Ela não aguentava mais.Não aguentava as conversas que só a machucavam,não aguentava os sorrisos falsos das amigas falsas.Não aguentava todas as críticas que lhe diziam,indireta ou diretamente.Não aguentava saber que nunca ouviria um "eu te amo" verdadeiro.Pois a única pessoa que poderia pronunciar essas palavras com total e tão pura verdade,havia sido arrancada da vida dela.E nem,ao menos,houve uma despedida .Quanto a sua família,bom.Sua mãe havia feito do trabalho,sua nova casa,quem sabe até nova vida.Agora,as únicas palavras que saíam de sua boca eram "estou atrasada" e "agora,não,tenho que trabalhar".Seu padrasto era até legal,mas não era como seu pai.Só esperava que ele fizesse sua mãe feliz,já que ela não conseguia.Talvez,de quem ela mais fosse sentir falta,eram de sua irmã e de Apollo,o seu filho de quatro patas.

Se olhou pelo espelho oval,e enxergou uma garota acabada,por dentro e por fora.A pele pálida por não sair de casa,a boca com os lábios ressecados pela falta de água,nos olhos um cansaço misturado com angústia e firmeza.Cansados pela vida,angustiados pelos sentimentos negativos e de culpa que estavam dentro dela e firmes com a exclusiva certeza que o que estava prestes a fazer,era a solução certa.Tentou se lembrar de todas as boas lembranças,de todas as risadas,os sorrisos ou só um olhar que já dizia muito,enquanto pegava o copo com o líquido fatal.Bebendo do recipiente,que seria a sua porta de entrada para uma vida melhor,esperou o veneno entrar o seu corpo e fazer o que faz tão bem.
Caindo no chão do banheiro da escola,ainda conseguiu dizer umas últimas palavras,enquanto sua vida se esgotava."Oi papai!" e partiu.