Contos da Noite escrita por adjr


Capítulo 1
Prólogo




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O rapaz estava em pé do lado de fora da janela quase uma hora. Olhava para baixo e respirava fundo tentando reunir coragem para pular. Era difícil, mas a vida parecia bem pior do que a dor da queda.

— Será que se eu soltar essa garrafa acerto alguém lá embaixo? – Era outro rapaz que estava sentado há alguns metros dele e balançava uma garrafa . – Não... Não valeria a pena, seria um desperdício de whisky, mesmo ele sendo meio vagabundo. – Então tomou um gole da bebida.

—Quem é você? – O suicida se afastou um pouco, assustado com a presença do estranho. – Nem tente me impedir! Eu já estou decidido, vou pular de qualquer jeito!

—Que? Ah não. – O outro respondeu. – Pode pular. Na verdade quanto mais rápido você fizer isso pra mim é melhor. – Ele mal olhava para o rapaz.

O suicida começou a disparar perguntas para o outro, visivelmente assustado com a situação.

— Como assim? Do que você está falando? Quem é você? O que quer de mim? -

O estranho suspirou.

— Eu estou aqui, bebendo, esperando você se atirar desse prédio por algum motivo idiota. Aí, depois que você estiver esticado na calçada, numa poça de sangue, eu desço lá e recolho sua alma. – E então bebeu mais um gole do whisky.

— O que? – Os olhos do rapaz se arregalaram. – Você vai... você. – A confusão tomava conta de sua mente.

—Cara, pula logo, facilita aí...

—Você é a morte? – o rapaz ficou branco.

—É, tipo isso... Agora vai logo. – O rapaz sentado gesticulava para que o outro pulasse.

—Mas... E se eu não estiver pronto... Não sei se vou conseguir fazer isso... Não tenho certeza se...

—Ah tem sim... vai lá, força.

Os rapazes se encararam por alguns instantes. Silêncio. Nada aconteceu.

—Aqui, toma um gole. – O rapaz da bebida esticou o braço, oferecendo a garrafa. – Quem sabe ajude a tomar coragem.

O suicida encarou a garrafa por alguns segundos, então, cautelosamente, esticou o braço e a agarrou, levou-a aos lábios e bebeu um gole. A bebida desceu queimando.

—E aí? – O rapaz sentado o encarava esperando por algo.

—Ah, sei lá cara... Minha vida está uma merda. Já é a quinta vez que eu tento me matar, mas eu nunca tenho coragem! Nem pra isso eu tenho coragem! Eu sou um merda mesmo! – Aos poucos escorriam lagrimas do rosto do rapaz. Ele bebeu mais um gole.

—Ah claro, sua vida é uma merda! – O outro disse, estendendo a mão, fazendo sinal para que ele devolvesse a garrafa. – Já até imagino seus problemas: não conseguiu o emprego que queria, ou sua esposa te traiu com um cara mais jovem. – O rapaz bebeu um gole. – Não, já sei! Você não conseguiu arrumar seus lindos cabelos loiros hoje de manhã e decidiu que sua vida está uma merda e resolveu que tinha de se matar. – Mais um gole. – Olha pra mim cara! Sabe quantas pessoas eu vejo morrer todo dia? Sabe quantas mortes idiotas por motivos idiotas eu tenho que ver? Milhares... e nenhuma dessas pessoas viveu metade das coisas que eu vivo em um dia nessa semi-vida maldita!

—Então... você realmente veio buscar minha alma? Você realmente é um anjo da morte?

—Ceifador... É, eu sou um ceifador de almas! Mais alguma dedução? – Ele estava irritado, e bebia goles cada vez maiores.

—Mas por que você faz isso? Por que não para se acha tão ruim?

—Obrigado senhor obvio! Como se eu tivesse essa opção... A minha vida sim é uma vida de merda... A sua é só mais uma bobeirinha a toa que acaba com um sopro. – O ceifador respondia, mudando aos poucos da raiva pra tristeza.

—E como você acabou nessa, cara? – O suicida o olhava sem saber ao certo o que pensar.

—Longa história.

O rapaz pegou a garrafa do ceifador e deu mais um gole, fazendo careta.

— Eu acho que tenho tempo.

O ceifador levantou.

—Não tem não! Já devia estar morto na verdade. – Ele encarava o outro nos olhos.

O suicida sentou.

—Cara, eu não vou me jogar sem saber como você entrou nessa... – E deu mais um gole.

— Ah meu saco!- Ele arrancou a garrafa da mão do outro e bebeu um gole longo. – Tá, eu conto... Mas assim que eu terminar, se você não se jogar, eu garanto que ai sim eu vou tornar tua vida uma merda! E se prepara, que é uma história bem longa!


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