Gladíolo escrita por gryphems


Capítulo 4
IV – A liberdade




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QUARTO CAPÍTULO

 

E de repente, a dupla Uzumaki virava um trio. Sakura Haruno os acompanhava para onde fossem. Mito não havia estranhado nem um pouco o quão rápido Sakura e Naruto haviam se apegado. Naruto era desesperado por afeto, e Sakura precisava de alguém com a personalidade do loiro em sua vida.

Mito era muito grata por Sakura ter surgido. Ela sabia que Naruto precisava de uma criança real por perto, algo que ela infelizmente nunca conseguiria ser. Com Sakura presente , ele tinha alguém para brincar de ninja enquanto Mito estudava ou meditava, coisa que nenhum dos dois estavam muito interessados ainda.

Se Sakura estranhou o fato de que eles ficavam na floresta o dia todo ou no final da tarde, em que Mito fugia levando Naruto pelo cangote antes que seus pais pudessem vê-los, ela nunca comentou,  deixando Mito eternamente grata.

Mito não saberia dizer qual seria a reação dos pais da rosada ao descobrir que sua filha andava com os “Demônios de Konoha” como ouvia referir-se a eles, e preferia ficar sem descobrir. Com isso, Mito sentia um peso menor no coração ao deixar os dois para ir espiar os “ninjas” se podia se dizer, em treinamento. Esses ninjas consistiam na verdade de um duo de dois adolescentes bem estranhos na opinião da menina.

A ruivinha já havia decorado seus chackras pela palma da mão, e sabia até mesmo de seus horários.

O mais estranho era o garoto de macacão verde e sobrancelhas grossas. Não que seu gosto para moda incomodasse Mito, longe disso, afinal quem era ela para julgar as roupas de alguém quando andava usando roupas remendadas várias vezes? Mas o que ela achava realmente estranho era como gritava animado e se levantava toda vez que perdia para o outro garoto. Não era a primeira vez que o via ali. ela se perguntava se ele não dormia ali também, já que em qualquer momento que eles iam para as florestas ele estava lá, normalmente sozinho, mas hoje havia trazido companhia.

Um outro garoto., era a primeira vez que Mito o via. Ele tinha cabelo cinza,  e usava uma máscara tampando metade de seu rosto e uma bandana tampando o olho direito. Também tinha algo de estranho e melancólico, até mesmo seu chakra tinha uma forte onda de escuridão em torno de si. Mito não sabia o que tinha acontecido para o garoto se sentir assim, e realmente não queria saber, já tinha sofrimento demais em sua vida para ouvir as dos outros.

Mas ela estava encantada em vê-los lutando, era extremamente harmonioso e bonito de se olhar.Tão bonito que ela nem percebeu quando uma faca (era isso uma kunai?) foi jogada em sua direção. Mito não soube se foi reflexo ou milagre, mas conseguiu se jogar para direita a tempo de não levar uma facada na cabeça. Com o coração batendo em seu ouvido, levantou-se (quando ela tinha caído? Não sabia) a tempo de ver duas sombras chegando em sua frente.

— Viu, Kakashi, é só uma criança — Um dos garotos, o sobrancelhudo, disse enquanto sorria com todos os dentes, e Mito se perguntou se aquela branquidão era possível mesmo. — Kakashi? 

Quando ela olhou para o outro garoto, não encontrou nada, mas tinha certeza que ele estava ali há um segundo atrás!

Procurando seu chakra, sentiu o mesmo se distanciando em uma velocidade anormal. Hum. Ok.

— Oi? Garotinha? Está tudo bem? —  O sobrancelhudo ainda estava ali, e só assim Mito percebeu que estava sendo chacoalhada como uma boneca de pano.

— Hey, não faz isso, moço! — Ela disse quando conseguiu se soltar, afastando-se do cara estranho. – Porque jogaram isso em mim? Poderiam ter me matado.

Claro que não iam, eles eram ninjas, afinal, mas a Uzumaki gostava de ser dramática às vezes, e ela só tinha três anos e não deveria saber coisas de ninjas, não é mesmo?

— Ah, sobre isso, bem, desculpa o meu rival, esses últimos anos não estão sendo fáceis para ele.

Mito realmente não estava se importando no momento. Oras, uma faca (kunai) foi jogada na direção dela, e ela ainda tinha que se preocupar com a saúde mental do doido?

— Mas eu, a Fera Sublime Verde de Konoha, nunca quis machucá-la. E para ter o seu perdão, eu correrei quinhentas voltas pela vila com as minhas mãos!

Ela não acreditou que ele faria, até ele plantar bananeira e começar a andar pelo o meio da floresta. É cada louco, que me aparece.

Hey, Fera Verde-san, não precisa disso não, dattebaro! — A menina corou enquanto puxava o garoto pelas pernas.

Dattebaro. Não era a primeira vez que essa palavra escorregava, mas tentava ao máximo não usar, era tão estranho e infantil, combinava com o Naruto, não com ela.

Ela não sabia se podia confiar naquele cara, não é como se ela tivesse muitas pessoas pra confiar na vida. Só que ele tinha cara de bobão, mas era muito habilidoso, havia visto ele treinar, e ela precisava de treinamento. Não era a oportunidade perfeita?

— Que tal você me ajudar, hein? Eu quero aprender a lutar como ninja! Logo eu vou ter idade para ir pra Academia e eu queria saber alguma coisa já. — Afinal, as crianças criadas em clãs já eram treinadas desde pequenas para serem ninjas, era injusto para quem não vinha de família ninja, ou não tinha família nenhuma, como Mito e Naruto.

E só para uma maior taxa de vitória, ela fez os “olhinhos”, sim, sabia que era golpe baixo, mas quem disse que ela jogava limpo?

Já fazia um tempo que a ruiva queria começar seu treinamento ninja. Ela sabia que ser um shinobi não era algo glorioso, e que muito não voltavam pra casa de suas missões. Ao ler sobre as Guerras Ninjas, viu o número de perdas e não havia sido uma minoria. Também sabia que os ninjas faziam o trabalho sujo, matavam aqueles que o Hokage achava ser uma ameaça, e coisas desse gênero. Não gostava da ideia de matar, não era algo aceito em seu antigo mundo, mas ela não estava mais lá, e precisava jogar conforme as regras dali.

Ela precisava estar preparada, sabia que ser uma kunoichi seria a única forma de conseguir sustentar tanto ela quanto Naruto na vila, já que duvidava que algum comerciante os daria emprego no futuro.

Seu coração doía só de pensar em Naruto seguindo esse rumo na vida, como alguém tão puro como Naruto poderia se encaixar nessa vida? Se pudesse evitar, faria de tudo para que o mesmo não precisasse matar nem mesmo uma mosca.

Quando já estava cansada do silêncio, e pronta para receber um não na cara, foi quando o adolescente estranho surtou.

— Ah, o poder da juventude! — Mito não sabia se era coisa de sua cabeça, porém tinha certeza que estava vendo um arco-íris atrás do garoto estranho, que chorava (de alegria, ela esperava?). — Eu, Maito Gai, serei seu melhor sensei, e se não for, darei oitocentas voltas por Konoha [...]

Realmente, é cada louco que me aparece...

 

[...]

 

Subitamente a agenda da Uzumaki estava muito apertada. Ela acordava muito antes do nascer do sol, e sem fazer nenhum barulho para não acordar Naruto (já que os dois dividiam a pequena cama de solteiro), se arrumava e saia de fininho, já que estaria morta se algum dos monitores a pegasse saindo do orfanato em plena madrugada.

Com isso caminhava livremente pelas estradas de Konoha, que naquelas horas, Mito só conseguia captar alguns chakras escondidos em telhados, que provavelmente era dos ninjas que estavam vigiando a vila.

De lá, encontrava Gai, para começar a sessão de tortura.

Quando ela quis ter essas “aulas”, ela sabia que seria puxado, mas ela não tinha ideia do quanto.

Eles começavam dando voltas correndo por Konoha, era algo que já fazia sozinha, mas, correr quinze voltas pra ela era um pouco demais, não era? Mesmo que seu corpo não se cansasse (o que era estranho, afinal ela tinha só três anos e não era uma atleta), não era um pouco demais?

Aparentemente não, pois depois da corrida matinal, havia o aquecimento, que era ainda pior.

Várias e várias flexões de muitos tipos, abdominais que castigavam, aberturas para melhorar a flexibilidade que Mito via estrelas. Era um horror.

Depois que ela era apenas um poço de suor estirada no meio do chão, é que começavam com o “taijutsu”.

Nas primeiras duas semanas, era apenas ela se acostumando aos chutes, socos e tudo aquilo que se denominava “kata” sendo essa aquela que ensinavam na Academia, segundo Gai. Como seu corpo ainda era mole e custava atender os seus comandos com a agilidade que ela queria, foram duas semanas muito sofridas.

Não que tivesse melhorado muito, pois quando Gai percebia que ela havia melhorado um pouquinho, ele aumentava a intensidade do treino. Com isso, ela saia do terreno de treinamento pronta para capotar no primeiro lugar que conseguisse.

Infelizmente, era o início do amanhecer e se Mito dormisse o dia todo, com toda certeza o Ogawa a faria lavar todas as pilhas de pratos sozinha, de novo.

Assim, ela entrava sorrateiramente no orfanato, pelo buraco na cerca que nunca arrumavam (para sorte dela) e pegava uma muda de roupa para ir direto pro banho. Não queria levar bronca por estar suada como uma porca logo de manhã (ainda teria o bônus de tomar banho com a água quente, que era algo raro de tarde, a hora que normalmente tomava banho).

Enquanto se arrumava, ouvia seu estômago roncar. Nem ela e nem Naruto haviam comido nada no dia anterior, ela realmente não sabia se iria aguentar mais um dia em pé.

Ainda com os cabelos molhados, ela desceu até a despensa, que para um orfanato cheia de crianças famintas, não era nada protegido. De lá, pegou frutas e bolachas, enchendo os bolsos de sua bermuda e subiu para o quarto, enquanto rezava que não notassem o roubo enquanto os dois estivessem no prédio.

— Acorda, Naruto. Precisamos ir! — Jogando as roupas para que ele se apressasse, ela o chamava, querendo na verdade dar tapas na carinha fofa do menino.

— Ah, mais cinco minutinhos…

Mito suspirou, eles com toda certeza não tinham cinco minutinhos.

— Demônios, eu sei que foram vocês! — Era o grito da velha Kiko Uhumura, a mais séria e medonha dos monitores arrepiou todos os pelos da menina. Era isso, estavam mortos.

Todo o cansaço que estava sentindo do treino, desapareceu instantaneamente de seu corpo. Pelo berro e o pequeno chakra raivoso que sentia, a velha estava na cozinha indo para as escadas. Tinham três minutos.

— Naruto, levanta! — Empurrou as roupas pelos braços e pernas do garoto o mais rápido que pode, enquanto o mesmo (que havia acordado com o berro, junto com toda Konoha) a ajudava. — Vamos ter que pular a janela, ok?

Sabia que os outros monitores deviam estar indo para o quarto (que infelizmente não tinha chave para atrasá-los) e não tinham outra rota de fuga disponível.

— Mas não vai dar! — O loiro disse olhando a distância do chão, que tinha pelo menos seus seis metros.

— Vai ter que dar! — A ruiva berrou enquanto se sentava na beirada da janela. — Faz o que eu fizer.

Respirando fundo, se jogou, apoiando seu pé no parapeito da janela do andar inferior. Tudo certo por enquanto. Repetiu o processo até sentir seus pés no chão.

— Ah, tinha que ser a demoniazinha. — Pronto, era só o que me faltava.

Ogawa estava correndo em sua direção com o chicote do castigo nas mãos.

— Naruto, rápido! — Gritou o mais alto que podia. Será que algum ninja poderia ouvir e tirá-los dali?  

Não ia dar tempo. Não ia dar tempo. Não ia dar tempo. Não ia dar tempo.

Merda. Merda. Merda. Merda. Merda. Merda. Merda. Merda. Merda. Merda. Merda. Merda.

Havia prometido a Gai que não usaria taijutsu em ninguém, mas o que Gai não soubesse, Gai não sentiria, não é?

A rasteira que deu no garoto não foi o suficiente para toda a humilhação que o mesmo a havia feito passar, mas sabia que era um soco para o orgulho do mesmo ser derrubado por uma garotinha.

Pegou o chicote em sua mão e saiu correndo, junto com Naruto, que havia finalmente descido todos os andares.

Mito duvidava que iriam poder voltar pro orfanato um dia, no momento estava só feliz em ter algo para comer pela manhã pela primeira vez em muitos dias.

 

[...]

 

Depois de encherem as panças com a comida roubada do orfanato, se encaminharam para o lugar que normalmente encontravam Sakura, o balanço abandonado perto da Academia.

— Sakura-chan, aqui! — Naruto quase caiu enquanto acenava e corria.

— Naruto, cuidado, você pode cair. — brigou a irmã, mas como sempre, o loiro a ignorou, tão fascinado pela rosada para perceber.

— Sakura-chan, você tinha que ver! — Sakura os olhou curiosa, já que os dois estavam todos sujos com as poeiras das janelas do orfanato. — Mito-nee arrebentou a cara do bobão do orfanato! Ele nem viu o que acertou ele, dattebayo!

A rosada a olhou surpresa, sabia de quem estava falando, pois os dois viviam reclamando dos adultos do orfanato, mas Ogawa e a bruxa velha ganhavam de longe.

— Mas, vocês não vão ter problemas?

— Bem, provavelmente, mas ele realmente merecia. — Mito deu de ombros, não planejava voltar pro orfanato tão cedo naquele dia. Talvez desse uma volta pela biblioteca…

— É, e se ele vier bater na gente, não tem como. Mito-nee jogou o chicote do castigo fora, dattebayo.

Ah, ela duvidava que algum daqueles diabos encontrariam a droga do chicote depois de ter jogado Rio Naka abaixo. Era um livramento para eles e para todas as crianças do orfanato pelos próximos tempos.

— Hum... Hey, eu aprendi uma brincadeira nova, querem jogar? — Sakura perguntou entusiasmada com o tal jogo. – É tão legal! Nós fingimos que somos ninjas de caça e algum de nós vai ser o nuke-nin, e o resto tem que pegar o nuke-nin. Legal, né?

— Eu quero ser o nuke-nin, deixa vai, deixa vai! — O Uzumaki berrou enquanto pulava. 

Mito só queria dormir.

— Calma, Naru, todo mundo vai ser o nuke-nin.

E mesmo que a Uzumaki só quisesse se jogar no chão e dormir por várias e várias horas, ela não queria deixar os dois brincando sozinhos mais uma vez, se sentia péssima sempre que fazia isso.

— É melhor você correr, seu traidor de Konoha. — Adotou sua postura séria, que pensava ser muito ninja, enquanto olhava para Naruto. — Eu e minha parceira não vamos deixar você fugir, não é mesmo Sakura?

— H-hai!

 

[...]

 

Era claro que ia chover no final do dia, pois Mito era azarada dessa forma.

— Vocês podem dormir na minha casa! – Sakura disse, olhando preocupada para os dois irmãos encharcados, mesmo que a garota estivesse na mesma condição.

— Nós vamos ficar bem, Sakura-chan. Duvido que eles vão expulsar a gente nessa chuva, nem eles são tão malvados. — Na verdade a menina tinha suas dúvidas, mas sabia que não era bom expor.

Sakura parecia pensar da mesma forma, ao demonstrar a relutância para ir embora.

— Então... até amanhã?

— Até amanhã, Sakura-chan!

Mito realmente esperava que pudessem se encontrar no dia seguinte.

 

[...]

 

O portão estava trancado, com o cadeado virado bem para a cara deles, como se dissesse “Quem ri por último ri melhor”.

Aquilo não serviria para irritar a ruiva, não mesmo.

 Até ver suas coisas.

Todas jogadas e molhadas no chão.

Roupas rasgadas pela metade, as poucas intactas estavam totalmente sujas de lama. Os únicos brinquedos que tinham haviam sido queimados, nem mesmo Gama-chan havia sobrevivido para contar história.

E os livros que pegava emprestado na biblioteca... Todos com as páginas cortadas, rasgadas e com as capas destruídas.

Os livros que nem sequer eram dela…

Porquê?

O que ela e Naruto haviam feito para merecer isso?

Injusto. Injusto. Injusto. Injusto.

Ela sentia seu corpo tremer das cabeças aos pés, não era mais de frio ou de fome, disso tinha certeza.

Eles não mereciam passar fome. Não mereciam ser tratados como algum tipo de verme. E não mereciam isso.

Se alguém merecia isso, era com toda certeza aqueles que faziam duas crianças se sentirem tão mal por apenas viverem.

Injusto. Injusto. Injusto. Injusto.

Não é mesmo? Porque não faz algo sobre isso? —  Mito sentiu a onda de ódio e desespero. A voz era primitiva, arrogante que emanava poder, e o mais assustador de tudo: parecia estar dentro dela.

O ar parecia sumir de seus pulmões. A garota não conseguia respirar.

Ódio. Ódio. Raiva. VINGANÇA.

— Nee-chan? O que a gente faz agora?

Naruto.

Ela tinha esquecido de Naruto.

Virou o seu olhar para o menino. Conseguia ver as lágrimas descendo pelo rosto do menino.

Eles tinham feito Naruto chorar.

Desgraçados.

Respirou fundo, tentando centralizar sua mente. Não podia perder a cabeça agora. Não agora.

Segurou a mão do loiro. Estava fria e conseguia sentir seu braço tremer.

— Vamos dar um jeito, Naru. Vamos dar um jeito.

 


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Notas finais do capítulo

Capítulo betado por Eena



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