Eu devia ter aproveitado a deixa e ter escrito outro discurso de coração a coração como o que fiz pra Eleven. A essa altura ela já deve ter encontrado. Me dói o coração não estar perto dela, pra cuidar dela, depois de tudo o que ela passou com aquele monstro. Mas eu sei que ela está em boas mãos, não é da El que eu quero falar.

Os últimos dias só fizeram o que eu sinto por você aumentar. Fora você ter me trocado aquela noite pelo Scott Clarke, eu fiquei bem puto. Porém, isso não importa, eu sei que a morte do Bob Sabichão ainda estava pesando na sua cabeça e no seu coração, eu sei que gostava dele e que ele te fazia bem. Eu vi como você ficou quando ele morreu, você se fechou.

Ah Joyce… Se você soubesse que o que eu sinto por você não é recente, não é de uma hora pra outra… Os tempos do colégio ainda estão frescos na minha memória, mesmo depois que seguimos caminhos diferentes.

Eu vi você sofrer por causa do Lonnie, eu vi você sofrer com o sumiço do Will, depois com a “possessão” dele no ano seguinte, só querendo que todo aquele sofrimento acabasse. Te amparei na noite do baile de inverno e só Deus sabe o quanto aquele momento, com você nos meus braços, me fez bem. Dali em diante eu prometi a mim mesmo que sempre cuidaria de você.

Toda essa loucura com aquela porcaria de mundo invertido me deixou paranóico, mas quando eu soube que queria ir embora de Hawkins eu quase surtei. Sei que o que eu disse pra te fazer mudar de ideia não adiantou, depois de tudo o que aconteceu você já deve estar no caminhão de mudança e provavelmente está levando a Eleven com você. Minha menina vai estar mais do que bem com essa figura materna.

Eu sei que disse pra você não ligar, mas o Murray estava certo. Claro que não é daquele jeito, é mais intenso, ele foi muito bruto. Eu amo você e eu sempre quis você, isso é um fato, não posso negar. Um sorriso sempre brota quando lembro de todas aquelas discussões que tivemos no decorrer dos dias, com aquela loucura envolvendo os russos e mais um portal pra me tirar as paciência. Mas eu repito, formamos uma boa dupla, “detetive” Byers.

A hora que eu acordei no sofá de casa e dei de cara com você olhando pra mim, bem pertinho... nossa! Parecia que eu estava vendo um anjo. Quem me dera ter aquela visão sempre que eu acordasse. Lembro também do arrepio que eu senti quando entrelaçou sua mão na minha naquele maldito brinquedo. Pelo menos pra uma coisa ele serviu, eu pude tomar a liberdade de segurar sua mão mais uma vez, correndo pelo parque, queria que tivesse sido em circunstâncias melhores, mas enfim.

Não tenho papel e caneta onde eu estou, esses são só pensamentos, mas eu faria qualquer coisa para que eles chegassem até você de alguma forma, pra tranquilizar, dizer que estou bem na medida do possível.

Não sei qual era seu pensamento, nem como você se sentiu quando olhou pra mim antes de girar aquelas chaves, mas de uma coisa eu sei… eu não vejo a hora de ir te buscar pra ir no Enzo’s às sete horas.