Na manhã seguinte o plantão médico de Katherine Beckett foi muito movimentado e ela não conseguira parar nem mesmo para fazer um lanche.

No hospital havia uma escala de revezamento para que todos os Residentes de plantão pudessem fazer refeição sem interferir no atendimento dos pacientes, portanto, quando chegou o seu horário de almoço, Kate deu graças a Deus.

— Lanie, eu vou almoçar agora. Estou exausta e morrendo de fome! – Kate avisou assim que avistou sua Orientadora.

— Kate, você vai ao refeitório ou ao restaurante?

— Vou ao restaurante daqui do hospital mesmo, amiga,  já que eu não trouxe minha marmita de casa.

— Ops! Somos duas... – Lanie riu – Então vamos almoçar juntas, porque eu também não trouxe almoço, mas antes preciso fazer algumas anotações... Coisa rápida. Você vai indo na frente e a gente se encontra lá ou pode me esperar?

— Eu te espero, Lanie. Vou com você até sua sala.

— Então, venha. Não vou demorar.

Assim que entraram na sala da Dra. Lanie Parish Esposito, as duas se sentaram.

— Quer ajuda? – Kate se pôs à disposição — É só me falar o que tenho que fazer.

— Não, querida, obrigada. São autorizações e depende da minha senha e só eu mesma posso fazer isso.

Muito rapidamente Lanie fez alguns registros no computador e em poucos minutos ela concluiu a tarefa — Finalmente!! – Lanie sorriu e olhou para a Médica Residente — Vamos almoçar!

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Durante o almoço, Lanie comentou que percebeu Kate elétrica durante a manhã e a moça desconversou, dizendo que era por conta da grande quantidade de pacientes, só que Lanie não aceitou a desculpa.

— Mas eu estava lá, tá lembrada, e vi que tanto os Médicos quanto os Residentes estavam bem distribuídos entre os pacientes e não vi assim tantos casos terríveis que justificasse sua inquietação, Kate. Muito movimento, eu sei...

Kate não reagiu ao comentário da amiga.

— Será que você não está cansada por conta de outra coisa, mocinha?

— Ããnnhh? Por conta de outra coisa? – Kate insinuava que a Lanie estava equivocada— É impressão sua, Lanie. – Kate tentou disfarçar.

— Minha querida... – Lanie deu um sorriso faceiro e piscou o olho para Kate e prosseguiu — Eu tenho dois filhos pré-adolescentes e sei muito bem identificar a carinha deles quando estão tentando me esconder algo...

— Ah, Lanie... Não sou uma criança.

— Ah, eu sei disso. – Lanie afirmou e sorriu do jeito defensivo de Kate – Você é uma Médica Residente incrível! Mas sei também que você sempre traz seu almoço e quando não está com tempo para receitas mais elaboradas, sempre traz uma daquelas suas saladas lindas, deliciosas e saudáveis, rica em proteína, carboidrato, hortaliças, azeite e queijo que me deixam com água na boca.

— Ah, então esse interrogatório é só porque eu não trouxe meu almoço? É isso, Lanie?

Lanie não respondeu nada, apenas deu um sorriso torto, indicando que achava divertido Kate continuar tentando disfarçar.

— Creio que você está equivocada, Lanie, pois já aconteceram outras vezes em que eu não pude trazer almoço.

— Ah, sim... Isso é verdade... – Lanie concordou, mas continuou seu sorriso travesso – Mas, quando a senhorita não trouxe seu almoço, se não me engano, nestes dias ou você não dormiu em casa ou recebeu visita e ficou tão entretida que a última coisa a pensar, seria lembrar de fazer o almoço para o dia seguinte... 

— Se eu não me engano, você está insinuando alguma coisa em especial... Até onde eu sei, quando eu não durmo em casa é porque estou de plantão ou na cabana dos meus pais. E quando estou em casa e não trago almoço é porque passo boa parte da noite estudando casos complicados que você mesma me encaminha e, assim, realmente, não fico nem um pouco animada a preparar meu almoço do dia seguinte.

— Ops! – Lanie fez um gesto divertido com as mãos para cima, se esquivando de alguma acusação – Não falei nada!

— Mas insinuou... Eu nunca recebi esse tipo de visitas que...

Lanie sorriu e Kate também e até parou de se defender.

— E, você, eihm, Dra. Lanie CURIOSA Parish Esposito, porque será que você não trouxe almoço também? – Kate tentou revidar o interrogatório, fazendo Lanie rir mais ainda.

— Simples! Você sabe que eu não tenho nenhuma afinidade com as panelas e mal sei ferver uma água e o único alimento que eu tive coragem de servir a alguém foi o leite materno para os meus filhos, porque já veio prontinho de fábrica, graças a Deus! – Kate e Lanie riram daquele comentário — Menina, eu não trouxe almoço hoje porque a minha maravilhosa cozinheira estava atarefada preparando umas guloseimas para o Javier levar para a delegacia a fim de comemorar a promoção daquele amigo dele, o Kavin Ryan... Você o conheceu lá em casa no dia do meu último aniversário.

— Ah, eu me lembro dele. A esposa dele é a Jenny, uma loirinha... Que bom que o Ryan foi promovido!

— Na verdade, não é bem uma promoção, eu me expressei errado... O Ryan foi o primeiro colocado na prova para Capitão de Distrito. O resultado foi divulgado ontem e a qualquer momento ele vai ter a sua própria delegacia, assim como aconteceu com o meu Javi, que, como você sabe, é o Capitão da 12ª Delegacia de Homicídios há alguns anos.

Kate bebericava um suco de limão acompanhando o almoço.

— É, eu sei.

— Sim, mocinha, mas voltando a falar de você...

— Sério, que você vai continuar com isso, Lanie?

— Relaxe, garota... Basta satisfazer a minha curiosidade e me contar o que houve assim de tão interessante que você não teve tempo ou cabeça para preparar seu almoço.

— Parece um interrogatório policial. Você daria uma ótima Detetive de polícia, viu, Lanie?

Achando graça do modo como Kate tentava se esquivar, Lanie prosseguiu – Huuummm!!! Estou intuindo que isso tem a ver com um certo pai de uma linda paciente ruivinha que machucou o braço... – Kate empalideceu diante do tiro certeiro da sua Orientadora – Eu estou falando daquele bonitão que conseguiu tirar sua concentração durante a consulta... Se não me engano, o nome dele é Castle, Richard Castle... – Kate agora ficou rubra e Lanie sorriu, divertindo-se com a situação — Acertei?

— Lanie!

— Conta logo, vai... Ou então eu vou ficar imaginando milhões de coisas... Se você me contar, você vai relaxar, ficar menos tensa e vai trabalhar melhor. Acredite na voz da experiência! – Lanie piscou o olho, em sinal de que estava dando um bom conselho.

— Isso também se aplica a você, não é?

— Espertinha! Claro que se você me contar tudo eu também vou ficar mais leve e trabalhar melhor... – Lanie riu.

Depois de mais algumas risadas e insinuações, Kate aproveitou o horário de almoço para contar tudo que acontecera na noite anterior com o Castle, desde a ligação telefônica no final da tarde, até o momento em que ele deixou o apartamento dela. Como Kate tinha muita confiança e amizade com a Lenie, narrou os detalhes da conversa e até as emoções que sentiu durante o tempo em que ele ficou no apartamento dela e também depois que ele saiu, sem omitir nada.

— Quer dizer, então, que o Castle meio que sumiu depois que ele pensou que você e o Samuel estavam namorando. Meu Deus! – Lanie comentou assim que a Kate concluiu seu relato — Imagino que você está refletindo muito sobre isso antes de pensar em telefonar para ele novamente.

— Exatamente! Estou com a cabeça pegando fogo...

— Então ainda não tomou uma decisão, não é, meu anjo?

— Isso mesmo! Ainda não decidi nada...

— Mas você vai conseguir... Eu sei disso.

— Lanie, você que é um pouquinho mais velha que eu... É casada... Tem mais experiência com relacionamentos... Tem filhos... Você pode me dar uma ajudinha? – Kate fez uma cara de cachorro pidão.

— Bem, antes de mais nada você precisa saber que somente você pode tomar uma decisão como essa. É muito pessoal. Você tem que sondar seu coração. Posso apenas te ajudar a fazer isso, então, eu preciso que você me diga o que pensa sobre toda essa situação. – vendo uma expressão de dúvida no rosto de Kate, Lanie continuou a falar — Minha querida, você ainda pode até não ter tomado a decisão final, mas como te conheço e sei que é bastante cuidadosa, creio que já esboçou uma reflexão sobre isso e falta apenas arrumar as ideias.

— Verdade, Lanie, eu já refleti muito sobre isso e tenho minha opinião formada. Preciso apenas organizar tudo... E vou te dizer mais uma coisinha, amiga, fui bastante imparcial ao elaborar este raciocínio, viu. Bem, eu acho que apesar do Castle ter sumido sem ao menos me telefonar ou mesmo ter me enviado uma simples mensagem cancelando o encontro, ele demonstrou que respeitou o meu suposto envolvimento amoroso com o Samuel, mesmo sem ter certeza se era algo sério. E sabe o que é mais interessante, Lanie, é que o Castle respeitou o meu suposto namoro com o Samuel, ainda que não gostasse dessa situação e ontem ele me disse isso com todas as letras. Ele me disse que se sentiu traído e destroçado porque era ele quem queria estar no lugar do Samuel.

— O Castle está mesmo apaixonado por você, viu, Kate... – Lanie ficou animada ao constatar tal fato.

— Será? – Kate demonstrou dúvida— Ai, meu Deus!!! Ah, como eu quero que isso seja verdade! – Kate deu um suspiro sonhador.

— Em breve saberemos.

— Sabe o que mais, Lanie... Acho que o Castle optou pelo silêncio porque não quis interferir no meu hipotético namoro, muito menos atrapalhar, entende? Com certeza ele não desejava passar a ideia de ser um cara maçante que fica paquerando uma mulher que já tem namorado. Ele provou ser um homem de respeito não só por ter agido assim, mas também por admitir que errou na sua avaliação inicial. Somente um homem de caráter admite seus erros e percebe que além de precisar pedir desculpas, tem também de explicar tudo para a parte afetada, no caso, eu, né... E ele fez isso. O Castle foi lá em casa. Ele mostrou as caras, mesmo que para fazer isso tivesse que se expor e, claro, se arriscar a me perder de vez.

Kate deu um longo suspiro ao exteriorizar seus pensamentos e encarou sua amiga, com um olhar de quem pedia ajuda — E aí, Lanie... O que eu faço?

— Você está me perguntando o que é que você faz, Kate? Ah, querida! Eu fico muito orgulhosa de ser sua amiga e ser sua Orientadora profissional. Menina, além de você ter sido uma excelente aluna, agora você é uma médica formidável, criteriosa, estudiosa e mais um monte de qualidades. Você é tão jovem, tão inteligente e tão esperta em tudo e, mesmo sem ter tanta experiência de vida, você captou as preocupações e anseios do Castle com relação a você e eu te dou os parabéns por pensar assim. Você não precisa de minha ajuda para isso, meu bem, porque sua cabeça e o seu coração encontraram o melhor caminho para você conversar com o Castle.

— Oh, obrigada por suas palavras, Lanie... Quer dizer então que você gostou da minha análise sobre as atitudes do Castle?

— Sim, querida. Como eu já disse, você usou de prudência ao refletir sobre tudo.

Kate deu um longo suspiro, animada por ter conseguido arrumar suas reflexões da melhor forma e também porque Lanie aprovou seu modo de pensar.

Terminaram de almoçar e aguardavam o café.

— E o que você pretende fazer, eihm, mocinha? Você vai tomar a iniciativa de procura-lo, ou vai esperar que ele te procure novamente? – Lanie a questionou enquanto sorviam um delicioso café com creme que tinha acabado de chegar, cujo perfume se espalhava pelo ambiente.

— Ainda não pensei sobre isso.

— Mas tem que pensar, Kate. O mais difícil você já fez que foi saber o que você realmente queria e até já organizou as ideias.

— Vou cuidar disso.

— Sem querer te afligir, muito menos te pressionar, quero apenas te lembrar que se você demorar, pode perder a coragem... Se seu coração estiver mesmo querendo conversar e se entender com o Castle, tem que ser o mais rápido possível.

Kate refletia o que Lanie falara.

— E só mais um alerta, querida... Uma vez que deixamos uma oportunidade passar, já era... É igual ao pôr do sol, se a gente demorar para olhar, perdemos o lindo espetáculo.

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Continua...