou a amiga a ficar em pé.

—Se precisar de ajuda para subir a escada…

—Não precisa. - Donna observou Jackie caminhar lentamente e subir a escada com uma certa dificuldade. 

—Pobre Jackie, essa gravidez não está sendo fácil para ela. 

—É. Parece que ela engoliu uma bola de praia e repetiu. - Eric disse arrancando uma risada de Donna. 

—Eu ouvi isso, seu idiota! - Jackie gritou do segundo andar. 

—Deus, essa gravidez a deu superpoderes. - Eric resmungou desta vez um sussurro, Donna riu balançando a cabeça. - Pobre Hyde, ele é um herói por aguentar uma Jackie grávida e enjoada. Embora ela sempre fosse enjoada. 

Donna revirou os olhos empurrando o noivo que revidou o ataque. Ela riu novamente, mas desta vez sua risada foi cortada por uma outra risada, Donna virou o rosto encarando a pequena Betsy Kelso que estava escondida atrás do sofá. Eric deu um pequeno sorriso para Donna antes de subitamente, mas com cuidado puxar Betsy para si. 

—Olha se não temos uma pequena espiã entre nós. - Eric disse enquanto fazia cócegas em Betsy. Donna observou os dois trocarem risadinhas animadas, Betsy parecia gostar muito de Eric, na verdade ela gostava de todos os seus "tios", mas ninguém podia questionar o fato dela ter um carinho especial por Hyde. De alguma ilógica, Betsy parecia realmente encantada com o jeito indiferente de Hyde, até mesmo quando ele fazia questão de ignorá-la. - Onde estão seus pais, Betty? 

Betsy deu de ombros, a porta da cozinha se abriu e Brooke entrou sorrindo animadamente para eles, mesmo sorriso que Betsy exibia.

—Onde estão os futuros papais? 

—Jackie está no banheiro e Hyde foi pegar Angela. - Donna explicou puxando Betsy para o seu colo. - Onde está Kelso?

—Está ajudando Fez a pegar o presente. - Brooke explicou se sentando no braço do sofá. - Talvez eles voltem dentro de uma ou sete horas. 

Donna riu e deixou Betsy tirar suas pulseiras de contas. 

—Quando eu vou poder brincar com o bebê da tia Jackie? - a garotinha Kelso indagou usando as pulseiras em seu braço.

—Logo, logo, meu amor. - Brooke afirmou acariciando a bochecha da filha com a ponta dos dedos. - Isso me lembra que eu tenho que pegar meu presente no carro e alguns brinquedos para Betsy se entreter.

—Deixa que eu faço isso. - Eric disse se levantando do sofá e saindo da sala. Brooke se sentou no sofá e Betsy se jogou em seus braços soltando outra risada. 

—Papai já vai chegar, mamãe? - Betsy indagou brincando com o colar de Brooke.

—Espero que sim. O céu está ficando muito cinzento. Acho que Jackie vai ter poucos convidados hoje.

—Acho que Red deve ter feito algum acordo com Deus para arruinar a festa. Porque segundo a previsão do tempo do jornal matutino, o tempo hoje seria ensolarado.

—As preces do sr. Forman foram finalmente atendidas.  - Brooke afirmou rindo baixinho. - Só espero que dê tempo dos garotos voltarem antes de começar a tormenta. 

Donna assentiu olhando pela janela, as nuvens escuras haviam encoberto o sol deixando o vento e temperatura mais fria. Estranhamente, Donna sentia uma mudança vindo, não apenas no clima, mas algo estava girando, rodando, mudando. Algo grande.

O barulho de um carro estacionando fez Donna se levantar, ela caminhou até a janela imaginando ser Hyde ou Kelso, porém se surpreendeu quando uma figura loira saindo do táxi que havia estacionado no meio-fio. Ela correu para a porta e abriu no momento em que Laurie Forman subia os degraus.

—Oi perdedora, sentiu minha falta?