Inegável. escrita por Apaixonada sama


Capítulo 1
i-ne-gá-vel.




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Enquanto observava a vista do vigésimo andar, as luzes se apagavam por toda a cidade. Hibiki suportava um semblante derrotado, enquanto escorria sangue de seus lábios rosados que agora permaneciam em um vermelho sangue.

Estava alquebrado... Nenhum de seus ossos correspondia ao comando proposto vindo do cérebro. Seus orbes índigos se direcionaram a perna machucada, permeada por uma corrosão moldada em cristal. Tentou fazer o esforço máximo para que se levantasse dali e continuasse a persistir, mas céus...

Era difícil.

Suas costas também perfuradas pela corrosão, não exerciam uma calmaria e naturalidade que devia. Estava doendo, muito. Ele jamais imaginou que iria sentir uma sensação tão dolorosa como aquela. Sendo então, semelhante à morte de alguém. Seus amigos.

Assistiu-os morrer um a um. Não conseguiu reagir quando teve chance. E mesmo que quisesse, não tinha visto solução alguma. Suspirou, dando-se por vencido. Fechou a mão em punho, porém a abrira vagarosamente.

— Ei... — Murmurou. — Sei que você está aí.

E então, a figura misteriosa e adornada de vermelho se materializou diante do jovem brilhante, que aos poucos perdia sua fulguração. Com a mesma feição intrigada de anteriormente, aproximou-se.

— Oh... — Seus olhos prateados não conseguiam desviar-se do corpo injuriado do adolescente. Havia posto suas crenças na genialidade dele e tudo fora por água abaixo quando o assistiu jogar-se na frente de uma criança que não fazia ideia do motivo de estar ali. — Saudações, Brilhante.

Kuze esbanjou um sorriso, terminando de apoiar sua cabeça no chão concretado do prédio. Sua respiração acalmava-se e seus batimentos se regularizavam, tornando-se lentos... Abriu os olhos e tornou a olhar o angustiado, que ainda planava ali.

— Não tão mais brilhante... Certo? — Indagou em um tom que inqueria uma falta de esperança gigante. Remexeu a mão novamente, sentindo os pulsos se tornarem petrificados.

Alcor se agachou obsequiosamente pondo-se totalmente de joelhos para que pudesse mirar atenciosamente o seu brilhante que se perdia aos poucos. E então, ele acariciou de maneira delicada os cabelos negros, tocando em cada ponta que havia.

— Não... — Disse suavemente. Embora seu tom demonstrasse um pouco mais de distância. Pareciam séculos antes de toda aquela intimidade que haviam adquirido, além da total confiança. — A meu ver, você ainda é... Brilhante.

— Obrigado. — Pronunciou gentilmente, permitindo que sua sentença fosse finalizada com um largo suspiro. Conformava-se aos poucos de sua situação, mas não esperava que seus últimos momentos fossem ao lado de Alcor. — A criança... Está segura?

O albino olhou ao redor, buscando algum ente que lhe recordava aquela criança. Não, nadinha. Nada. Direcionou os olhos aluados novamente para o moreno.

— Posso pressupor que sim, no momento. — Enunciou. — Depende do que você considera “seguro”, meu caro... Há diversas possibilidades, sim?

— Você tem razão. — Ainda com hesitação, asseverou. — O que está fazendo aqui, afinal de contas?

Alcor arqueou uma de suas sobrancelhas que transpareciam pelo cabelo encaracolado. Levou as mãos finas e esguias, deixando-as repousar sob a boca. Refletia silenciosamente e seus olhos estreitavam-se aos poucos, dando a entender que não havia uma resposta exata para a pergunta.

— Sinceramente... — Principiou com cuidado, antepondo suas palavras de forma que parecessem organizadas e entendíveis. Sentia-se meandroso ao ver toda sua fonte de expectativa abatida no chão. — Estava fazendo o mesmo de sempre. Observar a humanidade.

— Compreendo... — Cobiçou, desejando poder passar a mão no rosto. Seus cabelos já estavam repousando no nariz e isso lhe fazia cócegas, quando mais deveria estar sentindo dor. — O que fará agora?

— Não compreendi sua pergunta. — Recitou diretamente, mantendo a fisionomia confusa. Logo, franziu o cenho como se terminasse de completar sua tese proposta. — Espere...

— Sim... Eu não vou sobreviver.

O silêncio formou-se entre ambos. Como forma de descontrair, Hibiki maneou a cabeça virando para outra direção que não fosse a do sarará. Sentia suas pálpebras pesarem remansas e sua linha de pensamento não se concretizava direito.

— Você não pode desistir assim. — Articulou intransigente, dando o adusto a entender que Alcor não sabia como funcionava um corpo humano. Poderia quiçá, ter o conhecimento de suas funções gerais. Será que sabia da complexidade? Que um osso quebrado não poderia ser facilmente restaurado? E aquele sangramento... Não, ele provavelmente não entenderia. — Este jogo é seu, caro brilhante.

— Alcor, olha... Eu... — Tossiu e de imediato, regurgitou o plasma carmim. Fechou os olhos, desejando que tivesse mais alguns minutos, antes de perder aquilo tudo que lutou para conquistar. — O corpo humano não é assim...

— Ah. — Ciciou. Trazia no fundo de sua memória uma lembrança de Yamato Hotsuin o repreendendo por crer que a humanidade era composta de um material forte, quando na verdade uma única folha de papel posta de mau jeito em um braço, o machucaria devidamente. — O sangue.

— Hemorragia... — Queixou-se. — É muito sangue perdido, nem sei como estou vivo. Apesar disso... Sei que não é por muito tempo. Mal consigo fechar meus olhos.

— Hum... — Olhou para os machucados dispostos pelo corpo do rapaz e como suas vestes brancas situavam-se vermelhas, rasgadas e sujas. — Eu... Não sei o que fazer. É bem estranho. Alguém como eu, não sabendo reagir a uma situação dessas.

— Podemos fazer o seguinte... — Sabia das capacidades do ser níveo. No entanto, ele não era perfeito como se podia pressupor. Já que não era humano, não podia o julgar assim. Talvez fazê-lo chamar por ajuda não iria adiantar. Não havia ninguém. — Que tal você sentar aqui, do meu lado e observar o céu?

— Como isso vai ajudar-te?

— Sabe... Meus amigos morreram. — A rispidez em sua voz era notável, mas o êmbolo e a mágoa pareciam escapar aos poucos de seus olhos, manifestando-se em lágrimas. — Não sei se posso chamar Yamato de amigo. E você está aqui.

— Consideras-me então como amigo seu?

— Sim, talvez... Não tenho certeza de muitas coisas.

Alcor sentou-se ao lado de Hibiki e cruzou as pernas, permitindo elevar a cabeça aos céus soturnos. Pontos brancos patenteava toda a área e aquilo agradava seus olhos que talvez tivesse contemplado tal cena inúmeras vezes. Mas, estar ao lado do mancebo de cabelos frisados parecia-lhe uma nova sensação.

Queria ter experimentado aquilo mais vezes, no entanto, por que sentia aquela vontade? Não tinha sentimentos humanos. Tudo isso se despertou por causa de Hibiki?

A mudez se estendeu devidamente.

Por muito e muito tempo... Até que o alienígena resolveu olhar para o lado e observar como sua companhia estava adormecido sereno. Os olhos azuis encontrava-se em repouso, além das mãos posicionarem-se pacatas.

O que deu a entender de que a morte era um destino inevitável. Não querendo deixar seu simpatizante companheiro de lado, permaneceu até que o céu se tornasse laranja, minuciosamente.

É, a morte é inegável. Até para os Brilhantes como ele.


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