Pontas Soltas escrita por sayuri1468


Capítulo 1
Capítulo 1




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Os pedaços de corpos já se encontravam no microondas e as cabeças anônimas na geladeira, ao lado do leite. O crânio já havia voltado ao seu lugar de origem, em cima da lareira e a Sra. Hudson continuava depositando o chá em cima da mesa toda a manhã, sob os constantes protestos de que não era uma empregada. Definitivamente, não havia mais nenhum indício de que uma bomba havia explodido e destruído aquele local, e a vida voltara ao normal na Baker Street 221B. Ou, ao menos, tão normal quanto poderia ser.

 

John e Rosie habitavam o antigo quarto do ex-soldado, na parte de cima do apartamento. A convivência com Sherlock havia mudado. Ele não mais se isolava e nem tinha mais surtos. John podia até jurar que o amigo se encontrava sóbrio, sem nenhum uso de drogas. O médico não podia afirmar com certeza, mas deu créditos a Rosie por essa atitude do detetive. Sherlock passou a ser mais responsável e atencioso depois da chegada da pequena Watson ao seu flat.

 

Mas mais uma coisa havia mudado em Sherlock, o médico notara. Ele passava horas foras de casa, mesmo quando não havia nenhum caso para ser solucionado. Sem dizer para onde ia ou o que fazia. Sherlock apenas desaparecia.

 

“Tudo bem”, pensou John, Sherlock desaparecer não era tão incomum assim. Quantas vezes ele ficou semanas ou mesmo anos sem ouvir falar do amigo. Mas dessa vez, o médico sentiu que tinha algo diferente. Não só nos desaparecimentos de Sherlock, mas também nos momentos em que ele se encontrava no flat. Não mais de uma vez, John flagrou Sherlock andando ansiosamente de um lado pro outro, enquanto murmurava para si. Sherlock parecia ter um problema sério. John tentou de todas as formas fazer com que o detetive revelasse o que o incomodava, e todas as vezes, Sherlock apenas sacudia a cabeça e emitia um som parecido com um grunhido em resposta. E isso, de certa forma, deixava John ainda mais preocupado.

 

— Você sabe de alguma coisa que o deixou assim? - perguntou o médico a Molly, quando esta veio visitar sua afilhada.

 

Molly deu um meio sorriso.

 

— Eu não sei, John! Eu não tenho visto Sherlock desde de...bom, desde muito tempo!

 

— Sério? Achei que ele estava indo na Bart’s!

 

— Bem, se ele tem ido, não nos encontramos então! - respondeu Molly, rindo sem graça.

 

John percebeu que o ambiente estava um pouco desconfortável e decidiu mudar de assunto. 

 

Assim que Molly foi embora, John percebeu outra particularidade de Sherlock que não o havia ocorrido até então. Todas as tardes em que Sherlock se ausentou, todas as vezes que Sherlock murmurava para si, eram dias em que Molly avisava que iria vir. Em todos esses dias, Sherlock saia cedo e só voltava a noite ou logo após Molly ir embora. Sherlock estava claramente evitando Molly Hooper. E suas suspeitas se confirmaram três minutos depois que Molly havia deixado o flat.

 

— Está definitivamente frio lá fora! - disse o detetive assim que abriu a porta.

 

— Onde você estava? - perguntou John sério.

 

— Por aí! Só dando uma volta em Londres! - respondeu Sherlock 

 

— Certo, e suas voltas por Londres nada tem haver com a presença da Molly nesse apartamento?! 

 

Sherlock torceu os lábios. Ele estava incomodado e John sabia. Já estava acostumado a ler as expressões do amigo.

 

— Não seja ridículo…- Sherlock respondeu com a voz mais grave que de o costume.

 

— Você não conversou com ela depois do...bom, o que sua irmã fez com vocês dois?

 

Sherlock nada respondeu, mas suas feições ficaram muito mais sérias e contemplativas. John conseguia notar uma certa melancolia nos olhos do amigo, o que era um mistério pra ele. O médico também nunca havia conversado com Sherlock a respeito do que havia acontecido no dia em que foram feitos de rato de laboratório por Eurus. Fingir que gostava e se importava com alguém nunca havia sido um problema para Sherlock - atitude que John sempre censurou. Mas quando Sherlock teve que mentir para Molly, John notou que foi um esforço muito grande para o amigo. John nunca havia visto o amigo tão frustrado e magoado a ponto de destruir uma coisa da forma como ele destruiu o caixão com o “Eu te amo” marcado na tampa. De qualquer forma, John sempre acreditou que aquela ligação causou mais mal a Molly do que a Sherlock. E, por isso, não conseguia entender o que se passava na cabeça do detetive.

 

— Olha, Sherlock, se quiser, eu posso te ajudar! Eu só preciso entender o que está acontecendo com você! - falou John de forma compreensível.

 

Os olhos de Sherlock fitaram os de John por alguns segundos. 

 

— Me conte da Mary! - pediu Sherlock.

 

John se mostrou surpreso.

 

— O que? O que tem a Mary?

 

Sherlock respirou fundo, impaciente.

 

— Me conte de você e Mary! Como aconteceu?

 

— Sherlock, não tente desviar o assunto, por favor…- John começou, mas Sherlock o interrompeu abruptamente

 

— Eu não estou mudando de assunto! Você disse que quer me ajudar e a forma para você me ajudar é responder as perguntas que irei fazer você!

 

John estava cada vez mais confuso. Como essas histórias poderiam ajudar Sherlock era incerto para o médico, mas ele iria responder as perguntas. Quem sabe, pensou, isso abriria margem para que John perguntasse mais a respeito dos sentimentos de Sherlock.

 

— Bom, eu estava trabalhando nesse consultório e Mary era uma das secretárias! Nós sempre conversávamos bastante e nos divertíamos muito! Eu me sentia muito feliz toda vez que ela aparecia, mesmo que fosse só pra me atualizar da minha agenda! 

 

John percebeu que um sorriso se formava em seu rosto a cada lembrança que ele retomava.

 

— Um dia ficamos até tarde no consultório atendendo uma quantidade massiva de pessoas, e, no final, só tinha nós dois na clínica! Eu a convidei para jantar e...de repente, sem que eu percebesse, estávamos juntos! - John fez uma pausa - Deus, como eu sinto falta dela! - completou em um desabafo.

 

Ao final, John notou que sua voz estava embargada e os olhos lacrimejando. O médico respirou fundo, engolindo em seco aqueles sentimentos. Sherlock encarava John com uma  expressão gentil.

 

— Quando você descobriu que Mary era a mulher da sua vida? - Sherlock perguntou.

 

John riu de uma forma melancólica.

 

— Provavelmente no momento em que a vi! Ela me atraia mais do que qualquer outra mulher! Estar com ela só...parecia certo, então eu estava sempre com ela!

 

Sherlock assentiu com a cabeça. 

 

— Obrigado John! Você realmente me ajudou! Muito obrigado!



E com essas palavras, Sherlock pegou o casaco e desapareceu apressado pelas escadas. John agradeceu. Reviver as lembranças com Mary o derrubaram mais do que ele esperava. Ele precisava ficar sozinho naquele momento.


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